sexta-feira, 29 de agosto de 2014

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE (PASSANDO A SUJO)

Quando trabalhava em construtora, fiquei sabendo de um caso explícito de “mau-caratismo”. Um colega fez um elaborado estudo sobre algum assunto, para a diretoria da empresa. Esse engenheiro era muito inteligente, culto e escrevia bem pra caramba, além de ter ótima caligrafia. Não sei se chegou a apresentar o trabalho. O que sei é que outro engenheiro, um picareta ignorante e mesquinho, pegou esse trabalho e reescreveu tudo com a própria letra (não havia computadores) e o apresentou ao diretor.

Quando ficamos sabendo disso, um sujeito sarcástico disse que o texto tinha sido “passado a sujo”, porque estava até com erros de português e a letra do plagiador era muito mais feia que a do autor original  e comentou: “como ele é semianalfabeto, nem passar a limpo direito ele conseguiu”. Nós (aí incluído o diretor) rimos muito desse caso, mas, curiosamente, não houve punição para o mau-caráter.

Lembrei-me desse caso porque no ano passado eu mandei para algumas pessoas um texto com uma reflexão estilo "poça d'água“ (profunda como) sobre uma ideia que vinha me atormentando. Como gosto de criar títulos malucos para as coisas que escrevo, dei a esse texto o título de “Assim caminha a humanidade” por conta do assunto abordado. 

Recentemente, relendo o que havia encaminhado, achei que não dizia coisa com coisa. Aí resolvi passar essa ideia a limpo, ou melhor, “a sujo”, pois o que já era ruim ficou pior (por ter sido expandido). Então, sofrendo de novo:

Eu gosto muito de documentários sobre os grandes animais da África. Tenho especial predileção pelas cenas de caça (seria sadismo? sei lá). E uma coisa que descobri é que os predadores escolhem suas presas entre os animais mais velhos, os filhotes ou os que estão distraídos e perto demais para conseguir fugir.

A lógica disso é simples e já foi exposta em uma piada, aquela em que um sujeito vira para o companheiro de caçada e diz que não precisa correr mais que o leão, só precisa correr mais que o amigo.

Lembrando isso, outro dia me ocorreu uma ideia tipo papo cabeça, cabeça de vento, talvez, que é a seguinte (concentrando-me no exemplo dos animais mais velhos porque será?): comparadas duas pessoas de mesma faixa etária, a expectativa de vida será menor para aquela que tiver os passos mais vacilantes, menos vigor, menos desembaraço e mais dificuldade para caminhar. Como se pode notar, esta é mais uma teoria miojo.

Talvez por apresentar hoje as provas do meu desleixo e da minha irresponsabilidade com a própria saúde – artrose nos joelhos (entre outras “coisinhas”), provavelmente antecipada pelo sobrepeso que carrego displicentemente na pança, essa ideia tem se mostrado bem recorrente na minha cabeça.  

Então, bem ao estilo poça d’água, o lance é o seguinte: a capacidade de locomover-se, de deslocar-se, de caminhar foi fundamental nas migrações dos diversos povos, desde o princípio da humanidade. Expressões metafóricas do tipo “estrada da vida”, “caminhada por este mundo”, “ele deu um mau passo” são ouvidas com frequência, tal é a importância do ato de andar.

Assim, a dificuldade de caminhar notada especialmente nos idosos sinaliza (para mim, pelo menos) que a pessoa com essa limitação tem uma expectativa de vida abreviada, se comparada com ela própria se não tivesse nenhuma restrição motora. Pode ser também que essa dificuldade de locomoção seja apenas a ponta do iceberg. 

Porque penso assim? Porque quando alguém começa a ter dificuldade para locomover-se sozinho, a tendência é ficar em repouso, na maior parte do tempo sentado. E aí o organismo começa a reagir (mal) a essas mudanças. E tudo começa a ir para o ralo. A experiência é pessoal, acreditem.

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