sexta-feira, 9 de outubro de 2020

ACHADOS E PERDIDOS

 
Graças aos comentários positivos de meus amigos virtuais Marreta e Scant, resolvi fazer um post-resposta, especificamente dedicado ao jornal underground “Flor do Mal” que tanto interesse provocou e que “tinha” guardado aqui em casa. Lamento dizer que estava totalmente equivocado, pois não o encontrei entre as relíquias mencionadas no post “Deixados e Esquecidos”. Há três hipóteses para seu desaparecimento: está guardado em algum lugar que só será descoberto depois que eu morrer (momento de descarte de coisas inúteis do falecido), meu irmão ficou com ele ou simplesmente foi jogado fora ou dado para alguém.
 
Antes de saber de seu desaparecimento, achei dois textos sobre esse jornal que até pensei em resumir. Como sumiu daqui de casa, vou simplesmente disponibilizar os links no final deste texto. Antes, responderei à pergunta de meu amigo Marreta, que quis saber “Que tipo de conteúdo ele abordava”. Constrange-me dizer que não faço a mínima ideia. Era um jornal apenas para atender uma de minhas esquisitices (que será explicada logo abaixo). Sem querer ofender ninguém, diria que ele era (como outros jornais do mesmo tipo que foram publicados no início da década de 1970) um jornal para maconheiros. Claro que isso é uma piada, mas com imenso fundo de verdade.
 
Foi fundado por Luis Carlos Maciel, um dos colaboradores constantes do Pasquim e titular da seção Underground, onde trazia todo tipo de notícias da contracultura da época. Foi através dessa seção que tomei conhecimento do Festival de Woodstock. Gastou duas páginas para esmiuçar o festival e os artistas que nele se apresentaram. Assim, ao saber que o filme seria exibido em BH no circuito comercial, voei até o cinema e consegui assistir a primeira exibição do primeiro dia.
 
Tempos depois, estranhando o fato de essa seção ter sumido das páginas do Pasquim, descobri que o jornalista estava às voltas com o jornal Flor do Mal, que tinha acabado de ser criado. O resto da história vocês poderão descobrir acessando os links.
 
Mas a historia não acaba assim, sem mais nem menos. Como já disse em post mais antigo, sendo muito inseguro quando jovem, eu precisava de algum diferencial para me destacar (coisa de idiota!), pois era pobre, feio, tímido e com baixa autoestima. E o diferencial que idealizei inconscientemente foi ter coisas (baratas) que ninguém possuía. Coleções, discos raros, livros herméticos, revistas desconhecidas e jornais ultra alternativos. Essa a explicação de ter comprado um ou dois exemplares do “Flor do Mal” e nunca tê-los lido por inteiro.
 
Era assim que eu estava em 1972. Eu queria ser diferente, descolado, mas estava preso a uma timidez paralisante. Eu queria ser livre, mas já estava preso em um namoro que me levaria ao casamento com a menina mais linda que conheci. Eu queria ser alternativo, maconheiro, riponga, mas estava preso a uma faculdade, mesmo que frequentada com o máximo de descaso e irresponsabilidade.
 
Esse desejo de ser único, singular (mesmo que inconsciente) é também a explicação de (re)descobrir que tenho guardados dois números de um jornal ainda mais alternativo que o desaparecido Flor do Mal. Seu nome é “Presença” (gíria relacionada ao uso de maconha na década de 1970). Ele era tão alternativo que só consegui descobri na internet a capa de um dos exemplares que tenho. A vantagem é que encontrei também a contracapa. E, mesmo que isso cause decepção, não tive saco para dar uma lida nos jornaizinhos redescobertos. Sei lá, os 48 anos que me separam do jovem inseguro que os comprou não me animaram a folhear aquela velharia.
 
Para finalizar, uma explicação para o título do post: achei uma relíquia e perdi outra. E agora, a resposta a esta pergunta de meu amigo Scant: “se vc fosse montar uma biblioteca pessoal hoje, o que colocaria nela?”
 
Se estivermos falando de HQ, gostaria de ter todos os 26 volumes da obra completa de Charles Schulz (“Peanuts total”), todas as incríveis histórias do Pato Donald boladas pelo genial Carl Barks e todas as revistas “Chicletes com Banana”, do Angeli.
 
Se estivermos falando de livros, gostaria de ter à mão todos os clássicos da literatura mundial e biografias de gente que fez a História estremecer. E, se possível, que essa biblioteca ficasse perto de uma praia semideserta.
 
Agora, os links e as capas do Presença.
 
https://blogdoims.com.br/flor-do-mal-revisitada/
 
http://www.dopropriobolso.com.br/index.php/artes-visuais/54-artes-plasticas/617-contracultura-o-poder-da-flor-do-mal



13 comentários:

  1. bem legal
    quanta mudanca ao longo da vida
    o que vc teria mudado no jovem q vc foi?

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    1. Essa é fácil! Talvez por ter tido uma educação repressora, quando eu "peguei as chaves do meu carro" só consegui sair desgovernado, sem saber "dirigir". Em outras palavras, gostaria de ter sido o oposto do que fui. Daqui a muitos anos você entenderá o que estou dizendo. Hoje eu me arrependo das coisas que fiz e que não deveria ter feito e das que deixei de fazer, mas que deveria ter feito. Estudos, por exemplo. Se estudasse na faculdade pelo menos metade do que estudei para o vestibular, seria outra pessoa hoje. É por isso que em um dia mais inspirado ocorreu-me esta frase: Às vezes sinto-me como se fosse o resultado de um projeto ambicioso que não deu certo, seja por defeito de concepção, seja por erro de dimensionamento, talvez pela má qualidade dos materiais empregados, por falhas no processo produtivo ou, até mesmo, por vícios de utilização. É por aí.

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    2. "Às vezes sinto-me como se fosse o resultado de um projeto ambicioso que não deu certo," - acho q vc gosta de se torturar e inventa essas desculpas

      um projeto que não foi projetado e uma ambição que nunca existiu realmente

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    3. Olha, Scant, eu realmente gosto dos seus comentários, pois me obrigam a refletir sobre o que disse e sobre o que motivou suas ponderações. Mas é como eu disse no comentário anterior: "daqui a muitos anos você entenderá o que estou dizendo". Quando eu era novo tinha insegurança e medo, mas não tinha depressão. À medida que se envelhece começam a surgir as culpas e os arrependimentos do tipo "porque eu não fiz isso?", por que fiz aquilo?". Ou seja, você repassa as muitas escolhas erradas que fez ao longo da vida. E quanto mais se vive maior é a chance de escolher mal. Agora, quanto à frase que você malhou eu a inventei como parte de um conto que escrevi.Mas ela retrata bem o julgamento que faço de mim mesmo. Eu sou bastante inteligente (e não falo isso para me vangloriar, falo para ficar mais puto ainda). Infelizmente, tendo uma inteligência privilegiada eu não soube ou não consegui fazer nada com ela, não consegui realizar os sonhos que sonhei, pois o Medo que sempre senti era muito grande e eu não consegui superar isso.

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    4. vc parece ter uma boa família

      se o processo tivesse dado certo, o que vc teria de tão mais valioso do que vc tem hoje?

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    5. "os sonhos que sonhei, pois o Medo que sempre senti era muito grande e eu não consegui superar isso."

      mas se eram apenas desejos irrealizados não seria melhor esquecê-los a sofrer pela inexistência deles?

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    6. "se o processo tivesse dado certo" eu seria dono ou sócio de uma construtora (a mina de dinheiro) ou de um escritório de cálculo estrutural (a meca dos melhores alunos e templo dos grandes profissionais de engenharia). Quanto à minha família, ela é maravilhosa e a melhor parte da minha vida.

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    7. "se eram apenas desejos irrealizados não seria melhor esquecê-los a sofrer pela inexistência deles?" Essa é fácil de responder: seria fabuloso conseguir esquecer tudo o que vivi de ruim ou deixei de viver e era bom. O maior problema hoje são os sonhos sombrios e angustiantes que frequentemente surgem no fim da madrugada, relacionados principalmente à última empresa onde trabalhei, pois precisava do emprego (mesmo odiando cada dia dos onze anos em que trabalhei lá). Não dá para controlar pesadelos!

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    8. cara, vc criou na sua mente que é "um projeto incabado"

      pq vc não cria a ideia que perderia sua família para o trabalho e a riqueza se tivesse sido tal projeto

      essa contra-ideia talvez acalme seu coração;nada como auto-sugestão, vide o poder da religioes

      já testou triptofano pra acalmar ou essa droga?

      https://www.oficialfarma.com.br/mulungu-200mg-60-capsulas/p?gclid=Cj0KCQjwit_8BRCoARIsAIx3Rj7gQW08J71ElKbGPHlawohns8q_mjZextWb2rsBEdU_VMaDwih-G7AaAmITEALw_wcB

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    9. outra opção é escrever sobre essa empresa pra exorcizar os demonios, mas tb pode piorar a situação

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    10. Interessante você falar de "perder a família", pois foi tudo o que eu tentei preservar na vida. talvez tenha até me excedido um pouco. Sabe, Scant, pelos comentários que faz eu percebo que você é um cara totalmente do bem. E atrevo-me a dizer que as pessoas que te conhecem no mundo real têm muita sorte de poder ser suas amigas. Mas vamos ao que comentou. Trabalhei 14 anos em uma empresa que amava. Essa empresa começou a sinalizar que iria para o brejo (foi) e eu, mal aconselhado e MUITO mal assessorado, entrei na justiça contra ela. Perdi (graças a um advogado vendido), entrei de novo (com outro advogado), ganhei, mas nunca mais dormi em paz. Até hoje sonho que estou entrando no lugar onde trabalhava, vejo as pessoas (algumas) com quem adorava trabalhar e conversar, mas o ambiente é diferente, escuro, sem móveis, as pessoas não falam comigo e eu acordo deprimido.
      Três anos depois lutando para sobreviver, passei em um concurso público, fui admitido e trabalhei onze longos anos até me aposentar. Engoli todos os sapos que precisei engolir para garantir o ganha-pão e odiei cada dia trabalhado nessa empresa, pois existia um clima de desconfiança permanente, quase palpável. Dos seis engenheiros admitidos (eu era um deles), dois pediram demissão rapidinho (um chegou a ter estresse nervoso), dois foram transferidos para outros setores totalmente diferentes, para executar tarefas que nada tinham a ver com sua formação profissional (eu era um desses dois). O gerente era um escroto (já morreu, o filho da puta), o sub-gerente era super escroto. Essa experiência rendeu um “roteiro de um curta-metragem” que publiquei no blog. Caso se interesse em conhecer, o link é este: https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2018/04/curta-mensagem.html
      Quanto aos remédios, nada contra, mas preferiria uma terapia (que não é barata). E não me sinto um projeto inacabado, o que eu realmente sinto é que o projeto ficou mal acabado, meio enjambrado, bambo, o verniz soltando, etc.

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    11. https://www.youtube.com/watch?v=tGaNw_1TMEw&ab_channel=LeandroTwin

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