domingo, 29 de junho de 2014

VALOR AGREGADO

Algum tempo atrás, a revista Veja trouxe esta informação: quando o papa João Paulo II veio ao Brasil em 1980, a porcentagem de católicos declarados era de 89% da população; em 2013, essa porcentagem caiu para 64%. Segundo essa revista, a previsão é que em 2030 os evangélicos (bem entendido, todos os fiéis das várias denominações) ultrapassem os católicos.

Fiquei pensando nessas coisas e cheguei a uma simples conclusão. Não é a fé que está em jogo, o problema é de estratégia mercadológica. Se víssemos as vertentes católica e evangélica como duas redes varejistas concorrentes, tipo Casas Bahia e Ricardo Eletro, teríamos a seguinte situação:

As duas redes oferecem o mesmo “produto” – no caso, Deus (embora uma delas goste de alardear que seu produto é melhor, com frases como “o meu Deus...”). Ora, se o produto é igual, é preciso avaliar as condições comerciais de cada “loja”.

Por exemplo, as condições de pagamento: as lojas católicas aceitam qualquer merreca ou até nada mesmo. Já na concorrência, até onde sei, o pagamento mínimo é de 10% da renda do “freguês” (o trocadilho não foi intencional. Escapou-se-me.). Ponto para a rede católica.

Os vendedores da concorrência poderiam dizer que as lojas católicas trabalham com um tipo de venda casada que eles não fazem. Imagino até o argumento:
- Vê se pode, lá neles, para levar o pacote completo da Santíssima Trindade nesse preço, só se levar também Nossa Senhora e um montão de santos.
- Ah, não! Aí fica muito caro!
Mas não creio que seja esse o motivo do crescimento das vendas dos evangélicos.

Bom, o que sobra então é a publicidade e o valor agregado (odeio esta expressão) que cada rede consegue impor ao seu produto.

Se compararmos as campanhas publicitárias das duas redes, a diferença é gritante (muitas vezes, no sentido literal). A rede católica praticamente não tem publicidade; a concorrência, no entanto, utiliza a mídia de forma maciça em suas várias opções (até ônibus). E enquanto a rede católica fazia “opção preferencial pelos pobres”, a rede evangélica prometia mundos e fundos (de investimento, talvez) aos consumidores, ciente do sentimento expresso pelo “filósofo” e carnavalesco Joãozinho Trinta quando disse que "Pobre gosta de luxo! Quem gosta de pobreza é intelectual"!

O único valor agregado plausível são os milagres. Aí é que está o grande diferencial. Pode parecer que as duas redes agregam o mesmo valor a seu produto, mas há diferenças de qualidade e quantidade.

A rede católica oferece milagres sofisticados e raros, qualitativamente bem acabados, mas quase inatingíveis. Para o sujeito conseguir um milagre, tem que ter excelente cadastro. E contar ainda com a intervenção de algum santo. E são exigidos muitos formulários, há muita burocracia.

Já na rede evangélica (pelo menos em algumas denominações) rola a maior esculhambação. Quantidade é o que não falta (mesmo que a qualidade seja até risível). É “milagre” a rodo, todo dia. Tem pastor (perdão, eu queria dizer vendedor) que até deveria se chamar Apracur (“Apracur é pra curar...”), de tão fodão que o cara é, pois cura até AIDS!

Há ainda um aspecto que sempre chamou minha atenção: se você ouvir os clientes e vendedores (na verdade, “vendilhões do templo”) de algumas denominações evangélicas, vai notar que falam sempre em progresso e cura materiais, nunca em cura e progresso espiritual. Talvez por isso é que a rede evangélica cresceu tanto: parece que o sujeito muda de igreja para se dar bem na vida, só isso.

Ou ainda: é como se os "migrantes" tivessem se cansado do modelo antigo e estivessem à procura de um modelo novo, mais bonito, com novas funcionalidades. Por isso, fica a pergunta final:

Para esse pessoal que trocou o catolicismo por uma dessas novas versões de igreja evangélica, Deus lembra ou não lembra um novo modelo de eletrodoméstico?

(29-06-2014)

sexta-feira, 27 de junho de 2014

VINDE A MIM!

Recentemente saiu na mídia a notícia de que Imbi e Lou Lou, as fêmeas de gorila do Zoológico de BH, estão grávidas. O bi-pai e rei da cocada é o Leon, que chegou a BH em 2013 para substituir o velho e bom Idi Amin, morto em 2012.  

Eu fiquei muito satisfeito com essa notícia, porque achava uma sacanagem o falecido não ter deixado nenhum descendente. Fico até pensando que o que faltou mesmo foi sacanagem. E nem creio que tenha sido por falta de vontade do macacão. Refletindo sobre isso, cheguei à conclusão que o problema estava no seu nome.

Quando arranjaram duas fêmeas para lhe fazer companhia, imagino que o velho Idi deve ter se apresentado, muito sério (era um senhor de 38 anos!), dizendo:


-    Muito prazer. Idi Amin.

Certamente, as gorilinhas ficaram meio sem entender e a coisa não rolou. Para mim, ele deveria ter dito:

-   Muito prazer. Vinde a mim!

Duvido que falhasse...

quarta-feira, 25 de junho de 2014

PAIXÃO E FÉ – TAVINHO MOURA E FERNANDO BRANT

A reverência de hoje vai para (estou parecendo o Gilberto Gil: “esse samba vai para...”) Tavinho Moura, Fernando Brant e Milton Nascimento. Para explicar porque, preciso antes contar uma historinha. Vamos lá:

Seis ou sete anos atrás, ficamos sabendo que haveria um show do Lô Borges no Mercado Distrital de Santa Tereza e fomos conferir. Creio que o mercado já estava em fase terminal. Talvez por isso qualquer programa de índio acontecesse ali. Nesse dia, era justamente um programa dedicado ao Dia do Índio ou coisa parecida. Não importa. Ficamos por ali pentelhando, curtindo a excelente música do Lô, até que notei a presença de mais dois músicos ligados ao Clube da Esquina: Beto Lopes – que está mais para filho do Clube – e Tavinho Moura, esse sim, legítimo sócio fundador.  Não tive dúvida, fui lá puxar conversa com ele. Perguntei se iria cantar também e se iria rolar a música “Paixão e Fé” (rolou).

O motivo da pergunta é simples: há músicas tão absurdamente lindas que, para mim, Deus esteve ao lado do autor dando palpite, dando dicas durante a composição. É como se Ele fosse um coautor, tal o êxtase que essas músicas provocam em quem as escuta. “Paixão e Fé” é uma dessas.

Não vou ficar enxugando gelo, mas o Tavinho Moura é um compositor sofisticadíssimo. Suas melodias são sempre surpreendentes, pois quando você está esperando um belo “zig”, ele vem com um “zag” inesperado, desconcertante e mais bonito ainda. Não é à toa que sua obra mereceu um concerto no Palácio das Artes, com a Orquestra Sinfônica regida pelo Wagner Tiso, outro sócio fundador do Clube.

Eu sei que estou falando demais, mas é impossível deixar de dizer que essa música não seria o que é sem a letra arrebatadora do Fernando Brant e "A" interpretação do Milton Nascimento. A propósito do Bituca, a Elis Regina disse que “se Deus cantasse, ele cantaria com a voz de Milton”. Dez a zero para ela.

Essa gravação mais que antológica foi incluída no disco “Clube da Esquina n.° 2” e conta com o auxílio luxuoso do Beto Guedes no bandolim e uma participação especialíssima dos “Canarinhos de Petrópolis”. Além, é claro, de outras feras.

Não importa se quem ouve essa música é ateu, budista, islâmico, judeu, católico ou evangélico. O que eu penso é que, depois que a música termina você está melhor como pessoa, pois esteve muito próximo do que eu chamaria de "Deus".

A seguir, a letra lindíssima feita pelo Fernando Brant. Depois, para quem quiser ouvir, segue o link. E fica o aviso: quem não gostar dessa música é um jumento irrecuperável ou débil mental.

Já bate o sino, bate na catedral
E o som penetra todos os portais
A igreja está chamando seus fiéis
Para rezar por seu Senhor
Para cantar a ressurreição

E sai o povo pelas ruas a cobrir
De areia e flores as pedras do chão
Nas varandas vejo as moças e os lençóis
Enquanto passa a procissão
Louvando as coisas da fé

Velejar, velejei
No mar do Senhor
Lá eu vi a fé e a paixão
Lá eu vi a agonia da barca dos homens

Já bate o sino, bate no coração
E o povo põe de lado a sua dor
Pelas ruas capistranas de toda cor
Esquece a sua paixão
Para viver a do Senhor

Velejar, velejei...

terça-feira, 24 de junho de 2014

EITE DEIS A UIQUE

Se você nem titubeou ao ler o nome deste post, talvez você tenha uma energia interior de que nem suspeitava. Mas, cuidado, vá com calma. E se você é dessas pessoas que quer ou precisa emagrecer, leia uma das reflexões abaixo, verdadeiras cápsulas de sabedoria, meia-hora antes de almoçar, Certamente você não conseguirá comer depois disso. Mas lembre-se: mais de uma dose por dia pode intoxicar. Há também uma dose extra, no caso de alguém vomitar antes de terminar a leitura de alguma delas.

Síndrome
Se você acha seu chefe um pé no saco, se você considera seu trabalho um porre, enfim, se você só sente alegria quando chega Sexta-Feira, você pode estar sofrendo da Síndrome de Robson Crusoé.

Sem noção
Se um sujeito vacila e o carro cai na lagoa ou rio, será que fica com direção hidráulica?

Armário
Quando um sujeito assume publicamente que é gay, ele não fica mais com o rabo preso com ninguém. Pelo contrário.

Verdade seja dita
Meus neurônios não se chamam só Tico e Teco. Eu tenho 50% mais do que isso!!! É muito neurônio (eu nem sei pra que tanto!). Os meus são conhecidos como Larry, Moe e Curly.

Hoje é dia de rock
Os Titãs já foram uma banda de rock muito respeitada. Depois da saída do baterista Charles Gavin, parece que estão apelando para o funk.
Verdade! Hoje eles formam o "quadradinho de oito".

Fondue
Periguete é igual festa onde tem fondue: qualquer um chega e enfia o espeto.

Bala perdida
No Rio de Janeiro, vira e mexe sai uma história de bala perdida. Isso é realmente assustador. Agora, do jeito que se toca funk por lá (logo na pátria da bossa nova!), eu acho que os cariocas que deixam de ir a alguma festa deviam se alegrar é com balada perdida.

Trocadilhando
Normalmente, a maioria das pessoas acha uma merda minhas piadinhas e trocadilhos. Não sei o motivo de tanta rejeição! Mas isso apenas prova que nem só os gênios são incompreendidos, os retardados também são.

sábado, 21 de junho de 2014

GRAVIDADE ZERO

Este diálogo foi escrito em 2009, logo após eu me aposentar e cinco anos antes da criação do Blogson. Isso é importante? Não, claro.
 
 
- E aí, beleza?
 
- Tudo bem. Sabia que aderi ao PDV?
 
- PQP!
 
- Não é pqp, é PDV. Significa Plano de Desligamento Voluntário.
 
- Eu sei, eu disse PQP só para não dizer um palavrão.
 
- Mas já disse!
 
- É lógico que não disse! Eu só disse PQP.
 
- Sei, você gosta de hipocrisia, né?
 
- Mudando de assunto, é legal?
 
- É super legal, pois é o que eu sempre desejei. O problema é que...
 
- ???
 
- O problema é a sensação estranha de estar entrando na etapa final da vida. É como se você passasse de repente a viver em ambiente de gravidade zero.
 
- Então, não é ruim. Você passa da categoria de aposentado para a de astronauta. Aliás, você sempre gostou de viajar na maionese mesmo!
 
- Vá tomar no cu!
 
- Olha o palavrão!!!
 
- Bom, eu pelo menos não sou hipócrita. Ou você queria que eu dissesse “VTNC”?
 
- Até que não ficou ruim...
 
- Só pra você, que adora trabalhar em empresa onde tudo é identificado por siglas imbecis.
 
- É...
 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

VALEU!!!

Eu hesitei muito em criar este blog. Queria mas não queria, ficava preocupado com a repercussão (ou com sua falta). Algumas pessoas sempre sugeriam que eu criasse um. Para encorajar, brincavam que assim poderiam me desmarcar como spam (suspeito que isso tenha um fundo de verdade).

Por não me dispor a criar esse bicho, às vezes inundava a caixa de entrada dessas e de mais algumas pessoas com várias mensagens. O conteúdo desses e-mails, devidamente atualizado alimentará parcialmente o blog. Digo “parcialmente” porque minha cabeça está fervilhando o tempo todo, pensando besteira direto.

E é disso que eu quero falar. Criar este blog para postar as coisas que escrevo – mesmo que sejam horríveis, sem graça, inconvenientes, mesmo que ninguém as leia – está me proporcionando uma emoção diferente, uma expectativa, uma alegria, uma sensação de liberdade, talvez a mesma que sente uma criança muito presa que, de repente, a mãe autoriza  sair de casa para brincar na rua, sem que alguém mais velho fique vigiando (eu fui essa criança).

Outra coisa que me ocorreu é que com este blog eu ganhei um antídoto para a depressão e um poderoso auxiliar para me manter afastado do “alemão” porque, como disse, meu cérebro está a mil.

Por tudo isso, eu agradeço publicamente as pessoas que insistiram e me ajudaram a criar o blog, pela imensa alegria que isso está me causando. Agradeço também a todos os corajosos que encaram a leitura desses posts, mesmo que à custa de toneladas de remédio para azia. Espero que tenham reservas suficientes para comprar muito antiácido daqui pra frente.


Especialmente, agradeço às pessoas de que não tenho a menor ideia quem sejam, identificados por "Unknown". Como sou um ignorante nesse lance de informática, imaginei que poderiam ser pessoas totalmente desconhecidas, verdadeiros OVNI - Obscuros Visitantes Não Identificados, é claro. Pois bem, esses OVNI fizeram dois comentários bacanas, sinalizando que talvez este blog possa ser divertido também para pessoas que não me conhecem nada ou muito pouco.  A sensação que eu tive deve ter sido a mesma do inglês (caso verídico) que saiu pela África do século XIX à procura de um conterrâneo desaparecido (olha a redundância!). Quando o encontrou, fez esta pergunta: – “Dr. Livingstone, I presume?". Se fosse brasileiro, uma pergunta assim seria feita só pra tirar sarro; como eram britânicos o tom da pergunta deve ter sido de alívio e alegria. 

Mas, eu, se fosse o "Livistón", teria respondido – “Não, mané, eu sou um hipopótamo, não está vendo? Que você acha? Olha em volta! Eu e você somos os únicos aqui neste cu de mundo que estamos com a pele cor de camarão". (Ah, essa mania de sair do assunto!)

Então, ratificando, a sensação que eu tive foi também de alegria. Agora, posso até dizer que acredito em OVNI. Por isso, eu digo a todos, conhecidos e desconhecidos: VALEU!!!

quarta-feira, 18 de junho de 2014

RECADO AO SENHOR 903 - RUBEM BRAGA

Para a reverência de hoje eu precisaria até de genuflexório, pois o sujeito era fera demais. Ele escrevia com uma classe, com uma elegância, com um lirismo e humor de deixar qualquer um babando. Antes do texto escolhido para reverenciar Rubem Braga, um dos meus ídolos máximos, vou transcrever uma frase sua que me fascina, pela síntese de tudo o que eu gostaria de conseguir nas bobagens que escrevo – lirismo e humor. Olhaí:

Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:
"Eu sou lá de Cachoeiro..."

Estou com a sensação de que alguém deve estar mais feliz e com um sorriso meio bobo no rosto, depois de ler essa frase. E se você quiser agradar e impressionar um ou uma aniversariante de bom gosto e que goste de ler, dê a ele ou ela o livro “200 Crônicas Escolhidas”, de onde o texto a seguir foi tirado:


 Vizinho,
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela".
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.
Janeiro, 1953



segunda-feira, 16 de junho de 2014

AVISO AOS NAVEGANTES (DA WEB, É LÓGICO)

Este blog, para mim, é uma versão pública dos e-mails que enviava para algumas pessoas. O silêncio dos leitores é o mesmo, mas isso não me incomoda mais. Pra mim, tá valendo. E por ser apenas um “Big Mail”, a prática de falar sozinho ou comigo mesmo permanece (se alguém ainda não entendeu o tema e o nome do blog, eu desisto). 

A questão é que no final do post “Porque Blogson Crusoe?” eu coloquei que as postagens aconteceriam só às sextas-feiras. Lamento dizer que não vai dar para ficar assim. Por quê? Porque eu tenho coisa demais para colocar. Esperando sua vez de fazer parte do blog estão mais de duzentas páginas escritas no Word com fonte Arial 12. É coisa pra caramba.

Pensem bem, se eu fosse esperar cada sexta-feira era capaz de morrer antes de ter dado vazão a tudo que já escrevi. Por isso, até que o estoque se acabe, vai ter postagem diária. E, se vacilar, até três (posts, é bom deixar claro) por dia pode rolar. Ou seja, este blog vai acabar virando uma blogologia (antologia de posts, lógico). Ou uma blogoteca – os textos estarão disponíveis para quem quiser ler; se ninguém quiser, paciência.

Se eu não fosse ansioso, poderia manter a postagem só nas sextas. O problema é que eu sou meio que uma apostila ambulante de distúrbios psicológicos leves. É verdade!

Embora não seja profissional da área, já identifiquei neurose não curada (não tinha mais grana para pagar o psicanalista), transtorno obsessivo compulsivo leve, depressão moderada, antipatia pelo PT (opa, isso não é distúrbio mental, é só bom senso!), um pouco de transtorno bipolar (o antigo maníaco-depressivo), uma pitada de síndrome do pânico (acho que não tenho mais), algumas fobias, medo generalizado e 100 kg de ansiedade. 

Embora na época tenha discordado, um colega me disse uma vez que eu era sociopata. Só não briguei com ele porque uma das minhas duas personalidades não quis. Mas, se vacilar, até espinhela caída eu devo ter.

Então, mudar de ideia não me traz nenhum conflito. Estamos todos de acordo nisso. E quando eu falo “nós”, não estou incluindo os leitores.

domingo, 15 de junho de 2014

SEUS SENTIMENTOS


Gosto muito da frase “
mente vazia é a morada do capeta”. Pois bem, minha mente ontem devia estar zerada, pois encapetou-se toda e surgiu a ideia maluca. Olha só: quem nunca ficou ligeiramente constrangido de cumprimentar os pais do noivo ou da noiva, sendo que nem o noivo (ou a noiva) se conhece? Ou então, quem nunca se sentiu desconfortável de, em um velório, cumprimentar familiares (do falecido) que nunca viu na vida? Você não? Eu já. Muitas vezes.

Por exemplo, em casamentos, quando só se conhece o noivo, dá vontade de chegar pra noiva e dizer: “Parabéns! Finalmente desencalhou, heim”? Ou, em um velório, chegar para o(a) viúvo(a) a quem nunca viu e, “compungido”, dizer o chavão “Meus sentimentos” e ficar pensando que tipo de “sentimentos” seriam esses. Indiferença? Alegria?

Espero que ninguém se assuste com essa “falta de modos”, pois não sou politicamente correto e nem pretendo jamais ser (mesmo que às vezes finja um pouco, para aliviar a barra). Nunca fui um transgressor, nunca fui um revolucionário, mas sempre vi com desconfiança e até certo desdém muitas convenções sociais, especialmente quando perderam a essência que as originou, tornando-se apenas ritos sociais praticados de forma automática, ou quase isso.

Já dei acima dois exemplos desse formalismo robotizado que são os cumprimentos e votos expressos em um casamento ou em um velório. Que significado tem para os noivos aqueles cumprimentos ditos mecanicamente, vindos de desconhecidos (normalmente parentes ou velhos amigos dos pais de um ou de outro)? A resposta correta é “nenhum”. Ultimamente, consciente desse fato, evito cumprimentar o noivo ou a noiva que não conheço. A coisa muda de figura quando os dois são conhecidos e amigos ou, mesmo, apenas um. Aí o abraço e os votos de uma vida feliz são bem legais.

Quando nos casamos, havia muitas pessoas na igreja – amigos e parentes das duas famílias, amigos e colegas nossos, enfim, gente pra caramba. Quem ficasse me observando poderia pensar que eu estava com hepatite, de tanto sorriso amarelo que dei ao agradecer votos protocolares de pessoas desconhecidas que nada significavam para mim. A coisa mudou quando um tio da minha mulher me abraçou e me levantou do chão (tá bom, eu pesava apenas 64 quilos). Não me lembro do que ele disse, pois já faz tanto tempo que acredito que eu e minha mulher nem tínhamos nascido quando nos casamos (já ouviu falar de "almas gêmeas"? Pois é). Aliás esse fenômeno serviu até pra comprovar a Teoria da Relatividade. Mas, voltando àquele abraço (sou especialista em mudar de assunto sem avisar), posso dizer que foi o cumprimento mais afetuoso que recebi e o único de que me lembro.

Outra coisa que sempre me incomodou (por me deixarem constrangido) são os cumprimentos feitos aos familiares de pessoas recém-falecidas. Não existe nada mais engessado que as expressões “meus pêsames” ou “meus sentimentos” (que tipo de sentimentos?). São cumprimentos mais frios que a temperatura do morto.

Afinal, o que significa “pêsames”? Sei que a origem não é essa, mas me ocorre um jogo de palavras (mais um) para explicar a origem desse termo. Imagino alguém chegando e dizendo “pesa-me a perda de fulano(a)”. Tá bom, a piada é muito ruim (quando não é?).

Então, pensando nisso tudo, fiquei imaginando formas de desconstruir essas convenções sociais. No caso de cerimônias de casamento, poderíamos ter o seguinte diálogo:

- Meus parabéns...
- Obrigado(a).
- Eu ainda não terminei!
- Oh, desculpe...
- Parabéns por ter conseguido dar um excelente golpe do baú!

Nos casos em que há recepção após a cerimônia, geralmente os noivos vão de mesa em mesa cumprimentando os convidados. Poderia rolar esse diálogo:

- Parabéns pelo casamento. Muito bacana!
- Ah, que bom que você gostou! (dito com sorriso de noiva)
- Na verdade, a cerimônia estava um saco, as músicas pessimamente escolhidas, mas o bufê está bem legal.

Ou então:

- Parabéns... por você ter conseguido casar com essa gostosona, pois você é feio pra caramba.
(soco no nariz, sangue escorrendo, zona geral).

Já no caso de velórios a coisa poderia ficar assim:

- Meus sentimentos... que são de muita alegria por esse(a) filho(a) da puta finalmente ter morrido.
(desmaios, empurra-empurra, alguém quase derrubando o caixão).

Também poderia ser assim o diálogo:

- Seus sentimentos.
- Heim?
- Seus sentimentos!
- Desculpe-me, não entendi o que o senhor disse.
- Os sentimentos são da senhora, eu só estou aqui para cumprir uma convenção social idiota.

Para encerrar, imagino esse outro:

- Jimi Hendrix, senhora.
- O que?
- Jimi Hendrix!
- O senhor está passando bem?
- Minha senhora, eu estou tão chateado com o falecimento do seu marido, como fiquei quando o Jimi Hendrix, meu ídolo, morreu.
- Ah! Muito obrigada!



quinta-feira, 12 de junho de 2014

É DO BRASIL IL IL IL !!!

Fico meio constrangido de dizer que não curto nem assisto futebol, devo ser um dos 2,5 brasileiros nessa situação. Só pode ser algum trauma de infância! Fred (o jogador) explica?

O fato é que não entendo chongas nenhuma desse esporte. Tanto isso é verdade que, por conta da cobertura maciça da mídia, posso dizer que só agora descobri que aquele objeto redondo que todo mundo no campo embica para lá e para cá não é a mãe do juiz.

Apesar de não entender porra nenhuma desse esporte, não pude também deixar de saber que o Brasil ofereceu mundos e fundos para a Fifa, só para poder sediar a Copa (ficou faltando conceder usucapião do país para aquela entidade).

Por conta disso, eu acho que seria legal fazer duas cerimônias comemorativas de abertura no próximo dia 12 (talvez não dê mais tempo, mas seria bacana):
- a cerimônia de abertura da Copa, propriamente dita e ...

- a cerimônia comemorativa de abertura das pernas do Brasil (a data dessa abertura aconteceu muito antes, mas o simbolismo da comemoração até que pegaria bem – coincidiria com o Dia dos Namorados...).

quarta-feira, 11 de junho de 2014

LÍGIA - TOM JOBIM E CHICO BUARQUE

Por sugestão de uma pessoa muito querida, minha reverência hoje está relacionada à música; mais precisamente, aos autores de letras de música.
E vou dar uma homenageada dupla, postando uma curiosidade. Os envolvidos são os geniais Tom Jobim e Chico Buarque. A música é “Ligia”.
Originalmente, letra e música eram apenas do Tom Jobim. A pedido do maestro, o Chico deu uma guaribada.
Outra curiosidade: Em um daqueles shows de fim de ano do Roberto “Chapinha” Carlos na TV, não sei se de sacanagem ou combinado, o Tom começa a cantar a letra original. O Roberto diz para cantar de verdade, ou coisa assim. As duas letras são lindas e a música é mais linda ainda.  É isso.

Lígia

Lígia
(primeira versão, sem parceria do Chico)

(a definitiva, em parceria com Chico Buarque)



Eu nunca sonhei com você

Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema

Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba

Não gosto de samba,
Não vou a Ipanema

Não vou a Ipanema
Não gosto de chuva

Não gosto de chuva
Nem gosto de sol

Não gosto de sol



Eu nunca te telefonei

E quando eu lhe telefonei
Para que, se eu sabia?

Desliguei, foi engano
Eu jamais tentei

O seu nome eu não sei
E jamais ousaria

Esqueci no piano
As bobagens de amor

As bobagens de amor
Que aprendi com você

Que eu iria dizer
Não, Lígia, Lígia

Não, Lígia, Lígia



Sair com você de mãos dadas

Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Na tarde serena

Num fim de semana
Um chope gelado

Um chope gelado
Num bar de Ipanema

Em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon

Andar pela praia até o Leblon



Eu nunca me apaixonei

E quando eu me apaixonei
Eu jamais poderia

Não passou de ilusão
Casar com você

O seu nome rasguei
Fatalmente eu iria

Fiz um samba canção
Sofrer tanta dor

Das mentiras de amor
Pra no fim te perder

Que aprendi com você
Lígia, Lígia.

É Lígia, Lígia



Você se aproxima de mim

E quando você me envolver
Com esses modos estranhos

Nos seus braços serenos
E eu digo que sim

Eu vou me render
Mas seus olhos castanhos

Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo

Me metem mais medo
Que um raio de sol

Que um raio de sol
Lígia, Lígia.

Lígia, Lígia

            

segunda-feira, 9 de junho de 2014

ESTRUTURA DO BLOG

A primeira postagem do Blogson tinha que mostrar a tônica, o estilo imaginado para este blog – ou seja, nenhum compromisso com a seriedade nem com o politicamente correto. Depois, pensando sobre isso, concluí que é legal dar uma prévia da estrutura imaginada para publicação das tranqueiras que escrevo. E o que imaginei é o seguinte: o blog não será indexado por data de postagem, mas por assuntos (ou seções). São elas:

-   ENTENDENDO O BLOG: autoexplicativo

-   FALANDO SÉRIO: 90% das coisas que escrevo são piadas idiotas, trocadilhos infames e pensamentos ridículos. Às vezes, entretanto sai alguma coisa sem (ou com pouca) ironia.

-   PAPO CABEÇA: esta é uma versão “viajada” do “FALANDO SÉRIO”. Embora hoje eu seja radicalmente contra o uso de qualquer tipo de droga – não importando se é lícita ou ilícita (só aceito leite com Toddy – gelado, por favor), às vezes deliro um pouco. Como disse o Belchior, “a minha alucinação é suportar o dia a dia, o meu delírio é a experiência com coisas reais”.

-   MEMÓRIA: outro caso particular de “FALANDO SÉRIO”, está relacionado à minha lembrança de pessoas, casos e acontecimentos que me marcaram ou fizeram parte de minha vida. Embora seja um lance mais pessoal, algumas coisas são legais.

-   RELIGARE: esta seção é meio polêmica, já que pretende juntar todas as frases e textos relacionados à religião, ou melhor, às religiões de modo geral. A polêmica poderá surgir dos textos postados, que podem ser (e são) piadas, comentários irônicos ou reflexões sérias. Não tenho nenhum problema com isso, pois sou católico praticante. Os fundamentalistas, entretanto, podem ficar meio ou muito putos com o que lerem. Paciência...

-   SEM NOÇÃO: esta seção também poderia ser chamada de “espaço Jotabê”, personagem frequente em todas as idiotices e piadas ruins que imagino. E a seção é para isso: piadas e gracinhas horríveis e sem graça. O detalhe é que as coisas postadas nesta seção necessitam que o leitor tenha uma pouco da chamada cultura pop ou cultura inútil ou cultura geral ou, simplesmente, cultura. Se não tiver, como irá malhar adequadamente as coisas ridículas e sem graça que lerá? Ou seja, se só entender de futebol (por exemplo), como irá detonar toda a falta de senso que encontrar pela frente? Resumindo: este blog é contraindicado para analfabetos funcionais.

-   DIÁLOGOS DE SPAMTAR: o nome já diz tudo - se fossem encaminhados por e-mail, eu seria marcado como spam pelos destinatários. Significa que  esta é um caso bem mais grave e particular da seção “SEM NOÇÃO”.

-   VINTAGE: há situações que só ocorrem (ou ocorreram) uma vez. Por isso, os textos acabam por ficar envelhecidos, meio datados, não são atemporais. Como um texto sobre a Copa, por exemplo.

-   REVERÊNCIA: esta é uma novidade que surgiu agora (é claro que é agora, né?) em minha cabeça. Para o bem e para o mal, eu normalmente só encaminhava coisas que escrevo (pensando melhor, eu poderia até fazer uma rima pobre: para o mal e para o mal, só mandava texto autoral). Com o blog, a coisa mudou. Deu vontade de divulgar alguns textos de autores consagrados que admiro e venero. Há também uma sacanagem implícita: como sou menos bobo (não muito menos) do que aparento ser, quando alguém procurar o autor ou o texto, vai que encontra o blog...

Pra finalizar, esclareço que sou especialista em títulos idiotas. Por isso, escolhi os listados acima. 

ENDLESS LOVE

  Foi no carnaval de 1969 que se iniciou uma história de amor que eu não quero que acabe nunca – mesmo que eu saiba que um dia acabará. Já p...