O
ÚLTIMO ENCONTRO
Creio
que a última vez em que minha mulher e eu visitamos o Digão foi em julho de
2007. Eu aproveitava minhas idas a serviço em cidades próximas à sua propriedade,
para visitá-lo. Graças a isso, fomos três vezes ao seu sítio.
Quando
chegamos, notei que estava bem mais abatido e alquebrado que da última vez em que
tínhamos estado com ele. Vestia uma camisa de lã e usava um boné do tipo
“Chaves”, que tampava suas orelhas.
Quando
cheguei perto dele para abraçá-lo, pegou meu rosto com as duas mãos, dizendo:
– Que alegria revê-los!
Informou
que Dona Maria havia saído “para fazer hidroginástica” numa cidade próxima, que
não demoraria. Sentamo-nos
para conversar e, enquanto ficamos ali, não mais que uma hora, ele utilizou a
máscara de oxigênio uma ou duas vezes. Quando
anunciamos que já estávamos de saída, reclamou:
– Está cedo, a Maria já
deve estar chegando!
Insistimos
que já estava tarde, qualquer coisa do gênero e nos levantamos. Pediu-me então
ajuda para poder levantar-se e, em seguida, utilizou novamente a máscara de
oxigênio. Despedimo-nos afetuosamente dele, prometendo voltar em breve e
saímos, deixando-o de pé na porta, sorridente.
O
final do ano chegou, tirei férias em janeiro e programei mentalmente minha ida
às cidades da sua região depois que passasse o período chuvoso, pois o acesso
ao seu sítio era feito por uma estradinha de terra.
Um
domingo à noite, lendo o jornal, vi um aviso de falecimento, comunicando que o
enterro de Rodrigo ... seria naquele dia, a tal hora, em tal cemitério. Minha
primeira reação foi de surpresa, por existir um sujeito com o mesmo nome do meu
amigo. Em seguida, lendo o anúncio com mais atenção, pude ver a referência à
“esposa, filhos, genros, noras e netos”. Aí é que eu me dei conta de que meu amigo
tinha morrido.
Para
confirmar, liguei na segunda feira para o sítio. Quem atendeu foi seu filho
Fábio, que confirmou o falecimento. Disse que estava ali fazendo companhia à
sua mãe, até que as coisas se ajeitassem.
Perguntei a causa da morte e ele me disse que tinha sido câncer no
pulmão, fato que a família desconhecia até a internação de seu pai, uma semana
antes de morrer.
Não
me lembro porque deixei de ir à missa de sétimo dia. Talvez estas lembranças me
redimam dessa descortesia com o amigo.
Julho/2008
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