segunda-feira, 25 de setembro de 2023

VEM, ASTEROIDE!

 

Já faz um tempo que eu criei a expressão “Síndrome da Divindade Adquirida” para identificar falas e comportamentos equivocados, radicais ou preconceituosos. Os portadores dessa “síndrome” são pessoas geralmente desagradáveis e ignorantes que se arvoram a ser deus, a donas da verdade – como se nos relacionamentos humanos houvesse – ou pudesse haver - só uma verdade (a deles, lógico).
 
Ao longo dos séculos a necessidade de encontrar culpados para fenômenos naturais, cataclismos, tsunamis, terremotos, fome ou epidemias sempre levou as multidões desesperadas ou enfurecidas a caçar bruxas, perseguir judeus e a condenar comportamentos que a “moral” do momento entendesse serem perniciosos, viciosos ou pecaminosos e diretamente responsáveis por qualquer tipo de tragédia que estivesse atingindo a população. E tome histeria, má fé, calúnias, mentiras, preconceitos e superstições, sentimentos na maioria das vezes ancorados em uma interpretação equivocada e literal de textos considerados sagrados e escritos há mais de 2.000 anos.
 
Em minha opinião os fundadores ou formatadores das grandes religiões eram pessoas com inteligência muito acima da média e, depois de muita meditação e reflexões sobre a essência da vida, estavam interessados apenas em passar mensagens edificantes e normas para um convívio harmonioso e fraterno entre aqueles que os seguiam. Mas a ignorância sempre atrapalha ou desvirtua as boas intenções originais. A moral, por exemplo, degenerou em moralismo. A fé pura levou à crendice e rejeição ou condenação do que ou quem era diferente do que se imaginava ser correto. A síndrome da divindade adquirida fez com que muitas pessoas se sentissem no direito de perdoar ou amaldiçoar quem estava de acordo ou contra seus preconceitos.
 
Nunca é demais lembrar que os ensinamentos originais transmitidos oralmente seriam depois registrados, escritos e retransmitidos de acordo com os preconceitos, cultura e entendimento de quem os escreveu. E se imaginarmos a imensa ignorância e desconhecimento de fenômenos naturais ou doenças que atingiam as primeiras comunidades poderemos deduzir que tudo o que fosse diferente das tradições locais e do “senso comum” representavam ou poderiam representar ameaças aos lugares onde se manifestavam.
 
Em outras palavras, a loucura ou demência, a crença em outra fé, a individualidade ou independência de pensamento e comportamentos nunca deveriam ser toleradas, mas proibidas, perseguidas ou punidas. “Você não acredita no MEU Deus? Deve ser por isso que minha cabra morreu. Será torturado ou queimado para se purificar”. (no caso dos queimados o certo seria dizer “pururuficar”). “Ah, você sente atração por alguém do mesmo sexo que o seu? Você não procria nem produz descendentes que possam ajudar a trabalhar a terra. Vai para a fogueira, seu(sua) degenerado(a)!” “Seu povo não acredita na nossa fé e seus pais crucificaram Nosso Senhor? Desgraçado, será torturado para se arrepender desses pecados!” Você é bruxa, fez pacto com o demônio e amaldiçoou nosso povo, nossas colheitas ou nossos rebanhos? Será queimada viva para pagar por seus crimes!”
 
Bom, isso é só um exercício de imaginação, mas existem preconceitos que lembram cometas, pois nunca somem definitivamente, sempre voltam a aparecer. Estava eu posto em sossego, incomodado apenas pelas dores e tristezas próprias da minha idade quando li uma notícia sobre um projeto de lei que tenta ressuscitar um tema que parecia já estar “pacificado”.
 
Eu tinha prometido a mim mesmo não falar mais de política neste blog. Por isso, apenas registrarei o que um bando de idiotas de extrema direita pretende fazer. Segundo a notícia, pretende-se votar um projeto de lei que visa proibir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Acontece que a união estável homoafetiva é reconhecida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) desde 2011 no Brasil! Além disso, em 2013, o Conselho Nacional da Justiça (CNJ) determinou que todos os cartórios do país realizassem casamentos homoafetivos.
 
Parece ser um comportamento comum entre os evangélicos e católicos “xiitas” a condenação do casamento gay graças à interpretação equivocada e literal dos textos bíblicos. E isso vem de longe! “No início do século IV, após se converter à fé cristã, o imperador romano Constantino decretou que a homossexualidade era antinatural, já que o sexo deveria ter por único objetivo a procriação. Ele ordenava a decapitação dos ‘infratores’". É mole?
 
E tem mais: a Peste Negra, transmitida por ratos e pulgas matou 25 milhões de pessoas na Europa no século XIV. Adivinha qual foi um dos motivos que encontraram para explicar a tragédia? “O ‘pecado’ em que viviam os homossexuais foi um dos motivos apontados para o surgimento da desgraça, que seria uma espécie de castigo divino cujas consequências todos, sem exceção, deveriam sofrer”.

Aparentemente, quanto mais radicais, fundamentalistas, sem cultura e ignorantes, mais algumas pessoas precisam acreditar no Deus cruel, punitivo e vingativo do Antigo Testamento. Por isso, é desanimador ler sobre essas barbaridades do passado e perceber seus ecos em pleno século 21 - basta ler este argumento do relator ("coincidentemente" pastor evangélico e filiado ao partido do ex-presidente) para o projeto de lei que se pretende votar: “o casamento representa uma realidade objetiva e atemporal, que tem como ponto de partida e finalidade a procriação, o que exclui a união entre pessoas do mesmo sexo”.

Obscurantismo e preconceito desse nível só me fazem pensar em uma frase que aprendi com meu filho: “A espécie humana é um equívoco da Natureza”. Mas há uma solução definitiva contida na hashtag que criei depois disso: #vemasteroide. Só assim  para acabar com esse tipo de problema!

 

6 comentários:

  1. Você tem razão. No processo de produção do aço as impurezas sobrenadam o material fundido. A isso chamam de escória de alto forno. É assim que eu vejo o bolsonarismo e seus personagens: eles são a escória, a escumalha que se separa da direita. Então é isso, a extrema direita (e também a extrema esquerda) são para mim a escória da política.

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  2. não captei a mensagem, mas tudo bem. Esseste é o texto que disse ser inspirado no seu post.

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  3. O cara que se propõe proibir o casamento de quem quer que seja só pode ter pinto pequeno, ser brocha e corno. Só pode!!!!
    Já os tais formatadores das "grandes" religiões, concordo, eram pessoas com um QIzinho acima da média, mas tb eram esquizofrênicos, pois diziam que Deus falava com eles, através deles, que tinham uma linha direta com o Chefão.
    E o negócio, para mim, é muito claro: se você fala com Deus, você é uma pessoa religiosa; se Deus fala com você, você é um maluco de pedra

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    1. Concordo com tudo o que disse e ri muito com a observação final. Uma das coisas mais engraçada para mim são os 40 dias de Moisés no monte sei lá das quantas. E quando desce, desce com duas lajes de pedra com os dez mandamentos gravados. Para mim o cara gastou os 40 dias entalhando as pedras, só pode!

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