Com a recente prisão dos presidentes das
construtoras Andrade Gutierrez e Odebrecht (como parte da “Operação Lava
Jato”), acusados de envolvimento com o(s) escândalo(s) da Petrobrás, tive
vontade de registrar alguns casos muito antigos, relacionados à minha
“experiência nuclear”, justamente por seu minúsculo ponto de contato com as
empresas citadas.
1982 ou 1983, não me lembro mais, foi o ano
em que vivi uma das mais interessantes experiências como engenheiro. A empresa
onde trabalhava resolveu participar da concorrência para construção das obras
civis da usina nuclear de Angra 3. Quando essa construtora resolveu
disputar a obra, já sabia que iria enfrentar algumas das maiores empresas de
construção pesada do país. Uma delas era a Andrade Gutierrez.
Deu para notar alguma coisa? Vou repetir: em
1982 ou 1983 aconteceu a licitação para construção das obras civis de Angra 3.
Como estamos em 2015, já se passaram mais de trinta(!) anos – e até hoje ela
não foi inaugurada.
Segundo informações que obtive na internet depois de ter escrito esses casos, as obras foram paralisadas em 1985 e só retomadas em 2010. Para manter as instalações provisórias utilizadas durante a construção, a empresa vencedora recebeu um "troco" de cinco milhões de reais por ano (durante 25 anos!).
Segundo informações que obtive na internet depois de ter escrito esses casos, as obras foram paralisadas em 1985 e só retomadas em 2010. Para manter as instalações provisórias utilizadas durante a construção, a empresa vencedora recebeu um "troco" de cinco milhões de reais por ano (durante 25 anos!).
O órgão contratante era a Nucom, uma
das empresas da holding Nuclebrás (tudo era "nuc"
alguma coisa - Nuclen, Nuclep, Nuclemon, etc.). A substituta
atual da velha Nuclebrás atende pelo nome de Eletronuclear, e só descobri isso
depois que seu presidente licenciado também foi preso, acusado de receber
propina de 4,5 milhões de empreiteiras de Angra 3. Dentre essas, a Andrade
Gutierrez.
Quem quiser saber mais (não estou falando da
prisão, é lógico), basta procurar, por exemplo, no site da Eletronuclear. Meu
negócio é contar casos. Por isso, continuemos.
Na época da licitação, a usina Angra 1 estava
quase concluída e Angra 2 estava ainda bem no início. As obras civis das duas usinas
eram executadas pela Odebrecht (chamava-se antes Construtora
Norberto Odebrecht). Segundo bochichos daquela época, Angra 2 teria sido
entregue à Odebrecht como aditivo contratual, sem licitação. A
explicação para um aditivo de alguns bilhões de dólares, equivalente a 100% (ou
mais) da obra originalmente contratada, seria o fato de ser ela a única empresa
brasileira com experiência na construção de usinas nucleares. Se essa
explicação é real, a lógica é surreal, concordam? Não existia outra antes de
Angra 1! Além do mais, os projetos eram totalmente diferentes, pois a tecnologia
de Angra 1 é americana e das demais, alemã!
Creio que uma imagem para essa lógica maluca
seria a pressuposição de que um piloto de avião sabe também pilotar
helicóptero, pelo simples fato de que ambos são veículos que voam. Nessa época,
o Brasil era governado pelos generais presidentes e, talvez seja essa a
verdadeira explicação (-“entrega logo Angra 2 para aquele baiano e não se
discute mais”).
Como não sei as datas, entrei na internet e
descobri que as obras da usina de Angra 1 teriam começado em 1972. Nessa época
eu era apenas um estudante de engenharia relapso e sem juízo. Imagino que a
licitação pode ter ocorrido um ano antes. Foi inaugurada em 1985.
Tive um colega que, não sei como, possuía uma
cópia xerox da proposta apresentada pela Odebrecht para a licitação de Angra 1.
Era uma proposta fininha, limitando-se a uma planilha com os preços, uma
descrição sumária de alguns aspectos técnicos, uns dois desenhos e um
cronograma das etapas a realizar. Fiquei surpreso com aquela “magreza” de
proposta, pois já estava acostumado com a “opulência” então em moda das
propostas para obras públicas.
Sempre tive plena convicção de que a
Odebrecht venceu a licitação de Angra 1 na maior lisura, sem nenhuma sacanagem,
por dois motivos: naquela época,embora já fosse uma construtora grande, não
tinha maior expressão. Além disso, creio ter ofertado o menor preço.
Se ninguém notou o itálico, devo dizer que na década de 1980 “menor preço”
deixou de ser o único critério para a contratação e realização de muitas obras
públicas, porque todos os participantes igualavam o lpreço mínimo estabelecido no edital. Mas isso é assunto para outro dia.
OBS.: este é um texto que foi dividido em seis partes (preciso administrar a falta de assunto!). Todos sairão às sextas-feiras, para dar tempo de curar a azia.
OBS.: este é um texto que foi dividido em seis partes (preciso administrar a falta de assunto!). Todos sairão às sextas-feiras, para dar tempo de curar a azia.
Interessante. Mas dividir em seis partes é sacanagem (risos).
ResponderExcluir"J"
Obrigado pelos comentários. Pensei nisso hoje. O texto foi dividido em posts de duas páginas em word arial 12, para não tornar a leitura maçante. Além disso, esse é o artifício que imaginei para manter o blog por mais tempo, sacou?. Talvez, depois da sexta e melancólica parte, eu junte todos em um post extra, para melhor leitura. Ficará muito grande para os padrões da web. Ainda tenho 50 posts para divulgar. Se for apenas um por semana, o Blogson tem gás para quase um ano. O que, venhamos e convenhamos, está pra lá de bom.
ExcluirBem bacana o texto. Para mim, "Memória" é, disparado, a melhor categoria do blog.
ResponderExcluirNão há melhor elogio que esse. Fico super, super feliz.
ExcluirE, se gostou, à zero hora de amanhã sai a segunda parte. Espero que corresponda às expectativas (se existirem, lógico)