Foi no carnaval de
1969 que se iniciou uma história de amor que eu não quero que acabe nunca – mesmo
que eu saiba que um dia acabará. Já publiquei vários textos sobre esse relacionamento
no Blogson, falando dela, de nós, e de como minha vida foi moldada e adquiriu sentido
a partir do momento em que um garoto muito magro, muito feio e muito bobo conseguiu cativar uma menina lindíssima, dona dos olhos mais bonitos que já vi.
E esse relacionamento
que parecia ser apenas um encontro improvável e sem futuro entre dois jovens está
comemorando hoje 49 anos de casamento e 55 desde aquela noite de carnaval.
Tudo começou quando
eu fui ao baile de carnaval da Sociedade Mineira dos Engenheiros, provavelmente
graças a um convite arranjado por meu irmão ou por meus primos, que já estudavam
engenharia. Eu era um sujeito magro, muito magro, desengonçado e feio. Além de feio,
bobo, muito bobo.
Em Beagá, naquela época, o carnaval bom era o de clube.
Na avenida, o que rolava eram os blocos caricatos. Escola de samba nem era considerada.
A música predominante era a marchinha, muito melhor para abraçar a menina enquanto
se davam voltas no salão. Aliás, o povo que brincava nos clubes ficava como uma
galáxia ou nebulosa, girando, girando, enquanto a banda (som ao vivo, por favor!)
cantava “foi bom te ver outra vez, está fazendo um ano, foi no Carnaval que passou...”
Então, foi nesse clima, em um dia 15 de fevereiro, que
eu vi aquela maravilha de menina, com os olhos lindíssimos ainda mais acentuados
pela maquiagem. Ela estava vestindo um pareô verde e azul, se não me engano. Havia
mais alguém com o mesmo traje, uma ou duas meninas, mas só fiquei ligado nela, não
só pela beleza incrível, mas por um detalhe meio ridículo: Eu achei que ela tinha
olhado para mim com algum interesse. Na prática, o que tinha chamado sua atenção
era a pinta (nevo) que tenho no rosto, na época coberta de pelos pretos e muito
chamativa (“chamativa” como sinônimo de feia).
Para encurtar a conversa,
namoramos em casa durante uns dois ou três meses até que sua mãe nos viu de mãos
dadas, uma “libertinagem” inadmissível naquela época para tão pouco tempo de relacionamento.
Resultado: término do namoro, só reatado em um dia 25 de abril de 1970, depois de
muita dor de cotovelo. A partir daí nunca mais nos separamos, namoramos durante
quatro anos, ficamos noivos em 25 de abril de 1974 e nos casamos em 25 de abril
de 1975, prova de que um pouco de TOC não faz tão mal assim.
Quando nos casamos, era normal que acontecessem duas
cerimônias. O casamento religioso era o que dava ibope, tinha valor e era aceito
pelos parentes e amigos do noivo e da noiva - imediatamente escaneada dos pés à
cabeça pelas tias e primas bisbilhoteiras do noivo, atentas a um eventual e suspeito
aumento de volume abdominal (“será que é o que estou pensando?”).
Para o casamento civil, embora acontecesse primeiro,
ninguém dava muita bola (“mera formalidade burocrática!”). Isso podia afetar até
o status dos padrinhos escolhidos. O que foi parcialmente confirmado no nosso caso.
Mesmo sendo obrigatórios apenas dois, chamamos uma penca de parentes queridos para
testemunhar a constituição de nossa “sociedade de responsabilidade limitada”.
A programação daquele
dia foi tensa, intensa e cheia de alegria e felicidade, com as bênçãos e cumprimentos
de pais, parentes e uma centena de amigos e conhecidos, muitos deles provavelmente, atraídos
pela mega recepção providenciada por meu sogro. Na manhã seguinte, ao acordar, senti
a maior emoção da minha vida ao ver aquela menina linda deitada ao meu lado, e perceber
que a partir desse dia era responsável por ela e que com ela dividiria muitas alegrias,
decepções e tristezas pela vida afora. Eu era agora um jovem casado, com 24 anos.
Nosso primeiro filho
nasceu quando eu já estava com 26 anos. Graças à minha amada, a ele e a seus irmãos,
minha vida foi toda escrita e reescrita, sempre para melhor. No devido tempo nossa alegria
ficou completa com a "adoção" de nossas filhas do coração e o nascimento de nossas encantadoras
netinhas.
Hoje, 49 anos depois
que aquela menina linda disse “Sim” à
pergunta se me aceitava como esposo “na saúde
e na doença, na alegria e na tristeza” formuladas pelo padre,
eu me lembro de nossos pais e de muitos parentes e amigos queridos que estiveram
presentes em nossa cerimônia de casamento. Como disse Manoel Bandeira, “Estão todos dormindo / Estão todos deitados
/ Dormindo / Profundamente”.
E como acontece com
todos os casais, nesse tempo todo eu e ela tivemos várias brigas e desentendimentos,
motivados muitas vezes por bobagens irrelevantes ou motivos mais sérios. Eu a decepcionei
e magoei, ela me irritou, mas nada disso importa, porque ela sempre esteve ao meu
lado, apoiando-me ou consolando-me quando eu mais precisei.
E, acima de tudo, sei
que até o fim da minha vida nunca deixarei de amá-la, pois ela sempre foi, é e será
a mulher da minha vida.
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