sábado, 31 de outubro de 2020

MÁXIMAS E MÍNIMAS DO BARÃO DE ITARARÉ


Apparício Torelly recebeu o título de Barão graças à sua participação na Batalha de Itararé, “a mais sangrenta da América do Sul”. Ainda bem, pois nunca aconteceu essa batalha e o auto-concedido título de nobreza que ostentava foi assim explicado:

“Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, em homenagem à batalha que não houve”.

Essa figuraça foi um jornalista que usava o humor e a sátira para detonar os poderosos de plantão. Um dia foi sequestrado e espancado por oficiais da Marinha. “Depois desse episódio, voltou à redação do jornal e colocou uma placa na porta onde se lia: ‘Entre sem bater’, mantendo o seu espírito humorístico”.

Em 1947 foi eleito vereador pelo PCB com o lema "Mais leite! Mais água! Mas menos água no leite!", Em janeiro de 1948 ele e os demais vereadores do PCB tiveram seu mandato cassado. Seu jornal humorístico deu a seguinte notícia: "Um dia é da caça... os outros da cassação".

Resumindo, ele era o cara para fazer jogos de palavras engraçados. E bom em frases curtas e certeiras, como essas que encontrei na internet:


A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.

A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.

A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.

A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.

As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.

De onde menos se espera, daí é que não sai nada.

Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!

Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.

Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.

Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…

Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.

Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.

Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.

Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.

Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.

Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!

O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.

O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.

O fígado faz muito mal à bebida.

O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.

O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.

O uísque é uma cachaça metida a besta

O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.

Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.

Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.

Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.

Quando pobre come frango, um dos dois está doente

Quem empresta, adeus.

Quem não muda de caminho é trem.

Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.

Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.

Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.

Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.

Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

FARELOS DA HISTÓRIA

 
Morei na casa de minha avó até me casar. Casa de vó, especialmente das que tiveram muitos filhos, é uma mina de coisas inúteis, antigas e bizarras, Se a dupla do programa “Caçadores de Relíquias” entrasse na casa de minha avó certamente desejaria comprar muita coisa, pois tranqueira é o que mais existia ali. Cofrinhos do Banco da Lavoura, coleção de lápis de propaganda (isso já existiu!), revistas “O Cruzeiro” da década de 1950, canetas tinteiro que não escreviam mais, mata-borrão (alguém sabe o que é isso?), um conjunto de jarro e bacia de louça do início do século XX e até uma cristaleira metida a besta que todo mundo chamava de étagère (não com essa frescura toda de acentos).
 
Pois bem, estou chegando à conclusão que nossa casa está ficando igual, pois às vezes descubro coisas de que nem me lembrava mais. Uma dessas surpresas aconteceu ontem. Depois de ter sido pego no laço por minha mulher para arrumar um quartinho transformado em biblioteca, discoteca de vinis, despensa e almoxarifado pandêmico, descobri esquecida em uma das prateleiras mais altas uma verdadeira relíquia, uma coleção de caixas de fósforo de propaganda (distribuídas como brinde em um tempo onde fumar não era um ato condenável). Essas caixinhas (cartelas) trazem impressas imagens, telefones, endereços, etc.
 
Ao bater o olho naquela “preciosidade”, não tive dúvida: levei tudo para perto do scanner, arrumei caprichosamente as caixinhas no vidro da máquina e mandei bala, ou seja, escaneei tudo. E foi bom ter feito isso, pois se percebia uma discreta umidade em uma das laterais da caixa onde estiveram acondicionadas. Essa umidade bastou para tirar o brilho original de várias peças.
 
Descobri também que não faço a menor ideia de como essa coleção veio parar aqui em casa (mesmo que eu e minha mulher tenhamos perfil de acumulador), pois, além de serem visivelmente antigas, algumas trazem propaganda de boates e restaurantes do Rio de Janeiro. Mas há três que são absolutamente sensacionais: uma delas traz a imagem do Juscelino Kubistchek quando ainda estava concorrendo ao cargo de presidente! A data impressa na lombada da caixa é “1955”. A segunda traz o retrato de Terezinha Morango, Miss Brasil 1957. A terceira é uma caixa “anabolizada”, pois tem o tamanho de três cartelas emendadas. Pelas datas que se podem ver em outras caixas, essa coleção deve ter sido formada na segunda metade da década de 1950.
 
Talvez devesse ter escaneado frente e verso de todas elas, mas daria muito trabalho. Por isso, reservei esse tratamento especial apenas ao grupo que aparece na primeira página.  E são essas imagens que compõem o post de hoje. Não significam nada, provavelmente nada valem, são como as casquinhas que se soltam do pão que é partido na mesa de café da manhã e depois varridas. São como que casquinhas ou farelos da História. Que eu resolvi não varrer para o lixo. Olhaí.










terça-feira, 27 de outubro de 2020

JULES FEIFFER

Escrito em 13/08
Depois de rever as capas do Grilo em post recentemente publicado, lembrei-me de um cartunista americano publicado na revista. Seu tipo de humor é tudo de bom, pois está ancorado em diálogos ou monólogos às vezes ácidos, às vezes críticos aplicados em desenhos aparentemente fáceis de fazer (só aparentemente). Os que sairam no Grilo muitas vezes apresentavam pessoas de perfil, às vezes duas, uma em frente à outra. Às vezes aparecia o Richard Nixon (presidente dos EUA na época) cascateando alguma coisa. O nome desse autor é Jules Feiffer.

Segundo li na internet, nasceu em 1929 e se tornou famoso por “Feiffer”, uma história em quadrinhos satírica onde “os elementos verbais geralmente tomavam a forma de monólogos nos quais o falante (às vezes patético, às vezes pomposo) expunha suas próprias inseguranças”. No período em que a revista Grilo publicou seus desenhos ele era colaborador do The Village Voice, considerado o primero semanário alternativo americano. Aí, para enriquecer o velho Blogson, copiei da internet quatro exemplos de seus trabalhos minimalistas. Em dois deles me senti "obrigado" a traduzir (ou "interpretar") eu mesmo os textos dos desenhos (mesmo sem saber inglês), mais ou menos como no método Braille. Olhaí.

 



domingo, 25 de outubro de 2020

TEORIA DAS CORDAS

 
Se alguém sentiu-se atraído pelo título deste post e está pensando que vou falar sobre Física de altíssimo nível, dançou. Poderia até dizer que teoria das cordas é assunto proibido em casa de enforcado, mas estaria fugindo do assunto de hoje com essa piada idiota. Ainda que ninguém saiba ou se lembre, já comentei sobre o tema de hoje lá no princípio do blog, mas, mesmo não sendo um Van Gogh, sinto-me impelido a dar mais umas pinceladas nesse quadro. Antes, porém, vou divagar um pouco, pois meu cérebro está um pouco devagar (este começo está mesmo difícil!).
 
Tenho a impressão de que os músicos não batem bem da cabeça. E digo isso por um fato que sempre me incomodou. Um violão desses que as pessoas ganham no bingo, quebram na cabeça do amado, utilizam para fazer desafinadas serenatas ao luar (que lindo!) ou onde espancam uma música da Marília Mendonça - tem seis cordas. Obviamente, se possuísse mais uma seria um violão de sete cordas, instrumento utilizado só por quem entende muito do assunto.
 
Pois bem, as cordas do violão são conhecidas por ordinais (primeira, segunda, etc.) ou notas musicais (Mi, Si, Sol, Re, La e Mi novamente). Detalhe: as cordas são identificadas de baixo para cima, uma excrescência que nunca consegui entender. Veja bem, quem pega um violão no colo verá sempre a corda mais grossa (Mi) e, na sequência, La, Re, etc. Mas um idiota de um músico sem ter nada para fazer de melhor resolveu que essa ordem natural está errada, significando que a corda Mi grossona (que intuitivamente deveria ser a primeira) é a sexta corda. Dá para concordar com uma idiotice dessas?
 
Pois bem, depois dessa fantástica aula sobre a anatomia de um violão (estamos falando do instrumento musical, OK?), preciso falar da afinação do curvilíneo instrumento (acho que não estou conseguindo me concentrar...). Como disse, a segunda corda mais grossa do violão corresponde à nota La. E é por esse som que se afina o instrumento.  Aha! Depois, ao apertar-se essa corda no quinto intervalo (traste) do braço do instrumento, o som emitido corresponderá à nota Re. Quando fazemos isso, se o violão já estiver afinado, a corda Re vibra sem precisar ser tocada. Esse fenômeno é conhecido como “ressonância”. E é aí que vou amarrar minha régua (na falta de uma égua, simpático animal, muito apreciado pelos jumentos).
 
Dizemos “estar em ressonância” ou “na mesma sintonia” com alguém quando pensamos de modo semelhante sobre alguma coisa. E essa ressonância serve para o bem e para o mal. Imagino que alguém já tenha dito ou escrito com muito mais elegância e propriedade o que vou dizer. Como nunca li nada sobre isso, considero-me no mínimo co-proprietário desta reflexão, a que chamarei de “teoria das cordas de Jotabê” (entendeu agora a escolha do título?): Ei-la lá:
 
Nós só gostamos ou prestamos atenção em ideias ou palavras lidas ou ouvidas, se elas entrarem em ressonância com o que já sentimos ou pensamos de forma desordenada, inconsciente ou adormecida. É como se nosso cérebro – por estar previamente afinado com o assunto – “vibrasse” com essas ideias ou palavras. Fala sério, é ou não é um pensamento bacana?
 
E isso tem ficado muito visível nos tempos recentes, pois o que tem de gente sintonizada com o que há de pior e equivocado não está no gibi. E o principal mentor disso, a influência negativa, está sentado na cadeira de presidente do país. Engana-se porém quem pensa que eu só gosto de malhar nosso amigo Jair. Na verdade, gosto mesmo - mas também gostei de malhar o Lula, a Dilma e o Temer.
 
Mas o que me preocupa mesmo é o fato de estar grassando um obscurantismo cada vez maior entre os simpatizantes do Messias. Esse assunto já foi abordado com um pouco mais de seriedade aqui no Blogson, mas depois de ler uma frase que algum gênio publicou no Facebook, comecei a me coçar. A frase é este primor de bom senso: “Você tomaria uma vacina vinda do mesmo país que tentou te exterminar?”. A reação foi impressionante, pois dezoito pessoas disseram “não” através de palavras ou emojis. Além disso, houve quatro compartilhamentos, criando o potencial efeito de “pirâmide”.
 
O bizarro nessa história é que eu disse “sim” e argumentei que se o Ministério da Saúde aprovar sua aplicação eu a tomarei sem medo. Para não deixar barato, ainda disse ser a favor da Inteligência e da Ciência e contra a estupidez e as realidades alternativas. O resultado é que a postagem onde fiz essa ponderação foi excluída – e recriada logo em seguida, naturalmente sem meu comentário.
 
E é nesse pé em que estamos. Você pode ser a pessoa mais culta, mais “letrada”, com pós-doutorado e o que quiser, mas diante de uma notícia verdadeira que afronte sua maneira de pensar, diante de uma ameaça a seus preconceitos - em outras palavras, se não tiver dentro de si a corda Re para vibrar em ressonância com a corda La apertada no quinto traste -, pode esquecer. De nada adiantarão dados estatísticos, imagens de satélites, opiniões de especialistas mundialmente reconhecidos. Tudo isso será descartado em favor dos mitos criados por mentes obscurantistas cuja bandeira principal é o combate à corrupção. Caralho! (perdoem-me, senhoras, escapou-se me), todo mundo é contra a corrupção! Só é a favor quem dela se beneficia. Mesmo que esse benefício paradoxalmente se traduza em eleitores fieis em uma futura eleição. 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O CÉU PODE SER UM INFERNO - A MARRETA DO AZARÃO

Em junho deste ano o velho e alquebrado Blogson Crusoe completou seis anos de existência. Pode parecer pouco, mas na escala logarítmica a unidade de mensuração desse tempo de vida é “pracaralho”, ou seja, tempo pra kawaka. Pois bem, nessa eternidade toda o blog teve 88.956 visualizações, uma quantidade tão inimaginável quanto a fortuna do Bill Gates convertida em notas de lobo guará. Quantos loucos teriam contribuído para um número tão espantoso? Bom, para ser sincero, não são tantos assim.

Façamos as contas: meu amigo Marreta provavelmente é responsável pela metade dos acessos. Além dele, não posso me esquecer dos gentis robôs do Google, que contribuíram com uns dois mil acessos. Bom, do que sobrou, provavelmente 70% deve ser creditado aos amigos virtuais que aportaram por aqui graças a quem mesmo? Ao Marreta!

Isso significa que no quesito “leitores” o Azarão é o atacadista do Blogson (!) ou, em outras palavras, o blog da solidão ampliada seria uma espécie de sucursal do Marreta – mesmo que as temáticas desses blogs pouco tenham em comum. Às vezes, entretanto, o que ele publica se encaixa tanto (esse “encaixa” só ocorre no plano intelectual, ok?) no viés preferencial do Blogson que é impossível não transcrevê-lo, mesmo que o texto transcrito provavelmente já seja do conhecimento de 99% de todos os que acessam este blog.

Hoje aconteceu isso. Eu ri tanto do caso esplendidamente contado por ele que não tive dúvida: “Vai para o Blogson!” Só precisei fazer duas adaptações: retirei o início do texto original para não parecer jogada de marketing (ou autopromoção) e reprogramei o post que sairia hoje. Olhaí que super hilário:

 

"O cara morreu e acordou de cara para os Portões Celestiais. Ficou meio desconfiado, ressabiado, pensou que podia ser uma "pegadinha" do Capeta, afinal, não fora lá aquelas coisas em vida. Resolveu arriscar. Tocou a campainha do Céu. Atendeu-lhe São Pedro, perguntou-lhe o nome, abriu o Livro Divino, correu os dedos e as vistas por suas páginas e confirmou:

- Sim, meu filho, seu lugar é aqui, parabéns. Agora, eu lhe conduzirei ao seu local de repouso, à sua morada eterna e, no caminho, já vou lhe mostrando as dependências e áreas comuns do Céu. O cara foi seguindo São Pedro e o Porteiro do Céu foi lhe indicando onde ficava o refeitório, o salão de jogos, a barbearia, um pequeno comércio local de artesanato de imagens sacras e relíquias... quando, do nada, ouviu terríveis  gritos de agonia e sofrimento saídos de uma pequena oficina.

- São Pedro, que gritos são esses? Parece que alguém está sendo torturado, não esperava ouvir isso por aqui.

- Isso não é nada, meu filho, não é tortura, não. É que essa pessoa foi muito boa em vida, muito boa mesmo, magnânima, tão boa que vai virar santo. Esses gritos são porque estão furando a cabeça dela para ser colocado aquele halo luminoso da santidade.

- Ah, então tão certo, São Pedro.

Continuaram em direção ao novo lar do recém-chegado e com o tour pelo Céu. São Pedro mostrou o clube, a piscina, a padaria, a academia, a biblioteca do Céu... e novos gritos saídos de outra pequena oficina, ainda mais lancinantes que os anteriores.

- O que é isso, agora, São Pedro? Esse tá sofrendo mais ainda que o outro.

- É que esse, meu filho, foi ainda melhor que o outro, mais caridoso e benevolente ainda para com seus semelhantes, tão melhor que o outro que vai virar anjo e se sentar ao lado do Senhor. Esses gritos são porque estão furando as costas dele para serem encaixadas as asas. Entendeu, meu filho?

- Entendi, São Pedro, entendi, sim. Olha, Pedrão, agradeço a boa acolhida, a reserva de quarto feita em meu nome e tudo, não quero parecer mal-agradecido nem que me leve a mal ou tome o meu pedido como uma ofensa, mas não dá pra me enviar pro Inferno, não?

- Que pedido é esse, meu filho? Jeito tem, eu tenho essa autonomia, mas por que este desatino de sua parte?

- Ó, São Pedro, eu não quero fazer o senhor perder mais de seu tempo comigo, só me manda pro Inferno e pronto. 

- Meu filho, aquilo é um lugar de sofrimento eterno.

- Eu sei, São Pedro, eu já pensei que fosse mesmo pra lá. Me manda, vai.

- Um local de martírio...

- Sei, São Pedro, se precisar eu assino um termo de responsabilidade ou coisa parecida. Só me manda pra lá.

Disposto a não desistir daquela alma confusa e conturbada, São Pedro jogou a sua última cartada.

- Meu filho, quando você chegar no Inferno, a primeira coisa que o Capeta vai fazer é comer o seu cu!

- Eu sei, São Pedro, mas pelo menos o buraco já tá pronto!"

 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

VOCÊ SABIA? - CAVANNA

Como sabem ou suspeitam os insensatos que acessam este blog, meu tema e foco predileto são o humor, a sátira, a caricatura e o sarcasmo. Por isso mesmo - e sempre que isso foi possível - alimentei minha cabeça com revistas, jornalecos e livros que tivessem essa pegada. Uma dessas publicações foi um jornal tabloide lançado em 1971 com o título “Grilo”. Era integralmente dedicado às tiras de personagens caricatos, mas com um tipo de humor nada infantil. Nessa fase, creio que os autores eram majoritariamente dos Estados Unidos. Algumas histórias eram super manjadas, mas a maioria era desconhecida no Brasil. Os desenhos de Robert Crumb, Jules Feiffer e Wolinski misturavam-se com as tiras de Peanuts, Wizard of Id, Tumbleweeds, o burocrata Bristow e, mais para frente um pouco, Valentina, um desenho sensual sem tons de cinzas, só em preto e branco.

Em determinado momento, o jornalzinho foi transformado em revista, com mudança também no conteúdo. Os personagens certinhos foram dando lugar à produção de autores franceses do time do Charlie Hebdo, com seu humor sacana ou delirante, cartunistas americanos da imprensa alternativa e até brasileiros. Nessa fase, além de desenhos debochados começaram a ser publicados contos de realismo fantástico (que nunca li) e textos hilariantes e cheios de non sense. É aí que mora o post de hoje.

Além dos “textículos” jotabélicos que recentemente publiquei aqui no Blogson, já fiz posts com seleções de frases do escritor Mark Twain, do humorista Groucho Marx (muito melhor que o Karl), do senador romano Cícero, do meu ídolo maior Millôr Fernandes, do economista Roberto Campos e do jornalista americano HL Mencken.  Graças a um comentário de meu amigo virtual GRF, lembrei-me de pequenos textos publicados na revista Grilo, apresentados como se fossem tópicos de enciclopédia. Confesso que não tive paciência de procurar em todas as revistas. Assim que achei um, escaneei como OCR, corrigi, excluí as ilustrações (lamento, Ozy) e o resultado é a matéria prima deste post.

É um humor absurdamente idiota, mas confesso que é tudo o que eu gostaria de conseguir fazer. Seu autor chamava-se Cavanna. Segundo a Wikipédia, “François Cavanna (22 de fevereiro de 1923 - 29 de janeiro de 2014) foi um autor francês e editor de jornais satíricos. Ele contribuiu para a criação e sucesso de Hara-Kiri e Charlie Hebdo. Escreveu em uma variedade de gêneros, incluindo reportagem, sátira, ensaios, romances, autobiografia e humor. Também traduziu seis livros sobre cartunistas famosos”.

Depois dessa longa introdução só resta curtir o non sense e o humor idiota de Cavanna. Olhaí.


ABUTRE – Os hindus pobres, não tendo condições de comprar escovas de dentes, andam sempre com um abutre pousado no ombro. Assim que o hindu termina sua refeição, o inteligente animal limpa-lhe os dentes com bicadas precisas e eficazes.

CAMELO - Não é como se acreditou por muito tempo, porque não tenha sede que o camelo pode caminhar muitos dias no deserto sem beber água, mas porque ele é muito orgulhoso para pedir.

CARA A CARA - As únicas criaturas que se grudam de frente são o homem e o sanduíche de patê.

CEGO - Os cegos têm a audição muito desenvolvida. Um cego pode reconhecer se uma nota é falsa apenas com o barulho das algemas fechando-se nos seus pulsos.

CÉLULA - A primeira célula viva que, chegando a fase da puberdade, percebeu que para se reproduzir só precisava se dividir em duas, sofreu AMARGA DECEPÇÃO.

CUCO – Chegada a primavera, a fêmea do cuco, em vez de construir um ninho, vai botar seus ovos nos pêndulos.

ESPERMATOZOIDES – Se todos os espermatozoides contidos em uma gota de líquido seminal fossem colocados em fila indiana, eles cobririam a distância de Paris a Chartres, e durante esse tempo não correríamos o risco de ter um filho com a empregada.

GORILA - A senhora Lucy Mytailor-Isrich, esposa de um missionário anglicano na Nigéria, foi raptada durante um safári por um gorila. Depois de viver durante mais de trinta e cinco anos em notório concubinato com o afetuoso símio, ela continuava incapaz de fazer amor nas árvores sem o medo de quebrar o pescoço.

INTESTINO - O intestino do boi é três vezes mais comprido que o do homem. Entretanto, o boi não liga muito, porque ELE NÃO SABE DISSO.

LONGEVIDADE - O homem mais velho do mundo é um camponês búlgaro chamado Frappsulbid Safeploff.· Ele tem 218 anos. Atribui sua excepcional longevidade e vigor ao fato de viver, desde que nasceu, em um tonel de iogurte. Respira por um tubo e só tem um desejo: VER A TORRE EIFFEL.

MORCEGO – O morcego é um pássaro, mas não sabe disso, e continua voando e botando ovos.

PÁSSARO – Um pequeno pássaro, o Piafus confians, vai todo ano na primavera fazer seu ninho no estômago dos gatos.

PEIXES - Um eminente sábio alemão tentou compreender a linguagem dos peixes. Os peixes se exprimem movendo o rabo. Por exemplo; os movimentos rápidos e bruscos que faz o rabo de um bagre no momento em que é tirado fora da água por um anzol número 12 podem ser interpretados como palavras de doce reprovação.

PORCO-ESPINHO - Se o porco-espinho macho, com a chegada da primavera, sobe nos telhados para roubar telhas, não é, como se pensou por muito tempo, para construir seu ninho, mas porque ele costuma colocar a telha nas costas da fêmea antes de fazer amor. Senão, ele espetaria a barriga.

PULGA – Uma pulga pode mover duas mil vezes o próprio peso, desde que primeiro seja castrada.

ROCHEDO- O célebre rochedo do índio-que-fuma-cachimbo, nos montes Aleganis (EUA), visto de um certo ângulo, ao entardecer, lembra de maneira impressionante o perfil de uma ENORME PERA.

SEXUAL (Orifício) - No dia 10 de outubro de 1968, um habitante de. Zurich, Rudi Woistminekuh, percebeu que o orifício sexual de sua mulher distribuía tabletes de chocolate Nestlé quando se· apertava seu seio direito. Ele pediu o divórcio, porque só gostava de chocolate Suchard.

TIGRE - A primeira vez que um homem deparou com um tigre, vendo que a Providência tinha desenhado as listras no corpo do animal para que se pudesse facilmente cortá-lo em fatias, como um melão, quis levá-lo para casa, e comê-lo em família. Lamentavelmente o tigre não estava maduro.

VIAJANTE (Árvore do) - A árvore-do-viajante, que cresce nas imensidões desérticas da Austrália central, tem frutos muito nutritivos, com gosto de sanduíche de pernil, e fornece um suco gasoso, com o mesmo sabor da cerveja. Quando o infeliz explorador perdido descobre uma árvore-do-viajante, ele só precisa esperar o momento em que o zelador da árvore fique de costas para apanhar a mochila dele e sair correndo.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

CLIPPING

 SINCRETISMIS:

Sincretismo religioso no Brasil é coisa para amadores, para trainees, já nem chama mais a atenção. Aqui a versão top de linha é o sincretismo ideológico. Olhaí o santinho que não me deixa mentir: candidato a vereador pelo PC do B adota “Bolsonaldo” para nome de campanha.


 

CONCIERGE:

Notícia de jornal: Funcionário de hotel da Barra da Tijuca foi preso após assediar sexualmente uma hóspede. Teria usado uma chave-mestra para invadir quarto enquanto a vítima dormia. 

Comentário: O hotel pode até não ser ruim, péssimo é o serviço de quarto.

 

domingo, 18 de outubro de 2020

AQUELE ABRAÇO (EU QUERO DE NOVO)

 

Em conversa recente com um dos filhos fui aconselhado a ter "Cuidado com o cuidado”, um alerta para nos fazer pensar de que "agora é a hora de abraçar as meninas", referindo-se às suas sobrinhas e, obviamente nossas adoráveis netinhas. Lá no início do blog escrevi os textos “Aquele abraço”(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2015/01/aquele-abraco.html) e “Que abraço aquele!”(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2015/01/que-abraco-aquele.html) sobre o ato de abraçar e suas implicações (recomendo a leitura!). Fiquei com o alerta de meu filho na cabeça até resolver revisitar o tema dos dois posts antigos. Para isso, optei por apresentar minha visão atual como se estivesse respondendo a ele, pois posso divagar e dizer obviedades e platitudes sem que isso lembre aquela arrogância dos ignorantes que se acreditam donos da verdade. Bora lá.
 
Sabe, filho, seu comentário foi meio assustador, como se já soubesse de algo que estamos prestes a saber. Lógico que não se trata disso, mas colocou na pauta um assunto que não pode ser desprezado, que é a duração da vida ou o tempo que nos resta. Eu poderia fazer uma abordagem estatística com base em reportagem publicada há muito tempo na revista Veja ou me basear no histórico familiar. Seguindo a Veja eu estaria fodido, seguindo meus pais eu estaria bem na fita. Entretanto, nada disso importa, pois creio não haver ainda um algoritmo de precisão para resolver esse impasse. Em todo caso, imagino que ainda tenho uns dez anos pela frente, suficientes para amargar o arrependimento por todas as burradas, displicência ou irresponsabilidades cometidas ao longo da vida. Isso também é irrelevante para comentar seu conselho (ou presságio).
 
E sabe por quê? Porque o que eu mais desejo - e não farei isso até ser vacinado - é abraçar meus filhos. Essa é a maior falta, a maior privação que sofro. Abraçar as netinhas é uma consequência lógica  disso. Você não imagina o tanto que eu gostaria de poder abraçá-los, porque o abraço de vocês sempre foi o melhor presente que eu desejei ganhar.
 
Então, falemos das netinhas. As menininhas mais velhas estão na fase mais tchutchuca da infância. As outras duas ainda estão entrando nela. As quatro são adoráveis, lindas, indefesas e a vontade de poder abraçá-las é grande (não tanto quanto a de ganhar um abraço de vocês). Mas eu não me preocupo, pois estou sereno com a ideia de só fazer isso depois de vacinado. E sabe por quê? Assim como não sei quantos anos ainda viverei também não sei o que acontecerá comigo se (infelizmente) me expuser a um contágio  vindo de onde vier. Veja bem, sou idoso, hipertenso, hipotiroideu e tenho uma "alteração não identificada no pulmão". O que seria isso? Consequência ou sequela da pneumonia que me atingiu em 2002 ou 2003? Não sei e, "graças" à pandemia, nem tive tempo de fazer um exame mais aprofundado.
 
Então, pense bem, eu preciso ter a paciência dos marinheiros de submarino, o auto-controle dos astronautas da Estação Espacial, a determinação dos emigrantes, a resignação dos imigrantes. Eu preciso saber e aceitar esperar com calma e em paz. E, se nesse meio tempo eu cair duro ou tiver um AVC, não sentirei remorso em momento algum (bom, se eu cair duro não vou sentir é nada mesmo).
 
Você disse que "agora é a hora de abraçar as meninas". Você poderia dizer isso para quem convive com elas, não para mim, não para nós. Na idade em que estão e com a pouquíssima convivência que temos, uma convivência mascarada, a última coisa que elas desejarão é ser abraçadas por quase desconhecidos. Você certamente se lembra do Seu Amintas (meu pai). Não tenho a menor dúvida de que ele se derretia de felicidade ao vê-los. Você gostava de abraçá-lo? Duvido e nunca me incomodei com isso, pois ele era apenas um registro histórico-familiar em sua cabeça. Os vínculos afetivos entre você e ele não tinham a mesma intensidade de um para o outro. Eu adoro as menininhas, mas sou tão irrelevante para elas quanto os outros avós que também pouco convivem com elas.
 
Vínculos afetivos podem ser construídos, preservados ou desmontados e destruídos. Dependem do maior ou menor contato e da empatia que rola. Alguns poucos abraços não resolverão isso. Talvez você acredite - e se assim pensar não estará muito longe da verdade - que esse isolamento social de longa duração reativou meu lado ogro, antissocial. Mesmo que pareça pouco provável conseguir aumentar ainda mais o que já é gigantesco. Por ser aposentado e recluso ainda antes da pandemia, não poderia dizer que tenho uma vida social efervescente. Na verdade, não tenho nenhuma. Esse é um comportamento que não desejo nem recomendo a ninguém, pois te leva a cortar amizades, networking e todo tipo de relacionamento positivo e benéfico tanto pessoal como profissionalmente, o que é péssimo.
 
Por isso, meu caro filho, não deixe que sua inteligência luminosa te leve a ser impaciente com quem é menos que você. Nunca entre nessa! Não espere das pessoas mais do que elas podem te oferecer. Seja generoso emocionalmente, seja tolerante, não se baste como se fosse um ermitão ou um náufrago em ilha deserta. Jamais se comporte como se você e sua amada fossem o primeiro, o único casal no Paraíso. Não repita o erro que eu cometi, pois se você se fechar em si mesmo acabará acreditando que não existe mais ninguém digno de sua atenção e de sua convivência.

Agora é para acabar. Você me estimulou a pensar no prazer de poder abraçar as menininhas, eu comecei devagar a divagar (horrível!), fui pegando velocidade até chegar ao ponto de fazer uma exortação, uma pregação (que serviu para provar que eu sou mesmo um prego) meio sem sentido, bastante desnecessária, como se estivesse falando sozinho diante de um espelho (a superfície mais cruel que existe). Só posso te pedir que quando se encontrar com seus irmãos e suas sobrinhas, que as abrace por mim e lhes diga baixinho, em segredo, que eu também quero muito abraçá-las e que elas estão lindas demais. Que mais eu posso dizer? Ah, sim! Te amo!!!!!!!!!!!!!!! Beijão.
 

sábado, 17 de outubro de 2020

DEU NO JORNAL, ARAUJO!

"Bar do Araújo" era o título original deste post, em cima de uma piada que meu filho me mandou. Uma boa piada, diga-se. Feita por algum sacana em cima de uma imagem em que acreditei. Mas, graças a meu amigo virtual Marreta, descobri que era mais uma "fake news". Por isso, foi excluída deste post.

Em compensação, a notícia a seguir foi publicada no jornal O Tempo. Acho que não preciso dizer mais nada, pois já é uma piada pronta. Apenas sugiro um "fundo" musical. Qual? "Anos Dourados".





OLD VOICES, OLD TIMES, OLD FRIENDS - SIMON & GARFUNKEL

 
Graças ao tema e comentários do post "Rascunho" resolvi reciclar uma publicação de novembro de 2016, pois tem tudo a ver com minha cabeça atual. Creio que esse caso aconteceu em 1990 ou 1991, pois meu filho mais velho estava ainda lá pela sétima ou oitava série e  teve de fazer um trabalho em grupo sobre velhice ou coisa parecida. Pai entusiasmado e mãe mais ainda, resolvemos levar nosso filho e seu grupo à “Cidade Osanam”, um asilo muito agradável, fundado e mantido pela Sociedade de São Vicente de Paulo. Conversamos com algumas idosas ainda lúcidas e simpaticíssimas (creio que monopolizei as conversas, pois é nunca que eu deixaria de aproveitar essa oportunidade!), ouvimos histórias comoventes, pungentes, tiramos alguns retratos das idosas e do lugar e fomos embora.
 
Pai entusiasmado (de novo), sugeri um tema para a apresentação: a música “Old Friends” que tinha ouvido em um CD da maravilhosa dupla Simon & Garfunkel recentemente comprado. Nesse disco, a música era precedida pela faixa “Old Voices”, uma gravação feita pelo Art Garfunkel no Central Park com os velhinhos que encontrou por ali. Traduzi toscamente a letra para os meninos (ainda não existia o Google Translator), mas uma frase ficou gravada em minha mente: “How terribly strange to be seventy”! Acho que só agora estou começando a entender mesmo esta música...
 
De brinde, além da música ao vivo que encontrei no Youtube, a gravação de “Old Voices” (o Youtube é uma maravilha!). Mesmo não entendendo nada de inglês fico comovido ao ouvir novamente aquelas velhas vozes - ásperas, rascantes, frágeis - provavelmente silenciadas há muito tempo.

Olhaí a letra googlelizada e interpretada (alterada) livremente por mim. 
 
Velhos amigos
Sentados em seu banco de praça como num final de livro
Um jornal voando pela grama cai nas pontas arredondadas dos sapatos caros dos velhos amigos
 
Velhos amigos
O inverno acompanha os velhos perdidos em seus sobretudos, esperando pelo pôr-do-sol
Os sons da cidade trespassando as árvores pousam como poeira nos ombros dos velhos amigos
 
Você pode nos imaginar daqui a alguns anos dividindo silenciosamente um banco de praça?
Quão terrivelmente estranho é ter setenta anos!
 
Velhos amigos
A memória acaricia os mesmos anos, compartilhando em silêncio o mesmo medo. 
Uma época se foi, foi-se uma época.  Uma época de inocência, uma época de confidências. 
Deve ter sido há muito tempo! Eu guardo uma foto.
Preserve suas memórias, elas são tudo o que sobrou de você





sexta-feira, 16 de outubro de 2020

RASCUNHO


O título deste post deve-se ao fato de ser um rascunho que desisti de tentar melhorar, pois começou a ser escrito em 11/08, em um de meus momentos "black dog". Já que alguns amigos virtuais parecem incomodar-se com minhas oscilações de humor, apenas lhes direi que experimentem completar setenta anos para ver o que acontece! Hoje, por exemplo, estava de boa, "nem chorando nem sorrindo" (como cantou o Caetano Veloso), apenas matutando comigo mesmo, tentando entender a lógica de pessoas muito melhores, mais cultas e mais instruídas que eu terem se tornado seguidoras do Blogson. E essa afirmação em nada se assemelha às palavras de ordem  com que os programas de auditório comandam a platéia ("Aplausos!" "Gargalhadas"), pois já vou avisando que não estou à cata de aplausos ou de frases tipo “deixe de frescura, Jotabê!” Em outras palavras, não estou jogando para a arquibancada. Mas que intriga, ah, isso intriga!

Porque percebo nos nove amigos virtuais (acho muito pedante dizer “seguidores”) uma cultura humanística que eu não possuo, um vocabulário sofisticado que está a léguas de distância da minha linguagem coloquial. Fazer o quê, não é mesmo? Eu acho é bom, mas acabo me sentindo um semi-analfabeto como o Lula ou um boçal como o Bolsonaro (defeito colateral), pois ambos têm seguidores muito melhores que eles próprios. Esta introdução não tem nada a ver com o texto principal do post (escrito há dois meses), só quis registrar minha perplexidade sincera pelo fato de um idoso (sem noção, mas velho assim mesmo) escrever besteiras que agradam a pessoas muito mais jovens e mais cultas que ele. Isso é verdadeiramente um mistério. 


11/08
Às vezes, graças a alguma palavra, expressão ou uma frase curta que ouço, leio ou vejo, meu cérebro se mobiliza em torno disso, mesmo que eu ainda não saiba o que quero dizer. Começo a escrever sem rumo, tentando fazer o cérebro "pegar no tranco", mas orbitando o assunto que despertou minha atenção. O estímulo de hoje foi provocado por um antigo personagem de desenho animado, uma hiena que não ria.

Minha irmã é onze anos mais nova que eu. Por isso, quando eu ainda estava na mais desprogramada adolescência, às vezes ficava assistindo televisão com ela. Uma das séries que ela adorava era "Perdidos no Espaço", em que o impagável vilão Dr. Smith e um robô sem noção eram nossos personagens prediletos. Outra preferência compartillhada eram os desenhos da Hanna-Barbera.

A título de curiosidade, pesquisei na internet sobre essa dupla e descobri que de 1957 a 1990 a Hanna-Barbera Productions, Inc. produziu 183 séries de desenhos animados. Descobri também que a dupla criou os personagens Tom e Jerry, uma das melhores lembranças do final da minha infância. Mas voltemos ao tempo em que ficava assistindo os desenhos animados com minha irmã.

Pelo que descobri na internet, os personagens que mais nos divertiam são justamente alguns dos que foram criados nas décadas de 1950 e 1960. Creio que a explicação para isso serve para todos os desenhos animados antigos: nenhum foi criado exclusivamente para o público infantil.

Fazendo um retrospecto do que era exibido diariamente, percebo que a depressiva hiena Hardy era meu personagem predileto, justamente por seu bordão cheio de desalento "Oh, vida, oh, dia, oh, azar!" (que repito até hoje, imitando a voz do personagem). Essa hiena cuja boca doía ao tentar rir, fazia par com um sempre bem humorado leão, o esfuziante Lippy. E foi justamente o bordão da hiena que me fez começar este texto.

Os tempos mais recentes (ia escrever "os últimos tempos", mas sei lá, vai que o Cosmos gosta desse "últimos"...), repetindo, os tempos mais recentes têm sido muito pesados para mim, muito tristes e dolorosos (mas dispenso palavras de consolo e apoio, ok?). Um dos motivos foi provocado por uma sensação de velhice progressivamente acelerada, cada vez mais rápida, cada vez mais inexorável. Daí a ironia ao dizer a mim mesmo "Oh, dia, oh, vida, oh, azar!"

A velhice lembra uma historieta divertida que li, em que o diabo convence um sujeito a trocar o céu pelo inferno, mostrando um ambiente descoladíssimo, com uma iluminação feérica, cheio de luxo e luxúria, belas mulheres, com todos os antigos companheiros de esbórnia e putaria ali reunidos, se divertindo horrores. Depois de assinado o "contrato", a cenografia muda instantaneamente e o inferno se transforma no que realmente "é" - um lugar horroroso e cheio de sofrimento. É uma historieta que fala de cliente, marketing, etc., mas não consegui me lembrar onde foi lida. E também não é esse o assunto do dia.

O que sei é que a velhice chega silenciosa, suave, sorrateira e te conduz delicadamente a um portal de boas vindas onde algum filho da puta pintou "Melhor Idade". Quem entra, logo descobre que é na verdade um portal da má vida, de uma vida de merda, da vida de limitações e sofrimentos crescentes. Quando fiz 42 anos deixei minha barba crescer outra vez e achei graça nos dois pequenos tufos de cabelos brancos nas laterais do queixo quase inexistente. Minha barba começava a ficar branca, que engraçado! Talvez também tenha sido nessa época que minha visão outrora excepcionalmente boa (só a do olho esquerdo) começou a não conseguir mais ler os pequenos anúncios de jornal nem os nomes e endereços nas finadas listas telefônicas. Isso também foi muito engraçado!

A partir daí a coisa ficou parecendo um automóvel estacionado em uma rua descida e que esqueceram de manter com o freio de mão acionado. O carro começa a se mover devagarinho e vai pegando velocidade até dar perda total em um poste, muro, tanque de guerra ou nave alienígena, tanto faz. Comigo foi exatamente assim: os joelhos começaram a doer, os cabelos e outros adereços começaram a cair, a surdez surgiu e foi aumentando. Com ela vieram a hipertensão e o hipotiroidismo, o humor foi ficando rarefeito, o desejo de viver foi sendo anestesiado.

Aí, quando eu achava que não poderia piorar muito mais que isso, surgiu a pandemia, trazendo consigo a pandemência causada pelo isolamento forçado. Desde março de 2020 não saio de casa, graças a meu pertencimento ao "Grupo de Risco" (e pensar que nunca risquei nem grafitei muro nenhum quando era jovem!).

Essa situação restritiva, limitante, que faz com que eu me solidarize com os marinheiros de submarino e com os astronautas da Estação Espacial é que tem provocado o sincero desejo de estar morto (não com sofrimento, bem entendido), pois não mais me sinto capaz de defender, proteger e fazer felizes as pessoas que mais amo. E essa é só a ponta do iceberg, do izéberg. Só posso dizer "Oh, dia, oh, vida, oh, azar"!, enquanto torço por um infarto fulminante (corona não!).


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

NONA ARTE

E já que ultimamente estou na vibe do universo dos quadrinhos, aí vai mais um texto sobre o assunto (escrito há dois meses!).

Hoje (13/08/2020) comecei a sentir uma puta saudade de mim mesmo, uma vontade de não ter feito tantas burradas ao longo da vida (a expressão mais correta seria um pouco mais chula), um desejo de ter tentado concretizar meus sonhos irrealizados. Já falei sobre isso aqui no blog, mas hoje está (tem estado) um pouco pior. Por causa disso, enquanto torço para ter um infarto fulminante (só serve isso), resolvi falar do “Grilo”, uma publicação que fez minha cabeça no início da década de 1970.

Inicialmente no formato tabloide e mais tarde no formato "magazine", Grilo foi publicado entre 1971 e outubro de 1972, quando teve sua circulação proibida pela Censura. A alegação foi de que o título atentava contra a moral e os bons costumes (Ah, ah, ah... e tem gente que acredita que aquela época foi boa!).

Com minha mania de colecionador – e apesar da grana curta – comecei a comprar o jornal tabloide que saía uma vez por semana. Continuei a comprar quando foi transformado em revista tipo “magazine”, até seu sumiço das bancas. Só recentemente, graças a meus filhos, consegui comprar os dois últimos números lançados. Mas algumas edições especiais ficaram de fora desse esforço, até por não ter mais interesse em obtê-las.

A seguir, são transcritos alguns trechos de um ótimo texto que encontrei na internet. E no final, caso alguém se interesse em conhecer uma parte da história das HQs alternativas publicadas no país, estará disponível o link do texto encontrado - que é super legal, pois além de autores e títulos publicados, traz também as imagens das capas no formato tabloide e no formato magazine.

Revendo essas capas deu para perceber (em resposta a meu amigo virtual Ozymandias) porque eu parei de ler HQ de super-heróis: eu sempre fui um anti-herói e, desde aquela época, eu já era muito alternativo, um bicho-grilo, um tilelê que não usava drogas e, infelizmente, um cara muito irresponsável e inconsequente (comportamentos que remetem às lamentações do início do texto). Olhaí o texto bacana:


Grilo, um importante momento dos quadrinhos no Brasil
Por Marcelo Naranjo

Contracultura, moda psicodélica, ácido e Beatles são palavras que remetem diretamente a um importante momento cultural na história da humanidade. A década de 1960 rompeu paradigmas e influenciou toda uma geração, na música, no cinema e, como não poderia deixar de ser, nos quadrinhos.
A revista Grilo, da Espaço-Tempo Veículos de Comunicação Ltda., trazia reflexos desta época. Foi publicada entre 1971 e 1972, em 48 edições, a princípio semanais e, posteriormente, quinzenais. A tiragem por número era de 30 mil exemplares e boa parte do material nela encontrado surgiu justamente na década de 1960.
Grilo teve o grande mérito de apresentar, pela primeira vez no Brasil, diversos autores que marcaram época no universo dos quadrinhos.
O título era publicado no formato tablóide, com duas capas distintas e 16 páginas.
As duas capas eram por um motivo curioso: a revista chegava às bancas dobrada uma segunda vez (o que escondia a capa principal, sempre maior), ficando próxima do tamanho hoje convencionado como formato americano, tudo para facilitar sua exposição aos leitores.
A partir do número # 25, ela passou a sair em formato magazine. A mudança marcou também a ampliação dos títulos publicados na revista.
Do número 1 até o 24, o conteúdo era formado principalmente pela publicação de tiras.
A segunda fase da revista começou a partir do número # 25 (dedicado exclusivamente a Charlie Brown e sua turma), com novo formato e mais páginas (36). Grilo apresentou novos personagens, e trouxe o underground americano ao Brasil.
Boa parte das histórias (...) é assinada pelo artista Gore, pseudônimo utilizado pelo hoje mundialmente conhecido Richard Corben, que tem desenhado várias HQs de super-heróis nos últimos tempos, como Cage, que foi publicada aqui em Marvel MAX, daPanini Comics.
Algumas liberdades foram tomadas pelos editores. Por exemplo, a edição # 1 formava um pôster, na contracapa, com Lucy (de Snoopy) grávida, gritando “Você me paga, Charlie Brown!”.
Marcelo Naranjo gostaria de ter aproveitado os anos 1960, com aquela história toda de liberdade e mulheres sem roupa. Nós achamos que o cara anda tomando muito chá de cogumelo, mas… sem grilo!

E agora, o link:


ZERO RELEVÂNCIA

  Olha que interessante: por não ter mais inspiração para tentar ser poeteiro (cuidado com o entendimento!), pedi à Inteligência Artificial ...