Tenho para mim que os gatos - aí incluída a
Cleonice - não têm donos, apenas cuidadores. Os cães, ao contrário, são de um
servilismo, de uma subserviência quase abjeta, tão dependentes são do bicho homem. Estão sempre à
cata de aprovação, de carinho, de atenção. Gatos, não, estão pouco se lixando
para a carência afetiva de seus cuidadores. Sinceramente falando, além da
elegância de movimentos, o que mais admiro nos animais da espécie Felis catus é sua independência.
Já cachorro é um bicho muito carente, sempre
pronto a lamber quem os acaricia, sempre pronto a reconhecer a liderança e
autoridade dos humanos, pouco importando se moram em mansões ou se dormem nas
calçadas em cima de um cobertor ou colchão velho.
Por isso, para mim sinônimo de liberdade e
independência é o gato. Mas há situações em que fico tentado a acreditar que o
espírito de liberdade dos gatos talvez tenha afetado, tenha se incorporado em
alguns membros da família canis lúpus familiaris.
Por que estou escrevendo esta gororoba? Para
registrar o último episódio conhecido da "saga" de um animalzinho que fez meu
coração bater diferente. Um cachorrinho frágil, inseguro e muito bonitinho, que mexeu com a minha cabeça ao ponto de dedicar a ele os posts “Meu Coração É Do Tamanho De Um Cachorro”, “Ele
Voltou” e “Precisando De Banho”. Pois bem, este texto agora é o ponto final, a pá
de cal nessa história.
Que termina assim: Apesar da casinha de
plástico e vasilhas de água e comida continuarem perto da entrada do prédio vazio
onde o cãozinho escolheu se abrigar, eu não mais o via. Todos os dias, passando em frente ao imóvel vazio, instintivamente olhava para aquele ponto que algum vigia escolheu para que ele
se acomodasse. Mas, cachorrinho que é bom mesmo, nem sinal.
Um dia a casinha e as vasilhas também
sumiram. O raciocínio lógico foi pensar que o vigilante que o acolheu e dele
tratou o tivesse levado para casa. OK! Hoje, entretanto, bem cedinho, ao passar
pela ruazinha para ir à padaria, parei o carro para pedir notícias do cãozinho ao vigia que
trancava o portão. E a notícia que recebi foi esta:
- não era um cachorrinho, era uma cadelinha
que virou o xodó de todos os guardas que se revezam para fazer a vigilância do
imóvel vazio;
- tinha realmente medo de carros;
- estava grávida e teve um filhotinho ali
mesmo;
- depois disso foi castrada;
- o filhotinho foi dado para adoção;
- um dia ela desapareceu definitivamente, sem que ninguém saiba o que aconteceu.
Foi aí que eu me lembrei dos gatos. Essa cadelinha era uma senhorinha de aparência ajuizada, não aparentava ser adepta da vida loca que aqueles animais levam em suas andanças noturnas pelos telhados das casas. Mãe zelosa e aflita, talvez tenha saído à procura do filhote retirado de sua proteção. Pode ser... Entretanto, talvez a realidade é que abrigue dentro de si uma permanente e "felina" ânsia de liberdade.
Lembro dela. Tadinha, espero que esteja bem.
ResponderExcluirConfesso que também estranhei a gravidez. Entretanto, por não ter notado que "ele" era "ela", acho plausível a hipótese de que já estivesse grávida quando a vi pela primeira vez, pois o que mais me atraiu "no cachorrinho" foram suas orelhas anormalmente grandes para seu tamanho, além de pontudas (o que a imagem não permite ver), Depois, com suas corridas desabaladas para se proteger atrás das grades do imóvel, nunca prestei atenção nem nunca parei o carro para vê-la melhor. E a questão do sumiço é fácil, pois ela se espremia e passava fácil pelas barras da grade do imóvel, tanto para entrar como para sair. Só sei que agora esse assunto já deu.
ResponderExcluirDe fato, pode muito bem ter sido mesmo isso, ela ter se sujeitado ao contato com o homem em prol da segurança de sua cria, e depois deu linha na pipa.
ResponderExcluirEm tempo : a Cleonice agradece a honrosa menção. Aliás, eu é que agradeço por ela, porque ela, como digna Feliz catus, tá cagando e andando.
Esse é o grande barato dos gatos.
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