sábado, 27 de abril de 2024

TEMAS QUE NÃO PRETENDO AMPLIAR

 
Alguns pensamentos meio caóticos ou delirantes têm invadido minha mente. Se fosse outro o tempo, ficaria divagando e escrevendo abobrinhas sobre cada um deles, transformados agora em postagens individuais (naturalmente!). Mas não estou com paciência para tentar tirar leite de pedra. Por isso, apenas registrarei o delírio inicial.
 
REALIDADE ALTERNATIVA
Não sei quanto às demais pessoas, mas hoje, para mim, a Vida Real acontece quando estou dormindo. É nesse momento em que estou vivo. No restante do tempo é só pesadelo.
 
EXTINÇÃO DOS SAPIENS
A espécie humana está no caminho da extinção graças à descrença na Ciência, à ganância, descaso, ambição, ao egoísmo, imediatismo e à ignorância dos conservadores radicais e dos fundamentalistas, sejam eles religiosos ou políticos.
 
O MELHOR DOS ABRAÇOS
Sempre digo a meus filhos que abraço é o melhor dos presentes que podem me dar em qualquer data, em qualquer época do ano. E de tanto dar e receber abraços eu acabei descobrindo o melhor de todos, verdadeiro “abraço gourmet”. Esta é a dica: o melhor abraço não é aquele apertado que quase esmaga os ossos de quem o recebe, não é aquele fugaz, de quem está constrangido ou com pressa. O melhor de todos os abraços é como aquele que o pai ou a mãe dão no bebê que está em seu colo: suave, delicado, demorado, sem pressa e cheio de carinho.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

A COMPLICADA ARTE DE VER - RUBEM ALVES


Recebi de minha mulher um vídeo onde a atriz Alessandra Maestrini lê o texto transcrito a seguir. Alessandra Maestrini é a intéprete da hilária personagem Bozena do seriado "Toma lá, dá cá". Gostei tanto do texto que resolvi publicá-lo aqui no Blogson. Lêaí.


Ela entrou, deitou - se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."
 
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".
 
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
 
William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto - me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
 
Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
 
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".
 
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".
 
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
 
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".
 
Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...

ZERO RELEVÂNCIA

 Olha que interessante: por não ter mais inspiração para tentar ser poeteiro (cuidado com o entendimento!), pedi à Inteligência Artificial ChatGPT que fizesse uma poesia de QUATRO estrofes usando como tema o longo texto que publiquei ontem comemorando nossos 49 anos de casamento. Em menos de um minuto surgiu na tela do computador o poema a seguir. Aparentemente o ChatGPT ficou tão entusiasmado com nossa história, que resolveu escrever CINCO estrofes. Deve ser isso que chamam de "liberdade poética". Ou então ainda está aprendendo a contar.

Agora, falando sério, este post tem relevância zero para a história do Blogson e apenas confirma para mim que poesia de qualidade está muito além da observância de métrica e rima. Como disse o poeta Ferreira Gullar: "Você percebe quando o poema está bem escrito, mas não é poesia". Olhaí. 

No carnaval de 1969, um destino se traçou,
Entre um rapaz magro, feio, mas audaz,
E uma moça com olhos que encantou,
Uma história de amor que nunca se desfaz.

Na Sociedade dos Engenheiros, num salão a girar,
Entre marchinhas e abraços, o encontro se deu,
Ele, desengonçado, ela, a deslumbrar,
Num olhar, um laço que o coração teceu.

Dois meses de namoro, um término e um recomeço,
Até o "sim" dito num abril especial,
Casamento celebrado, em cada passo um apreço,
Duas cerimônias, um amor sem igual.

Nas alegrias e tristezas, juntos seguiram em frente,
Filhos nasceram, a família se expandiu,
Com ela ao lado, a vida mais contente,
Um amor que persiste, jamais se reduziu.

Hoje, 49 anos de caminhada ao seu lado,
Das brigas e desentendimentos, nada importou,
Pois ela, a companheira em todo passo dado,
É e sempre será, o amor que nunca acabou.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

ENDLESS LOVE

 
Foi no carnaval de 1969 que se iniciou uma história de amor que eu não quero que acabe nunca – mesmo que eu saiba que um dia acabará. Já publiquei vários textos sobre esse relacionamento no Blogson, falando dela, de nós, e de como minha vida foi moldada e adquiriu sentido a partir do momento em que um garoto muito magro, muito feio e muito bobo conseguiu cativar uma menina lindíssima, dona dos olhos mais bonitos que já vi.
 
E esse relacionamento que parecia ser apenas um encontro improvável e sem futuro entre dois jovens está comemorando hoje 49 anos de casamento e 55 desde aquela noite de carnaval.
 
Tudo começou quando eu fui ao baile de carnaval da Sociedade Mineira dos Engenheiros, provavelmente graças a um convite arranjado por meu irmão ou por meus primos, que já estudavam engenharia. Eu era um sujeito magro, muito magro, desengonçado e feio. Além de feio, bobo, muito bobo.
 
Em Beagá, naquela época, o carnaval bom era o de clube. Na avenida, o que rolava eram os blocos caricatos. Escola de samba nem era considerada. A música predominante era a marchinha, muito melhor para abraçar a menina enquanto se davam voltas no salão. Aliás, o povo que brincava nos clubes ficava como uma galáxia ou nebulosa, girando, girando, enquanto a banda (som ao vivo, por favor!) cantava “foi bom te ver outra vez, está fazendo um ano, foi no Carnaval que passou...”
 
Então, foi nesse clima, em um dia 15 de fevereiro, que eu vi aquela maravilha de menina, com os olhos lindíssimos ainda mais acentuados pela maquiagem. Ela estava vestindo um pareô verde e azul, se não me engano. Havia mais alguém com o mesmo traje, uma ou duas meninas, mas só fiquei ligado nela, não só pela beleza incrível, mas por um detalhe meio ridículo: Eu achei que ela tinha olhado para mim com algum interesse. Na prática, o que tinha chamado sua atenção era a pinta (nevo) que tenho no rosto, na época coberta de pelos pretos e muito chamativa (“chamativa” como sinônimo de feia).
 
Para encurtar a conversa, namoramos em casa durante uns dois ou três meses até que sua mãe nos viu de mãos dadas, uma “libertinagem” inadmissível naquela época para tão pouco tempo de relacionamento. Resultado: término do namoro, só reatado em um dia 25 de abril de 1970, depois de muita dor de cotovelo. A partir daí nunca mais nos separamos, namoramos durante quatro anos, ficamos noivos em 25 de abril de 1974 e nos casamos em 25 de abril de 1975, prova de que um pouco de TOC não faz tão mal assim.
 
Quando nos casamos, era normal que acontecessem duas cerimônias. O casamento religioso era o que dava ibope, tinha valor e era aceito pelos parentes e amigos do noivo e da noiva - imediatamente escaneada dos pés à cabeça pelas tias e primas bisbilhoteiras do noivo, atentas a um eventual e suspeito aumento de volume abdominal (“será que é o que estou pensando?”).
 
Para o casamento civil, embora acontecesse primeiro, ninguém dava muita bola (“mera formalidade burocrática!”). Isso podia afetar até o status dos padrinhos escolhidos. O que foi parcialmente confirmado no nosso caso. Mesmo sendo obrigatórios apenas dois, chamamos uma penca de parentes queridos para testemunhar a constituição de nossa “sociedade de responsabilidade limitada”.
 
A programação daquele dia foi tensa, intensa e cheia de alegria e felicidade, com as bênçãos e cumprimentos de pais, parentes e uma centena de amigos e conhecidos, muitos deles provavelmente, atraídos pela mega recepção providenciada por meu sogro. Na manhã seguinte, ao acordar, senti a maior emoção da minha vida ao ver aquela menina linda deitada ao meu lado, e perceber que a partir desse dia era responsável por ela e que com ela dividiria muitas alegrias, decepções e tristezas pela vida afora. Eu era agora um jovem casado, com 24 anos.
 
Nosso primeiro filho nasceu quando eu já estava com 26 anos. Graças à minha amada, a ele e a seus irmãos, minha vida foi toda escrita e reescrita, sempre para melhor. No devido tempo nossa alegria ficou completa com a "adoção" de nossas filhas do coração e o nascimento de nossas encantadoras netinhas.
 
Hoje, 49 anos depois que aquela menina linda disse “Sim” à pergunta se me aceitava como esposo “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza” formuladas pelo padre, eu me lembro de nossos pais e de muitos parentes e amigos queridos que estiveram presentes em nossa cerimônia de casamento. Como disse Manoel Bandeira, “Estão todos dormindo / Estão todos deitados / Dormindo / Profundamente”.
 
E como acontece com todos os casais, nesse tempo todo eu e ela tivemos várias brigas e desentendimentos, motivados muitas vezes por bobagens irrelevantes ou motivos mais sérios. Eu a decepcionei e magoei, ela me irritou, mas nada disso importa, porque ela sempre esteve ao meu lado, apoiando-me ou consolando-me quando eu mais precisei.
 
E, acima de tudo, sei que até o fim da minha vida nunca deixarei de amá-la, pois ela sempre foi, é e será a mulher da minha vida.


terça-feira, 23 de abril de 2024

ALELUIA, ALELUIA!

 
Há muito tempo, deixei de comentar as notícias que lia nos grandes portais da internet. Esses comentários recebiam títulos como "Comentando as últimas", "Comentando as penúltimas", "Comentando as recentes", etc. Bastava tomar conhecimento de algum fato ou declaração risível, idiota ou condenável envolvendo alguma personalidade "pública" para exercitar minha ironia. Sinceramente, não saberia dizer por que parei de fazer isso. No entanto, hoje, ao ler uma notícia publicada no portal UOL, não resisti à tentação de fazer uma nova postagem sobre o assunto. Com reportagem de Caíque Alencar, olha que maravilha de notícia:
 
Justiça proíbe leitura da Bíblia na Câmara de Bauru: “Afronta Estado laico”
A Justiça de São Paulo proibiu a leitura da Bíblia durante sessões da Câmara Municipal de Bauru. Juízes decidiram que a prática é uma violação ao Estado laico. A proibição foi determinada de forma unânime pelo Tribunal de Justiça de SP. (...)
O Tribunal também vetou citação à "proteção de Deus". Uma resolução da Câmara de Bauru previa que, em todas as sessões, o presidente da Casa devia dizer a seguinte frase: "Invocando a proteção de Deus, os Vereadores à Câmara Municipal de Bauru, membros da Comissão Interpartidária, iniciamos seus trabalhos". Foi essa parte inicial que a Justiça mandou tirar.
Trecho da decisão de Justiça de São Paulo:
“O ato normativo impugnado promove predileção para uma determinada crença em detrimento das demais religiões, ofendendo a liberdade religiosa”.
A Câmara não vai poder expor a Bíblia durante as sessões. A decisão da Justiça também derrubou uma determinação do regimento interno que mandava dispor um exemplar sobre a Mesa Diretora. A ação foi ajuizada pela Procuradoria-Geral de Justiça.
 
Achei bastante engraçada essa notícia, pois finalmente juízes ajuizados tomaram a decisão mais apropriada e em conformidade com a Constituição brasileira. Pouco me importa se alguém crê ou professa sua fé conforme uma das diversas religiões e cultos existentes no Brasil. O que sempre me irritou é a visão estreita de que apenas esta ou aquela religião está correta. Se somos um Estado laico, não faz sentido estabelecer normas e regulamentos baseados na crença religiosa de alguém ou de algum grupo. Expor (ideias, crenças, etc.) nunca foi sinônimo de impor.
 
E, cá entre nós, em um país teoricamente laico, frases do tipo"Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" utilizadas em discursos de autoridades e líderes religiosos cristãos sempre foram para mim apenas constrangedoramente ridículas. Como ficariam os cristãos se ouvissem a mesma frase onde a palavra "Deus" fosse substituída por "Ganesh", "Xangô" ou "Buda", por exemplo?

Uma coisa é certa: os praticantes de umbanda, candomblé, os animistas, os muçulmanos, os budistas, os hinduístas, os ateus e todas as pessoas que discreta e respeitosamente professam sua fé sem tentar impô-la a ninguém, agradecem essa decisão da Justiça de São Paulo.
 

segunda-feira, 22 de abril de 2024

A IRONIA CONTINUA ELITISTA

 
O mais recente post do blog “A Marreta do Azarão” apresenta uma piada gráfica sobre “números não binários”, feita por ele com o auxílio de Inteligência Artificial. Graças à minha crescente dificuldade de raciocínio e de pensar de forma criativa, “fora da caixa”, confesso não ter entendido porra nenhuma da ironia e humor presentes no desenho publicado. Pior, precisei pedir a ele que me explicasse a piada!
 
Essa situação constrangedora e lamentável me fez recordar de um post publicado em 2014, no qual transcrevi trechos de uma crônica encontrada na revista VEJA, de autoria de Sérgio Rodrigues. E por me enquadrar hoje no grupo das pessoas com dificuldade de entender a ironia, decidi transcrever trechos desse post publicado em uma época em que eu conseguia captar e me divertir com a ironia e o humor refinado produzidos por outras pessoas e até mesmo por mim. Eu era feliz e não sabia! Olhaí:
 
A IRONIA É ELITISTA
O riso é um mecanismo de seleção. Une as pessoas, mas também as separa. Quanto menos física se torna a comédia, quanto mais se afasta do pastelão e da careta na direção do outro extremo do arco, o espírito puro, o wit, a ironia fina, mais gente exclui do seu campo. Passa a depender pesadamente da linguagem e exige um grau de domínio de meios de expressão e referências culturais – e até uma certa predisposição ideológica para captar “a mensagem” – que costumam vir associados a uma boa formação educacional.
 
Ser sutil pode ser necessário aos espirituosos, mas é também um perigo. Multidões não pescam ironia. (...) Ao se defender, alegando que quis dizer o contrário do que disse, que a isso chamam ironia e tal, o irônico irrita ainda mais quem já estava furioso com ele. Agora o sujeito se sente escalado no papel de palhaço: a piada que uma pessoa descobre não ter entendido sempre lhe parece feita também às suas custas.
 

domingo, 21 de abril de 2024

FAZENDO ECO

 
É fato notório que os mais velhos reclamem e critiquem os mais novos por seu comportamento livre e aparentemente transgressor com comentários do tipo “No meu tempo...” ou “Quando eu tinha a sua idade...”. Esta é a essência do chamado “choque de gerações”, pois os idosos ficam chocados com a alegria e descontração da meninada (piada ruim!).
 
Mas hoje – e posso estar errado ao dizer isso -, graças a programas populares exibidos nos canais abertos de TV e “reality shows” tipo Big Brother eu percebo e lamento o que me parece ser um empobrecimento cultural e comportamental da maioria da população.
 
Hoje, parece que a sociedade está sendo gradualmente moldada pela vulgaridade, pela boçalidade e por todas as suas manifestações correlatas. Aparentemente valoriza-se mais a ignorância, a falta de cultura e de educação. O culto ao bruto, ao rude, ao grosseiro, ao inculto e ao ignorante parece definir o perfil predominante da juventude atual.
 
Talvez a explicação para esse fenômeno esteja nestas palavras do escritor Humberto Eco: 
“I social media danno diritto di parola a legioni di imbecilli che prima parlavano solo al bar dopo un bicchiere di vino, senza danneggiare la collettività. Venivano subito messi a tacere, mentre ora hanno lo stesso diritto di parola di un Premio Nobel. È l’invasione degli imbecilli”.(deu trabalho encontrar o original, transcrito aqui só pela beleza das palavras em italiano).
  
Traduzindo, 
“As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”
 
Mesmo fazendo eco ao que disse o escritor italiano (piada ruim!), fico me perguntando se esse não terá sido sempre o comportamento da maioria da população em qualquer época, se esses traços não estiveram presentes de maneira recorrente ao longo da história da civilização. Qual a sua opinião, robô?

 

TEMAS QUE NÃO PRETENDO AMPLIAR

  Alguns pensamentos meio caóticos ou delirantes têm invadido minha mente. Se fosse outro o tempo, ficaria divagando e escrevendo abobrinhas...