quarta-feira, 31 de julho de 2019

O LATIDO DO CACHORRO LOUCO


Talvez movido por uma carência afetiva e fragilidade emocional congênitas, eu já pensava em acabar com o Blogson pouco mais de um ano após tê-lo criado. O motivo? Ora, o que sempre permeou vários posts do blog: reclamações sobre a falta de inspiração, de assunto, pouco ou nenhum comentário, ausência de feedback, etc. Coisa de gente imatura - apesar da idade provecta. Apesar disso, fui capengando, reclamando, rezingando  até agosto de 2016, quando efetivamente dei uma parada (que julgava eterna) no blog. Foi nessa época que minha mulher criou um perfil para mim no Facebook.

No início achei divertidíssimo, pois tudo era novidade para mim e eu era novidade para meus “amigos de facebook”. Qualquer bobagem que eu postava era curtida e comentada por um público extremamente amistoso e generoso. Aquilo era “música para meus ouvidos”. Mas aos poucos comecei estranhar a caretice e a pieguice dos posts que meus “amigos” compartilhavam: muita florzinha, muito filhotinho de bicho (de gente também), muitas orações e correntes ameaçadoras (”se você...”). Comecei a ficar de saco cheio daquilo e a sentir falta do blog. Acabei voltando à “blogosfera”, mas continuei com o meu perfil do Facebook.

Por isso mesmo, comecei a postar críticas irônicas ao Lula, à Dilma e ao PT de forma geral, tal já fazia no blog. Creio que foi nessa época que o movimento “pé na bunda da Dilma” começou a criar corpo. E eu lá, só fazendo trocadilhos e piadas infames – no blog e no Facebook.

Com a saída da Anta, comecei a torcer muito para que o Temer pusesse a economia de novo nos trilhos. Mas o friboy Joeslei fodeu com tudo, ao revelar uma conversa fora do horário e da decência. Sem contar o Loures com sua mala. Aqui cabe um parêntese: o “papagaio” foi filmado quase correndo com a mala de dinheiro na mão. Talvez ele tenha ouvido a frase “dá o pé, louro!” e traduzido para “dá no pé, Loures!”

As eleições aconteceram, o Meirelles (meu candidato preferencial) não passou para o segundo turno, o Bolsonaro tomou uma facada providencial - pois isso o impediu de falar merda - e acabou sendo eleito por todos os que não queriam ver o PT nem pintado de verde (se fosse outro partido, diria “nem pintado de vermelho”).

Graças à sua incontinência verbal, boçalidade, preconceito, radicalismo, falta de preparo, de cultura, de educação e, agora, de compaixão, o Bozo começou a ser motivo de críticas e piadas, tal como aconteceu anteriormente com a Anta. E eu também entrei nessa, pois sou contra qualquer tipo de extremismo, de radicalismo. Por isso mesmo, comecei a fazer piadinhas que posto no Facebook.

O curioso dessa história toda foi descobrir que alguns de meus amigos (reais ou de facebook) são de extrema direita e outros de extrema (ou quase isso) esquerda. Obviamente, sempre que postam alguma idiotice de acordo com sua visão, acabo ironizando ou criticando seriamente. Com isso, deixo todo mundo puto (exceto os que continuam a postar florzinhas e cãezinhos ou bebês risonhos). Por conta dessa minha atitude independente e moderada, fiz ontem um comentário que provocou uma das reações mais iradas que jamais poderia imaginar. O caso é o seguinte:

Um de meus amigos adeptos do “Lula livre” compartilhou um post com esses dizeres: (transcrição literal):
Lula não venderia a Petrobras, nem a Embraer, nem destruiria a Amazônia, nem entregaria Alcântara, nem destruiria a CLT nem a sua aposentadoria. Por isso tá preso seu imbecil!
(a autora identificou-se como Dilma Mais Que Bolada)

Não resisti a essa idiotice nacionalista e comentei:
Na verdade, está preso por ter recebido “mais que bolada”.

Meu amigo (real) reagiu na hora:
Tá bom então, enumere o que ele roubou por favor

Minha resposta foi ironizar:
Ele não roubou, apenas recebeu melhorias no triplex, no sítio...

Foi nesse momento que eu “ouvi o latido de um cachorro louco”:
 ...seu cu, palhaço!

Fiquei surpreso coma reação vinda de quem nunca tinha visto antes. Poderia tê-lo mandado tomar no cu ou à puta que o pariu, mas continuei na ironia:
O que me encanta é a delicadeza que leio nos comentários de desconhecidos. Eu sou contra o PT e contra o Bolsonaro, mas parece que você é a favor apenas da grosseria anônima. Eu, sinceramente, tenho pena de gente como você, pois parece um bolsominion espelhado, um bolsominion de esquerda.

Novo latido:
 ...foda-se para o que vc pensa, fascista!

Ser chamado de fascista é ofensa que não tolero, mas consegui segurar a vontade de mandar o cara enfiar o fascio no cu e respondi:
lamento te decepcionar, mas não sou fascista. Nem idiota como você...

Nesse ponto, entrou meu amigo real para baixar a fervura (ou prender na coleira):
o José Pinto é meu vizinho e conhecido de muitos anos. O Considero como um irmão mais velho. Ele não é radical em seu posicionamento político, e acho que nem nos devemos ser radicais. O José é um cara muito culto, esclarecido e muito educado. Ao invés de agredirem, argumentem. Ele tem todo o direito de ter a sua opinião. Como eu disse, ele não é radical e tem bons argumentos.

Mas o cachorro ainda continuou a babar:
perdoe-me, porém esse fascista fala sentado apenas em seus preconceitos, não tem prova contra Lula, nem contra ninguém da esquerda. Estamos vendo aí todo dia o escárnio que foi essa farsa a jato. Infelizmente é seu amigo, mas conheço essa gente de longe, é gente de segunda classe e sem dignidade.

Agora, vê se eu aguento um babaca desses! Um sujeito cheio de certezas e preconceitos definidos me chamando de preconceituoso! Para mim, sua reação destemperada, passional e equivocada realmente lembra as coisas que leio no Facebook postadas pelos meus amigos bolsominions, apenas com sinal trocado.

Como eu sempre fui da paz, daqueles que “dão um boi para não entrar em uma briga e uma boiada para sair dela”, resolvi deixar pra lá. Como teria dito Sócrates a seus discípulos a propósito de Xantipa, a megera com quem era casado e que acabara de lhe jogar um balde de “água servida”: “Já basta um(a) idiota, não são necessários dois” (segundo li em algum lugar, ela o considerava “um vadio imprestável”).

Esse episódio bizarro serviu para que eu deixasse este comentário final (que não foi respondido por ninguém):
Há muito preconceito? Há desrespeito e até ofensa pessoal? Há excesso de intolerância? Falta compaixão e solidariedade? Bezerros de ouro, vacas sagradas e falsos ídolos são adorados por uns e odiados por outros? Mentiras e meias verdades circulam livremente? Opiniões ponderadas e senso crítico estão esgotados? Serenidade, equilíbrio e moderação estão em falta? Cuidado, pois você está dentro de uma rede (anti) social!


segunda-feira, 29 de julho de 2019

ANALÓGICO


Depois da morte do Blogson Crusoe, tenho agido mais ou menos como algumas pessoas que perdem um ente querido. Às vezes dão uma chegadinha ao cemitério, levam flores, inspecionam a sepultura e seu entorno, rezam (ou oram) e, depois de algum tempo por ali, voltam para suas casas e para seus afazeres diários.

Guardadas as proporções é isso que tenho feito com o velho Blogson, também ele um "ente" querido. Dou uma olhada nas visualizações, comparo com as visualizações do Lingüiça, verifico se existe algum comentário “pendente de aprovação” e sigo minha vida. A propósito, o finado tem três vezes mais visualizações que o primo pobre. Mas não estou ligando muito para isso.

No final do último post do Blogson eu escrevi que precisava “urgente inventar alguma coisa para fazer”. A primeira coisa inventada foi o Lingüiça, criado só para abrigar meus monólogos ou, se quiserem, meus diálogos comigo mesmo. Mas tenho andado sem inspiração para escrever ou desenhar alguma coisa minimamente razoável. E, acreditem, não estou ligando para isso. Não sei como, consegui dar uma “silenciada” na minha ansiedade. Nem no Facebook tenho entrado. Mas há uma explicação para isso.

Resolvi voltar a ser um pouco mais analógico, um pouco menos digital. E isso, graças à sensação de que não viverei por muito tempo mais, pois estou na fase onde tenho visto muitas pessoas com idades próximas à minha indo para o vinagre. Meus joelhos estão tão fodidos que talvez em bem pouco tempo eu esteja andando de bengala. Aliás, essa pedra foi cantada no Blogson Crusoe no já distante ano de 2014. Pode parecer coisa de gente doida, enredo de novela mexicana, letra de música de corno ou simplesmente mania de fazer drama. Não importa. Se alguém quiser conferir, o link é este:

O que sei é que resolvi deixar uma “obra” que não constranja meus filhos. Por isso, resolvi fazer uma “visita ao cemitério” (várias, na verdade) e copiar tudo o que foi postado no Blogson. É a essa atividade que chamei de “analógica”, pois a partir da cópia dos posts, tudo acontece fora da internet.

A primeira providência foi eliminar todo material não autoral. Com isso, as “seções” “Música, Maestro!” e “Produção Terceirizada” foram totalmente descartadas. Depois foi a vez dos posts relacionados ao momento político atual, todos eles abrigados na seção “Calha Política”. Aproveitei para excluir também os posts da seção “Entendendo o Blog”.

Após essa capina preliminar, comecei a agrupar por estilo os posts que pretendo guardar no computador, imprimir ou mandar para meus filhos. O primeiro “pacote” a ficar pronto recebeu todas as “poesias” guardadas na seção “Literatices (Versos)”. Depois de excluir as muito ruins e revisar as que sobraram, criei um arquivo em Word com o quase invisível título “Versos”.

E tenho ficado nessa batida todo o tempo disponível. E, confesso, tenho me divertido horrores com essa maluquice, principalmente por reler textos que achei bem mais inspirados que a anêmica produção atual. Alguns até merecem este comentário mental: “Será que fui eu mesmo que escrevi isto?”

Essa é a razão da minha atual serenidade. É como se estivesse fazendo meu testamento. Muito dramático? OK, mas na linha do “Confesso que vivi". No meu caso está mais para "Confesso que me permiti pensar”. Mais analógico, impossível.


quinta-feira, 18 de julho de 2019

SÍNDROME

- Que é que você acha do Bolsonaro indicar o filho dele para ser embaixador?

- O chapeiro?

- Que chapeiro, pô?

“Chapeiro” é o cara que frita os hambúrguers nesses trailers que vendem sanduiche. Mas já que perguntou, acho que o Jair está sofrendo da Síndrome de Jerusalém.

- Que Jerusalém, caralho! É para Washington que o filho vai ser indicado!

- É efeito rebote dessa síndrome.

- Que maluquice é essa?

- É um lance que pode acontecer com algumas pessoas que visitam Jerusalém: eles passam a apresentar ansiedade, agitação, necessidade de proferir sermões meio sem pé nem cabeça em lugares considerados “sagrados”.

- Caraca!

- É, meu! Em alguns casos, o sujeito fica muito obcecado pela importância dessa cidade.

- Mas o que isso tem a ver com a indicação do filho?

- Quando o presidente ainda era deputado, ele foi a Israel para ser batizado no Rio Jordão. Vai ver, ficou com essa síndrome, pois, depois de eleito, resolveu transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém.

- Mas não transferiu!

- Ainda não, mas está pouco cagando para as criticas que recebe. E como não transferiu, o assunto “embaixada” deve ter ficado hibernando em sua cabeça. Outro sintoma dessa síndrome é que os doidinhos começam a delirar e a acreditar que são profetas ou messias.

- Eu acho que isso é só mais uma piração sua!

- Ah, é? Ele nem precisa acreditar, pois está na certidão de nascimento que ele é Messias! Deve ser por isso que vira e mexe está dentro de uma igreja evangélica.

- Velho, você definitivamente surtou. E sua síndrome é de abstinência!


quarta-feira, 17 de julho de 2019

MA(APP)TUSALÉM


Às vezes, quando a depressão está um pouco maior que o normal, eu me sinto assim: velho, muito, muito velho, muito mais velho do que já estou hoje. Minha sorte é que não viverei até ficar assim.

Esta frase serviu para apresentar meu retrato envelhecido pelo aplicativo Faceapp. Meus “amigos de facebook” reagiram imediatamente – alguns tentaram me consolar, outros “riram” escandalizados, três amigas tentaram reverter minha aparente depressão e a maioria apenas curtiu.

Essa brincadeira começou no domingo passado, durante um churrasco de confraternização em casa de amigos. Meu filho mostrou o aplicativo e quase todos os presentes foram devidamente envelhecidos, provocando a mesma reação do facebook: surpresa escandalizada do retratado, risos e comentários maldosos dos demais. Creio que só eu fiquei fascinado pelo resultado exibido.

Segundo um primo de minha mulher (que me comparou a um jenipapo), esse aplicativo foi desenvolvido na Rússia e serviria para coleta de dados do computador utilizado. Se isso é ou não verdade, não faço ideia. O que sei é que minha imagem ficou impressionantemente plausível, permitindo que eu me visse com uns cem anos. As pálpebras caídas, as bochechas flácidas e as rugas incrivelmente realistas deixaram-me verdadeiramente desconcertado. Como tenho fascínio pela passagem do tempo observada nas fotos 3x4 tiradas em épocas distintas, cheguei a pensar em postar aqui no blog esse retrato, mas consegui controlar a tempo o que seria mais uma prova de exibicionismo.

O que sei é que – ligeiramente incomodado pela reação inesperada de meus “amigos de facebook” – resolvi neutralizar o efeito do retrato “Jotabê Matusalém”. Postei uma foto recente, aproveitando para fazer uma sugestão quase subliminar aos mais exaltados, ou seja, um retorno ao equilíbrio e bom senso, com o seguinte texto:

Meu retrato envelhecido por aplicativo rendeu muitas curtidas, risos e comentários escandalizados de meus amigos de facebook, sinal de que os duzentos anos com que fiquei na foto mexeram bastante com quem viu a imagem. Eu, particularmente, gostei muito do resultado. Mas, para alívio de todos, eu ainda sou como na foto abaixo. Velho sim, deprimido às vezes, mais para Kombi usada que para Ferrari Testarossa, mas sem maiores grilos, disposto a pagar micos gigantescos - maiores até que o King Kong (que não era mico) – só para divertir meus amigos. E creio ter atingido esse objetivo, pois ainda que por breves segundos ou minutos, meus amigos esqueceram-se de endeusar o Bolsonaro, de pedir a liberdade do Lula, de louvar o Moro ou de malhar a reforma da Previdência, só para rir do meu retrato matusalém. E isso foi bom.


TEM ROBOI NA LINHA!

  Você já ouviu alguém usar a expressão “tem boi na linha” ? Embora pareça uma exclamação advinda do nosso pujante agronegócio, está mais pa...