sexta-feira, 18 de novembro de 2022

MAIS DO MESMO

 
Como há muito tempo eu não conto algum caso, resolvi espremer o cérebro para desovar mais um, mesmo com receio de já tê-lo escrito aqui. Mas é tão bizarro e ridículo que vale a pena correr o risco da eventual repetição. O caso é o seguinte:
 
Já disse que quando comecei a namorar minha mulher havia na rua da casa de seus pais uma gangue de adolescentes e pré-adolescentes aloprados e engraçadíssimos, com idade variando entre onze e dezesseis anos. Era um bando de pelo menos vinte delinquentes do bem.  Como acontece com grupos numerosos, alguns se deram bem na vida, a maioria ficou na faixa “remediada” e pouquíssimos ficaram na merda mais absoluta. E a história de hoje é com um desses “born losers”, daquele tipo que "um chato de um querubim deteminou que estava predestinado a ser errado assim". Dito de forma menos poética e mais vulgar, um sujeito cagado de nascença.
 
Creio que foi na década de 1990 que fiquei conhecendo sua tia. Era uma senhora sarcástica, amarga, que talvez tivesse tido uma vida boa, mas, quando a conheci era praticamente uma inválida, pois tinha algum problema circulatório nas pernas super inchadas, talvez consequência de diabetes ou outra coisa qualquer. Ela parecia gostar de mim e da atenção que dava a ela (como já disse algumas vezes, eu era o rei dos velhinhos e da velhinhas, pois todos me elogiavam e gostavam do meu perfil de “filho atencioso” – mesmo que eu não fosse nada disso).
 
E foi através dela que fiquei sabendo da vida de privações e tropeços de seu sobrinho. Era filho de pai solteiro, um pai irresponsável com quem vivia em uma casa velha e mal cuidada, localizada na mesma rua onde morava minha namorada. Esse jovem tinha um olhar tristonho, uma permanente aparência de subnutrido e andava como quem está sempre bêbado (mesmo que não estivesse).
 
Pela falta de instrução e de alguém para orientá-lo ou dar suporte, resolveu empresariar e ganhar dinheiro sem fazer muito esforço. A ideia foi abrir uma representação de peças automotivas. Aliás, uma só não, várias. Parece que à medida que ia tendo problemas financeiros abria nova empresa, provavelmente pegava novos empréstimos e ia criando uma bola de neve de dívidas e inadimplência crescente.
 
A tia provavelmente aconselhava, “puxava sua orelha” (de abano), mas talvez sem nenhum sucesso. Até o dia miraculoso em que ele disse não ter mais nenhuma dívida em seu nome. A tia, entre espantada e feliz perguntou o que tinha feito para conseguir essa proeza. O diálogo a seguir é como me lembro de ter ouvido dessa senhora:
 
- Eu mudei de nome.
- O quê?
- É, eu fui ao Espírito Santo e tirei nova documentação com outro nome. Agora eu não me chamo mais “Eusébio” (nome fictício).
- Seu filho da puta!!!!! Já não bastou sujar seu nome? Tinha de enlamear sua família nessa loucura? Você vai agora mesmo corrigir essa semvergonhice!
- Mas, tia...
- Tia nada, seu desgraçado! Você vai corrigir essa loucura ou nunca mais ponha os pés nesta casa, que é de gente pobre mas honesta!
 
E por que eu me lembrei desse caso? Pelas mudanças que acontecem no mundo político. Outro dia estava tentando me atualizar e descobri que vários partidos mudaram de nome. Mas fica a dúvida: para que mudar de nome se a essência continua a mesma? Seria para confundir os eleitores? Talvez a solução para esse meu conhecido fosse se filiar a um desses partidos, em vez de abrir e fechar empresas. Poderia até ajudar na escolha de outros nomes, porque experiência em mudanças do tipo mais do mesmo ele tem!

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