domingo, 25 de outubro de 2020

TEORIA DAS CORDAS

 
Se alguém sentiu-se atraído pelo título deste post e está pensando que vou falar sobre Física de altíssimo nível, dançou. Poderia até dizer que teoria das cordas é assunto proibido em casa de enforcado, mas estaria fugindo do assunto de hoje com essa piada idiota. Ainda que ninguém saiba ou se lembre, já comentei sobre o tema de hoje lá no princípio do blog, mas, mesmo não sendo um Van Gogh, sinto-me impelido a dar mais umas pinceladas nesse quadro. Antes, porém, vou divagar um pouco, pois meu cérebro está um pouco devagar (este começo está mesmo difícil!).
 
Tenho a impressão de que os músicos não batem bem da cabeça. E digo isso por um fato que sempre me incomodou. Um violão desses que as pessoas ganham no bingo, quebram na cabeça do amado, utilizam para fazer desafinadas serenatas ao luar (que lindo!) ou onde espancam uma música da Marília Mendonça - tem seis cordas. Obviamente, se possuísse mais uma seria um violão de sete cordas, instrumento utilizado só por quem entende muito do assunto.
 
Pois bem, as cordas do violão são conhecidas por ordinais (primeira, segunda, etc.) ou notas musicais (Mi, Si, Sol, Re, La e Mi novamente). Detalhe: as cordas são identificadas de baixo para cima, uma excrescência que nunca consegui entender. Veja bem, quem pega um violão no colo verá sempre a corda mais grossa (Mi) e, na sequência, La, Re, etc. Mas um idiota de um músico sem ter nada para fazer de melhor resolveu que essa ordem natural está errada, significando que a corda Mi grossona (que intuitivamente deveria ser a primeira) é a sexta corda. Dá para concordar com uma idiotice dessas?
 
Pois bem, depois dessa fantástica aula sobre a anatomia de um violão (estamos falando do instrumento musical, OK?), preciso falar da afinação do curvilíneo instrumento (acho que não estou conseguindo me concentrar...). Como disse, a segunda corda mais grossa do violão corresponde à nota La. E é por esse som que se afina o instrumento.  Aha! Depois, ao apertar-se essa corda no quinto intervalo (traste) do braço do instrumento, o som emitido corresponderá à nota Re. Quando fazemos isso, se o violão já estiver afinado, a corda Re vibra sem precisar ser tocada. Esse fenômeno é conhecido como “ressonância”. E é aí que vou amarrar minha régua (na falta de uma égua, simpático animal, muito apreciado pelos jumentos).
 
Dizemos “estar em ressonância” ou “na mesma sintonia” com alguém quando pensamos de modo semelhante sobre alguma coisa. E essa ressonância serve para o bem e para o mal. Imagino que alguém já tenha dito ou escrito com muito mais elegância e propriedade o que vou dizer. Como nunca li nada sobre isso, considero-me no mínimo co-proprietário desta reflexão, a que chamarei de “teoria das cordas de Jotabê” (entendeu agora a escolha do título?): Ei-la lá:
 
Nós só gostamos ou prestamos atenção em ideias ou palavras lidas ou ouvidas, se elas entrarem em ressonância com o que já sentimos ou pensamos de forma desordenada, inconsciente ou adormecida. É como se nosso cérebro – por estar previamente afinado com o assunto – “vibrasse” com essas ideias ou palavras. Fala sério, é ou não é um pensamento bacana?
 
E isso tem ficado muito visível nos tempos recentes, pois o que tem de gente sintonizada com o que há de pior e equivocado não está no gibi. E o principal mentor disso, a influência negativa, está sentado na cadeira de presidente do país. Engana-se porém quem pensa que eu só gosto de malhar nosso amigo Jair. Na verdade, gosto mesmo - mas também gostei de malhar o Lula, a Dilma e o Temer.
 
Mas o que me preocupa mesmo é o fato de estar grassando um obscurantismo cada vez maior entre os simpatizantes do Messias. Esse assunto já foi abordado com um pouco mais de seriedade aqui no Blogson, mas depois de ler uma frase que algum gênio publicou no Facebook, comecei a me coçar. A frase é este primor de bom senso: “Você tomaria uma vacina vinda do mesmo país que tentou te exterminar?”. A reação foi impressionante, pois dezoito pessoas disseram “não” através de palavras ou emojis. Além disso, houve quatro compartilhamentos, criando o potencial efeito de “pirâmide”.
 
O bizarro nessa história é que eu disse “sim” e argumentei que se o Ministério da Saúde aprovar sua aplicação eu a tomarei sem medo. Para não deixar barato, ainda disse ser a favor da Inteligência e da Ciência e contra a estupidez e as realidades alternativas. O resultado é que a postagem onde fiz essa ponderação foi excluída – e recriada logo em seguida, naturalmente sem meu comentário.
 
E é nesse pé em que estamos. Você pode ser a pessoa mais culta, mais “letrada”, com pós-doutorado e o que quiser, mas diante de uma notícia verdadeira que afronte sua maneira de pensar, diante de uma ameaça a seus preconceitos - em outras palavras, se não tiver dentro de si a corda Re para vibrar em ressonância com a corda La apertada no quinto traste -, pode esquecer. De nada adiantarão dados estatísticos, imagens de satélites, opiniões de especialistas mundialmente reconhecidos. Tudo isso será descartado em favor dos mitos criados por mentes obscurantistas cuja bandeira principal é o combate à corrupção. Caralho! (perdoem-me, senhoras, escapou-se me), todo mundo é contra a corrupção! Só é a favor quem dela se beneficia. Mesmo que esse benefício paradoxalmente se traduza em eleitores fieis em uma futura eleição. 

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