“Este é
o samba do crioulo doido. A história de um compositor que durante muitos anos
obedeceu ao regulamento e só fez samba sobre a História do Brasil. E tome de
Inconfidência, Abolição, Proclamação, Chica da Silva e o coitado do crioulo
tendo que aprender tudo isto para o enredo da escola. Até que, no ano passado,
escolheram um tema complicado: a atual conjuntura. Aí o crioulo endoidou de vez
e saiu este samba:”
Assim começava, na voz de barítono do próprio compositor,
a gravação do “Samba do Crioulo Doido”
feita pelo Quarteto em Cy em 1967. O jornalista Stanislaw Ponte Preta compôs
essa música como crítica bem humorada à obrigatoriedade imposta pelo Departamento de Turismo do antigo estado da Guanabara aos
compositores, para só abordar temas da História do Brasil nos sambas-enredo dos
desfiles de carnaval. Apesar de bizarra uma ordem dessas, precisamos lembrar
que ainda estávamos no longínquo e censurado ano de 1967, onde se podia usar despreocupadamente
a palavra “crioulo”, mas falar mal do
governo dava até cadeia.
Sérgio Porto era o seríssimo
jornalista por trás do pseudônimo Stanislaw
Ponte Preta, criado para dar vazão à veia satírica do autor e às críticas hilárias
feitas por ele a todo tipo de idiotice que surgia no Brasil. E a “matéria prima”
era tanta que levou o jornalista a lançar dois ou três livros divertidíssimos,
a que deu o nome de “FEBEAPÁ: O Festival
de Besteiras que Assola o País” (nós temos o primeiro
e o segundo volume).
Encontrei na internet uma
sinopse precisa do conteúdo desses livros:
“O fato é que nossos políticos capricham. Inventam leis
estapafúrdias, castigam o idioma, têm mão leve, adoram um agradinho e são
loucos por um esquema. E não é de hoje. Há mais de cinquenta anos, Stanislaw
Ponte Preta fustigava os despautérios cometidos pelos donos do poder em textos
brilhantes e devastadores que eram lidos no jornal por todos os brasileiros.
Febeapá, o “Festival de besteiras que assola o país”, reúne hilariantes textos
em que generais, capitães, deputados, prefeitos e outras figuras da cena
política são pulverizados pela verve satírica do autor. Não sobra nada. Foram
poucos os escritores brasileiros que tiveram coragem de “peitar” a Ditadura com
tanta corrosão e petulância”.
O workaholic Sérgio
Porto morreu em 1968, mas se ainda estivesse vivo já teria escrito uns cem
volumes do Febeapá. Lembrei-me dele e do Samba
do Crioulo Doido ao ouvir no rádio do carro uma propaganda eleitoral de
político mineiro (que infelizmente não consegui identificar), que me deixou totalmente
chapado pelo non sense do texto.
A maluquice ouvida é mais ou
menos assim: dois caipiras conversam sobre as próximas eleições e um deles
argumenta que não votará em fulano, pois “está
sempre em cima do muro”. E é “laranja,
que é quase vermelho”.
Pensem bem, “laranja” é a
cor adotada pelo Partido Novo, quase tão de direita quanto o Bolsonaro. Dizer
que “laranja é quase vermelho” é uma insanidade
tão grande que me fez sentir pena de quem criou essa “Saga do Marqueteiro Doido”.
Mas, pensando melhor, essa propaganda só reflete o comportamento "os fins justificam os meios" que tenho criticado ultimamente, pois candidatos e marqueteiros parecem estar seguindo
fielmente o conselho do Tim Maia: “Vale
tudo, Vale o que vier, Vale o que quiser...”
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