Só agora eu me dei conta da existência de uma
“lógica” profunda, interna, oculta da crença de alguns na terra plana (não reparem se as
palavras adequadas me fogem, creio estar perdendo vocabulário). E essa lógica seria assim: quem acredita nessa
maluquice precisa de um mundo onde existam lados que possam ser escolhidos ou
rejeitados para ficar, algo assim como o lado direito ou o lado esquerdo, o lado
de fora e o lado de dentro, a mão e a contramão. Quem assim pensa precisa da
segurança de saber onde está, de que lado está. Em um planeta esférico não há
posições claras e tranquilas, pois você pode estar em cima ou em baixo, mas não
há um lado firme onde você se sinta confortável.
Isso parece delírio resultante de intoxicação
provocada por excesso de leite com toddy? Claro, sem a menor dúvida! Isso é
mesmo puro delírio. Mas, se eu tirar a terra plana e a esfera da jogada e
aproveitar o raciocínio para tentar explicar comportamentos, o que dá para
inferir? Que há pessoas (muitas, muitíssimas) que precisam de “lados” para se
posicionar. A existência de um lado que se possa escolher para ficar traz
tranquilidade e segurança. Quem tem essa estrutura mental poderia ser classificado
de “conservador”. Em contrapartida, há aqueles que não se preocupam ou não
necessitam da segurança das tradições e das ideias preconcebidas. Por isso
podem revê-las, mudar de lado, repensar conceitos, reavaliar “verdades eternas”.
Esses seriam os moderados.
Foi para esses que o Paulo Coelho escreveu
estes versos:
“Prefiro
ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre
tudo”.
E ele estava certo.
Comentário final: posso estar equivocado, mas às vezes eu sinto que o Blogson Crusoe é como que um barquinho de transporte de
moderação navegando em um mar de conservadorismo revolto e tempestuoso.
Sempre preferi ser uma metamorfose ambulante, porém, às vezes tenho medo de apenas preferir, ao invés de realmente ser.
ResponderExcluirVocê disse uma coisa muito interessante. Eu também sempre me considerei uma metamorfose ambulante, talvez um balaio de contradições ambulante. Mas até que ponto eu realmente consegui ser?O Millôr Fernandes ficou órfão de pai aos dois anos e de mãe aos doze. Segundo ele (assim entendi) esse teria sido o motivo de não ter crescido cheio de bitolas, o que permitiu ter uma forma livre de pensar sobre tudo ou quase tudo. Esta frase é dele: "Eu também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto".
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