quinta-feira, 25 de abril de 2024

ENDLESS LOVE

 
Foi no carnaval de 1969 que se iniciou uma história de amor que eu não quero que acabe nunca – mesmo que eu saiba que um dia acabará. Já publiquei vários textos sobre esse relacionamento no Blogson, falando dela, de nós, e de como minha vida foi moldada e adquiriu sentido a partir do momento em que um garoto muito magro, muito feio e muito bobo conseguiu cativar uma menina lindíssima, dona dos olhos mais bonitos que já vi.
 
E esse relacionamento que parecia ser apenas um encontro improvável e sem futuro entre dois jovens está comemorando hoje 49 anos de casamento e 55 desde aquela noite de carnaval.
 
Tudo começou quando eu fui ao baile de carnaval da Sociedade Mineira dos Engenheiros, provavelmente graças a um convite arranjado por meu irmão ou por meus primos, que já estudavam engenharia. Eu era um sujeito magro, muito magro, desengonçado e feio. Além de feio, bobo, muito bobo.
 
Em Beagá, naquela época, o carnaval bom era o de clube. Na avenida, o que rolava eram os blocos caricatos. Escola de samba nem era considerada. A música predominante era a marchinha, muito melhor para abraçar a menina enquanto se davam voltas no salão. Aliás, o povo que brincava nos clubes ficava como uma galáxia ou nebulosa, girando, girando, enquanto a banda (som ao vivo, por favor!) cantava “foi bom te ver outra vez, está fazendo um ano, foi no Carnaval que passou...”
 
Então, foi nesse clima, em um dia 15 de fevereiro, que eu vi aquela maravilha de menina, com os olhos lindíssimos ainda mais acentuados pela maquiagem. Ela estava vestindo um pareô verde e azul, se não me engano. Havia mais alguém com o mesmo traje, uma ou duas meninas, mas só fiquei ligado nela, não só pela beleza incrível, mas por um detalhe meio ridículo: Eu achei que ela tinha olhado para mim com algum interesse. Na prática, o que tinha chamado sua atenção era a pinta (nevo) que tenho no rosto, na época coberta de pelos pretos e muito chamativa (“chamativa” como sinônimo de feia).
 
Para encurtar a conversa, namoramos em casa durante uns dois ou três meses até que sua mãe nos viu de mãos dadas, uma “libertinagem” inadmissível naquela época para tão pouco tempo de relacionamento. Resultado: término do namoro, só reatado em um dia 25 de abril de 1970, depois de muita dor de cotovelo. A partir daí nunca mais nos separamos, namoramos durante quatro anos, ficamos noivos em 25 de abril de 1974 e nos casamos em 25 de abril de 1975, prova de que um pouco de TOC não faz tão mal assim.
 
Quando nos casamos, era normal que acontecessem duas cerimônias. O casamento religioso era o que dava ibope, tinha valor e era aceito pelos parentes e amigos do noivo e da noiva - imediatamente escaneada dos pés à cabeça pelas tias e primas bisbilhoteiras do noivo, atentas a um eventual e suspeito aumento de volume abdominal (“será que é o que estou pensando?”).
 
Para o casamento civil, embora acontecesse primeiro, ninguém dava muita bola (“mera formalidade burocrática!”). Isso podia afetar até o status dos padrinhos escolhidos. O que foi parcialmente confirmado no nosso caso. Mesmo sendo obrigatórios apenas dois, chamamos uma penca de parentes queridos para testemunhar a constituição de nossa “sociedade de responsabilidade limitada”.
 
A programação daquele dia foi tensa, intensa e cheia de alegria e felicidade, com as bênçãos e cumprimentos de pais, parentes e uma centena de amigos e conhecidos, muitos deles provavelmente, atraídos pela mega recepção providenciada por meu sogro. Na manhã seguinte, ao acordar, senti a maior emoção da minha vida ao ver aquela menina linda deitada ao meu lado, e perceber que a partir desse dia era responsável por ela e que com ela dividiria muitas alegrias, decepções e tristezas pela vida afora. Eu era agora um jovem casado, com 24 anos.
 
Nosso primeiro filho nasceu quando eu já estava com 26 anos. Graças à minha amada, a ele e a seus irmãos, minha vida foi toda escrita e reescrita, sempre para melhor. No devido tempo nossa alegria ficou completa com a "adoção" de nossas filhas do coração e o nascimento de nossas encantadoras netinhas.
 
Hoje, 49 anos depois que aquela menina linda disse “Sim” à pergunta se me aceitava como esposo “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza” formuladas pelo padre, eu me lembro de nossos pais e de muitos parentes e amigos queridos que estiveram presentes em nossa cerimônia de casamento. Como disse Manoel Bandeira, “Estão todos dormindo / Estão todos deitados / Dormindo / Profundamente”.
 
E como acontece com todos os casais, nesse tempo todo eu e ela tivemos várias brigas e desentendimentos, motivados muitas vezes por bobagens irrelevantes ou motivos mais sérios. Eu a decepcionei e magoei, ela me irritou, mas nada disso importa, porque ela sempre esteve ao meu lado, apoiando-me ou consolando-me quando eu mais precisei.
 
E, acima de tudo, sei que até o fim da minha vida nunca deixarei de amá-la, pois ela sempre foi, é e será a mulher da minha vida.


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