sexta-feira, 28 de agosto de 2015

E AÍ, TIO?

O diálogo a seguir não tem graça nenhuma, é apenas um protesto tardio. Eu morava na casa de minha avó e estava presente quando alguém levou a parte que lhe cabia da herança deixada por sua mãe, minha bisavó. Mais precisamente, um casaco de lã, um jogo muito bonito de louça sanitária e... um cesto de palha tão usado que tinha até um furo no fundo. Ao lhe entregarem aquilo, minha avó teve um ataque de nervos e até desmaiou.

Recentemente, eu descobri o motivo: os irmãos de minha avó transferiram aos poucos o patrimônio de minha bisavó (algumas fazendas!!), beneficiando apenas os homens. E a técnica usada era digna de mensaleiro: convenciam minha bisavó a vender uma fazenda, compravam uma menor e repartiam entre si a diferença. E assim foi, até não restar mais nada. Eles continuaram ricos e minha avó na pindaíba. Por isso, para "homenagear" esses escrotos, escolhi um e imaginei este diálogo (espero que eles deem pelo menos uma viradinha no caixão).

-   Você foi visto na Floresta, perto da praça Negrão de Lima!

-   Ah, é. Eu estava indo na casa de meu tio.

-   Tio mesmo ou tiazinha?

-   Tio mesmo. Tio Osssscar...

-   Como é que é?

-   Ossss car (sibilando forçado)

-   Ele é gringo?

-   Nada! É só um cretino alto pra caramba e magrelão, puro osso. Aí, só pra deixar ele puto eu o chamo de Oss car.

-   Isso é que é sobrinho!



EU ENVELHEÇO

Um dia desses ouvi no rádio do carro uma canção muito antiga, gravada pelo Nelson Gonçalves. Na época em que foi gravada eu tinha uns sete anos e estava pouco me lixando para esse tipo de música. Exatamente por isso é que me permito gostar dela hoje, sem nenhum saudosismo. E o que me fascina nessa música são seus versos iniciais:

Eu amanheço pensando em ti
Eu anoiteço pensando em ti.

Fala sério, o autor dessa letra tinha a manha! Pensando nisso, resolvi escrever alguma coisa usando a fórmula do primeiro verso. Só que o "ti" é "mim". Entendeu?


Eu envelheço
Não há nada que me possa impedir
Meus olhos embaçam
Meus ouvidos silenciam

Meu corpo todo decai
Como um repositor
Que não consegue repor o estoque
De um produto em oferta


Eu me envelheço
Mais ainda quando tento
Limpar a mente, polir a vida

Pois revejo metas inatingidas
Redescubro promessas não cumpridas
E descarto os sonhos abandonados


Não há pedal ou alavanca de freio,
Barragem, dique ou represa
Que impeça o tempo de avançar.
Nem há blitz para pedir documentos.

Estão todos em ordem
Mas muito antigos e gastos
E o plástico que os envolve
Está fosco e quebradiço. 



VELHOS HORIZONTES

Só agora, depois deste texto ser divulgado, é que me dei conta de ser ele o 400.º post permanente do Blogson! Digo permanente, por ter excluído toda a série "(Não) vale a Pena Ver de Novo", um trambique criado para postar de novo textos que originalmente tiveram apenas uma(!) ou duas visualizações. Mas é um número extraordinário. Quatrocentos! Fico pensando o tanto que já enchi o saco de meus 2,3 leitores mais constantes. Tudo masoquista, claro!

Com a incrível velocidade que se propagam e se divulgam notícias hoje em dia, um acontecimento extraordinário ocorrido em 14/07/2015 já está muito, muito velho (em termos de mídia, lógico). Estou falando da sonda New Horizons, que se aproximou tanto de Plutão que quase daria para ver um plutoniano pegando uma praia, um bronzeado (acho que misturei conceitos incompatíveis).

O post de hoje é uma colcha de retalhos (acho que ficaria mais chique dizer rapsódia literária), por  unir, por liquidificar assuntos totalmente distintos, cujo único ponto em comum é orbitar em torno de Plutão (pleonasmo!). Por isso, vou começar pelas partes mais sem graça, justamente as que escrevi.

Eu nunca soube – e essa é uma declaração sincera – que o nome desse planeta prejudicado verticalmente (anão, é claro) conhecido por nós como “Plutão”, é “Pluto” em inglês. Que notícia fundamental! O curioso é que o cachorro retardado do Mickey, lá como aqui, também se chama Pluto.

Eu também nunca entendi ser um cachorro o animal de estimação de um rato, mas tudo bem. Embora sempre tenha sido fã de histórias em quadrinhos, nunca me conectei muito a esse camundongo, um caretão irretocável. Da “linha Mickey”, o personagem mais sensacional (infelizmente de vida não muito longa) era o Esquálidus. Por isso, sempre gostei mais das histórias mirabolantes do Pato Donald (as que foram roteirizadas e desenhadas por Carl Barks, artista genial).

Quando eu era criança (ali pelo século XIII a.C.), o grupo escolar (1ª à 4ª série do ensino fundamental) adotava como material de leitura um livreto cujo nome era “As mais belas histórias”, em quatro volumes, um para cada série. Nos sebos, esses livros valem hoje mais de cem reais (para compra, lógico. Mas se você tentar vender, oferecem uns dez merréis).



Um dessas historietas era, se não me engano, “Plutão”, uma poesia de Olavo Bilac feita para crianças, na época em que ninguém pensava em adotar apenas textos politicamente corretos ou suavizados. E o Plutão cantado nesses versos era outro cachorro, muito antes da fama de seu quase homônimo americano.

Minha mulher usa o princípio desse poema para ironizar as declamações feitas em sala de aula e faz isso de forma muito engraçada, gesticulando como uma criança ensaiada pela mãe, numa performance hilariante. Olha o poema:

Negro, com os olhos em brasa,
Bom, fiel e brincalhão,
Era a alegria da casa
O corajoso Plutão.

Fortíssimo, ágil no salto,
Era o terror dos caminhos,
E duas vezes mais alto
Do que o seu dono Carlinhos.

Jamais à casa chegara
Nem a sombra de um ladrão;
Pois fazia medo a cara
Do destemido Plutão.

Dormia durante o dia,
Mas, quando a noite chegava,
Junto à porta se estendia,
Montando guarda ficava.

Porém Carlinhos, rolando
Com ele às tontas no chão,
Nunca saía chorando
Mordido pelo Plutão...

Plutão velava-lhe o sono,
Seguia-o quando acordado:
O seu pequenino dono
Era todo o seu cuidado.

Um dia caiu doente
Carlinhos... Junto ao colchão
Vivia constantemente
Triste e abatido, o Plutão.

Vieram muitos doutores,
Em vão. Toda a casa aflita,
Era uma casa de dores,
Era uma casa maldita.

Morreu Carlinhos... A um canto,
Gania e ladrava o cão;
E tinha os olhos em pranto,
Como um homem, o Plutão.

Depois, seguiu o menino,
Seguiu-o calado e sério;
Quis ter o mesmo destino:
Não saiu do cemitério.

Foram um dia à procura
Dele. E, esticado no chão,
Junto de uma sepultura,

Acharam morto o Plutão.

E agora, a parte mais engraçada, para encerrar o post: No último mês de julho, recebi de meu filho um link divertidíssimo. O título do e-mail já dava uma pista e era "Se quiser perder a esperança na humanidade", mais que justo, diante das sandices ditas por várias pessoas a propósito das notícias sobre a sonda espacial. Não vou adiantar nada, mas ri até não poder mais (tive frouxos de riso, como diriam os antigos).

O link é esse:

MINHA EXPERIÊNCIA NUCLEAR - PARTE 3/6

Depois da visita a Angra, arregaçamos as mangas e começamos a trabalhar. Isso significava ler toda a extensa documentação, estudar projetos, começar o planejamento, etc., cada um no seu quadrado, lógico. Os engenheiros com experiência em planejamento começaram a destrinchar os projetos para definir os cronogramas e as redes Pert, como e quando cada etapa seria construída, quais equipamentos e equipes a utilizar, etc.

Os engenheiros com habilidade narrativa (havia um que era genial) ficaram encarregados de escrever as centenas de páginas que foram produzidas, onde eram descritos detalhadamente os métodos previstos e suas particularidades. Cuidavam também de descrever as edificações e instalações provisórias que seriam construídas, tais como acampamentos, refeitórios, vestiários, escritórios de obra, centrais de concreto, etc.

Uma equipe chefiada por um engenheiro extremamente meticuloso e experiente nessa área, ficou encarregada de fazer a varredura, o pente fino em toda a documentação que deveria ser apresentada (certidões negativas, atestados de capacidade técnica, etc.).

Os engenheiros orçamentistas (eu fazia parte desse “quadrado”), em sintonia com o departamento de compras da empresa, encarregaram-se de traduzir as informações e hipóteses formuladas pelas equipes de planejamento e redação técnica nos índices e preços que seriam ofertados na proposta comercial.

Havia ainda a seção de projetos, chefiada por um engenheiro competentíssimo, onde  eram detalhados e desenhados os projetos decorrentes do planejamento realizado (posicionamento de guindastes, detalhamento de formas especiais, cronogramas e gráficos diversos e coisas do tipo). É bom deixar claro que essa muvuca era e é normal na elaboração de propostas para obras de maior porte ou mais complexas. Para nós, a novidade da proposta de Angra 3 é que “todo mundo” estava envolvido em sua elaboração.

O chefe dessa seção merece um parêntese com alguns parágrafos. Seu nome era Herberto e era filho de alemães legítimos. O pai chamava-se Huberto. A razão para esses nomes idiotas é curiosa. Originalmente, chamavam-se Herbert e Hubert. Durante a Segunda Guerra, em virtude da hostilidade dos brasileiros contra italianos e alemães, resolveram abrasileirar os nomes, que viraram essa bosta. 

Outra curiosidade é o fato de seus pais terem vindo para o Brasil ainda crianças com uns quatro anos, por aí. Provavelmente, conheceram-se na colônia alemã de BH (se isso existiu). Seus pais eram, portanto, brasileiros naturalizadíssimos e falavam português sem nenhum sotaque, pois tinham praticamente nascido aqui. Em casa, entretanto, a língua falada por todos era o alemão. Segundo meu amigo Herberto, por causa da guerra, além da mudança de nomes, passaram a conversar só em português, hábito que se manteve mesmo depois da derrota da Alemanha. 

Durante a elaboração da proposta para Angra 3, aconteceu seu encontro com dois alemães que tinham chegado para dar consultoria no planejamento da obra. Acredito que timidamente no início (e quando não havia outros colegas por perto), o Herberto passou a conversar com eles em alemão. Tempos depois, contou-me que os gringos destacaram o fato de ele falar sem nenhum sotaque. E surpreenderam-se por usar palavras e um estilo de linguagem antigo, já em desuso na Alemanha. Suponho que seria o equivalente a alguém chegar no Brasil falando "vosmecê" e usando expressões como "alvíssaras" ou "eia, sus!". 

Imagino que esse profissional competentíssimo e super gente fina já tenha morrido, pois eu era o segundo engenheiro mais novo da equipe (e já estou com 65 anos!), enquanto ele era o segundo ou terceiro mais velho. Se ainda estiver vivo, deve estar hoje com uns 90 ou 95 anos. Grande Herberto! Parêntese fechado.

Voltando à proposta, foi nessa época que aconteceu o episódio já narrado em um dos primeiros posts deste blog, (http://blogsoncrusoe.blogspot.com.br/2014/08/historias-do-digao-parte-ix.html) que transcrevo a seguir (em itálico), na certeza de que quase ninguém leu esse caso ridículo:

“Quando saiu a licitação para a construção da usina nuclear Angra III, a empresa onde trabalhávamos mobilizou todos os recursos possíveis para ganhar essa obra (mas foi desclassificada). Como era uma tecnologia totalmente nova, alemã, diferente da americana utilizada na usina Angra I, uma das exigências do edital era a parceria com empresa que já tivesse construído usina semelhante. Essa empresa atuaria como consultora, antes e durante a execução da obra.

Feitos os contatos, chegaram a Belo Horizonte dois engenheiros alemães, sendo que apenas um falava espanhol. Foram logo apelidados por outro colega, crítico e irônico ao extremo, de “Grafite” e “Canetão”. Grafite, segundo a ótica desse colega, era aquele que iria arregaçar as mangas e trabalhar, pois usava apenas lapiseira – e borracha, naturalmente. O outro, justamente aquele que sabia espanhol, era o gerente da empresa alemã para a América do Sul e usava apenas caneta, útil somente para assinar cheques, na visão ácida desse colega.

Estávamos concentrados em nossas tarefas, quando chega o Canetão:

– Óia ‘este’ planta! Está faltando um corte que está indicado ‘neste outro’ planta!

Os desenhos originais estavam escritos em alemão, com a indicação de vários cortes (schnitt). E o alemão começou a contá-los na nossa frente, para conferir:

– eins, zwei, drei, vier... E o Digão emenda: – fünf, sechs, sieben, acht…

O alemão, que aparentava idade próxima à de meu amigo, um senhor, portanto, surpreende-se.

– O senhorrr fala alemáo? – pergunta encantado.

– Não, só sei contar até dez – responde o Anta. Começamos a rir depois que o Canetão saiu.

– Animal, você forneceu pro alemão a prova definitiva que o Brasil não é um país sério, sua Anta!!!”


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

SOBRE A VELHICE E O ENVELHECIMENTO

(Introdução desnecessária: Estamos em 2015 e você quer que eu acredite que "o texto a seguir" foi escrito para não ser lido por ninguém? Então tá...)


INTRODUÇÃO NECESSÁRIA:
Estamos em agosto de 2011, tenho 61 anos e o texto a seguir não é para ser lido por ninguém, especificamente. Ele serve apenas para registrar e ordenar o que tenho pensado nos últimos tempos (anos?). Talvez seja também uma tentativa mais ou menos inconsciente de exorcizar meus “demônios” particulares que, volta e meia, cismam de me atazanar. Pra falar a verdade, bem que eu gostaria de ser elogiado pelas coisas que escrevo (se houvesse merecimento, claro), pela originalidade das ideias (idem) ou pelo estilo bacana. Mas não é por aí. Como em geral são textos depressivos e melancólicos (mesmo que tenham alguma piadinha aqui ou ali), não me sinto à vontade de mostrá-los aos meninos agora, pois eles ainda têm - e merecem ter - muitos sonhos pela frente. Minha mulher também não curte esse tipo de papo, então, não sobra ninguém, a não ser eu mesmo.

Aliás, é bom deixar claro que neste texto não há comentários ou críticas a ninguém especificamente, pois é apenas registro de reflexões, não de lembranças. E o motivo disso é até bem ridículo: quando os meninos eram pequenos, virava e mexia eles faziam coisas que me deixavam encantado, impressionado ou estupefato. Pensei então em registrar esses casos em um diário para que eles lessem quando estivessem adultos. Mas bateu uma paranoia, uma superstição de que, se eu fizesse esse diário, alguém da minha família ou da minha mulher morreria. Por isso, nunca tive coragem de registrar vários casos sensacionais, hilariantes e surpreendentes protagonizados por eles. Com isso, muita coisa eu esqueci. Só me lembro daqueles mais emblemáticos. A mãe deles, que tem uma memória incrível, lembra muitos outros casos.

Talvez, daqui a uns 30 anos, o texto a seguir possa ser lido pelos meninos e possa ser comparado com as experiências, angústias e expectativas de cada um. Provavelmente já terei morrido. Até porque, segundo uma estatística americana, as pessoas morrem em média 12 anos após se aposentarem (pelo menos lá!). Então, por ter me aposentado em 2009, eu só (ou ainda) tenho dez anos mais para viver.

E agora, sem mais delongas, passemos ao texto, pois como escrevo de forma muito descontinuada, a linha de pensamento sempre se interrompe e o que deveria ser uma introdução acaba quase sendo mais um texto. Vamos lá.


SOBRE A VELHICE E O ENVELHECIMENTO
A partir dos cinquenta anos, alguns pensamentos foram surgindo em minha mente, de forma esporádica no início, quase obsessivamente algum tempo depois. Os assuntos eram sempre os mesmos – o envelhecimento, a morte, o sentido e a transitoriedade da vida. Eu sei que isso traduzia e traduz o medo de morrer, de perda. Mas era inevitável. Quando dava por mim, estava eu lá pensando no avanço insuspeitadamente veloz das limitações impostas aos que se aproximam da famigerada terceira idade. Sinceramente, eu odeio essas expressões. "Melhor idade" é o caralho!

O Vinicius de Moraes (quando mais jovem, é bom ressaltar) definiu bem essas expectativas em um de seus poemas, que diz o seguinte:

Virá o dia em que eu hei de ser um velho experiente
Olhando as coisas através de uma filosofia sensata
E lendo os clássicos com a afeição que a minha mocidade não permite.
Nesse dia Deus talvez tenha entrado definitivamente em meu espírito
Ou talvez tenha saído definitivamente dele.
(...)Serei um velho, não terei mocidade, nem sexo, nem vida
Só terei uma experiência extraordinária.
Fecharei minha alma a todos e a tudo
Passará por mim muito longe o ruído da vida e do mundo
Só o ruído do coração doente me avisará de uns restos de vida em mim.
(...) Serei um corpo sem mocidade, inútil, vazio
Cheio de irritação para com a vida
Cheio de irritação para comigo mesmo.
O eterno velho que nada é, nada vale, nada teve
O velho cujo único valor é ser o cadáver de uma mocidade criadora.

(Eu me pergunto como ele escreveria este poema já na fase final de sua vida. Provavelmente trataria ainda com mais ironia essa visão que se tem das pessoas idosas. Ou, talvez, nem se lixasse em perder tempo com isso e preferisse tomar uns uísques com os amigos e conversar fiado, falar sacanagem, contar piadas, tocar violão e cantar.)

Nessa idade, tão devastadora quanto as dores e problemas físicos relacionados ao envelhecimento do organismo é a visão da sociedade, cultural, de que os mais velhos devem agir e pensar como se seus cérebros envelhecessem no mesmo ritmo em que suas juntas apresentam problemas. Ou seja, de um velho espera-se (pelo menos, assim imagino que a maioria das pessoas pense) que tenha ideias comportadas, atitude senhoril, respeitável, britânica, politicamente correta (ô expressão filhadaputa!) em tudo. 

Pois não é assim que funciona. Pelo menos, não comigo. À medida que envelhecia, percebi que a mente não envelhece por igual. Uma parte do cérebro ou do conjunto de pensamentos teima em não mudar, em permanecer tal como estava 20, 30, 40 anos atrás. Em outras palavras, apesar da idade, eu tenho ainda muitas formas de pensar iguais às da adolescência. Por isso é que eu questiono a visão simplista de que os mais velhos não podem ou não devem se comportar como jovens. Porque não? Não se trata de querer vestir-se igual, imitar ou mimetizar os mais jovens. O que acontece é que algumas coisas, algumas situações são vistas com olhos juvenis (apesar das pálpebras caídas e da vista cansada).

O grande drama de envelhecer é a sensação de perda que chega junto com a idade: perda de sonhos, de esperança, de entusiasmo, de motivação, de saúde, de visão, de memória. E os ganhos, quando existem, são negativos: de peso, de irritabilidade, de ansiedade, de insônia. Depressão, melancolia e desencanto andam de mãos dadas com os que envelhecem (ou com grande parte deles).

Hoje não tenho mais sonhos, amigos que não tenham algum grau de parentesco, esperança, objetivos, tesão de viver. Penso que cumpri (bem ou mal) o que se esperava de mim, que era prover o sustento de minha Amada e dos meninos (à custa de inumeráveis sapos que engoli ao longo da vida). Como estou aposentado, não tenho mais nada pra fazer que não sejam coisas domésticas, fazer sudoku para exercitar o cérebro, ir aqui e ali, comprar isso ou aquilo – e esperar a morte chegar. Ou você acha que ficar fazendo sudoku é uma atividade intelectualmente satisfatória e boa para a autoestima?

Outro dia minha mulher disse, entre preocupada e meio escandalizada, que eu estava entregando os pontos muito rapidamente. Eu achei graça, mas depois pensei que não é de todo minha culpa, pois meu processo de envelhecimento parece mais acelerado que outras pessoas de minha faixa etária. Senão, vejamos: depois de fazer cinquenta anos, fiquei com hipertireoidismo (trocado depois por hipotireoidismo), tive pneumonia, fui operado de próstata, vesícula e hérnia, meu joelho passou a doer pra caramba quando tento fazer caminhadas (artrose!), passei a escutar menos, a enxergar menos, a dormir menos. Sem falar na obesidade.

Creio que, infelizmente, recebi de meu pai a carga genética predominante. Se tivesse herdado de minha mãe e, principalmente, de meu avô materno, estaria bem melhor. Por isso, apesar de a mente ainda estar boa, o físico está uma bosta. Ironizando, eu não estou entregando nada, estão é tomando de mim, na marra, apesar de meus protestos.


O MELHOR AMIGO

Tenho andado muito preocupado com a presidente Dilma. O que essa mulher tem sofrido ultimamente "não está no gibi" (gíria muito antiga). É muita pilha que estão botando nela! Uma hora é manifestação de vereadores, outra é de caras pintadas (e enrugadas também). De caras de pau, então, é a todo instante. É nesses momentos de tristeza e solidão que é importante ter um animal de estimação para reduzir o stress. Afinal, o cachorro não trai, não faz intriga, não abandona, não critica. Tudo o que ele precisa é de carinho e comida.

Pelo instinto de matilha que trouxe de seu antepassado lobo, desde a aurora da humanidade (linda expressão) o cão revelou-se um excelente amigo do homem. Em alguns casos, o melhor amigo. Esse conceito de amizade entre o cão e seu dono já mereceu até uma releitura sensacional, feita pelo poeta Vinicius de Moraes, ao dizer que o uísque é o cachorro engarrafado.


Depois dessas reflexões acacianas, fiquei tentando imaginar qual raça melhor se adaptaria ao temperamento e estilo da presidente. Não poderia ser um cachorro muito estabanado e grande, tipo labrador, pois faria mais merda no palácio que o Mantega na economia brasileira. Precisaria ser um cãozinho menor, daqueles que a presidente - só de olhar - exclamaria "own"!!!, fazendo coraçãozinho com as mãos. Aí, assim do nada, veio à minha mente a imagem do pug. Eu acredito que combina um pouco. Talvez.






MINHA EXPERIÊNCIA NUCLEAR - PARTE 2/6

Se comparada às maiorais da construção pesada, a construtora em que eu trabalhava era uma empresa de porte médio (ou "grandinha"). Mesmo assim, resolveu encarar a briga. Durante seis meses, mobilizou uma equipe de engenheiros, projetistas, desenhistas, datilógrafos, secretárias e xeroqueiros com dedicação exclusiva a essa concorrência. Quem tinha direito a férias no período foi obrigado a adiar ou cancelar os passeios programados. Boa parte da execução dos desenhos construtivos foi terceirizada para uma empresa de desenhistas-projetistas, contratou-se um consultor para a “garantia da qualidade” (esse é um caso hilário), contratou-se também um engenheiro alemão que havia trabalhado na Nuclebrás e, crème de la crème, para atender um dos pré-requisitos eliminatórios do edital, foi contratada a consultoria de uma empresa alemã que já tinha construído usina nuclear com a mesma tecnologia das usinas de Angra 2 e Angra 3. Resumindo: uma baba cósmica foi gasta na elaboração da proposta. Mas, estou me antecipando muito.

Como é praxe em qualquer licitação, logo que o edital foi adquirido, uma equipe foi designada para visitar o local onde seria construída a usina. Dependendo da importância da obra, às vezes vai apenas um engenheiro. No caso de Angra, foi mandado um “exército”: mais de vinte engenheiros, mandados em grupos de três ou quatro, inspecionaram o local. Dentre eles, esse vosso criado.

E o que eu vi foi de encher os olhos. Não vou me deter em detalhes sobre o local das futuras instalações, até porque não havia nada lá, exceto as estacas de fundação que já estavam sendo cravadas. O grande barato foi conhecer a infraestrutura existente e a visita à primeira usina nuclear construída no Brasil.

Ciceroneados por um geólogo da Nucom que já havia trabalhado na Açominas, eu e mais dois colegas fomos visitar a usina de Angra 1, já em fase de montagem e testes finais. Todos os funcionários e operadores da usina usavam uma espécie de caneta sinalizadora de radioatividade pendurada no pescoço. Caso o sujeito fosse contaminado de alguma forma, a caneta indicava e seria iniciado um processo de limpeza e “desinfecção”. Todo e qualquer tipo de lixo contaminado era colocado em barris de ferro que depois eram preenchidos com concreto e levados para uma área especial. 

Para entrar no prédio do reator, tivemos de vestir roupas e sapatos especiais, usados por todos para preservar a limpeza absoluta do lugar. Creio que havia algum precipitador eletrostático de poeira ou coisa semelhante na entrada do prédio. Não tenho dúvida que poderia lamber o chão sem achar nem o menor sinal de poeira!

Depois de passados tantos anos, não me lembro de nenhum detalhe mais relevante, exceto o fato de que era uma construção magnífica e muito imponente, com destaque para o prédio do reator. A “epifania” mesmo aconteceu quando fomos levados às vilas dos operadores, já prontas. Eram como que "Ilhas da Fantasia" de tão espetaculares (só que sem o Tatoo e o Ricardo Montalbán).

Praia Brava foi a primeira a ser construída. Nela, além das casas geminadas (se não me falha a memória), encontravam-se uma igreja ecumênica, supermercado, hospital, cinema, clube, autoescola(!), um pequeno centro comercial e um hotel destinado a funcionários em trânsito. As ruas eram asfaltadas e a área do acampamento, toda cercada, contava com portaria e vigilância 24 horas por dia. Como ficamos dois dias na região, fomos autorizados a dormir no hotel da vila. Para um sujeito de origem humilde como eu, aquele hotel poderia tranquilamente receber uma classificação três estrelas. Tirando a praia, que vimos apenas à noite e nos pareceu realmente “brava” (imagino que isso inviabilizava sua utilização por banhistas), o lugar era um paraíso de conforto, tranquilidade e segurança.

No dia seguinte, depois de um ótimo café da manhã, fomos apanhados pelo geólogo gente boa, que nos levou à outra vila dos operadores, construída em Mambucaba. Nessa vila havia quase tudo que eu tinha visto em Praia Brava, exceto o hotel. Além disso, as casas de Mambucaba eram de madeira, ao contrário das casas em alvenaria de Praia Brava. O grande, imenso diferencial era a praia, magnífica. 

Esse geólogo morava em uma casa que ficava à beira da praia (imagino - porque não me lembro mais - que os funcionários mais graduados da fiscalização das obras ocupassem outras casas desse acampamento, já que Angra 2 ainda estava praticamente nas fundações).

Para dar uns mergulhos e pegar um bronze na areia, bastava atravessar a “Avenida Atlântica” do acampamento e o belo calçadão, ideal para fazer uma caminhada. A casa, grande e confortabilíssima, só tinha um defeito: toda vez que a onda quebrava, o deslocamento de ar fazia as janelas de vidro e madeira da frente da casa vibrar um pouco. Muito sofrimento!



sexta-feira, 14 de agosto de 2015

EMOTICONS

Às vezes recebo de um dos meus filhos e-mails que terminam com alguns sinais gráficos que não faziam o menor sentido para mim. Perguntei o que significavam e me respondeu que eram “emoticons” feitos com sinais gráficos que existem no teclado. Depois de pedir maiores explicações, transcrevo o que aprendi.

No caso dele, a combinação de um “fecha-parêntese” com “dois pontos” e um “hífen” resulta em um sorriso assim :-) 
Se não entendeu (velhice é dureza), incline a cabeça para a esquerda.

Depois disso, descobri outras combinações, mas não me lembro de como são feitas. O problema é que eu fiquei empolgado e também resolvi criar um. E aí saiu isso:

Homem “adormecido”:

O__/____!


Homem "no trabalho":


O__\____!

(Falta do que fazer é foda!)



IGREJA ORBITAL

Como hoje é sexta-feira, não há limites para a quantidade de coisas postadas no blog (eu sou meio louco mesmo). Recebi um e-mail tão divertido de meu filho que resolvi divulgá-lo no Blogson (respeitada sua privacidade, lógico). Olhaí.


E não é que os russos transformaram a Estação Espacial Internacional (ISS Alfa) em uma igreja, com direito a altar com cruz e tudo?!

É a Igreja Orbital do Reino de Deus :-D




Eu entendo o equívoco cometido por meu filho, porque ele é ateu. E ateu, como se sabe, não entende nada de igreja. Porque, vejam bem, “Igreja ... do Reino de Deus" lembra mais a que foi fundada pelo Macedão. Acho mesmo que o nome “Universal” é bastante apropriado, porque a maioria de seus seguidores parece viver no mundo da lua.


Agora, "Orbital"? Sei não... Como boa parte dos russos segue a Igreja Ortodoxa, acredito que o nome a utilizar na Estação Espacial deveria ser “Igreja Orbital Ortodoxa”.

MINHA EXPERIÊNCIA NUCLEAR - PARTE 1/6

Com a recente prisão dos presidentes das construtoras Andrade Gutierrez e Odebrecht (como parte da “Operação Lava Jato”), acusados de envolvimento com o(s) escândalo(s) da Petrobrás, tive vontade de registrar alguns casos muito antigos, relacionados à minha “experiência nuclear”, justamente por seu minúsculo ponto de contato com as empresas citadas.

1982 ou 1983, não me lembro mais, foi o ano em que vivi uma das mais interessantes experiências como engenheiro. A empresa onde trabalhava resolveu participar da concorrência para construção das obras civis da usina nuclear de Angra 3. Quando essa construtora resolveu disputar a obra, já sabia que iria enfrentar algumas das maiores empresas de construção pesada do país. Uma delas era a Andrade Gutierrez.

Deu para notar alguma coisa? Vou repetir: em 1982 ou 1983 aconteceu a licitação para construção das obras civis de Angra 3. Como estamos em 2015, já se passaram mais de trinta(!) anos – e até hoje ela não foi inaugurada. 

Segundo informações que obtive na internet depois de ter escrito esses casos, as obras foram paralisadas em 1985 e só retomadas em 2010. Para manter as instalações provisórias utilizadas durante a construção, a empresa vencedora recebeu um "troco" de cinco milhões de reais por ano (durante 25 anos!).

O órgão contratante era a Nucom, uma das empresas da holding Nuclebrás (tudo era "nuc" alguma coisa - Nuclen, Nuclep, Nuclemon, etc.). A substituta atual da velha Nuclebrás atende pelo nome de Eletronuclear, e só descobri isso depois que seu presidente licenciado também foi preso, acusado de receber propina de 4,5 milhões de empreiteiras de Angra 3. Dentre essas, a Andrade Gutierrez.

Quem quiser saber mais (não estou falando da prisão, é lógico), basta procurar, por exemplo, no site da Eletronuclear. Meu negócio é contar casos. Por isso, continuemos.

Na época da licitação, a usina Angra 1 estava quase concluída e Angra 2 estava ainda bem no início. As obras civis das duas usinas eram executadas pela Odebrecht (chamava-se antes Construtora Norberto Odebrecht). Segundo bochichos daquela época, Angra 2 teria sido entregue à Odebrecht como aditivo contratual, sem licitação. A explicação para um aditivo de alguns bilhões de dólares, equivalente a 100% (ou mais) da obra originalmente contratada, seria o fato de ser ela a única empresa brasileira com experiência na construção de usinas nucleares. Se essa explicação é real, a lógica é surreal, concordam? Não existia outra antes de Angra 1! Além do mais, os projetos eram totalmente diferentes, pois a tecnologia de Angra 1 é americana e das demais, alemã!

Creio que uma imagem para essa lógica maluca seria a pressuposição de que um piloto de avião sabe também pilotar helicóptero, pelo simples fato de que ambos são veículos que voam. Nessa época, o Brasil era governado pelos generais presidentes e, talvez seja essa a verdadeira explicação (-“entrega logo Angra 2 para aquele baiano e não se discute mais”).

Como não sei as datas, entrei na internet e descobri que as obras da usina de Angra 1 teriam começado em 1972. Nessa época eu era apenas um estudante de engenharia relapso e sem juízo. Imagino que a licitação pode ter ocorrido um ano antes. Foi inaugurada em 1985.

Tive um colega que, não sei como, possuía uma cópia xerox da proposta apresentada pela Odebrecht para a licitação de Angra 1. Era uma proposta fininha, limitando-se a uma planilha com os preços, uma descrição sumária de alguns aspectos técnicos, uns dois desenhos e um cronograma das etapas a realizar. Fiquei surpreso com aquela “magreza” de proposta, pois já estava acostumado com a “opulência” então em moda das propostas para obras públicas.

Sempre tive plena convicção de que a Odebrecht venceu a licitação de Angra 1 na maior lisura, sem nenhuma sacanagem, por dois motivos: naquela época,embora já fosse uma construtora grande, não tinha maior expressão. Além disso, creio ter ofertado o menor preço. Se ninguém notou o itálico, devo dizer que na década de 1980 “menor preço” deixou de ser o único critério para a contratação e realização de muitas obras públicas, porque todos os participantes igualavam o lpreço mínimo estabelecido no edital. Mas isso é assunto para outro dia.

OBS.: este é um texto que foi dividido em seis partes (preciso administrar a falta de assunto!). Todos sairão às sextas-feiras, para dar tempo de curar a azia.


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

DOMINGO É DIA DE PESCARIA


No próximo domingo será Dia dos Pais. Por isso, resolvi pescar e adaptar um pequeno texto que escrevi em um e-mail antigo, enviado a meus filhos.

Descobri meio contrariado que já existe um "DIA DO FÃ",  comemorado no dia 19 de março. Pra mim, não tem nada a ver. No duro, no duro, o Dia do Fã eu comemoro mesmo é no Dia dos Pais. Porque, se como pai eu nunca fui grandes coisas, como admirador de meus filhos eu sou presidente do fã-clube.


COMENTANDO AS PENÚLTIMAS - 08

Mataram o leão Cecil. Melhor dizendo, o leão Cecil foi morto de forma ilegal por um dentista idiota, um doente mental que gosta de caçar. Deve se achar o “macho alfa” ou ter dúvidas quanto à própria sexualidade, para fazer uma merda dessas. E o cara (melhor seria chamá-lo de cárie) é reincidente, pois já teria caçado um urso negro em local onde esse animal não poderia ser abatido.

Segundo a revista Exame.com (de onde tirei também essa foto-homenagem), “Cecil era especialmente famoso no meio conservacionista e era amado em todo o país. Morto aos 13 anos de idade, o leão teve praticamente toda a sua vida monitorada por cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que estudavam a conservação de leões no Zimbábue”.

Sinceramente, não consigo entender qual a graça de matar animais - qualquer animal - apenas por prazer, em um comportamento reiterado, compulsivo, em pleno século XXI. Na década de 1960, existiam 450.000 leões na Africa. Em 2013, segundo revista Veja dessa época, a população teria caído para apenas 20.000 animais(!). 

Já não basta a redução de suas áreas de caça provocada pela expansão da agricultura e criação extensiva de gado? Tinha de ainda existir um filho da puta para caçar leão por esporte? E esse corno só está mais famoso, mas não é o único!

Quando estava na faculdade, comecei a estagiar em uma empresa que tinha sido contratada para construir uma fábrica de cimento (parte dela) em Pedro Leopoldo, município que fica a uns cinquenta quilômetros de BH. Naquela época, a estrada era muito precária, sem acostamento e apenas com duas pistas. Para minimizar o deslocamento, foi alugada uma casa no centro da cidade, onde moravam uns três engenheiros. Eu e os outros estagiários da obra também almoçávamos lá.

Depois do almoço, à falta do que fazer, um dia alguém arrumou uma espingarda a ar comprimido e criou-se uma disputa informal de quem atirava melhor. Os alvos eram caixas de fósforo, latas, e tampinhas. Logo, logo, ninguém tinha mais saco para isso. Ninguém, exceto eu. Aproveitei para treinar bastante e errar mais ainda. Um dia, também já meio cansado disso, resolvi tentar matar um passarinho.

Esperei até que pousasse um na árvore do quintal. Mirei, mirei e pá! O passarinho voou, fazendo-me pensar que tinha errado.  Mas ele descreveu um arco e pousou quase na base do tronco. Todo feliz, aproximei-me para ver o que tinha acontecido. O bichinho estava agarrado a uma saliência da árvore, o corpo todo tremendo. Cheguei mais perto ainda e ele caiu no chão, já morto. Eu tinha acertado! Ou errado feio, como passei a pensar desde então.

Ver aquele passarinho agarrado à árvore, tremendo, convulsionado, agonizando, me fez abandonar definitivamente a espingarda de chumbinho e a condenar qualquer tipo de caça esportiva praticada por sádicos disfarçados. Por extensão, tornei-me também contrário à criação de passarinhos em gaiola. Os defensores desse tipo de lazer sempre vêm com a conversa de que, se forem soltos, morrerão, pois não estão habituados à vida fora da gaiola. OK, mas por que, um dia, algum idiota resolveu prendê-los?

Um primo de minha mulher cresceu extraordinariamente no meu conceito quando descobri que em sua casa há uma plataforma elevada sempre com água e alpiste para uso e consumo de qualquer passarinho que vive - e voa livremente – nas redondezas. Segundo ele, não há gaiola que pague o prazer de acordar com a algazarra alegre da passarinhada que ali vai. Mas isso é muito, muito raro.

Ao ler a notícia da morte do leão Cecil lembrei-me de alguém que me disse ser o homem, a raça humana, um equívoco, um vacilo da Natureza. Estou cada vez mais tentado a concordar integralmente com isso. Lembrei-me também da música "Passaredo", do Chico, aquela que diz "toma cuidado, o homem vem aí". Divagando mais um pouco, lembrei-me das “pragas do Egito” relatadas na Bíblia. Fui consultar a internet para saber de que se tratava e cheguei à conclusão de que - caso tenham acontecido mesmo, do que duvido - à exceção da morte dos primogênitos, todas elas foram umas praguinhas muito mixas, ainda mais considerando que ocorreram só no Egito.

Já a raça humana comporta-se como uma pandemia, uma praga de alcance global, pois provoca a extinção de espécies, caça por esporte ou por ignorância, destrói ou avilta ecossistemas, polui nascentes de água, mananciais, lagos, rios e oceanos. Faz pesca predatória, atira na atmosfera zilhões de toneladas de partículas e dióxido de carbono (CO2), desmata áreas gigantescas, contribui para o aquecimento global e ainda procria mais que coelho. Isso sem falar na mania de muitos de querer impor aos demais sua teologia ou sua ideologia (às vezes, na marra).

Com seu comportamento predatório e seu consumismo desenfreado o homem, aos poucos, vai deixando "o mais bonito dos planetas" ("a nave nossa irmã") exaurido, desgastado, um lugar cada vez mais desconfortável de se viver, tão hostil quanto terra arrasada. Lembra mais a praga bíblica dos gafanhotos. Homo sapiens? Gafanhomem!

ENDLESS LOVE

  Foi no carnaval de 1969 que se iniciou uma história de amor que eu não quero que acabe nunca – mesmo que eu saiba que um dia acabará. Já p...