segunda-feira, 11 de setembro de 2023

TRILHA SONORA - LADO A

 
O texto a seguir é apenas um exercício de memória, motivado por um pensamento que me ocorreu tempos atrás. Fiquei cozinhando o galo, ou melhor, o assunto até agora. E por ter ficado muito grande, será dividido em “Lado A” e “Lado B” (ou Lado 1 e Lado 2) tal como era usual nos discos de vinil que ouvi durante a vida.
 
A ideia é esta: provavelmente, todo mundo tem uma trilha sonora para sua vida. Eu imagino que mesmo não tendo consciência disso, todas as pessoas tem sua própria trilha sonora – músicas que evocam momentos, pessoas, épocas, sei lá que mais.
 
A partir desse pensamento, comecei a tentar lembrar as músicas que me tocaram mais ou que significaram alguma coisa para mim, mesmo que na época, eu nem me desse conta disso. Nem todas tem tanto significado assim, mas, por um ou outro motivo, acabaram permanecendo na minha memória. Outras podem ter um significado indireto, caso das músicas francesas e italianas que fizeram sucesso nos anos sessenta. Minha mulher ama essas músicas, então...
 
Como disse, este texto trata apenas de minhas lembranças e faz parte de meu projeto pessoal de registrar recordações de coisas inúteis e sem importância. Por isso, a menos que você seja um voyeur biográfico (creio que todo mundo é um pouco) pode parar por aqui, não precisa ler todo este post (nunca precisa, pretensioso!). Ah, está interessado em ler? Então, vamos lá:
 
Até me casar, morei na casa de minha avó materna (falta de grana, lógico). Como minha mãe foi a segunda filha a se casar, eu pude conviver com uma penca de tios e tias solteiros (oito) que moravam lá também. Na pequena sala da casa, além de duas poltronas, existia uma radiola, que tocava discos de 78 rpm (a fase do LP é posterior a isso).  A variedade de estilos era proporcional ao número de tios e tias. Não havia tantos discos assim, por isso creio que as músicas escolhidas eram do tipo "para dançar". Havia de quase tudo: mambo, rumba, bolero, valsa, fox, baião. Acredito que tinha também samba e tango. Tinha até um Ravel, com seu “Bolero”!
 
Esse disco merece uma descrição um pouco mais detalhada. Como a música é longa, o disco tinha 12 polegadas (os demais só tinham 10). Pela velocidade da rotação, colocava-se o lado um para tocar e, ao final, virava-se o disco, para ouvir o restante da música.  Muito moderno! Curiosamente, eu sempre gostei dessa música, de seu efeito meio hipnótico.
 
Por conta dessa diversidade de estilos proporcionada pelos meus tios, até uns nove, dez anos, eu ouvia todo tipo de música. Mas tinha uma (“Jezebel”) que me agradava mais, talvez pela voz meio teatral do cantor, talvez por ser em inglês, talvez por ter um som meio country (que eu nem sonhava existir). Não sei ao certo o porquê disso, o que sei é que essa música me atraia. Talvez fosse o prenúncio de minhas preferências futuras.
 
Pensando bem, creio que minha vida sempre foi pautada, balizada, sinalizada pela música – e pelo medo.  Do medo não quero falar agora, fica para outra ocasião.  No momento, interessa falar de música. O que eu sei (assim contava meu pai) é que com uns quatro anos, eu cantava (meio tatibitate) “Trevo de quatro folhas”, que foi regravada pelo João Gilberto no início da década de 60 e, mais recentemente, pela Fernanda Takai (gravação que ficou excelente). Acho que foi aí que começou a trilha sonora de minha vida.
 
Quando estava no último ano do grupo escolar (hoje, quarta série do ensino fundamental) comecei a ouvir no rádio (o toca-discos da radiola estava definitivamente estragado) uma música estranha em inglês, cujo ritmo me fascinou (eu tinha dez ou onze anos de idade e não havia televisão em nossa casa). Embora seja uma música country, para mim foi o embrião do rock que invadiria minha mente: Brenda Lee cantando “Jambalaya”. Na mesma época, mas sem tanto sucesso, ouvi "Tutti Frutti", com Elvis Presley. Aí a coisa foi rolando meio morna, com Paul Anka cantando “Put Your Head On My Shoulder”.
 
Quando eu já estava com uns treze anos e pronto para me apaixonar até por minha sombra, começou a tocar no rádio a música mais adequada para esse estado de espírito. Era “Blue Velvet”, cantada de forma esparramada e chorosa por Bobby Vinton. Curiosamente, na década de 80 fizeram um filme com esse nome, estrelado por Dennis Hopper e Isabella Rosselini. Passou na televisão algum tempo atrás. E a música do filme, lógico, é a mesma que me fazia sonhar.
 
Depois, vieram três atrações internacionais ao Brasil: primeiro o trio de folk-music Peter, Paul and Mary, cantando “Five Hundred Miles”; depois vieram Trini Lopez e Rita Pavone - que durante a estada no Brasil, namorou o Netinho, baterista boa pinta do conjunto "The Clevers" (mais tarde denominado "Os Incríveis").
 
Imagino que quase todos os jovens ficaram enlouquecidos com aquele som “incrível”. Lembro-me de ter visto na televisão um trecho do show do Trini Lopez em São Paulo, com a plateia dançando entre as cadeiras do teatro, os jovens vestindo terno (os homens, claro). Fiquei fascinado pelo tamanho dos cabelos dos adolescentes: deviam ter pelo menos uns dois dedos de comprimento (!). Para quem ainda tentava usar um topete tipo Elvis Presley (nunca consegui), aquilo foi arrasador. O curioso é que tanto Trini Lopez quanto Rita Pavone fizeram sucesso aqui com a mesma música. (“If I Had a Hammer” e “Datemi un Martelo”). Não sei quem canta a música original. Mas Rita Pavone fez muito mais sucesso por aqui.
 
Mas “A” revelação ainda estava por vir: minha mãe costurava para sua irmã rica, que morava no Santo Antonio, em frente ao Minas Tênis. Eu ia para lá junto com ela, não sei se para lhe fazer companhia ou para não fazer merda em casa (não faria, eu era “O” bundão). Pois bem, meus primos, mais velhos que eu, estudavam à tarde, o que me deixava livre para ficar pentelhando suas coisas. Eu gostava de escutar os discos que eles tinham (...)

Continua amanhã. 

Um comentário:

  1. Não precisa publicar, se preferir. Quando puder vá ao Marreta, vá rolando a barra lateral direita e dê uma olha num novo gadget que pus entre "as mais marretadas" e a "minha lista de blogs". Talvez isso resolva o problema do Blogson não atualizar na minha lista de blogs.

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