Gosto muito da frase “mente vazia é a morada do capeta”. Pois bem, minha mente ontem devia estar zerada, pois encapetou-se toda e surgiu a ideia maluca. Olha só: quem nunca ficou ligeiramente constrangido de cumprimentar os pais do noivo ou da noiva, sendo que nem o noivo (ou a noiva) se conhece? Ou então, quem nunca se sentiu desconfortável de, em um velório, cumprimentar familiares (do falecido) que nunca viu na vida? Você não? Eu já. Muitas vezes.
Por exemplo, em casamentos, quando só se
conhece o noivo, dá vontade de chegar pra noiva e dizer: “Parabéns! Finalmente desencalhou, heim”? Ou, em um velório, chegar
para o(a) viúvo(a) a quem nunca viu e, “compungido”, dizer o chavão “Meus sentimentos” e ficar pensando que
tipo de “sentimentos” seriam esses. Indiferença? Alegria?
Espero que ninguém se assuste com essa “falta
de modos”, pois não sou politicamente correto e nem pretendo jamais ser (mesmo que
às vezes finja um pouco, para aliviar a barra). Nunca fui um transgressor,
nunca fui um revolucionário, mas sempre vi com desconfiança e até certo desdém
muitas convenções sociais, especialmente quando perderam a essência que as
originou, tornando-se apenas ritos sociais praticados de forma automática, ou
quase isso.
Já dei acima dois exemplos desse formalismo robotizado
que são os cumprimentos e votos expressos em um casamento ou em um velório. Que
significado tem para os noivos aqueles cumprimentos ditos mecanicamente, vindos
de desconhecidos (normalmente parentes ou velhos amigos dos pais de um ou de
outro)? A resposta correta é “nenhum”.
Ultimamente, consciente desse fato, evito cumprimentar o noivo ou a noiva que
não conheço. A coisa muda de figura quando os dois são conhecidos e amigos ou,
mesmo, apenas um. Aí o abraço e os votos de uma vida feliz são bem legais.
Quando nos casamos, havia muitas pessoas na
igreja – amigos e parentes das duas famílias, amigos e colegas nossos, enfim,
gente pra caramba. Quem ficasse me observando poderia pensar que eu estava com
hepatite, de tanto sorriso amarelo que dei ao agradecer votos protocolares de
pessoas desconhecidas que nada significavam para mim. A coisa mudou quando um
tio da minha mulher me abraçou e me levantou do chão (tá bom, eu
pesava apenas 64 quilos). Não me lembro do que ele disse, pois já faz tanto tempo que acredito que eu e minha mulher nem tínhamos nascido quando nos casamos (já ouviu falar de "almas gêmeas"? Pois é). Aliás esse fenômeno serviu até pra comprovar a Teoria da Relatividade. Mas, voltando àquele abraço (sou especialista em mudar de assunto sem avisar), posso dizer que foi o cumprimento mais afetuoso que recebi e o único de que me lembro.
Outra coisa que sempre me incomodou (por me
deixarem constrangido) são os cumprimentos feitos aos familiares de pessoas recém-falecidas.
Não existe nada mais engessado que as expressões “meus pêsames” ou “meus
sentimentos” (que tipo de sentimentos?). São cumprimentos mais frios que a
temperatura do morto.
Afinal, o que significa “pêsames”? Sei que a origem não é essa, mas me ocorre um jogo de
palavras (mais um) para explicar a origem desse termo. Imagino alguém chegando
e dizendo “pesa-me a perda de fulano(a)”.
Tá bom, a piada é muito ruim (quando não é?).
Então, pensando nisso tudo, fiquei imaginando
formas de desconstruir essas convenções sociais. No caso de cerimônias de
casamento, poderíamos ter o seguinte diálogo:
- Meus
parabéns...
- Obrigado(a).
- Eu
ainda não terminei!
- Oh,
desculpe...
-
Parabéns por ter conseguido dar um excelente golpe do baú!
Nos casos em que há recepção após a cerimônia,
geralmente os noivos vão de mesa em mesa cumprimentando os convidados. Poderia
rolar esse diálogo:
-
Parabéns pelo casamento. Muito bacana!
- Ah, que
bom que você gostou! (dito
com sorriso de noiva)
- Na
verdade, a cerimônia estava um saco, as músicas pessimamente escolhidas, mas o
bufê está bem legal.
Ou
então:
-
Parabéns... por você ter conseguido casar com essa gostosona, pois você é feio
pra caramba.
(soco no nariz, sangue escorrendo, zona geral).
Já no caso de velórios a coisa poderia ficar
assim:
- Meus
sentimentos... que são de muita alegria por esse(a) filho(a) da puta finalmente
ter morrido.
(desmaios, empurra-empurra, alguém quase
derrubando o caixão).
Também poderia ser assim o diálogo:
- Seus
sentimentos.
- Heim?
- Seus
sentimentos!
- Desculpe-me,
não entendi o que o senhor disse.
- Os
sentimentos são da senhora, eu só estou aqui para cumprir uma convenção social
idiota.
Para encerrar, imagino esse outro:
- Jimi
Hendrix, senhora.
- O
que?
- Jimi
Hendrix!
- O
senhor está passando bem?
- Minha
senhora, eu estou tão chateado com o falecimento do seu marido, como fiquei
quando o Jimi Hendrix, meu ídolo, morreu.
- Ah!
Muito obrigada!
Não tem nada mais constrangedor que o tal de "meus pêsames" , principalmente quando você vai cumprimentar um viúvo no dia pais que de tantos parabéns durante todo o dia você diz "meus parabéns" . Isso me aconteceu. .Entretanto é raro o velório que eu não choro.
ResponderExcluirMas casamento?! Todos me emocionam mesmo sem conhecer os noivos. Só de um casal jurar amor eterno já me preenche de alegria. Apesar de não ter vivido essa emoção, ainda acredito no amor e deve ser um momento mágico dividido com uma platéia, a todos os casai eu cumprimento com muito carinho, se tiver recepção minha alegria é triplicada. Gostei do seu sarcástico texto, me fez pensar nos meus sentimentos vividos nestas situações.