Como há muito tempo eu não conto algum caso, resolvi espremer o cérebro para desovar mais um, mesmo com receio de já tê-lo escrito aqui.
Mas é tão bizarro e ridículo que vale a pena correr o risco da eventual
repetição. O caso é o seguinte:
Já disse que quando comecei a namorar minha
mulher havia na rua da casa de seus pais uma gangue de adolescentes e pré-adolescentes
aloprados e engraçadíssimos, com idade variando entre onze e dezesseis anos.
Era um bando de pelo menos vinte delinquentes do bem. Como acontece com grupos numerosos, alguns se
deram bem na vida, a maioria ficou na faixa “remediada” e pouquíssimos ficaram
na merda mais absoluta. E a história de hoje é com um desses “born losers”, daquele tipo que "um chato de um querubim deteminou que estava predestinado a ser errado assim". Dito de forma menos poética e mais vulgar, um sujeito cagado de
nascença.
Creio que foi na década de 1990 que fiquei
conhecendo sua tia. Era uma senhora sarcástica, amarga, que talvez tivesse tido
uma vida boa, mas, quando a conheci era praticamente uma inválida, pois tinha
algum problema circulatório nas pernas super inchadas, talvez consequência de
diabetes ou outra coisa qualquer. Ela parecia gostar de mim e da atenção que
dava a ela (como já disse algumas vezes, eu era o rei dos velhinhos e da
velhinhas, pois todos me elogiavam e gostavam do meu perfil de “filho atencioso”
– mesmo que eu não fosse nada disso).
E foi através dela que fiquei sabendo da vida
de privações e tropeços de seu sobrinho. Era filho de pai solteiro, um pai
irresponsável com quem vivia em uma casa velha e mal cuidada, localizada na
mesma rua onde morava minha namorada. Esse jovem tinha um olhar tristonho, uma permanente aparência
de subnutrido e andava como quem está sempre bêbado (mesmo que não estivesse).
Pela falta de instrução e de alguém para
orientá-lo ou dar suporte, resolveu empresariar e ganhar dinheiro sem fazer muito esforço. A ideia foi abrir uma
representação de peças automotivas. Aliás, uma só não, várias. Parece que à
medida que ia tendo problemas financeiros abria nova empresa, provavelmente
pegava novos empréstimos e ia criando uma bola de neve de dívidas e inadimplência
crescente.
A tia provavelmente aconselhava, “puxava sua
orelha” (de abano), mas talvez sem nenhum sucesso. Até o dia miraculoso em que ele
disse não ter mais nenhuma dívida em seu nome. A tia, entre espantada e feliz
perguntou o que tinha feito para conseguir essa proeza. O diálogo a seguir é
como me lembro de ter ouvido dessa senhora:
- Eu
mudei de nome.
- O
quê?
- É, eu
fui ao Espírito Santo e tirei nova documentação com outro nome. Agora eu não me
chamo mais “Eusébio” (nome fictício).
- Seu
filho da puta!!!!! Já não bastou sujar seu nome? Tinha de enlamear sua família
nessa loucura? Você vai agora mesmo corrigir essa semvergonhice!
- Mas, tia...
- Tia
nada, seu desgraçado! Você vai corrigir essa loucura ou nunca mais ponha os pés
nesta casa, que é de gente pobre mas honesta!
E por que eu me lembrei desse caso? Pelas
mudanças que acontecem no mundo político. Outro dia estava tentando me
atualizar e descobri que vários partidos mudaram de nome. Mas fica a dúvida: para que mudar de nome se a essência continua a mesma? Seria para confundir os eleitores? Talvez a solução
para esse meu conhecido fosse se filiar a um desses partidos, em vez de abrir e fechar empresas. Poderia até ajudar na escolha de outros nomes, porque experiência em mudanças do tipo mais do mesmo ele tem!
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