E aí vai mais um capítulo das "Memórias Sentimentais de Jotabê" (isso é só enrolação, só uma piadinha, entendeu?). Vamos lá:
Vovô Chiquinho nasceu em 15 de março de 1900. Vovô, não, que esse tratamento era dado por meu irmão e primos (minha irmã o chamava simplesmente de “Vô”). Eu o chamava, sem nenhuma cerimônia, de “Sô Chico” (da mesma forma que falava “Seu Amintas” e “Dona Lia”, quando conversava com meus pais). E o engraçado é que ele gostava disso, dessa falta de modos (meus pais também). Uma vez minha mãe comentou o que vovô tinha dito a meu respeito: -“esse aí me puxou!” Que eu posso dizer disso? Que o discernimento dele era péssimo.
Vovô Chiquinho nasceu em 15 de março de 1900. Vovô, não, que esse tratamento era dado por meu irmão e primos (minha irmã o chamava simplesmente de “Vô”). Eu o chamava, sem nenhuma cerimônia, de “Sô Chico” (da mesma forma que falava “Seu Amintas” e “Dona Lia”, quando conversava com meus pais). E o engraçado é que ele gostava disso, dessa falta de modos (meus pais também). Uma vez minha mãe comentou o que vovô tinha dito a meu respeito: -“esse aí me puxou!” Que eu posso dizer disso? Que o discernimento dele era péssimo.
Chamava-se Francisco José Botelho e era filho
de Lino José Martins e Januária Antônia de Oliveira Botelho. Perguntada o
porquê de o sobrenome de seu pai ser “Botelho” e não “Martins”, tia Aidê não
soube explicar. Fico pensando que, na virada do século XIX para o XX, os
cartórios de registro civil deviam ser uma zona, a verdadeira casa da mãe Joana.
Outra “reflexão”: se vovô tivesse se chamado
“Francisco José Martins”, eu não teria uma insinuação de ato sexual no nome
(“Botelho Pinto”), para me acompanhar o resto da vida. Não à toa, alguns
colegas me tratavam respeitosamente por “Botei-vos” “Censurado” e mais uma
penca de variantes e sinônimos, na mais pura sacanagem. E, numa boa, eu sempre
me diverti com isso. Mas isso já é outra história.
É possível ver meus bisavós, já velhinhos, em duas fotografias espetaculares ainda existentes na casa de minha irmã. O casal teve esses filhos, não necessariamente na ordem em que estão relacionados:
Olinta, Onésio, Odila, João, Francisco (meu
avô), Waldemar, Odorêncio (esse nome só empata em feiura com Laldomila, que era irmã de minha avó) e Humberto.
Creio que com exceção de tio João, todos os
outros moravam em Lavras. Alguns nunca cheguei a conhecer. Lembro-me que tio
Waldemar e - em datas distintas - tio Dorenço (Odorêncio) foram uma vez à nossa
casa. Creio que foi um deles que trouxe um litro de um molho saborosíssimo,
feito com “trezentos” ingredientes diferentes.
Tio Humberto ou “tio Beto”, como todos
falavam, era dentista e teve três filhas com nomes que me encantavam: Ábia,
Hebe e Íbia (ou coisa parecida). Lembro-me da Ábia, uma moça com bochechas bem
acentuadas, que se casou por procuração com um português. Chique!
Tio João sempre ia lá em casa, assim como
algumas de suas filhas. Depois que comecei a namorar minha mulher, uma de
minhas cunhadas, um dia, perguntou se eu tinha um tio, talvez tio-avô,
conhecido como João Botelho. Era o próprio. Meu tio era o avô de seu namorado
na época, o Roberto Bocão. O engraçado é que graças a esse namoro eu conheci e
fiquei amigo de um primo distante (de terceiro grau). Ele e seus irmãos são os
únicos que conheço e com quem converso esporadicamente, pois os pais moram em
frente à casa de minha sogra (o mais conhecido é o Serginho, que, em uma noite
de Natal, depois de tirar meleca do nariz veio me estender a mão despreocupadamente, fazendo uma
de minhas noras quase desmaiar de rir).
Tempos depois de terminado o
namoro com minha cunhada, fomos convidados para o casamento do Bocão. Nessa
época meu avô já tinha morrido. Quando vi meu tio-avô sentado na igreja,
fiquei com uma vontade danada de ir abraçá-lo, mas desisti. Afinal, ele me conheceu
criança e talvez não fosse se lembrar de mim. Se eu o tivesse abraçado, de
certa forma estaria também abraçando meu avô. Hoje penso que devia ter feito isso. Tio João permaneceu lúcido até os
102 anos e morreu um ano depois.
Nunca entendi por que só os irmãos de meu avô e de minha avó eram bem de vida (quase todos, pelo menos). Em suas visitas dominicais, eram casos de fazenda pra cá, boiada prá lá, por aí. Meus avós, coitados, estiveram sempre na merda – ou perto disso. Consultando minha irmã sobre datas e fatos para escrever estas lembranças, surgiu a explicação para essa ostentação domingueira (pelo menos, no que se refere aos irmãos de minha avó).
Minha mãe e seus quatro irmãos mais velhos nasceram em uma fazenda localizada em Ijaci, distrito de Lavras na época.
Depois, mudaram-se para outra fazenda em Pedro Leopoldo, onde nasceu Tio
Tôto. Nova mudança de fazenda e de cidade e mais um nascimento: tia Dalva
nasceu na Fazenda da Pedra Branca, em Capim Branco.
Segundo tia Aidê, seus pais iam se mudando
junto com a Dindinha, mãe de minha avó. As fazendas teoricamente eram dela, mas
quem fazia os negócios eram seus filhos homens e, à medida que vendiam as
propriedades da mãe, “compravam
outras menores e embolsavam uma parte, até restar só a casa da Floresta”.
Puta sacanagem. E meu avô trabalhava para ela, Dindinha. Tia Aidê disse
que “de
genro ele virou o ‘faz-tudo’ enquanto os cunhados ficavam só no ‘bem bom’”.
Talvez por esse motivo, meu avô começou a
trabalhar como “construtor”, um termo que se usava ainda na época de minha
formatura. No duro, no duro, essa função é exercida hoje pelos “mestres de
obras” ou “encarregados gerais”. Em uma época de poucos engenheiros, o prático
tinha mercado de trabalho garantido.
Sei de poucas obras que meu avô administrou
(ou construiu, como dizia). Uma delas é uma chaminé tronco-cônica, feita com tijolos,
provavelmente necessária para algum forno, caldeira ou coisa parecida. Essa
chaminé ainda deve existir e fica ou ficava quase na beira da lagoa, próximo à
vila residencial da Aeronáutica, em Lagoa Santa.
Outra obra, onde fui ainda pequeno com ele, é
um conjunto de casas construído em frente ao Clube dos Oficiais, no Prado.
Essas casas eram de propriedade do Antônio Luciano, um sujeito riquíssimo e com
um apetite sexual extraterrestre.
Vale a pena falar um pouco desse sujeito:
décadas atrás, a prefeitura de Belo Horizonte resolveu criar oito novos parques
na cidade. Seis deles seriam construídos em terrenos do tal Luciano. O
procedimento era simples: as áreas seriam desapropriadas, a PBH pagaria uma
mixaria para os proprietários e fim.
Ao saber dessa intenção, imediatamente mandou
fazer projetos de urbanização e loteamento dessas áreas e deu entrada na
prefeitura. Com isso, os imóveis adquiriram novo status e novo valor.
Resultado: essa manobra inviabilizou as desapropriações e a ideia foi
enterrada. Creio que uma dessas áreas é hoje o bairro Camargos, em frente ao
Minas Shopping, do outro lado da Cristiano Machado.
O Luciano (Dr. Luciano, como vovô se referia
a ele) era dono de quase todos os cinemas de Belo Horizonte, aliás, os
melhores. Dizia-se que tinha uns oitenta mil imóveis só em Beagá (!). Mas sexo é o
assunto em que esse médico (era médico, o sacana) era um craque, pois deixou
dois filhos legítimos de seu casamento, uns quarenta outros foram reconhecidos
como filhos naturais, com direito a herança, e existem ainda mais de cem que brigam
ou brigaram na justiça para ser também reconhecidos como descendentes desse
super-coelho.
Para ele, vale uma frase que ouvi quando fizemos curso de noivos. Ao escutar um dos noivos dizer que tinha 26 irmãos, o orientador perguntou: -“seu pai teve tempo de vestir as calças?” Cagamos de rir.
Para ele, vale uma frase que ouvi quando fizemos curso de noivos. Ao escutar um dos noivos dizer que tinha 26 irmãos, o orientador perguntou: -“seu pai teve tempo de vestir as calças?” Cagamos de rir.
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