sábado, 31 de outubro de 2015

PANDORES

Fui procurar na web os poemas “Velhice” e “Velhas Árvores”, de Olavo Bilac e descobri que aparentemente são o mesmo soneto (pelo menos na internet, lugar ideal para a prostituição literária). Não consegui descobrir uma conexão com o texto do post Pandora, mas tudo bem.

A propósito, mesmo que possam ser considerados caretas ou ultrapassados, os poemas com métrica e rima afiada são muito legais. Mas acredito que o post que está gerando este "post-resposta" (acho que vou criar mais esta seção) está mais na linha de um poema do Vinícius já citado aqui no Blogson ("Sobre a velhice e o envelhecimento")

Pois bem, durante a pesquisa do Bilac, descobri estas duas ótimas frases, que me deixaram bem pensativo.

- O segredo da genialidade é conservar o espírito de criança até a velhice, o que significa nunca perder o entusiasmo. (Aldous Huxley)

- O entusiasmo é uma embriaguez moral (Lord Byron)

Meditando (muito!) sobre o significado dessas palavras, descobri por que não sou nada genial: é que não tenho entusiasmo nenhum. Assim, o espírito de criança que preservo até hoje é só mesmo fruto de retardo mental. Na sequência desta lógica, descobri também por que não tenho entusiasmo e a resposta é bem fácil: como posso me embriagar se parei totalmente de beber?  (acho que leite com Toddy não conta).

Como diria o Robert Downey, Jr., "Elemental, meu caro Vate & son"

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

PANDORA

Acredito que 99,9 % dos leitores deste blog são mais novos que eu – o que não é nada difícil, pois eu sou um feliz “morador” da melhor idade (ah, hipocrisia!). Então, não importa se têm trinta, vinte ou dez anos menos que eu. Para mim, são jovens.

Eu escrevi recentemente que não estava mais interessado em falar sobre velhice, essas coisas. Mas, às vezes, a mente dá um solavanco e é preciso por ordem na casa. Por isso, resolvi azedar o fígado, estragar o almoço, jogar farofa no ventilador (se quiserem, podem trocar a farofa por produto de preferência de cada um). E a melhor forma de alcançar esse objetivo é dar conselhos, porque ninguém suporta receber o que não pediu. Mas não quero nem saber.

Por isso, Jovem, o que posso, o que preciso te sugerir é que aproveite muito sua juventude, que se divirta, que se apaixone por mil mulheres (ou mil vezes pela mesma mulher), que viva plenamente, mas sem colocar sua saúde e integridade física em risco. Por exemplo, tente proteger seus pulmões, preservar o seu fígado, resguardar as mucosas nasais. Porque, não importa se hoje você fuma, bebe ou cheira (parece slogan criado para o Gabeira), você de alguma forma, em algum momento lamentará ter dado esse vacilo.

Para ajudar, vou abrir a caixa de pandores da velhice para você (gostou dessa, Marreta?): o futuro que te aguarda, meu amigo, não é nada róseo; é cinzento, enfumaçado e quente pra caralho. Por isso, trate bem o seu corpo. É sério isso!

Porque, como disse a Marina Lima, “só vou te contar um segredo”: as descobertas e novidades da infância e da juventude surpreendem, alegram, fascinam, encantam ou excitam. Na velhice, entretanto, as novidades e descobertas que restaram apenas deprimem, irritam, angustiam, entristecem ou causam medo. E não há Pandora que consiga consertar isso.




QUEM É IGUAL A MC DOIS? DJ EINSTEIN?

Frases e palavras (e até fórmulas!) ditas por alguém, isoladas do contexto original em que foram proferidas podem ser manipuladas para que se obtenha novos contextos, novos resultados. Se esse alguém for o Einstein então, melhor ainda.  Vê aí:


- Querida, cheguei!

- “Cheguei”, nada! Pode me dizer onde o senhor estava até esta hora?

- Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.

- Você não está em um congresso de cientistas! Pelo menos se preocupou em olhar que horas eram?

- O tempo é relativo e não pode ser medido exatamente do mesmo modo e por toda a parte.

- Sempre que você chega tarde logo inventa uma coisa ridícula para me enrolar!

- O tempo e o espaço são modos pelos quais pensamos e não condições nas quais vivemos. // Se os fatos não se encaixam na teoria, modifique os fatos.

- Quer saber? Eu desisto. Se quiser, esquente sua comida, pois eu já ralei muito hoje e vou dormir.

- Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta.

- O que você disse aí?

- Nada, nada! (sussurrando para si mesmo: nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado. // Quem nunca errou nunca experimentou nada novo).


NASCIDOS NA FAZENDA - 03

E aí vai mais um capítulo das "Memórias Sentimentais de Jotabê" (isso é só enrolação, só uma piadinha, entendeu?). Vamos lá:


Vovô Chiquinho nasceu em 15 de março de 1900. Vovô, não, que esse tratamento era dado por meu irmão e primos (minha irmã o chamava simplesmente de “Vô”). Eu o chamava, sem nenhuma cerimônia, de “Sô Chico” (da mesma forma que falava “Seu Amintas” e “Dona Lia”, quando conversava com meus pais). E o engraçado é que ele gostava disso, dessa falta de modos (meus pais também). Uma vez minha mãe comentou o que vovô tinha dito a meu respeito: -“esse aí me puxou!” Que eu posso dizer disso? Que o discernimento dele era péssimo.

Chamava-se Francisco José Botelho e era filho de Lino José Martins e Januária Antônia de Oliveira Botelho. Perguntada o porquê de o sobrenome de seu pai ser “Botelho” e não “Martins”, tia Aidê não soube explicar. Fico pensando que, na virada do século XIX para o XX, os cartórios de registro civil deviam ser uma zona, a verdadeira casa da mãe Joana.

Outra “reflexão”: se vovô tivesse se chamado “Francisco José Martins”, eu não teria uma insinuação de ato sexual no nome (“Botelho Pinto”), para me acompanhar o resto da vida. Não à toa, alguns colegas me tratavam respeitosamente por “Botei-vos” “Censurado” e mais uma penca de variantes e sinônimos, na mais pura sacanagem. E, numa boa, eu sempre me diverti com isso. Mas isso já é outra história.


É possível ver meus bisavós, já velhinhos, em duas fotografias espetaculares ainda existentes na casa de minha irmã. O casal teve esses filhos, não necessariamente na ordem em que estão relacionados:

Olinta, Onésio, Odila, João, Francisco (meu avô), Waldemar, Odorêncio (esse nome só empata em feiura com Laldomila, que era irmã de minha avó) e Humberto.

Creio que com exceção de tio João, todos os outros moravam em Lavras. Alguns nunca cheguei a conhecer. Lembro-me que tio Waldemar e - em datas distintas - tio Dorenço (Odorêncio) foram uma vez à nossa casa. Creio que foi um deles que trouxe um litro de um molho saborosíssimo, feito com “trezentos” ingredientes diferentes.

Tio Humberto ou “tio Beto”, como todos falavam, era dentista e teve três filhas com nomes que me encantavam: Ábia, Hebe e Íbia (ou coisa parecida). Lembro-me da Ábia, uma moça com bochechas bem acentuadas, que se casou por procuração com um português. Chique!

Tio João sempre ia lá em casa, assim como algumas de suas filhas. Depois que comecei a namorar minha mulher, uma de minhas cunhadas, um dia, perguntou se eu tinha um tio, talvez tio-avô, conhecido como João Botelho. Era o próprio. Meu tio era o avô de seu namorado na época, o Roberto Bocão. O engraçado é que graças a esse namoro eu conheci e fiquei amigo de um primo distante (de terceiro grau). Ele e seus irmãos são os únicos que conheço e com quem converso esporadicamente, pois os pais moram em frente à casa de minha sogra (o mais conhecido é o Serginho, que, em uma noite de Natal, depois de tirar meleca do nariz veio me estender a mão despreocupadamente, fazendo uma de minhas noras quase desmaiar de rir).

Tempos depois de terminado o namoro com minha cunhada, fomos convidados para o casamento do Bocão. Nessa época meu avô já tinha morrido. Quando vi meu tio-avô sentado na igreja, fiquei com uma vontade danada de ir abraçá-lo, mas desisti. Afinal, ele me conheceu criança e talvez não fosse se lembrar de mim. Se eu o tivesse abraçado, de certa forma estaria também abraçando meu avô. Hoje penso que devia ter feito isso. Tio João permaneceu lúcido até os 102 anos e morreu um ano depois.


Nunca entendi por que só os irmãos de meu avô e de minha avó eram bem de vida (quase todos, pelo menos). Em suas visitas dominicais, eram casos de fazenda pra cá, boiada prá lá, por aí. Meus avós, coitados, estiveram sempre na merda – ou perto disso. Consultando minha irmã sobre datas e fatos para escrever estas lembranças, surgiu a explicação para essa ostentação domingueira (pelo menos, no que se refere aos irmãos de minha avó).

Minha mãe e seus quatro irmãos mais velhos nasceram em uma fazenda localizada em Ijaci, distrito de Lavras na época. Depois, mudaram-se para outra fazenda em Pedro Leopoldo, onde nasceu Tio Tôto. Nova mudança de fazenda e de cidade e mais um nascimento: tia Dalva nasceu na Fazenda da Pedra Branca, em Capim Branco.

Segundo tia Aidê, seus pais iam se mudando junto com a Dindinha, mãe de minha avó. As fazendas teoricamente eram dela, mas quem fazia os negócios eram seus filhos homens e, à medida que vendiam as propriedades da mãe, “compravam outras menores e embolsavam uma parte, até restar só a casa da Floresta”. Puta sacanagem. E meu avô trabalhava para ela, Dindinha. Tia Aidê disse que “de genro ele virou o ‘faz-tudo’ enquanto os cunhados ficavam só no ‘bem bom’”.

Talvez por esse motivo, meu avô começou a trabalhar como “construtor”, um termo que se usava ainda na época de minha formatura. No duro, no duro, essa função é exercida hoje pelos “mestres de obras” ou “encarregados gerais”. Em uma época de poucos engenheiros, o prático tinha mercado de trabalho garantido.

Sei de poucas obras que meu avô administrou (ou construiu, como dizia). Uma delas é uma chaminé tronco-cônica, feita com tijolos, provavelmente necessária para algum forno, caldeira ou coisa parecida. Essa chaminé ainda deve existir e fica ou ficava quase na beira da lagoa, próximo à vila residencial da Aeronáutica, em Lagoa Santa.

Outra obra, onde fui ainda pequeno com ele, é um conjunto de casas construído em frente ao Clube dos Oficiais, no Prado. Essas casas eram de propriedade do Antônio Luciano, um sujeito riquíssimo e com um apetite sexual extraterrestre.

Vale a pena falar um pouco desse sujeito: décadas atrás, a prefeitura de Belo Horizonte resolveu criar oito novos parques na cidade. Seis deles seriam construídos em terrenos do tal Luciano. O procedimento era simples: as áreas seriam desapropriadas, a PBH pagaria uma mixaria para os proprietários e fim.

Ao saber dessa intenção, imediatamente mandou fazer projetos de urbanização e loteamento dessas áreas e deu entrada na prefeitura. Com isso, os imóveis adquiriram novo status e novo valor. Resultado: essa manobra inviabilizou as desapropriações e a ideia foi enterrada. Creio que uma dessas áreas é hoje o bairro Camargos, em frente ao Minas Shopping, do outro lado da Cristiano Machado.

O Luciano (Dr. Luciano, como vovô se referia a ele) era dono de quase todos os cinemas de Belo Horizonte, aliás, os melhores. Dizia-se que tinha uns oitenta mil imóveis só em Beagá (!). Mas sexo é o assunto em que esse médico (era médico, o sacana) era um craque, pois deixou dois filhos legítimos de seu casamento, uns quarenta outros foram reconhecidos como filhos naturais, com direito a herança, e existem ainda mais de cem que brigam ou brigaram na justiça para ser também reconhecidos como descendentes desse super-coelho. 

Para ele, vale uma frase que ouvi quando fizemos curso de noivos. Ao escutar um dos noivos dizer que tinha 26 irmãos, o orientador perguntou: -“seu pai teve tempo de vestir as calças?” Cagamos de rir.


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

USE FILTRO SOLAR - MARY SCHMICH

Em 2003 li um texto simpaticíssimo que me apressei em copiar e guardar. Devo tê-lo enviado a todo mundo que conhecia. Pois bem, passaram-se 12 anos desde então, mas ele continua muito legal, muito bem escrito, atemporal e com a leveza de um suco gelado de maçã com leite. Acabei de relê-lo e não deu outra, faz parte do Blogson na seção "Reverência".

Mais alguns dados (achei na Web): o nome original é Advice, like youth, probably just wasted on the young" e foi escrito por Mary Schmich e publicado no Chicago Tribune como uma coluna em 1997. E agora, o texto em português. Som na caixa!


Senhores e Senhoras,

Usem filtro solar. Se eu pudesse dar um conselho em relação ao futuro, diria: “Usem filtro solar”. Os benefícios, a longo prazo, do uso do filtro solar foram cientificamente provados. Os demais conselhos que dou baseiam-se unicamente em minha própria experiência.

Eis aqui um conselho: desfrute do poder e da beleza de sua juventude.  Bem... esqueça. Você só vai compreender o poder e a beleza de sua juventude quando já tiverem desaparecido. Mas, acredite em mim: dentro de vinte anos, você olhará suas fotos e compreenderá, de um jeito que não pode compreender agora, quantas oportunidades que se abriram para você eram realmente fabulosas.  Você não é tão gordo quanto você imagina. Não se preocupe com o futuro. Ou se preocupe, se quiser, mas sabendo que a preocupação é tão eficaz quanto tentar resolver uma equação de álgebra mascando chiclete. É quase certo que os problemas que realmente têm importância em sua vida são aqueles que nunca passaram por sua mente, tipo aqueles que tomam conta de você às 4 da tarde em alguma terça-feira ociosa.

Todos os dias, faça alguma coisa que seja assustadora. Cante. Não trate os sentimentos alheios de forma irresponsável. Não tolere aqueles que agem de forma irresponsável em relação a você. Relaxe. Não perca tempo com a inveja. Algumas vezes você ganha, algumas vezes você perde A corrida é longa e, no final, terá que contar só com você. Lembre-se dos elogios que recebe. Esqueça os insultos. (se conseguir, me diga como).

Guarde suas cartas de amor. Jogue fora seus velhos extratos bancários. Estique-se. Alongue-se. Não se sinta culpado se você não sabe muito bem o que quer da vida. Algumas pessoas interessantes com mais de 40 anos que conheço não sabem... Tome bastante cálcio. Seja gentil com seus joelhos. Você sentirá falta deles quando não funcionarem mais.

Talvez você se case, talvez não. Talvez você tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos 40, talvez dance uma valsinha quando fizer 75 anos de casamento. O que quer que você faça, não se orgulhe nem critique demais. Todas as suas escolhas tem 50% de chance de dar certo. Como as escolhas de todos os demais.
Curta seu corpo da maneira que puder. Não tenha medo dele ou do que as outras pessoas pensam dele. Ele é seu maior instrumento.

Dance, mesmo que o único lugar que você tenha para dançar, seja sua sala de estar. Leia todas as indicações, mesmo que você não as siga. Não leia revistas de beleza. A única coisa que elas conseguem é fazer você se sentir uma pessoa feia. Saiba entender seus pais. Você não sabe a falta que vai sentir deles. Seja legal com seus irmãos. Eles são seu melhor vínculo com seu passado e aqueles que, no futuro, provavelmente nunca deixarão você na mão. Entenda que amigos vão e vêm, mas que há um punhado deles, preciosos, que você tem que guardar com carinho. Trabalhe duro para transpor os obstáculos geográficos e da vida, porque quanto mais você envelhece, mais vai precisar das pessoas que conheceram você na juventude.

More em Nova York, mas mude-se antes que a cidade transforme você em uma pessoa dura. More no norte da Califórnia, Mas mude-se antes de tornar-se uma pessoa muito mole. Viaje. Aceite essas verdades eternas: os preços vão sempre subir; Os políticos são todos mulherengos; você também vai envelhecer. E quando envelhecer, vai fantasiar que, quando você era jovem, os preços eram acessíveis, os políticos eram nobres de alma e as crianças respeitavam os mais velhos.

Respeite as pessoas mais velhas. Não espere apoio de ninguém. Talvez você tenha uma aposentadoria. Talvez tenha um cônjuge rico. Mas você nunca sabe quando um ou outro podem desaparecer. Não mexa muito em seu cabelo. Senão, quando tiver quarenta anos, vai ficar com aparência de oitenta e cinco. Tenha cuidado com as pessoas que lhe dão conselhos, mas seja paciente com elas. Conselho é uma forma de nostalgia. Dar conselho é uma forma de resgatar o passado da lata de lixo, limpá-lo, esconder as partes feias e reciclá-lo por um preço maior do que realmente vale.

Mas acredite em mim quando eu falo do filtro solar.


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

COMENTANDO AS PENÚLTIMAS - 11

Estava comentando hoje com um filho as notícias tristes e alarmantes que leio sobre a situação econômica do Brasil. Pelo que tenho visto, boa parte dos nossos problemas ancora-se no aparente (e, pelo jeito, só aparente mesmo) conflito entre a presidente Dilma e o Eduardo Cunha, ambos preocupados em agarrar-se a seus cargos e mandatos (e foda-se o país!).

Essa crise, essa indefinição faz a Economia patinar (segundo um antigo colega, o termo correto seria “patinhar”, equivalente a mover-se como um pato fora d’água, de forma oscilante. Se a economia estivesse patinando, ela estaria deslizando que é uma beleza).

Li também que o dólar – que no princípio do governo de Fernando Henrique estava a R$0,85 – pode chegar ao final de 2016 a R$4,40. Junte-se a isso o desemprego crescente, a queda na arrecadação de impostos, o comportamento de peixe em aquário dos políticos em geral (não se incomodam com o que acontece do lado de fora) e o que sobra é uma imensa tristeza pela situação por que passa o país e povo brasileiro.

Comentando essas tristezas com meu filho, disse a ele que o que me preocupa é que tipo de futuro aguarda os jovens deste país, porque nós, os aposentados - uns mais outros menos - já estamos com a vida ganha.

Mas, pensando melhor, diria que os idosos não estão com a vida ganha, estão mesmo é com a vida perdida.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

RELINCHO

Embora eu tente escrever coisas engraçadas, tenho dúvida se alguém, além de mim,  acha alguma graça no que faço. Talvez porque meus textos de humor (melhor dizendo, aqueles em que eu tento fazer humor) sejam sempre cheios de citações e deem muita volta para chegar ao foco da piada.

Meu sonho é fazer um humor idiota do tipo que o pessoal do Casseta e Planeta faz(ia).

Além disso, o humor que procuro é mais de sorriso que de “relincho”, de gargalhada. Até porque, se eu quisesse ouvir relincho era melhor contar piada em fazenda de criação de cavalos e afins, não é mesmo?

Taí!! Achei até um nome para um stand-up rural: “Ha, Ha, Haras”.


À LA CARTE

Se pede seriedade
Eu te sirvo alegria

Se exige sisudez
Ofereço jovialidade

Se segue ideologia
Eu trago independência

Mas se espera juventude
Só te dou melancolia


NASCIDOS NA FAZENDA - 02

Os pais de minha avó chamavam-se (olha o tempo se movendo!) Joaquim Carlos Pereira de Alvarenga e Alda Augusta da Costa (Dindinha). Quando o Joaquim casou-se com minha bisavó ele era viúvo e pai de cinco filhos, que ela acabou de criar: duas moças de nome ignorado ("não lembrado"), tio Quinca, tio Chiquinho e tio Custódio. Uma das filhas, talvez a mais velha, teve um filho apelidado de Juca, que protagonizou um dos casos bizarros da família.

Segundo ouvi algumas vezes de minha mãe, tia Chana era casada com seu sobrinho (!). Tinha o apelido de Juca Barão e já era bem velho quando íamos visitá-los na Rua Floresta, onde moravam. Essa consanguinidade maluca atingiu os quatro ou cinco filhos do casal, mas não me lembro como. Pois bem, minha mente infantil, de criança, não conseguia assimilar essa história: "
- Como é que pode, casada com o sobrinho? Mas eles parecem ter a mesma idade!”

Bem, minha mente não é mais de criança, mas permanece ainda meio infantil. E olha que meus pais nem eram parentes!... (piada muito ruim!)

A explicação é simples: tia Chana, que era filha do segundo casamento de meu bisavô, casou-se com um “meio sobrinho”, pois o tio Juca, seu marido, era justamente o filho de uma de suas duas irmãs do primeiro casamento. Convenhamos, não deixa de ser uma situação meio bizarra, meio incestuosa.

No post anterior eu mencionei a existência de uma foto antiquíssima da família de minha avó materna. Recentemente, recebi de minha irmã uma cópia escaneada da tal foto. Uma das tias avós estava ausente e foi inserida depois, usando-se o photoshop da época (tesoura e grude ou goma arábica). Esse retrato deve ter sido tirado entre 1915 e 1920(!). A título de curiosidade, fiz um "Onde está Wally", um "Who's Who" da foto. Olhaí.



Antes de prosseguir com as lembranças, preciso esclarecer uma coisa: como não sou espírita (espiritualista), para mim as pessoas permanecem “vivas” apenas enquanto alguém conseguir lembrar-se delas, enquanto puderem ser identificadas por fotos, casos de família ou documentos. E há casos de família que, mesmo sendo um pouco constrangedores para algum de meus tios, iluminam a personalidade de quem os protagonizou. Por isso, mesmo que não queira magoar ou ofender ninguém (pelo contrário!), este texto pode ter algum deboche, alguma “falta de modos”. Mas assim é a vida, é assim que eu a vejo. E, afinal, nunca é demais lembrar que parte do que sou, das influências que recebi, vêm dessa família, com quem convivi diariamente por 24 anos.



Minha avó nasceu em 05/01/1898 e era dois anos mais velha que meu avô. Certamente por vaidade, mentia o ano de nascimento. Para mim, tinha nascido em 1900. Só quando ela morreu fiquei sabendo a data certa, gravada na lápide da sepultura. Era muito, muito magra. Se tivesse sido calculado, certamente seu IMC seria inferior a 18. E “feinha”, na opinião de uma senhora que a conheceu.

Fiquei conhecendo essa senhora (D. Zizinha) por puro acaso, pois ela era a proprietária de uma casa semi-abandonada na rua onde moramos. Chegamos a pensar em comprar esse imóvel e, por isso, às vezes telefonava para ela. Essa senhora tinha uma visão desencantada e sarcástica da vida, com comentários ácidos e cortantes. Talvez por isso, eu gostava de conversar com ela. Nessas conversas que mantivemos, por mais incrível que pareça, descobri que ela conhecia minha família, que era sobrinha ou prima do tio Juca Barão e que tinha sido muito amiga de minha mãe na adolescência, a quem definiu como “muito bonitinha”, em contraponto à minha avó, “muito feinha”. Segundo essa senhora, meu avô era “bonitão”. Eu nunca soube se houve casos (no plural) de infidelidade de meu avô, apenas transcrevo a frase que ouvi de Dona Zizinha: “o Chiquinho não era fácil”.

Outra lembrança de minha avó, quando ainda estava lúcida. Um dia, alguém chegou à nossa casa para entregar a parte da herança paterna ou materna que lhe coube – um conjunto de louça sanitária decorada, muito bonito, composto de bacia, jarro, saboneteira e penico, esses dois com tampa; um cesto de palha com fundo quadrado, tão usado que tinha um furo em um dos cantos, e mais alguma tranqueira de que não me lembro. Essa “maravilha” de herança provocou outro colapso nervoso. Também, pudera: imóveis, fazendas, gado e sei lá o que teriam sido repartidos entre os irmãos (creio que só entre os homens).

Pra finalizar este post, outra lembrança: minha avó comprou de seu sobrinho Orlando, filho de tia Anita, um terreno em Lagoa Santa. Conforme apalavrado, o terreno teria determinada área, definida em alqueires. Ao ser passada a escritura, o terreno tinha minguado para 30.000 m² ou coisa parecida. O certo é que a área entregue equivalia a um terço do oferecido. Consequência? Um bate-boca gigantesco com o sobrinho filho da puta e novo colapso nervoso. Esse terreno foi depois comprado por meu pai e colocado em nosso nome (maldita ideia!).

Já contei outros casos de minha avó neste blog. Se alguém tiver interesse, são eles:
 http://blogsoncrusoe.blogspot.com.br/2014/09/lets-all-get-up-and-dance.html
http://blogsoncrusoe.blogspot.com.br/2014/10/voce-sabe-falar-alemao.html  

Antes de passar para meu avô, preciso registrar que minha avó foi, sem que eu me desse conta disso até agora, uma figura central nas primeiras décadas de minha vida, com todas as suas dores e decepções, a verdadeira fêmea alfa da família (obrigado, Nat Geo). 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

IDIOTA À BRASILEIRA - ADRIANO SILVA

Depois de um longo período postando só desenhos idiotas e piadas ruins, já era tempo de o Blogson apresentar alguma coisa séria, de qualidade. Está na cara que isso só é possível com o auxílio luxuoso de terceiros (quase saiu "de um pandeiro"). 

A reverência de hoje vai para alguém de quem nunca tinha ouvido falar. Só sei que é jornalista e publicitário e foi diretor de redação da SUPER entre 2000 e 2005. É também um sujeito lúcido, crítico e autor do excelente texto que recebi de meu filho. E esse texto é o objeto de minha reverência e admiração.

Preciso confessar que "encarapucei" muitas das descrições, mas vi também um tanto de gente que conheço. Dá até para fazer um joguinho tipo "who's who". Espero que se divirtam. A benção, Adriano Silva!


Idiota à brasileira

Ele fura fila. Ele estaciona atravessado. Acha que pertence a uma casta privilegiada. Anda de metrô - mas só no exterior. Conheça o PIB (Perfeito Idiota Brasileiro). E entenda como ele mantém puxado o freio de mão do nosso país

Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha quem pega no pesado. Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nos ombros, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de "tigres" - porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras. O Perfeito Idiota Brasileiro, ou PIB, também não ajuda em casa. Influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas - nem mesmo pôr ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d'água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. O PIB é especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto - transformar quem o cerca em seus otários particulares.

O tempo do Perfeito Idiota Brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes no shopping. É o casal que atrasa uma hora para um jantar com amigos. As regras só valem para os outros. O PIB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino - porque ele é melhor que os outros. É um adepto do vale-tudo social, do cada um por si e do seja o que Deus quiser. Só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.

O PIB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe. E ele é sexista para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si, mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PIB adora isso.

O PIB anda de metrô. Em Paris. Ou em Manhattan. Até em Buenos Aires ele encara. Aqui, nem a pau. Melhor uma hora de trânsito e R$ 25 de estacionamento do que 15 minutos com a galera do vagão. É que o Perfeito Idiota tem um medo bizarro de parecer pobre. E o modo mais direto de não parecer pobre é evitar ambientes em que ele possa ser confundido com um despossuído qualquer. Daí a fobia do PIB por qualquer forma de transporte coletivo.

Outro modo de nunca parecer pobre é pagar caro. O PIB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de "cheguei lá" e "eu posso". O sujeito acha que reclamar dos preços, ou discuti-los, ou pechinchar, ou buscar ofertas, é coisa de pobre. E exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas ao que veste e carrega. O PIB compra para se afirmar. Essa é a sua religião. E ele não se importa em ficar no vermelho - preocupação com ter as contas em dia, afinal, é coisa de pobre.

O PIB também é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material, lhe fazem roubar roupão de hotel e garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer produto que esteja sendo ofertado numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PIB gosta de pagar caro, mas ama uma boca-livre.

E o PIB detesta ler. Então este texto é inútil, já que dificilmente chegará às mãos de um Perfeito Idiota Brasileiro legítimo, certo? Errado. Qualquer um de nós corre o risco de se comportar assim. O Perfeito Idiota é muito mais um software do que um hardware, muito mais um sistema ético do que um determinado grupo de pessoas.

Um sistema ético que, infelizmente, virou a cara do Brasil. Ele está na atitude da magistrada que bloqueou, no bairro do Humaitá, no Rio, um trecho de calçada em frente à sua casa, para poder manobrar o carro. Ele está no uso descarado dos acostamentos nas estradas. E está, principalmente, na luz amarela do semáforo. No Brasil, ela é um sinal para avançar, que ainda dá tempo - enquanto no Japão, por exemplo, é um sinal para parar, que não dá mais tempo. Nada traduz melhor nossa sanha por avançar sobre o outro, sobre o espaço do outro, sobre o tempo do outro. Parar no amarelo significaria oferecer a sua contribuição individual em nome da coletividade. E isso o PIB prefere morrer antes de fazer.

Na verdade, basta um teste simples para identificar outras atitudes que definem o PIB: liste as coisas que você teria que fazer se saísse do Brasil hoje para morar em Berlim ou em Toronto ou em Sidney. Lavar a própria roupa, arrumar a própria casa. Usar o transporte público. Respeitar a faixa de pedestres, tanto a pé quanto atrás de um volante. Esperar a sua vez. Compreender que as leis são feitas para todos, inclusive para você. Aceitar que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmo deveres - não há cidadãos de primeira classe e excluídos. Não oferecer mimos que possam ser confundidos com propina. Não manter um caixa dois que lhe permita burlar o fisco. Entender que a coisa pública é de todos - e não uma terra de ninguém à sua disposição para fincar o garfo. Ser honesto, ser justo, não atrasar mais do que gostaria que atrasassem com você. Se algum desses códigos sociais lhe parecer alienígena em algum momento, cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus do PIB. Reaja, porque enquanto não erradicarmos esse mal nunca vamos ser uma sociedade para valer.

*Adriano Silva, jornalista e publicitário, foi diretor de redação da SUPER entre 2000 e 2005.

domingo, 18 de outubro de 2015

VOCÊ ESTÁ FORA DO AQUÁRIO?

Como está quente pra cacete, resolvi divulgar esta gororoba que acabei de escrever. Foda-se a sexta-feira!

Há muito tempo, eu vi na televisão um filme muito interessante sobre uma mulher que resolve se matar. Não me lembro do título em português, mas o original é 'night, Mother, tendo Sissy Spacek como protagonista e Anne Bancroft fazendo o papel de sua mãe.

É um filme curioso e denso, pois mostra as horas que antecedem o suicídio da personagem. Sem muita enrolação, é a história de uma mulher que comunica essa decisão enquanto limpa a casa, organiza suas coisas e, principalmente, orienta a mãe sobre como proceder depois que ela se trancar no quarto para se matar. A velha parece ser meio ingênua, usa aquelas roupas folgadonas de “mãe que não sai de casa” e tenta, sem sucesso, convencer a filha a mudar de ideia.

Depois que a filha se tranca no quarto, a mãe começa a seguir as instruções recebidas: começa a lavar vasilhas, liga o rádio e deixa o som alto, coisas assim, até ouvir o tiro. Só então liga para a polícia. Quem nunca assistiu, procure ver, vale a pena.

Esse filme causou-me a impressão de que, naquele momento, mãe e filha estavam como se existissem em ambientes distintos, algo assim como um peixe dentro de um aquário público, indiferente e imune à pessoa que o observa do lado de fora. E é aí que eu queria chegar: imunidade e indiferença.

Os políticos em Brasília movem-se como se estivessem dentro de um aquário, fazem conchavos, acordos, negociatas e todo tipo de putaria para rifar ou passar o rodo nesse ou naquele político, para preservar e manter aquele outro ou uma determinada visão ideológica, como se ninguém os estivesse vendo “nadar”.

E mesmo que estejam sendo vistos não ligam a mínima para nós mamíferos, pois têm respiração branquial, tiram seu oxigênio da água, uma água cada vez mais suja, turva e poluída. Mas, é como disse pragmaticamente uma vez o diretor de uma empresa onde trabalhei: - “água turva é que tem peixe graúdo”.

Pensando nessas coisas, tirei algumas frases que encontrei nos sites de vários órgãos de imprensa. Fala sério: esse pessoal de Brasília e São Bernardo vive ou não vive em um aquário (ou redoma)? Olhaí:

Por apoio no Congresso, governo vai liberar R$ 700 mi em emendas

A degeneração da política chegou a tal ponto que declarações, negociações e acordões que deveriam provocar repulsa são feitos à luz do dia

Na ânsia de salvar seus mandatos, a presidente da República e o presidente da Câmara costuram um acerto que ficará na história das práticas políticas condenáveis. Mas o conchavo pode acabar em típico abraço de afogados

Juntos, PT e PSDB se afundam na lama de Cunha

Levy deve sair se não quiser mudar a política econômica

Escalada da Lava Jato preocupa Lula

Dilma se reúne com Lula e ministros no Alvorada para tratar da articulação política




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

BIQUINHO

Eu não consigo entender o motivo de tanta gente fazer biquinho para tirar selfies. Já não basta a idiotice de fazer pose ao lado de, sei lá, um sanduba já pela metade? Precisa também fazer uma boquinha de cu (porque, se você notar, é exatamente isso que fica parecendo)?

Já que essa pose é quase obrigatória, sugiro a adoção de um nome específico para ela (segmentação é a alma do negócio!). E o nome que me ocorre é analfie


NASCIDOS NA FAZENDA - 01

“Qualquer vida, se tem o narrador certo, merece um livro ou, pelo menos, um capítulo”. O autor desta frase magnífica é o jornalista Diogo Schelp, que a construiu para comentar na revista Veja um livro recém-lançado.

Tomo a liberdade de usá-la para apresentar a série de cincos posts que começam a ser divulgados a partir de hoje. O assunto, claro, são lembranças de pessoas com quem convivi. No caso particular, meus avós maternos. Não creio ser o “narrador certo”, talvez seja apenas o único – e mais errado que certo.

Tal como os posts já divulgados sobre a família de meu pai, este é parte de um texto maior, ainda inacabado, que comecei a escrever em 2013 para deixar para meus filhos (caso eles queiram saber). O tema são as lembranças que tenho sobre a família de minha mãe. Não pensava em divulgá-lo no blog, por uma série de motivos. Primeiro, por estar inacabado, pois não consegui dar continuidade no perfil de metade dos tios. Além disso, está o fato de que a maioria dos tios ainda está viva. E meus comentários e lembranças descritas não se enquadram na cartilha politicamente correta nem na linha chapa branca.

Apesar disso tudo, resolvi divulgar um pouco dessa memória no Blogson. E o culpado é o meu amigo virtual Marreta do Azarão, que disse ser minha "verdadeira veia literária" as memórias. Assim, antes que minha memória acabe de vez, vamos falar um pouco da véia, ou melhor, vamos exercitar a veia. E o assunto começa justamente com a família de minha avó materna. Vamos lá.


Quando eu nasci, em 1950, meus pais e meu irmão já moravam na casa de minha avó materna. Minha avó teve onze filhos, mas um deles morreu ainda pequeno. Minha mãe era a segunda mais velha e foi também a segunda a se casar. Todos os filhos, com exceção de tia Ci, casada com tio Tristano, moravam nessa casa. Como a casa era pequena, barracões (edículas) foram sendo construídos para abrigar esse povo todo e mais meu avô, que, embora separado de minha avó, morava lá também, em um quarto de um dos barracões existentes no fundo do imóvel.

Comparados com meus tios paternos, metade deles nascida antes de 1900, os irmãos de minha mãe eram verdadeiras crianças, pois a tia materna mais velha (tia Ci) é mais jovem que a caçula da família de meu pai (tia Zinha). Por isso, apenas para registro e ordenação, transcrevo os dados fornecidos por minha irmã, tal como fiz com os irmãos de meu pai:

Tia Ci (Araci), minha madrinha de batismo, nasceu em 19/02/1919. Em 19/12/1920 nasceu minha mãe. Meu tio e padrinho Moacir (Cici) nasceu em 25/04/1925. Tio Nem (Manoel) nasceu em 02/07/1926.

Tio Tôto (Walter) nasceu em 28/05/1928. Em 30/07/1929 nasceu tia Dalva. O próximo foi Omir (não “tio Omir”, apenas e tão somente, Omir), nascido em 14/07/1931. Depois dele, veio tia Aidê, nascida em 24/08/1933. A mais nova das mulheres, tia Marisa, nasceu em 15/12/1935. O último tio - Almon (Mon), apenas dez anos mais velho que eu, nasceu em 05/04/1940.

Meu tio José (epa!, de novo) foi o terceiro filho a nascer, ficando entre minha mãe e tio Cici. Segundo tia Aidê, morreu com onze meses, vítima de uma variante mais branda da famosa gripe espanhola. Parece que nessa mesma época suas tias Anita e Domila também perderam bebês, vitimados pela mesma doença. Uma coincidência não muito simpática (para mim, pelo menos) é o fato de os dois tios “José”, um por parte de pai e outro por parte de mãe, terem morrido na infância.

Uma coisa que eu nunca entendi é o bailado dos sobrenomes de minha avó e de meu avô, que se alternavam na composição dos nomes dos filhos. Meu avô chamava-se Francisco José Botelho. Minha avó, Julieta Alvarenga Costa. E os filhos ficaram assim:
Tia Ci (Alvarenga Botelho); minha mãe, Lia (Alvarenga Botelho); tio Cici (Botelho Alvarenga); tio Ném (Botelho Alvarenga); tio Tôto (Botelho Alvarenga); tia Aidê (Botelho Alvarenga); tia Dalva (Alvarenga Botelho); Omir (Botelho Alvarenga); tia Marisa (Alvarenga Botelho) e Mon (Botelho Alvarenga). Parece que essa ideia maluca teria sido de meu avô. Sei não, mas ele deve ter fumado algum tipo de cipó ou fumo de rolo jamaicano, na época. Também nunca entendi porque foi usado o “Alvarenga” de minha avó em vez do sobrenome “Costa”.

Como vivi nessa casa durante 24 anos, até me casar, as lembranças vão se justapondo e se embaralhando muito. Por isso, recorri algumas vezes à minha irmã, que me forneceu datas, nomes e casos que eu já tinha esquecido ou, mesmo, que desconhecia. As transcrições literais do que ela me enviou estão entre aspas e em itálico. E, para tentar ordenar um pouco essa bagunça, preciso falar de cada uma dessas pessoas isoladamente. E vou começar por minha avó.


Seu apelido era Lêta. Não sei onde nasceu, mas tinha uma penca de irmãos, como era costume naquele tempo (e depois tem gente que critica a televisão!). Esses irmãos iam visitá-la de vez em quando. Colocados na ordem de idade, lembro-me do tio Juquinha (José), tia Chana (Emerenciana) e tia Anita (Ana), uma senhora gorda e metida, por quem nunca tive simpatia. Era casada com tio Olímpio.

Depois, vinha tia Domila (Laldomila), casada com tio Custódio ou Custodinho, para diferenciar de outro irmão de minha avó, ele também Custódio. Além do nome alucinógeno, tia Domila seria fácil, fácil uma personagem de história em quadrinhos, mais precisamente irmã da bruxa Alcéia, das histórias da Luluzinha. Sinceramente, ela era feia pra caramba, com seu nariz mega adunco e aqueles olhos... bem, os olhos eram parecidos com os meus, arregalados e com bolsa e tudo. Uma bosta.

O mais engraçado é que o marido, tio Custódio (Custodinho) morria de ciúmes dela. Uma de suas filhas, Alda, sempre honrou com muito mérito a feiura da mãe. De tão magra, usava (ou usa) duas calças compridas, “para engrossar a perna”. Separada do marido (porque será?) e aparentemente meio ninfomaníaca, quando era mais jovem ia para a Avenida Paraná (coisa muito fina!) para descolar algum motorista ou trocador. Não é invenção minha! Quando eu namorava a minha mulher e o ponto final do meu ônibus era na Paraná, cansei de vê-la por ali, nos sábados à noite. Morria de vergonha.

Continuando com os tios-avós, vinham o Oscar e o Neca (Manoel). Minha avó era a segunda mais nova. Esse pessoal todo morava no bairro Floresta.


Alguns anos atrás, minha tia Aidê mostrou-me uma fotografia sensacional, que, contada de hoje (estamos em 2013), deve ter de noventa a cem anos. Nesse retrato, com aquelas caras de foto posada de antigamente, estão meu bisavô, minha bisavó – que era sua segunda esposa – e todos os filhos do primeiro e do segundo casamento. Minha avó aparece como uma jovem de, no máximo, vinte anos. Essa fotografia e a informação de que meu bisavô foi casado duas vezes esclareceram uma das coisas que mais me intrigavam, relacionadas à Tia Chana.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

AOS MESTRES, COM CARINHO

Quando meu irmão formou-se na faculdade, o paraninfo contou uma fábula daquelas que só acontecem no Oriente. Era  história de um mestre que sempre se curvava respeitosamente diante de seus discípulos. Um dia, um aluno mais corajoso perguntou por que ele fazia isso, logo ele, um sábio venerado e respeitado por todos. E ele respondeu: - “curvo-me perante os mestres de amanhã”.

E o velho professor, ao final de seu discurso, curvou-se respeitosamente diante dos formandos.

Mais ou menos nessa época, os cinemas exibiram um filme que fez imenso sucesso e cujo título original é “To Sir, with love”. O "Sir" do filme é um professor negro que enfrenta uma classe cheia de jovens desinteressados, “problemáticos e socialmente desajustadosque me fazem pensar nos alunos de uma escola pública próxima à minha casa. Pelo menos no filme, o professor ganha a admiração e a amizade dos alunos. No filme, pelo menos.

Contei essas lembranças porque hoje é o Dia do Professor. E este post meio truncado, escrito às pressas, é minha pequena forma de homenagear os profissionais dedicados, aqueles que realmente merecem ser tratados como mestres.

Como personagem símbolo desse tipo de gente admirável, escolho uma professora que em quatro anos apenas, praticamente recém-formada, foi escolhida como paraninfa duas ou três vezes e homenageada por todas as turmas para as quais lecionou.

Essa professora formidável é minha mulher, uma mestra literal, apaixonada pelo ato de ensinar, que ainda hoje recebe manifestações de carinho de seus antigos alunos, mesmo tendo parado de lecionar na década de 1970 (com apenas vinte e sete anos!), para fazer outro curso universitário (abandonado no meio para dedicar-se integralmente aos nossos filhos, seus alunos mais queridos).

A ela e aos professores (não são todos, diga-se) que dignificam essa profissão, eu dedico esta homenagem e curvo-me em respeitosa admiração.


E se alguém quiser ouvir o tema musical do filme, siga o link abaixo. Garanto que gostará.

http://www.vagalume.com.br/lulu/to-sir-with-love-traducao.html




quarta-feira, 14 de outubro de 2015

FIAT LUX!!! - 20 (FINAL)

Esta série de vinte "deZénhos" (obrigado outra vez, Gabriel) começou com uma frase cheia de tédio (Nada para fazer...) dita na mais absoluta escuridão e termina com a mesma frase, dita agora pela "criatura". Não mudou nada, pois as piadas foram sempre ruins e a quantidade de visualizações um fracasso retumbante. Fazer o que, não é mesmo? Talvez meu falecido amigo Digão dissesse que (tal como os anteriores) o desenho de hoje "é o fim da picada"! Ou, apenas, o fim.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

FIAT LUX!!! - 18

Como deu para notar, a série "FIAT LUX" é (muito) remotamente inspirada em alguns eventos bíblicos e terminaria "oficialmente" hoje, no 18.º "episódio". Bom, essa era a ideia original. Como não sou de jogar nada fora, resolvi aproveitar duas ideias que eu iria simplesmente descartar, por não ter a menor referência ao tema da série. O resultado disso são os desenhos (ou "deZénhos", como disse o leitor Gabriel) de amanhã e depois, verdadeiros "extras".


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

FALA COMIGO!

A Natureza às vezes resolve se divertir um pouco e cria formas estranhas em plantas, frutas e legumes. 

Outro dia, ao ver a foto de um tomate suspeitíssimo colocado sobre a base de um telefone, imaginei que essa imagem poderia servir como logotipo para um serviço de sexo por telefone, para um televendas de produtos eróticos ou até mesmo para um inocente SAC - Serviço de Atendimento ao Cliente

Mesmo que digam que uma imagem vale mais que mil palavras, acredito que um título ou slogan associado ao tema ajudaria. Qual slogan? FÁLICO NOSCO

(Jotabê é puro marketing)







FIAT LUX!!! - 15


ENDLESS LOVE

  Foi no carnaval de 1969 que se iniciou uma história de amor que eu não quero que acabe nunca – mesmo que eu saiba que um dia acabará. Já p...