segunda-feira, 5 de outubro de 2020

EMOTIONS TRANSLATOR

Por mais que eu lamente ser assim, não posso esconder que sou monoglota. E só sou monoglota porque ainda não inventaram uma forma de ser menos ainda que isso! Mas é duro ser tão limitado – e talvez seja tarde demais para corrigir essa falha. Quando eu ainda “trabalhava”, às vezes chegavam à empresa documentos escritos em outras línguas. E era foda entender o que diziam. Porque entender mais ou menos o que está escrito não é tão complicado. Duro é quando essa documentação é oficial e não se recomenda seu entendimento parcial.

Essa empresa um dia cismou de participar de uma licitação para alguma obra em um país de língua árabe. Segundo me contaram (eu ainda não trabalhava lá), os documentos vieram impressos em inglês e árabe. De um lado da folha, a língua da rainha da Inglaterra; do outro, aquelas cobrinhas incompreensíveis. Um colega que tinha o espírito bem mais sem noção que eu (naquela época eu era muito sério)  fez uma montagem de um telex (ainda era na base do telex) enviado pela comissão de licitação do tal país (escrito em inglês), com a cópia de uma das páginas em árabe. Tirou novo xerox para apagar alguns vestígios da sacanagem e levou a cópia para seu superior, perguntando o que deveria fazer. O sujeito olhou aquilo, fez cara de espanto, de raiva, de fúria, espumou pela boca e disse que aquilo era um absurdo, etc. Aí os delinquentes senis caíram matando, rindo até mandar parar. Dizem que ele também acabou rindo um pouco, um sorriso talvez com uma cor de fralda usada por bebê com diarreia.

De lá para cá o mundo mudou tanto que nem quero entrar nesse assunto. O que sei é que o Larry Page e o Sergey Brin fizeram a gentileza de criar um pai dos burros universal (ou seria um pai dos burros universais?) e dentro do pacote, acabaram colocando o Google Translator. Mesmo com graves erros de tradução - bem na linha do traduttore, traditore - eu o utilizo o tempo todo. Como na vez em que um búlgaro solicitou minha amizade no Facebook. Pelo sobrenome, sabia que era parente de duas amigas que temos, filhas de um búlgaro que fez a América no Brasil.

Já contei esse caso, mas vou repetir rapidamente: como sou um puxa-saco profissional, escrevi um texto em português, corrigi os erros de ortografia, joguei no tradutor e converti para o inglês. Copiei a tradução e mudei a opção para búlgaro. Ficou bacana demais com o alfabeto cirílico. Peguei esse texto e traduzi para o inglês, comparando com a versão português-inglês. Achei que estava legal e mandei os três textos e ainda tirei um sarro, falando que aquilo era como que uma pedra de Roseta moderna. O gringo agradeceu, mas disse que mandasse apenas em inglês. Filho da puta! Depois do trabalho todo ainda menosprezou minha puxada de saco trilingue!

Mas, mesmo que tenham ocupado a maior parte do texto, lembranças e piadinhas não são o tema principal deste post, porque hoje fiquei pensando quão fantástico seria termos um tradutor de emoções. Penso que um dos grandes males do mundo é você dizer ou tentar dizer alguma coisa e a pessoa que escuta ou lê interpretar de uma forma que está longe de sua intenção inicial (sou muito bom nisso!).  Em BH havia uma propaganda de aparelho auditivo que dizia assim: “para você que escuta, mas não entende bem as palavras”. E essa é a limitação da Humanidade, pois a “tradução” que se faz do que se escuta é em grande parte consequência da sua vivência pessoal, da sua história de vida, de sua faixa etária. Mas isso talvez pudesse ser corrigido.

Imagino que os jovens de hoje nunca estudaram interpretação de textos. Eu estudei e é bizarro. Ou melhor, é coisa tão cheia de minúcias e sutilezas que, mal comparada, é mais ou menos como a tentativa de estudar a estrutura molecular da picanha que está na churrasqueira em um dia de sábado. O tradutor de emoções analisaria as nuances e os temperos de sentimentos complexos e intensos (isso está parecendo julgamento de master chef) e resolveria isso. Alimentado com o que foi dito ou escrito por alguém ele entregaria ao interlocutor o assado, ou melhor, o resultado no ponto (acho que estou com um pouco de fome), permitindo que tanto ogros como pessoas de coração sensível entendessem o que você realmente pretendia dizer sem medo de ser mal interpretado. Algum cientista de plantão se habilita a desenvolver esse aplicativo? Vai ficar rico!

 


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