Em conversa recente com um dos filhos fui aconselhado a ter "Cuidado com o cuidado”, um alerta para nos fazer pensar de que "agora é a
hora de abraçar as meninas", referindo-se às suas sobrinhas e, obviamente
nossas adoráveis netinhas. Lá no início do blog escrevi os textos “Aquele abraço”(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2015/01/aquele-abraco.html)
e “Que abraço aquele!”(https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2015/01/que-abraco-aquele.html) sobre o ato de abraçar e suas implicações (recomendo a leitura!). Fiquei com o alerta de meu filho na cabeça até resolver revisitar o tema dos dois posts antigos. Para isso, optei por apresentar minha visão atual como se estivesse respondendo a ele, pois posso divagar e dizer obviedades e platitudes sem que isso lembre aquela arrogância dos ignorantes que se acreditam donos da verdade. Bora lá.
Sabe, filho, seu comentário foi meio assustador, como se já soubesse de algo que estamos prestes a saber.
Lógico que não se trata disso, mas colocou na pauta um assunto que não pode ser
desprezado, que é a duração da vida ou o tempo que nos resta. Eu poderia fazer uma
abordagem estatística com base em reportagem publicada há muito tempo na
revista Veja ou me basear no
histórico familiar. Seguindo a Veja
eu estaria fodido, seguindo meus pais eu estaria bem na fita. Entretanto, nada
disso importa, pois creio não haver ainda um algoritmo de precisão para resolver esse
impasse. Em todo caso, imagino que ainda tenho uns dez anos pela frente,
suficientes para amargar o arrependimento por todas as burradas, displicência ou irresponsabilidades cometidas ao longo da vida. Isso também é irrelevante
para comentar seu conselho (ou presságio).
E sabe por quê? Porque o que eu mais desejo -
e não farei isso até ser vacinado - é abraçar meus filhos. Essa é a maior
falta, a maior privação que sofro. Abraçar as netinhas é uma
consequência lógica disso. Você não imagina o tanto que eu gostaria
de poder abraçá-los, porque o
abraço de vocês sempre foi o melhor presente que eu desejei ganhar.
Então, falemos das netinhas. As menininhas
mais velhas estão na fase mais tchutchuca da infância. As outras duas ainda
estão entrando nela. As quatro são adoráveis, lindas, indefesas e a vontade de
poder abraçá-las é grande (não tanto quanto a de ganhar um abraço de vocês). Mas
eu não me preocupo, pois estou sereno com a ideia de só fazer isso
depois de vacinado. E sabe por quê? Assim como não sei quantos anos ainda
viverei também não sei o que acontecerá comigo se (infelizmente) me expuser a
um contágio vindo de onde vier. Veja bem, sou idoso, hipertenso,
hipotiroideu e tenho uma "alteração não identificada no pulmão". O
que seria isso? Consequência ou sequela da pneumonia que me atingiu em 2002 ou
2003? Não sei e, "graças" à pandemia, nem tive tempo de fazer um exame mais
aprofundado.
Então, pense bem, eu preciso ter a paciência
dos marinheiros de submarino, o auto-controle dos astronautas da Estação Espacial, a determinação dos emigrantes, a resignação dos imigrantes. Eu preciso saber e aceitar esperar com calma e em paz. E, se nesse
meio tempo eu cair duro ou tiver um AVC, não sentirei remorso em momento algum
(bom, se eu cair duro não vou sentir é nada mesmo).
Você disse que "agora é a hora de abraçar as meninas". Você poderia
dizer isso para quem convive com elas, não para mim, não para nós. Na
idade em que estão e com a pouquíssima convivência que temos, uma convivência
mascarada, a última coisa que elas desejarão é ser abraçadas por quase
desconhecidos. Você certamente se lembra do Seu Amintas (meu pai). Não tenho a
menor dúvida de que ele se derretia de felicidade ao vê-los. Você gostava de
abraçá-lo? Duvido e nunca me incomodei com isso, pois ele era apenas um registro
histórico-familiar em sua cabeça. Os vínculos afetivos entre você e ele não tinham a mesma intensidade de um para o outro. Eu adoro as menininhas, mas sou tão
irrelevante para elas quanto os outros avós que também pouco convivem com elas.
Vínculos afetivos podem
ser construídos, preservados ou desmontados e destruídos. Dependem do maior ou
menor contato e da empatia que rola. Alguns poucos abraços não resolverão isso. Talvez você acredite - e se assim pensar não estará muito longe da verdade - que esse isolamento social de longa duração reativou meu lado ogro, antissocial. Mesmo que pareça pouco provável conseguir aumentar ainda mais o que já é gigantesco. Por ser aposentado e recluso ainda antes da pandemia, não poderia dizer que tenho uma vida social efervescente. Na verdade, não tenho nenhuma. Esse é um comportamento que não desejo nem recomendo a ninguém, pois te leva a cortar amizades, networking e todo tipo de
relacionamento positivo e benéfico tanto pessoal como profissionalmente, o que é péssimo.
Por isso, meu caro filho, não deixe que sua inteligência luminosa te leve a
ser impaciente com quem é menos que você. Nunca entre nessa! Não espere das
pessoas mais do que elas podem te oferecer. Seja generoso emocionalmente, seja
tolerante, não se baste como se fosse um ermitão ou um náufrago em ilha
deserta. Jamais se comporte como se você e sua amada fossem o primeiro, o único casal no Paraíso. Não repita o erro que eu cometi, pois se você se
fechar em si mesmo acabará acreditando que não existe mais ninguém digno de
sua atenção e de sua convivência.
Agora é para acabar. Você me estimulou a pensar no prazer de poder abraçar as menininhas, eu comecei devagar a divagar (horrível!), fui pegando velocidade até chegar ao ponto de fazer uma exortação, uma pregação (que serviu para provar que eu sou mesmo um prego) meio sem sentido, bastante desnecessária, como se estivesse falando sozinho diante de um espelho (a superfície mais cruel que existe). Só posso te pedir que quando se encontrar com seus irmãos e suas sobrinhas, que as abrace por mim e lhes diga baixinho, em segredo, que eu também quero muito abraçá-las e que elas estão lindas demais. Que mais eu posso dizer? Ah, sim! Te
amo!!!!!!!!!!!!!!! Beijão.
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