sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O CÉU PODE SER UM INFERNO - A MARRETA DO AZARÃO

Em junho deste ano o velho e alquebrado Blogson Crusoe completou seis anos de existência. Pode parecer pouco, mas na escala logarítmica a unidade de mensuração desse tempo de vida é “pracaralho”, ou seja, tempo pra kawaka. Pois bem, nessa eternidade toda o blog teve 88.956 visualizações, uma quantidade tão inimaginável quanto a fortuna do Bill Gates convertida em notas de lobo guará. Quantos loucos teriam contribuído para um número tão espantoso? Bom, para ser sincero, não são tantos assim.

Façamos as contas: meu amigo Marreta provavelmente é responsável pela metade dos acessos. Além dele, não posso me esquecer dos gentis robôs do Google, que contribuíram com uns dois mil acessos. Bom, do que sobrou, provavelmente 70% deve ser creditado aos amigos virtuais que aportaram por aqui graças a quem mesmo? Ao Marreta!

Isso significa que no quesito “leitores” o Azarão é o atacadista do Blogson (!) ou, em outras palavras, o blog da solidão ampliada seria uma espécie de sucursal do Marreta – mesmo que as temáticas desses blogs pouco tenham em comum. Às vezes, entretanto, o que ele publica se encaixa tanto (esse “encaixa” só ocorre no plano intelectual, ok?) no viés preferencial do Blogson que é impossível não transcrevê-lo, mesmo que o texto transcrito provavelmente já seja do conhecimento de 99% de todos os que acessam este blog.

Hoje aconteceu isso. Eu ri tanto do caso esplendidamente contado por ele que não tive dúvida: “Vai para o Blogson!” Só precisei fazer duas adaptações: retirei o início do texto original para não parecer jogada de marketing (ou autopromoção) e reprogramei o post que sairia hoje. Olhaí que super hilário:

 

"O cara morreu e acordou de cara para os Portões Celestiais. Ficou meio desconfiado, ressabiado, pensou que podia ser uma "pegadinha" do Capeta, afinal, não fora lá aquelas coisas em vida. Resolveu arriscar. Tocou a campainha do Céu. Atendeu-lhe São Pedro, perguntou-lhe o nome, abriu o Livro Divino, correu os dedos e as vistas por suas páginas e confirmou:

- Sim, meu filho, seu lugar é aqui, parabéns. Agora, eu lhe conduzirei ao seu local de repouso, à sua morada eterna e, no caminho, já vou lhe mostrando as dependências e áreas comuns do Céu. O cara foi seguindo São Pedro e o Porteiro do Céu foi lhe indicando onde ficava o refeitório, o salão de jogos, a barbearia, um pequeno comércio local de artesanato de imagens sacras e relíquias... quando, do nada, ouviu terríveis  gritos de agonia e sofrimento saídos de uma pequena oficina.

- São Pedro, que gritos são esses? Parece que alguém está sendo torturado, não esperava ouvir isso por aqui.

- Isso não é nada, meu filho, não é tortura, não. É que essa pessoa foi muito boa em vida, muito boa mesmo, magnânima, tão boa que vai virar santo. Esses gritos são porque estão furando a cabeça dela para ser colocado aquele halo luminoso da santidade.

- Ah, então tão certo, São Pedro.

Continuaram em direção ao novo lar do recém-chegado e com o tour pelo Céu. São Pedro mostrou o clube, a piscina, a padaria, a academia, a biblioteca do Céu... e novos gritos saídos de outra pequena oficina, ainda mais lancinantes que os anteriores.

- O que é isso, agora, São Pedro? Esse tá sofrendo mais ainda que o outro.

- É que esse, meu filho, foi ainda melhor que o outro, mais caridoso e benevolente ainda para com seus semelhantes, tão melhor que o outro que vai virar anjo e se sentar ao lado do Senhor. Esses gritos são porque estão furando as costas dele para serem encaixadas as asas. Entendeu, meu filho?

- Entendi, São Pedro, entendi, sim. Olha, Pedrão, agradeço a boa acolhida, a reserva de quarto feita em meu nome e tudo, não quero parecer mal-agradecido nem que me leve a mal ou tome o meu pedido como uma ofensa, mas não dá pra me enviar pro Inferno, não?

- Que pedido é esse, meu filho? Jeito tem, eu tenho essa autonomia, mas por que este desatino de sua parte?

- Ó, São Pedro, eu não quero fazer o senhor perder mais de seu tempo comigo, só me manda pro Inferno e pronto. 

- Meu filho, aquilo é um lugar de sofrimento eterno.

- Eu sei, São Pedro, eu já pensei que fosse mesmo pra lá. Me manda, vai.

- Um local de martírio...

- Sei, São Pedro, se precisar eu assino um termo de responsabilidade ou coisa parecida. Só me manda pra lá.

Disposto a não desistir daquela alma confusa e conturbada, São Pedro jogou a sua última cartada.

- Meu filho, quando você chegar no Inferno, a primeira coisa que o Capeta vai fazer é comer o seu cu!

- Eu sei, São Pedro, mas pelo menos o buraco já tá pronto!"

 

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MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4