quinta-feira, 14 de setembro de 2023

NADANDO CONTRA A CORRENTE

Como disse o Gilberto Gil, o tempo “passou depressa, como tudo tem de passar”. Pois é. Quando eu tinha uns dezesseis anos, comecei a praticar natação no Cruzeiro Esporte Clube, em sua sede original, localizada no Barro Preto. Eram instalações absolutamente modestas, com piscina de 25 metros, de azulejos quebrados e água esverdeada (na maior parte do tempo). Bem distante da magnificência do Minas Tênis, com sua piscina de 50 metros.

Nessa época (1966 a 1968), a piscina tinha o horário de funcionamento mais improvável que um clube poderia estabelecer, pois fechava às 12h30 aos domingos (!!!)  e às 17h30 nos demais dias. Nos dias de semana havia ainda outra excentricidade: das 13h00 às 15h00 o acesso à piscina e vestiários só era permitida para o sexo feminino. O horário de domingo era o mais odiado, já que éramos obrigados a sair justamente quando a água estava mais quentinha.

Nosso treinador, um sargento da aeronáutica com jeitão de mulherengo (provavelmente era), conseguiu autorização para que pudéssemos treinar aos domingos, após o fechamento do clube. Nem precisa dizer que o treinamento ficou restrito apenas aos primeiros domingos. Depois, o que se fazia era mesmo ficar tomando sol, nadando despreocupadamente, com a piscina e vestiários só por nossa conta!

Um dia, quando a presença de nadadores era 100% masculina, por absoluta falta do que fazer, resolvemos inspecionar o vestiário feminino. Deu-se ali, naquele momento, a revelação – FIAT LUX! – e a "luz" se fez: as portas e paredes dos boxes sanitários eram cobertas por desenhos, palavras e frases obscenas ou de conteúdo sexual, exatamente como no vestiário masculino! Aquela descoberta causou-me o mais puro encantamento: as mulheres diziam entre si o mesmo que dizíamos, nós os homens, uns para os outros!

Não tive dúvida: na primeira oportunidade, contei uma piada obscena para um grupo de meninas. Ante o protesto (light, diga-se) de uma ou outra, argumentei que, se falavam entre si dessa forma, porque não falar com os homens também? A partir daí, primeiro timidamente, depois de forma mais descontraída, passamos a usar uma linguagem menos “vigiada”.

Eu era um "soldado raso" da revolução (liberação) de costumes que estava acontecendo em todo o mundo, e não me dava conta disso! No mítico ano de 1968 eu fiz dezoito anos e essas coisas já faziam parte do meu passado.

Escrito em 29/09/2014

Um comentário:

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