quarta-feira, 17 de julho de 2019

MA(APP)TUSALÉM


Às vezes, quando a depressão está um pouco maior que o normal, eu me sinto assim: velho, muito, muito velho, muito mais velho do que já estou hoje. Minha sorte é que não viverei até ficar assim.

Esta frase serviu para apresentar meu retrato envelhecido pelo aplicativo Faceapp. Meus “amigos de facebook” reagiram imediatamente – alguns tentaram me consolar, outros “riram” escandalizados, três amigas tentaram reverter minha aparente depressão e a maioria apenas curtiu.

Essa brincadeira começou no domingo passado, durante um churrasco de confraternização em casa de amigos. Meu filho mostrou o aplicativo e quase todos os presentes foram devidamente envelhecidos, provocando a mesma reação do facebook: surpresa escandalizada do retratado, risos e comentários maldosos dos demais. Creio que só eu fiquei fascinado pelo resultado exibido.

Segundo um primo de minha mulher (que me comparou a um jenipapo), esse aplicativo foi desenvolvido na Rússia e serviria para coleta de dados do computador utilizado. Se isso é ou não verdade, não faço ideia. O que sei é que minha imagem ficou impressionantemente plausível, permitindo que eu me visse com uns cem anos. As pálpebras caídas, as bochechas flácidas e as rugas incrivelmente realistas deixaram-me verdadeiramente desconcertado. Como tenho fascínio pela passagem do tempo observada nas fotos 3x4 tiradas em épocas distintas, cheguei a pensar em postar aqui no blog esse retrato, mas consegui controlar a tempo o que seria mais uma prova de exibicionismo.

O que sei é que – ligeiramente incomodado pela reação inesperada de meus “amigos de facebook” – resolvi neutralizar o efeito do retrato “Jotabê Matusalém”. Postei uma foto recente, aproveitando para fazer uma sugestão quase subliminar aos mais exaltados, ou seja, um retorno ao equilíbrio e bom senso, com o seguinte texto:

Meu retrato envelhecido por aplicativo rendeu muitas curtidas, risos e comentários escandalizados de meus amigos de facebook, sinal de que os duzentos anos com que fiquei na foto mexeram bastante com quem viu a imagem. Eu, particularmente, gostei muito do resultado. Mas, para alívio de todos, eu ainda sou como na foto abaixo. Velho sim, deprimido às vezes, mais para Kombi usada que para Ferrari Testarossa, mas sem maiores grilos, disposto a pagar micos gigantescos - maiores até que o King Kong (que não era mico) – só para divertir meus amigos. E creio ter atingido esse objetivo, pois ainda que por breves segundos ou minutos, meus amigos esqueceram-se de endeusar o Bolsonaro, de pedir a liberdade do Lula, de louvar o Moro ou de malhar a reforma da Previdência, só para rir do meu retrato matusalém. E isso foi bom.


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