O texto a seguir é apenas um exercício de
memória, motivado por um pensamento que me ocorreu tempos atrás. Fiquei
cozinhando o galo, ou melhor, o assunto até agora. E por ter ficado muito
grande, será dividido em “Lado A” e “Lado B” (ou Lado 1 e Lado 2) tal como era usual nos discos
de vinil que ouvi durante a vida.
A ideia é esta: provavelmente, todo
mundo tem uma trilha sonora para sua vida. Eu imagino que mesmo não tendo consciência disso, todas as pessoas tem sua própria trilha sonora –
músicas que evocam momentos, pessoas, épocas, sei lá que mais.
A partir desse pensamento, comecei a tentar
lembrar as músicas que me tocaram mais ou que significaram alguma coisa para
mim, mesmo que na época, eu nem me desse conta disso. Nem todas tem tanto
significado assim, mas, por um ou outro motivo, acabaram permanecendo na minha
memória. Outras podem ter um significado indireto, caso das músicas francesas e
italianas que fizeram sucesso nos anos sessenta. Minha mulher ama essas
músicas, então...
Como disse, este texto trata apenas de minhas
lembranças e faz parte de meu projeto pessoal de registrar recordações de
coisas inúteis e sem importância. Por isso, a menos que você seja
um voyeur biográfico (creio que todo mundo é um pouco) pode
parar por aqui, não precisa ler todo este post (nunca precisa,
pretensioso!). Ah, está interessado em ler? Então, vamos lá:
Até me casar, morei na casa de minha avó
materna (falta de grana, lógico). Como minha mãe foi a segunda filha a se
casar, eu pude conviver com uma penca de tios e tias solteiros (oito) que
moravam lá também. Na pequena sala da casa, além de duas poltronas, existia uma
radiola, que tocava discos de 78 rpm (a fase do LP é posterior a
isso). A variedade de estilos era proporcional ao número de tios e
tias. Não havia tantos discos assim, por isso creio que as músicas escolhidas
eram do tipo "para dançar". Havia de quase tudo: mambo, rumba,
bolero, valsa, fox, baião. Acredito que tinha também samba e tango. Tinha até
um Ravel, com seu “Bolero”!
Esse disco merece uma descrição um pouco mais
detalhada. Como a música é longa, o disco tinha 12 polegadas (os demais só
tinham 10). Pela velocidade da rotação, colocava-se o lado um para tocar e, ao
final, virava-se o disco, para ouvir o restante da música. Muito
moderno! Curiosamente, eu sempre gostei dessa música, de seu efeito meio
hipnótico.
Por conta dessa diversidade de estilos
proporcionada pelos meus tios, até uns nove, dez anos, eu ouvia todo tipo de
música. Mas tinha uma (“Jezebel”) que
me agradava mais, talvez pela voz meio teatral do cantor, talvez por ser em
inglês, talvez por ter um som meio country (que eu nem sonhava existir). Não
sei ao certo o porquê disso, o que sei é que essa música me atraia. Talvez
fosse o prenúncio de minhas preferências futuras.
Pensando bem, creio que minha vida sempre foi
pautada, balizada, sinalizada pela música – e pelo medo. Do medo não
quero falar agora, fica para outra ocasião. No momento, interessa
falar de música. O que eu sei (assim contava meu pai) é que com uns quatro
anos, eu cantava (meio tatibitate) “Trevo
de quatro folhas”, que foi regravada pelo João Gilberto no início da década
de 60 e, mais recentemente, pela Fernanda Takai (gravação que ficou excelente).
Acho que foi aí que começou a trilha sonora de minha vida.
Quando estava no último ano do grupo escolar (hoje,
quarta série do ensino fundamental) comecei a ouvir no rádio (o toca-discos da
radiola estava definitivamente estragado) uma música estranha em inglês, cujo
ritmo me fascinou (eu tinha dez ou onze anos de idade e não havia televisão em
nossa casa). Embora seja uma música country, para mim foi o embrião do
rock que invadiria minha mente: Brenda Lee cantando “Jambalaya”. Na mesma época, mas sem tanto sucesso, ouvi "Tutti Frutti", com Elvis
Presley. Aí a coisa foi rolando meio morna, com Paul Anka cantando “Put Your Head On My Shoulder”.
Quando eu já estava com uns treze anos e
pronto para me apaixonar até por minha sombra, começou a tocar no rádio a
música mais adequada para esse estado de espírito. Era “Blue Velvet”, cantada de forma esparramada e chorosa por Bobby
Vinton. Curiosamente, na década de 80 fizeram um filme com esse nome, estrelado
por Dennis Hopper e Isabella Rosselini. Passou na televisão algum tempo atrás.
E a música do filme, lógico, é a mesma que me fazia sonhar.
Depois, vieram três atrações internacionais
ao Brasil: primeiro o trio de folk-music Peter, Paul and Mary, cantando “Five Hundred Miles”; depois vieram
Trini Lopez e Rita Pavone - que durante a estada no Brasil, namorou o Netinho,
baterista boa pinta do conjunto "The
Clevers" (mais tarde denominado "Os
Incríveis").
Imagino que quase todos os jovens ficaram
enlouquecidos com aquele som “incrível”. Lembro-me de ter visto na televisão um
trecho do show do Trini Lopez em São Paulo, com a plateia dançando entre as
cadeiras do teatro, os jovens vestindo terno (os homens, claro). Fiquei
fascinado pelo tamanho dos cabelos dos adolescentes: deviam ter pelo menos uns
dois dedos de comprimento (!). Para quem ainda tentava usar um topete tipo
Elvis Presley (nunca consegui), aquilo foi arrasador. O curioso é que tanto
Trini Lopez quanto Rita Pavone fizeram sucesso aqui com a mesma música. (“If I Had a Hammer” e “Datemi un Martelo”). Não sei quem canta
a música original. Mas Rita Pavone fez muito mais sucesso por aqui.
Mas “A” revelação ainda estava por vir: minha
mãe costurava para sua irmã rica, que morava no Santo Antonio, em frente ao
Minas Tênis. Eu ia para lá junto com ela, não sei se para lhe fazer companhia
ou para não fazer merda em casa (não faria, eu era “O” bundão). Pois bem, meus
primos, mais velhos que eu, estudavam à tarde, o que me deixava livre para
ficar pentelhando suas coisas. Eu gostava de escutar os discos que eles
tinham (...)
Continua amanhã.
Não precisa publicar, se preferir. Quando puder vá ao Marreta, vá rolando a barra lateral direita e dê uma olha num novo gadget que pus entre "as mais marretadas" e a "minha lista de blogs". Talvez isso resolva o problema do Blogson não atualizar na minha lista de blogs.
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