sexta-feira, 8 de agosto de 2014

HISTÓRIAS DO DIGÃO - PARTE XII

CIRURGIA DE CORAÇÃO

Com um estilo de vida sedentário e tendo fumado por uns cinquenta anos pelo menos, começou a ter uns piripaques de vez em quando. O amigo e cardiologista de confiança pediu uma cineangiocoronariografia.

Levou o resultado do exame para o escritório e, rindo meio sem graça, comentou ao nos mostrar, que era sua certidão de óbitoAo olhar os resultados, que indicavam “obstrução de 87% na artéria x”, 100% de obstrução na artéria y”, 92% de obstrução na artéria z”, começamos a rir irresponsavelmente, dizendo coisas como – “O 'Véio' tá morto!– “Esqueceram de te enterrar!”. E ele meio enfurecido:

 Vocês são uns cretinos!

A cirurgia de ponte safena foi realizada e fomos visitá-lo no hospital, Tempos depois, comentou que “tinha morrido” duas ou três vezes durante a cirurgia, pois seu coração tivera que ser reanimado depois de algumas paradas cardíacas. Contou também que escondeu um cigarro aceso na mão enquanto era levado para o bloco cirúrgico, um local rico em oxigênio, bom para o combate às bactérias, mas também propício à combustão. Ao levar o cigarro à boca, foi flagrado por uma enfermeira:

 Olha esse filho da puta fumando aqui!!!!!!

Convalescente, comentou com o cardiologista que estava muito ansioso e perguntou se não podia fumar um pouco. O médico, sabedor de seu vício antigo, comentou que não deveria mais fumar. Entretanto, diante das argumentações, concordou que ele fumasse “um ou dois cigarros por dia”. Imediatamente, o consumo passou de dois para quatro e assim, sucessivamente, até ser flagrado pelo amigo, na rua, com um maço no bolso da camisa:

 O que é isso, Rodrigo? Você está fumando assim?

 Não! Este maço é só para reforçar minha força de vontade.

 Hã, sei...

Só parou mesmo de fumar anos depois, depois de se aposentar e depois de sofrer dois infartos. Mas, aí, já era tarde.   


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