sexta-feira, 7 de agosto de 2015

COMENTANDO AS PENÚLTIMAS - 08

Mataram o leão Cecil. Melhor dizendo, o leão Cecil foi morto de forma ilegal por um dentista idiota, um doente mental que gosta de caçar. Deve se achar o “macho alfa” ou ter dúvidas quanto à própria sexualidade, para fazer uma merda dessas. E o cara (melhor seria chamá-lo de cárie) é reincidente, pois já teria caçado um urso negro em local onde esse animal não poderia ser abatido.

Segundo a revista Exame.com (de onde tirei também essa foto-homenagem), “Cecil era especialmente famoso no meio conservacionista e era amado em todo o país. Morto aos 13 anos de idade, o leão teve praticamente toda a sua vida monitorada por cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que estudavam a conservação de leões no Zimbábue”.

Sinceramente, não consigo entender qual a graça de matar animais - qualquer animal - apenas por prazer, em um comportamento reiterado, compulsivo, em pleno século XXI. Na década de 1960, existiam 450.000 leões na Africa. Em 2013, segundo revista Veja dessa época, a população teria caído para apenas 20.000 animais(!). 

Já não basta a redução de suas áreas de caça provocada pela expansão da agricultura e criação extensiva de gado? Tinha de ainda existir um filho da puta para caçar leão por esporte? E esse corno só está mais famoso, mas não é o único!

Quando estava na faculdade, comecei a estagiar em uma empresa que tinha sido contratada para construir uma fábrica de cimento (parte dela) em Pedro Leopoldo, município que fica a uns cinquenta quilômetros de BH. Naquela época, a estrada era muito precária, sem acostamento e apenas com duas pistas. Para minimizar o deslocamento, foi alugada uma casa no centro da cidade, onde moravam uns três engenheiros. Eu e os outros estagiários da obra também almoçávamos lá.

Depois do almoço, à falta do que fazer, um dia alguém arrumou uma espingarda a ar comprimido e criou-se uma disputa informal de quem atirava melhor. Os alvos eram caixas de fósforo, latas, e tampinhas. Logo, logo, ninguém tinha mais saco para isso. Ninguém, exceto eu. Aproveitei para treinar bastante e errar mais ainda. Um dia, também já meio cansado disso, resolvi tentar matar um passarinho.

Esperei até que pousasse um na árvore do quintal. Mirei, mirei e pá! O passarinho voou, fazendo-me pensar que tinha errado.  Mas ele descreveu um arco e pousou quase na base do tronco. Todo feliz, aproximei-me para ver o que tinha acontecido. O bichinho estava agarrado a uma saliência da árvore, o corpo todo tremendo. Cheguei mais perto ainda e ele caiu no chão, já morto. Eu tinha acertado! Ou errado feio, como passei a pensar desde então.

Ver aquele passarinho agarrado à árvore, tremendo, convulsionado, agonizando, me fez abandonar definitivamente a espingarda de chumbinho e a condenar qualquer tipo de caça esportiva praticada por sádicos disfarçados. Por extensão, tornei-me também contrário à criação de passarinhos em gaiola. Os defensores desse tipo de lazer sempre vêm com a conversa de que, se forem soltos, morrerão, pois não estão habituados à vida fora da gaiola. OK, mas por que, um dia, algum idiota resolveu prendê-los?

Um primo de minha mulher cresceu extraordinariamente no meu conceito quando descobri que em sua casa há uma plataforma elevada sempre com água e alpiste para uso e consumo de qualquer passarinho que vive - e voa livremente – nas redondezas. Segundo ele, não há gaiola que pague o prazer de acordar com a algazarra alegre da passarinhada que ali vai. Mas isso é muito, muito raro.

Ao ler a notícia da morte do leão Cecil lembrei-me de alguém que me disse ser o homem, a raça humana, um equívoco, um vacilo da Natureza. Estou cada vez mais tentado a concordar integralmente com isso. Lembrei-me também da música "Passaredo", do Chico, aquela que diz "toma cuidado, o homem vem aí". Divagando mais um pouco, lembrei-me das “pragas do Egito” relatadas na Bíblia. Fui consultar a internet para saber de que se tratava e cheguei à conclusão de que - caso tenham acontecido mesmo, do que duvido - à exceção da morte dos primogênitos, todas elas foram umas praguinhas muito mixas, ainda mais considerando que ocorreram só no Egito.

Já a raça humana comporta-se como uma pandemia, uma praga de alcance global, pois provoca a extinção de espécies, caça por esporte ou por ignorância, destrói ou avilta ecossistemas, polui nascentes de água, mananciais, lagos, rios e oceanos. Faz pesca predatória, atira na atmosfera zilhões de toneladas de partículas e dióxido de carbono (CO2), desmata áreas gigantescas, contribui para o aquecimento global e ainda procria mais que coelho. Isso sem falar na mania de muitos de querer impor aos demais sua teologia ou sua ideologia (às vezes, na marra).

Com seu comportamento predatório e seu consumismo desenfreado o homem, aos poucos, vai deixando "o mais bonito dos planetas" ("a nave nossa irmã") exaurido, desgastado, um lugar cada vez mais desconfortável de se viver, tão hostil quanto terra arrasada. Lembra mais a praga bíblica dos gafanhotos. Homo sapiens? Gafanhomem!

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Vindo de você, não há outro elogio que se equipare a esse. VALEU!!!!!

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  2. Ao ler seu texto me lembrei do mestre Nelson Rodrigues que tratava a morte sempre como uma coisa estúpida, não por ser ela sem razão de ser que é justamente o contrário, mas por ser sempre indelicada e rude. "(...) porque tudo o que é vivo, morre" e "(...) a gente sempre destrói aquilo que mais ama".
    "J"

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    1. "Indelicada e rude" para os que ficam, talvez. Não havendo sofrimento, para quem morre isso tanto faz. E, sinceramente, não não sinto dentro de mim a ideia de que "a gente sempre destrói aquilo que mais ama". Já disse que cada um é como uma galáxia. Pode ser que em outras galáxias isso ocorra. Vá saber!

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    2. Não sei se o leão Cecil concordaria com você, JB ;) Agora sobre galáxias longínquas vc tem razão é impossível precisar.
      "J"

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