VENHA!

  

Amiga, você sempre manifesta vontade de visitar sua irmã de coração, mas tem medo de incomodar. Pois hoje eu te digo: Venha! Venha sem marcar hora, sem avisar, apenas venha.

Mas não traga flores, biscoitos ou guloseimas, não traga nada, pois você é o presente, a presença que alegrará sua comadre.

Você encontrará uma amiga muito magra, pernas finas, cabelo despenteado, mas não se assuste.

Encontrará também um quarto com uns dez travesseiros, um andador, paninhos diversos, uma zona de medicamentos, cremes e pomadas, mas venha assim mesmo.

Talvez se surpreenda com o lençol sobre a cama; ele está limpo, mas tão manchado de óleo de girassol e pomadas diversas que até lembraria uma vaca holandesa (todos os lençóis estão assim, mesmo depois de lavados. Acho que precisarão ser fervidos para que as manchas sumam), mas releve isso e venha.

Encontrará uma casa limpa e arrumada não pelas mãos exigentes e zelosas de sua amiga, mas por um ogro meio descuidado que tenta fazer não o ótimo, mas pelo menos o bom. Venha assim mesmo.

Recentemente sua comadre fez uma consulta on line com uma psiquiatra, talvez o primeiro passo real para resgatá-la da depressão mais assustadora que eu jamais poderia imaginar ver em alguém. Depois disso começou a fazer terapia presencial com uma psicóloga da linha cognitiva comportamental. Espero que funcione. A proativa, a enérgica, divertida, brava, disponível, solidária e cúmplice Lily está escondida em algum canto, pois deixou que uma menina chorosa, frágil, imóvel, paralisada, cheia de dores, triste, insone, inapetente e deprimida tomasse o seu lugar.

Então, minha caríssima amiga e comadre, precisamos mandar embora essa pirralha chorosa, essa menina inconveniente, para que a mulher linda de quem todos gostam possa voltar. E o que ela está precisando é da companhia de quem a ama. Por isso, eu te digo, peço, imploro: Venha!