segunda-feira, 11 de agosto de 2014

HISTÓRIAS DO DIGÃO - PARTE XV

O ÚLTIMO ENCONTRO

Creio que a última vez em que minha mulher e eu visitamos o Digão foi em julho de 2007. Eu aproveitava minhas idas a serviço em cidades próximas à sua propriedade, para visitá-lo. Graças a isso, fomos três vezes ao seu sítio.

Quando chegamos, notei que estava bem mais abatido e alquebrado que da última vez em que tínhamos estado com ele. Vestia uma camisa de lã e usava um boné do tipo “Chaves”, que tampava suas orelhas.

Quando cheguei perto dele para abraçá-lo, pegou meu rosto com as duas mãos, dizendo:

 Que alegria revê-los!

Informou que Dona Maria havia saído “para fazer hidroginástica” numa cidade próxima, que não demoraria. Sentamo-nos para conversar e, enquanto ficamos ali, não mais que uma hora, ele utilizou a máscara de oxigênio uma ou duas vezes. Quando anunciamos que já estávamos de saída, reclamou:

 Está cedo, a Maria já deve estar chegando!

Insistimos que já estava tarde, qualquer coisa do gênero e nos levantamos. Pediu-me então ajuda para poder levantar-se e, em seguida, utilizou novamente a máscara de oxigênio. Despedimo-nos afetuosamente dele, prometendo voltar em breve e saímos, deixando-o de pé na porta, sorridente.

O final do ano chegou, tirei férias em janeiro e programei mentalmente minha ida às cidades da sua região depois que passasse o período chuvoso, pois o acesso ao seu sítio era feito por uma estradinha de terra.

Um domingo à noite, lendo o jornal, vi um aviso de falecimento, comunicando que o enterro de Rodrigo ... seria naquele dia, a tal hora, em tal cemitério. Minha primeira reação foi de surpresa, por existir um sujeito com o mesmo nome do meu amigo. Em seguida, lendo o anúncio com mais atenção, pude ver a referência à “esposa, filhos, genros, noras e netos”. Aí é que eu me dei conta de que meu amigo tinha morrido.

Para confirmar, liguei na segunda feira para o sítio. Quem atendeu foi seu filho Fábio, que confirmou o falecimento. Disse que estava ali fazendo companhia à sua mãe, até que as coisas se ajeitassem.  Perguntei a causa da morte e ele me disse que tinha sido câncer no pulmão, fato que a família desconhecia até a internação de seu pai, uma semana antes de morrer.

Não me lembro porque deixei de ir à missa de sétimo dia. Talvez estas lembranças me redimam dessa descortesia com o amigo.

Julho/2008



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