Quando trabalhava em construtora, fiquei
sabendo de um caso explícito de “mau-caratismo”. Um colega fez um elaborado estudo
sobre algum assunto, para a diretoria da empresa. Esse engenheiro era muito inteligente,
culto e escrevia bem pra caramba, além de ter ótima caligrafia. Não sei se
chegou a apresentar o trabalho. O que sei é que outro engenheiro, um picareta
ignorante e mesquinho, pegou esse trabalho e reescreveu tudo com a própria
letra (não havia computadores) e o apresentou ao diretor.
Quando ficamos sabendo disso, um sujeito
sarcástico disse que o texto tinha sido “passado
a sujo”, porque estava até com erros de português e a letra do plagiador
era muito mais feia que a do autor original – e comentou: “como ele é semianalfabeto, nem passar a limpo direito ele conseguiu”.
Nós (aí incluído o diretor) rimos muito desse caso, mas, curiosamente, não
houve punição para o mau-caráter.
Lembrei-me desse caso porque no ano passado eu mandei para algumas pessoas um texto com uma reflexão estilo "poça d'água“ (profunda como) sobre
uma ideia que vinha me atormentando. Como gosto de criar títulos malucos para
as coisas que escrevo, dei a esse texto o título de “Assim caminha a humanidade” por conta do assunto abordado.
Recentemente, relendo o que havia encaminhado,
achei que não dizia coisa com coisa. Aí resolvi passar essa ideia a limpo, ou
melhor, “a sujo”, pois o que já era ruim ficou pior (por ter sido expandido). Então,
sofrendo de novo:
Eu
gosto muito de documentários sobre os grandes animais da África. Tenho especial
predileção pelas cenas de caça (seria sadismo? sei lá). E uma coisa que
descobri é que os predadores escolhem suas presas entre os animais mais velhos,
os filhotes ou os que estão distraídos e perto demais para conseguir fugir.
A lógica disso é simples e já foi exposta em
uma piada, aquela em que um sujeito vira para o companheiro de caçada e diz que
não precisa correr mais que o leão, só precisa correr mais que o amigo.
Lembrando isso, outro dia me ocorreu uma
ideia tipo papo cabeça, cabeça de vento, talvez, que é a seguinte
(concentrando-me no exemplo dos animais mais velhos –
porque será?): comparadas duas pessoas de mesma faixa etária, a expectativa de
vida será menor para aquela que tiver os passos mais vacilantes, menos vigor,
menos desembaraço e mais dificuldade para caminhar. Como se pode notar, esta é
mais uma teoria miojo.
Talvez por apresentar hoje as provas do meu
desleixo e da minha irresponsabilidade com a própria saúde – artrose nos
joelhos (entre outras “coisinhas”), provavelmente antecipada pelo sobrepeso que
carrego displicentemente na pança, essa ideia tem se mostrado bem recorrente na
minha cabeça.
Então, bem ao estilo poça d’água, o lance é o seguinte: a capacidade de locomover-se, de
deslocar-se, de caminhar foi fundamental nas migrações dos diversos povos,
desde o princípio da humanidade. Expressões metafóricas do tipo “estrada da vida”, “caminhada por este
mundo”, “ele deu um mau passo” são ouvidas com frequência, tal é a importância
do ato de andar.
Assim, a dificuldade
de caminhar notada especialmente nos idosos sinaliza (para mim, pelo menos) que
a pessoa com essa limitação tem uma expectativa de vida abreviada, se comparada
com ela própria se não tivesse nenhuma restrição motora. Pode ser também que essa
dificuldade de locomoção seja apenas a ponta do iceberg.
Porque penso assim?
Porque quando alguém começa a ter dificuldade para locomover-se sozinho, a
tendência é ficar em repouso, na maior parte do tempo sentado. E aí o organismo
começa a reagir (mal) a essas mudanças. E tudo começa a ir para o ralo. A
experiência é pessoal, acreditem.
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