sexta-feira, 23 de outubro de 2015

NASCIDOS NA FAZENDA - 02

Os pais de minha avó chamavam-se (olha o tempo se movendo!) Joaquim Carlos Pereira de Alvarenga e Alda Augusta da Costa (Dindinha). Quando o Joaquim casou-se com minha bisavó ele era viúvo e pai de cinco filhos, que ela acabou de criar: duas moças de nome ignorado ("não lembrado"), tio Quinca, tio Chiquinho e tio Custódio. Uma das filhas, talvez a mais velha, teve um filho apelidado de Juca, que protagonizou um dos casos bizarros da família.

Segundo ouvi algumas vezes de minha mãe, tia Chana era casada com seu sobrinho (!). Tinha o apelido de Juca Barão e já era bem velho quando íamos visitá-los na Rua Floresta, onde moravam. Essa consanguinidade maluca atingiu os quatro ou cinco filhos do casal, mas não me lembro como. Pois bem, minha mente infantil, de criança, não conseguia assimilar essa história: "
- Como é que pode, casada com o sobrinho? Mas eles parecem ter a mesma idade!”

Bem, minha mente não é mais de criança, mas permanece ainda meio infantil. E olha que meus pais nem eram parentes!... (piada muito ruim!)

A explicação é simples: tia Chana, que era filha do segundo casamento de meu bisavô, casou-se com um “meio sobrinho”, pois o tio Juca, seu marido, era justamente o filho de uma de suas duas irmãs do primeiro casamento. Convenhamos, não deixa de ser uma situação meio bizarra, meio incestuosa.

No post anterior eu mencionei a existência de uma foto antiquíssima da família de minha avó materna. Recentemente, recebi de minha irmã uma cópia escaneada da tal foto. Uma das tias avós estava ausente e foi inserida depois, usando-se o photoshop da época (tesoura e grude ou goma arábica). Esse retrato deve ter sido tirado entre 1915 e 1920(!). A título de curiosidade, fiz um "Onde está Wally", um "Who's Who" da foto. Olhaí.



Antes de prosseguir com as lembranças, preciso esclarecer uma coisa: como não sou espírita (espiritualista), para mim as pessoas permanecem “vivas” apenas enquanto alguém conseguir lembrar-se delas, enquanto puderem ser identificadas por fotos, casos de família ou documentos. E há casos de família que, mesmo sendo um pouco constrangedores para algum de meus tios, iluminam a personalidade de quem os protagonizou. Por isso, mesmo que não queira magoar ou ofender ninguém (pelo contrário!), este texto pode ter algum deboche, alguma “falta de modos”. Mas assim é a vida, é assim que eu a vejo. E, afinal, nunca é demais lembrar que parte do que sou, das influências que recebi, vêm dessa família, com quem convivi diariamente por 24 anos.



Minha avó nasceu em 05/01/1898 e era dois anos mais velha que meu avô. Certamente por vaidade, mentia o ano de nascimento. Para mim, tinha nascido em 1900. Só quando ela morreu fiquei sabendo a data certa, gravada na lápide da sepultura. Era muito, muito magra. Se tivesse sido calculado, certamente seu IMC seria inferior a 18. E “feinha”, na opinião de uma senhora que a conheceu.

Fiquei conhecendo essa senhora (D. Zizinha) por puro acaso, pois ela era a proprietária de uma casa semi-abandonada na rua onde moramos. Chegamos a pensar em comprar esse imóvel e, por isso, às vezes telefonava para ela. Essa senhora tinha uma visão desencantada e sarcástica da vida, com comentários ácidos e cortantes. Talvez por isso, eu gostava de conversar com ela. Nessas conversas que mantivemos, por mais incrível que pareça, descobri que ela conhecia minha família, que era sobrinha ou prima do tio Juca Barão e que tinha sido muito amiga de minha mãe na adolescência, a quem definiu como “muito bonitinha”, em contraponto à minha avó, “muito feinha”. Segundo essa senhora, meu avô era “bonitão”. Eu nunca soube se houve casos (no plural) de infidelidade de meu avô, apenas transcrevo a frase que ouvi de Dona Zizinha: “o Chiquinho não era fácil”.

Outra lembrança de minha avó, quando ainda estava lúcida. Um dia, alguém chegou à nossa casa para entregar a parte da herança paterna ou materna que lhe coube – um conjunto de louça sanitária decorada, muito bonito, composto de bacia, jarro, saboneteira e penico, esses dois com tampa; um cesto de palha com fundo quadrado, tão usado que tinha um furo em um dos cantos, e mais alguma tranqueira de que não me lembro. Essa “maravilha” de herança provocou outro colapso nervoso. Também, pudera: imóveis, fazendas, gado e sei lá o que teriam sido repartidos entre os irmãos (creio que só entre os homens).

Pra finalizar este post, outra lembrança: minha avó comprou de seu sobrinho Orlando, filho de tia Anita, um terreno em Lagoa Santa. Conforme apalavrado, o terreno teria determinada área, definida em alqueires. Ao ser passada a escritura, o terreno tinha minguado para 30.000 m² ou coisa parecida. O certo é que a área entregue equivalia a um terço do oferecido. Consequência? Um bate-boca gigantesco com o sobrinho filho da puta e novo colapso nervoso. Esse terreno foi depois comprado por meu pai e colocado em nosso nome (maldita ideia!).

Já contei outros casos de minha avó neste blog. Se alguém tiver interesse, são eles:
 http://blogsoncrusoe.blogspot.com.br/2014/09/lets-all-get-up-and-dance.html
http://blogsoncrusoe.blogspot.com.br/2014/10/voce-sabe-falar-alemao.html  

Antes de passar para meu avô, preciso registrar que minha avó foi, sem que eu me desse conta disso até agora, uma figura central nas primeiras décadas de minha vida, com todas as suas dores e decepções, a verdadeira fêmea alfa da família (obrigado, Nat Geo). 

Um comentário:

  1. Sentada aqui, ouvindo (imaginando) histórias. Muito bom JB.
    "J"

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