sexta-feira, 16 de setembro de 2022

SONETO 116 - WILLIAM SHAKESPEARE

No meio da pandemia, assistindo televisão com minha mulher, ouvi um ator inglês dizer as palavras mágicas “Soneto 116 de Shakespeare”. Creio que ele estava aproveitando o confinamento imposto pela Covid para memorizar e declamar nas redes sociais os sonetos escritos pelo “bardo de Avon”. Claro que não conhecia e nem mesmo sabia que Shakespeare tinha escrito sonetos, ainda mais nessa quantidade. Cento e dezesseis! (na verdade, 154). Só sei que corri a procurá-lo na internet. O engraçado foi ter encontrado seis traduções diferentes. Impossível resistir a isso! Copiei todas as versões e os versos em inglês. Como acredito na fina sensibilidade das leitoras e leitores do blog (umas 10,6 pessoas, no máximo), resolvi publicar tudo no velho e amarrotado Blogson para que cada pessoa escolha a versão que mais lhe agradar.
 
 
SONNET CXVI
Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove.
 
O no! it is an ever-fixed mark
That looks on tempests and is never shaken;
It is the star to every wand'ring bark,
Whose worth's unknown, although his height be taken.
 
Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle's compass come;
Love alters not with his brief hours and weeks,
 
But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me prov'd,
I never writ, nor no man ever lov'd.
 
 
SONETO 116 - TRADUÇÃO DE GERALDO CARNEIRO.
Não tenha eu restrições ao casamento
De almas sinceras, pois não é amor
O amor que muda ao sabor do momento,
Ou se move e remove em desamor.
 
Oh, não, o amor é marca mais constante
Que enfrenta a tempestade e não balança,
É a estrela-guia dos barcos errantes,
Cujo valor lá no alto não se alcança.
 
O amor não é o bufão do Tempo, embora
Sua foice vá ceifando a face a fundo.
O amor não muda com o passar das horas,
 
Mas se sustenta até o final do mundo
Se é engano meu, e assim provado for,
Nunca escrevi, ninguém jamais amou.
 
 
SONETO 116 - TRAD. THEREZA CHRISTINA ROCQUE DA MOTTA
Não há empecilhos quando mentes
Verdadeiras se afeiçoam. O amor inexiste
Quando se altera por qualquer motivo,
Ou se curva sob o ímpeto apressado:
 
Ah, não! É um olho inabalável,
A mirar as tempestades sem se alterar;
É a estrela-guia de todo barco à deriva,
Cujo valor se desconhece, embora alta viva sobre o mar.
 
O amor não serve ao Tempo, embora as róseas faces e lábios
Cedam ao arco de sua longa foice;
O amor não se altera com suas breves horas e dias,
 
Mas sustenta-se firme até o fim das eras.
Se tudo que eu disse se provar um engano,
Jamais escrevi, nem amou qualquer humano.
 
 
SONETO 116 – TRADUÇÃO VALÉRIA (ORDEM DO AMOR)
De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
 
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
 
Amor não teme o tempo, muito embora,
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
 
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou
 
 
SONETO 116 – TRADUÇÃO DE JERÔNIMO DE AQUINO
Nada embaraça a união de almas amigas, nada.
Amor não é o amor que se afrouxa, se altera,
Perante alterações da criatura amada,
Ou se apaga e se esvai, como simples quimera.
 
Oh! não, jamais. O amor é um farol permanente
Que enfrenta os temporais, fazendo-se invencível;
É para o barco errante estrela refulgente
De insondável valor, mas de altura medível.
 
Do tempo o amor não tem a fúria, ainda que faces
E lábios róseos há rente à sua foicinha.
Imarcescível, forte assim, vai sem trespasses,
 
Com o ente amado, ate da dor a extrema linha.
Quem de falsos tachar os versos que ora digo,
Não tem nem goza o amor do verdadeiro amigo.
 
 
SONETO 116 – TRADUÇÃO DE IVO BARROSO
Que eu não vejo empecilhos na sincera
União de duas almas. Não amor
É o que encontrando alterações se altera
Ou diminui se o atinge o desamor
 
Oh, não! amor é ponto assaz constante
Que ileso os bravos temporais defronta.
É a estrela guia do baixel errante,
De brilho certo, mas valor sem conta.
 
O amor não é jogral do Tempo, embora
Em seu declínio os lábios nos entorte.
O amor não muda com o dia e a hora.
 
Mas persevera ao limiar da morte.
E, se se prova que num erro estou,
Nunca fiz versos nem jamais se amou.
 
 
Soneto 116
De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor.
 
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.
 
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
 
Antes se afirma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou

 

2 comentários:

  1. É difícil escolher a versão que mais me agradou. Quando li a primeira tradução (do Geraldo) pensei que já seria a minha preferida, aí fui lendo as outras com isso em mente. Mas aí quando voltei para reler do início, já senti que as outras tinham me agradado mais. Acho que o ideal é escolher todas!

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    1. É uma boa dica e uma prova de que traduzir poemas é uma pedreira. Também gostei da do acadêmico Geraldo Carneiro (o cara usa fardão!), mas acabei gostando mais da última (cujo autor infelizmente não descobri)

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