terça-feira, 5 de agosto de 2014

HISTÓRIAS DO DIGÃO - PARTE IX

FALANDO ALEMÃO

Quando saiu a licitação para a construção da usina nuclear Angra III, a empresa onde trabalhávamos mobilizou todos os recursos possíveis para ganhar essa obra (mas foi desclassificada). Como era uma tecnologia totalmente nova, alemã, diferente da americana utilizada na usina Angra I, uma das exigências do edital era a parceria com empresa que já tivesse construído usina semelhante. Essa empresa atuaria como consultora, antes e durante a execução da obra.

Feitos os contatos, chegaram a Belo Horizonte dois engenheiros alemães, sendo que apenas um falava espanhol. Foram logo apelidados por outro colega, crítico e irônico ao extremo, de “Grafite” e “Canetão”. Grafite, segundo a ótica desse colega, era aquele que iria arregaçar as mangas e trabalhar, pois usava apenas lapiseira – e borracha, naturalmente. O outro, justamente aquele que sabia espanhol, usava apenas caneta, útil apenas para assinar cheques, na visão desse colega.

Estávamos concentrados em nossas tarefas quando chega o Canetão:

– Óia ‘este’ planta! Está faltando um corte que está indicado ‘neste outro’ planta!

Os desenhos originais estavam escritos em alemão, com a indicação de vários cortes (schnitt). E o alemão começou a contá-los na nossa frente, para conferir:

 eins, zwei, drei, vier... E o Digão emenda: – fünf, sechs, sieben, acht…

O alemão, que aparentava idade próxima à de meu amigo, um senhor, portanto, surpreende-se.

 O senhorrr fala alemáo? – pergunta encantado.

 Não, só sei contar até dez – responde o Anta. Começamos a rir depois que o Canetão saiu.

 Animal, você forneceu pro alemão a prova definitiva que o Brasil não é um país sério, sua Anta!!!  


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