domingo, 31 de julho de 2016

COISA DE CRIANÇA

George Bernard Shaw foi um dramaturgo, romancista, contista, ensaísta e jornalista irlandês. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1925. Era também um fantástico autor de frases e aforismos inteligentíssimos. Na web consta ser ele o autor desta frase:
Alguns homens veem as coisas como são, e dizem "Por quê?". Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo "Por que não?"

Bacana, não? Mas não é ele o assunto de hoje. Essa frase genial apenas serve de conexão com o tema do post. Se você admira a criatividade sem limites, se você reverencia quem consegue pensar de forma absolutamente livre, continue a ler este texto. Caso contrário, você só achará que o tema é coisa de criança ou de adulto infantilizado e aí talvez seja melhor assistir uma partida de futebol ou um filme sobre zumbis na TV.


Desde sempre, desde que me entendo por gente (chavão, chavão!), gosto de desenhos animados e histórias em quadrinhos. Quando era criança algumas "autoridades" afirmavam que a leitura de revistinhas (ou gibis, como se dizia) poderia impedir o gosto pela boa literatura contida nos livros. No meu caso, pelo menos essa foi mais uma dessas bobagens ditas de forma solene que se vê por aí. Na prática, tracei tudo o que me caiu nas mãos. E o que aprendi é que algumas histórias em quadrinhos são infinitamente mais inteligentes e criativas que romances escritos por medalhões.

Por que estou dizendo essas coisas? Porque esse é o assunto de hoje. Há muito tempo, penso que o sucesso obtido pelas primeiras histórias em quadrinhos e os primeiros desenhos animados deveu-se ao fato de serem feitos para adultos. As crianças podiam gostar também (e gostavam!), mas as sutilezas, as citações e o humor eram basicamente “iguarias” para adultos.

Meus desenhos prediletos eram o Picapau (Woodpecker), a dupla Tom e Jerry e o Pernalonga. Em seu início, eram personagens totalmente incorretos: o Picapau era quase um psicopata, Tom e Jerry eram puro sadismo e o Pernalonga um mestre da enganação, da falsidade e do estelionato. Depois, foram sendo suavizados e infantilizados. Aí parei de ver.

Mais tarde vieram a Pantera Cor de Rosa (Pink Panther), os Simpsons e os meninos escrotinhos do South Park. Desenhos geniais, engraçadíssimos e totalmente incorretos (o que é ótimo). Às vezes ainda assisto algum desses, mas não tenho mais tanto interesse. Velhice, talvez.

Mas, dias atrás, descobri um novo desenho que honra os grandes criadores e roteiristas dessa área. No Brasil tem o nome de “O incrível mundo de Gumball”. A primeira vez que vi (passa no canal a cabo Cartoon Network), fiquei pasmo com a farra criativa que ele apresenta. Um de meus filhos disse que os criadores deviam estar sob efeito de drogas alucinógenas quando o criaram.

O desenho é de uma simplicidade total e as histórias são bastante bobinhas, mas o aspecto gráfico é alucinante: os cenários, feitos com recursos de computação gráfica, parecem saídos de um programa de decoração, de tão realistas. Isso quando não utilizam fotografias mesmo. Os personagens, entretanto são o máximo do delírio: excluídos os principais, é possível encontrar um Tiranossauro Rex hiper realista conversando com uma nuvem; ou um balão (bexiga) de gás; ou uma impressão digital, ou um floco de neve, ou um amendoim com chifres, ou um sorvete ou...

Cada um desses personagens com uma técnica diferente, com uma textura diferente, com um acabamento diferente. O que se pode dizer de um kit de bateria com problemas respiratórios, que quando tosse faz a caixa (tambor) rufar? Só para dar mais uma pista dessa maluquice divertida, peguei na internet uma relação de personagens e escolhi alguns:

· Gumball: protagonista da série, é um gato azul do sexo masculino, tem 12 anos
· Darwin: peixe de estimação, adotado como filho pela família de Gumball.
· Carrie: uma fantasma deprimida de 12 anos de idade.
· João Banana: uma banana (de verdade, mas com olhos  e boca feitos de massinha de modelar (que é também personagem).
· Masami Clouder: uma nuvem muito sentimental.
· Tina Rex: um Tiranossauro Rex hiper-realista. É a valentona da escola. 
· Teri Pauline: uma ursa feita com papel amassado.
· Tobias Wilson: um arco-íris que estuda no colégio de Gumball.
· Alan: um balão verde (fotografia com olhos de hidrocor) cheio de gás hélio. Outro colega do gato.
· Carmen Cactus: um cacto fêmea que é a paixão de Alan (o balão)·
· Anton Toast: pão de forma torrado (imagem real de uma fatia, com olhos feitos a caneta).
· Sal Left Thumb: uma impressão digital que é um "perigoso" assaltante.
· Enfermeira Lady Angelica: um band-aid. E por aí vai.

Não tenho mais o que dizer, a não ser sugerir que vejam o desenho só para curtir sua criação caótica e seus personagens alucinógenos.


sábado, 30 de julho de 2016

A PRAXE DOS IMBECIS

Este texto foi originalmente postado com o título de NORTON ANTIVÍRUS 2 1/2. Por isso, quem já o leu antes pode parar por aqui. Resolvi divulgá-lo outra vez só para dar sequência lógica aos textos das últimas semanas. Resolvi também abandonar o título do post original.

“(...) eu pareço ter sido apenas como um garoto brincando na praia e me divertindo, de vez em quando encontrando uma pedra arredondada ou uma concha mais bonita que as comuns, enquanto o grande oceano da verdade repousa desconhecido perante mim." (Isaac Newton)


ADOLESCÊNCIA

Tentar viver a partir de experiências relatadas e vividas por outras pessoas é como “aprender japonês em Braille” (Djavan). Mas era isso que eu tentava. Enquanto a vida, esse “grande oceano da verdade” permanecia à minha frente pronta para ser explorada, eu tentava desbastá-la a golpes de “Seleções”. Quem conhece, sabe que essa revista é cheia de “ensinamentos” e lições de vida. Agora, imagine um pré-adolescente lendo essas “lições”. Haja intoxicação! E o pior é que eu queria aprender a viver apenas lendo aquela merda (por exemplo, como beijar uma menina na boca)!!! Para neutralizar isso, só mesmo com a ajuda de um irmão mais velho (acredite se quiser!).

Quando éramos crianças, nosso pai nos tratava super carinhosamente e sempre dizia que éramos os “meninos mais bonitos do mundo”. E, tal como o personagem Alvarenga, do Jô Soares, eu acreditei! Essa crença só desandou no início da adolescência, como se verá. A três quarteirões de distância, ficava o glorioso Ginásio Afonso Arinos, um colégio tão ruim quanto as escolas municipais de hoje. A diferença é que, naquela época, o turno da manhã era reservado ao sexo masculino e o da tarde ao feminino. Como morávamos na rua principal do bairro, o sobe e desce de alunos e alunas era grande.

Um dia, estranhei o desaparecimento do meu irmão, após o almoço. Quando o encontrei, ele estava sentado na varanda da casa, vendo as meninas que se dirigiam ao tal colégio. Ele é quase três anos mais velho que eu. Na época, ele devia ter uns dezesseis, dezessete anos. Sem entender muito bem porque, fiquei ali também. Acho que meus hormônios ainda estavam adormecidos. O fato é que isso passou a ser uma coisa rotineira, diária, tanto após o almoço quanto no final da tarde, hora da saída do colégio. Algumas meninas se entusiasmavam ao passar na nossa porta, chegando até a pular para “nos” ver, por causa do muro existente. E meu irmão lá, imóvel e cheio de si, verdadeira estátua de pavão.

Não sei se não tinha coragem ou se era uma atividade muito, digamos, plebeia para ele. O que sei é que passou a me fazer de mensageiro para saber o nome de alguma menina que o tinha atraído mais. E eu ia, todo pimpão (!!). Mas passei a notar que, sem exceção, as meninas queriam saber apenas sobre ele. Mas como, se nós éramos os mais bonitos do mundo? Desconfiômetro do Paraguai, já viu, né? Esse tipo de acontecimento acabou provocando a revelação: eu não era o mais bonito do mundo, ou melhor, eu era feio pra cacete. Magrelo, cabelo anelado, orelhas desniveladas, narigudo, uma perna torta como um parêntese, sem queixo e mais alguns detalhes eventualmente esquecidos. Em resumo, uma bosta.

Eu não sabia jogar futebol, era pobre, tímido, reprimido, medroso e inseguro (sempre!). Com isso, minha autoestima já não era lá essas coisas. Agora descobrir também que eu era feio e sem atrativos em plena adolescência, que é a época mais insegura da vida, era demais. Só havia um caminho: criar um diferencial que me destacasse. Ou pular de um edifício. Como isso nunca me ocorreu, sobrava a mudança. É óbvio que essas coisas fluíram meio inconscientemente, na base do instinto de sobrevivência.

Eu poderia escolher entre ser intelectual, “alternativo” ou “legal” (“bonzinho”, simpático ou apalhaçado). Acabei optando por tentar ser (ou fingir ser) as três coisas. É óbvio que eu não tinha consciência clara disso na época. Além do mais, esses comportamentos foram sendo adotados progressivamente, como quem veste uma armadura medieval ou uma roupa de astronauta. A função era a mesma: proteger-me do desconforto ou da dor de não me sentir amado. Ou melhor, de não ter o ferramental necessário para ser amado fora do âmbito familiar. Creio que foi aí que surgiram os primeiros sintomas de camaleão. Imagino que a primeira faceta foi a do “gente boa”, até porque eu tinha sido educado para não desobedecer, ser bonzinho, etc. Bela merda, não?

E aí começou a zorra. Pouco a pouco, comecei a adotar comportamentos de acordo com a situação. “Querer ser mais do que valem é dos imbecis a praxe”, diz a letra de uma música do Juca Chaves. E era isso que eu queria: ser ou parecer ser mais intenso do que jamais consegui no dia a dia.

E tome caricatura: precisava ser cara de pau, desinibido? Olha eu lá tentando, eu que sempre fui super introvertido. Tava conversando com gente culta? Abria logo meu baú mental de Seleções, orelhas de livros, cadernos B, e por aí vai. E o engraçado é que às vezes colava. Tempos atrás meu irmão me disse que sempre me olhou com certa inveja, pois eu tinha lido o livro “Sofrimentos de Werther”, do Goethe. Só que eu li obrigado, pois era para trabalho escolar. E o livro era ruim demais! Pelo menos, é o que achei na época.

Mas ele e eu éramos mais ou menos farinha do mesmo saco. Sendo mais velho e odiando (creio) morar naquele bairro, ele sempre me puxou para sair de lá, para fazer coisas que ele entendia ser necessárias, como aprender a nadar ou estudar inglês, por exemplo. O curioso é que apesar de recusar aquela vida de pobreza, ele nunca se escusou de levar colegas para almoçar em casa, o que eu jamais tive coragem ou desejo de fazer (em certos aspectos, eu era muito mais elitista que ele). Querer ser mais do que valem..., já viu, né?


sexta-feira, 29 de julho de 2016

INFÂNCIA F. P.

Eu poderia dizer que o texto a seguir fala da infância de Odorêncio, o único personagem fictício (redundância!) que já criei, mas eu estaria mentindo. Até poderia, feitas algumas adaptações, mas o que se lerá (ou não) a seguir não é um coquetel das lembranças de várias pessoas. É sobre a minha infância. Não tenho nenhuma pretensão de escrever uma autobiografia (acreditem!), até porque nunca tive grandes conquistas, nunca recebi premiações, nunca me destaquei em nada; sou apenas um zé, um zé mané, um zé ninguém, um zé botelho.

Já vi muita gente se auto-coroar, vangloriar-se sem ter motivo nenhum para isso. Eu, ao contrário, sempre me auto-depreciei, nunca me levei muito a sério. Aliás, nunca levo ninguém muito a sério, ou melhor, sempre vejo com alguma reserva as manifestações e comportamentos de gente que se acha “O” fodástico.

Ninguém (as pessoas inteligentes, pelo menos) nunca tem certeza de nada! Então, para que subir em um tijolinho, em um pedestal? Só se for para ser “coroado” pelos pombos. Então, o que me fez embarcar nesse tipo de texto foi o desejo de deixar para meus filhos um retrato - severo, talvez, mas sincero - de seu pai, caso algum deles um dia precise fazer terapia (parece maluquice, mas esse pensamento é real).

Então, para que tornar público um assunto tão pessoal? Quer saber a verdade? Não sei. Não sei mesmo, por mais ridículo que isso possa parecer. Por exibicionismo? Pelo desejo incessante de me sentir amado? Desabafo tardio? Parece contraditório com o que eu disse antes? Pode ser. Pode ser...



Quando eu nasci, creio que meu pai e seus irmãos já haviam quebrado (se alguém se lembrar, essa frase iniciava o "livro de Odorêncio").  Morávamos na casa de minha avó materna, juntamente com oito tios e tias solteiros. Provavelmente, o que não faltava eram proibições e regras. Afinal, duas crianças (eu e meu irmão) contra doze adultos era covardia. Éramos pobres, sem nos dar conta disso, exceto quando confrontados com nossos dois únicos primos por parte de mãe. Eles, as únicas crianças com quem podíamos brincar, eram ricos de nascença, tinham brinquedos incríveis, bicicletas, passavam as férias na praia ou em estâncias hidrominerais. E nós lá, só olhando – e babando.

Que tal ir à Praça da Estação para nos despedir deles em uma de suas viagens para o Rio? Bom, né? Que tal ser convidado a entrar no Vera Cruz, que era o melhor trem de passageiros da época (com ar condicionado e tudo mais), só para conhecer a cabine onde os primos viajariam (deitados, claro, em camas beliche)? Excelente, não? Pois é, eu já fui levado a um ou dois desses bota-fora, à noite. A volta para casa sempre tinha um gostinho de fundo de gaiola.

Nem é preciso dizer também que não podíamos sair sozinhos de casa (na nossa rua passavam bondes!), nem jogar bola com a molecada que morava nas proximidades, nem qualquer coisa que uma criança pode e quer fazer. Com essa repressão toda, sempre haveria a chance de alguma coisa dar merda. E, claro, deu. Apesar do montão de gente que morava na casa da minha avó (o que foi resolvido com a construção de sucessivos barracões ou “edículas”, segundo um antigo e pedante colega), havia um cômodo da casa que era utilizado como despensa. Na prática, era um quarto cheio de tralhas. A porta não tinha chave e era fechada por dentro com uma tramela ou taramela.

Pois bem, talvez movido pelos exemplos paterno, dos tios e do meu avô, um dia tranquei-me nesse cômodo com uma caixa de fósforos e uma folha de papel de caderno, disposto a fumar um cigarro. Ao contrário da letra de música (“vou apertar, mas não vou acender agora”), acendi sem apertar. Creio que a excitação do proibido fez com que eu enrolasse muito mal o papel (que era só papel mesmo). Assim, depois de acendê-lo preso à boca, tal como via os adultos fazer, foi só aspirar uma vez que a chama imediatamente queimou meu nariz e meus cílios, chegando a “sapecar” meus cabelos. O estrago só não foi maior porque eu já tinha a testa grande e a chama não foi capaz de vencer essa distância (se a testa fosse menor, eu seria um predecessor do Michael Jackson). O fato é que caí no berreiro, mas até me lembrar de abrir a tramela, já tinha deixado o pessoal meio assustado.

Mas há outra lembrança que, essa sim, está na linha deste texto. Um dia, quando meu irmão já estava autorizado a sair sozinho pelas proximidades, fui com ele a algum lugar. Ao passar perto de dois meninos que discutiam, ouvimos um deles soltar um “filho da puta!”. Aquilo me mesmerizou, hipnotizou, pois era uma expressão tabu. Virei para meu irmão e disse “você viu o que o Alvinho falou? Ele disse F.P.!!!

Olha que coisa ridícula e hipócrita!, eu nem sonhava saber o significado de “puta”, mas sabia que aquilo era um palavrão. Se eu tivesse ficado calado, tudo bem, mas sempre me lembro e me impressiono com a hipocrisia e a carga de repressão sobre uma criança de sete ou oito anos contidas nesse episódio.

Se eu parar para pensar, posso até sorrir – meio contrafeito – das lembranças mais remotas que tenho, mas no duro, no duro, sempre chego à conclusão que minha infância foi uma bela merda. Morávamos em um bairro de classe média baixa, perto de dois campos de futebol de várzea. Quando fui autorizado a sair sozinho de casa, era para lá que me dirigia. A meninada da redondeza também ia para lá, que era o lugar ideal para se jogar “finca” e bolinha de gude, soltar papagaio e, naturalmente, jogar futebol.

Sendo muito tímido e inseguro, era às vezes alvo de gozações e ameaças dos meus “amigos”. Afinal, a partir dos seis, sete anos, eles já vagabundeavam por ali sozinhos, livres, o dia todo. Ou seja, eles tinham quatro anos a mais de malandragem que eu e não tinham hora para voltar pra casa. E isso fazia enorme diferença: eram muito mais hábeis nos jogos de finca e bola de gude, faziam papagaios que voavam (nunca consegui fazer um papagaio que voasse decentemente. Quando queria soltar, tinha de comprar de um senhor que ia lá aos sábados e domingos, durante os jogos de futebol dos adultos) e eram craques nas peladas disputadas com bolas de plástico ou borracha.

Esse, aliás, é um caso à parte. Um dia meu irmão ganhou de presente uma bola de couro. A partir daí sempre éramos convidados a jogar futebol. Para equilibrar, meu irmão ficava em um time e eu no outro (éramos péssimos!). Normalmente, me empurravam para o gol, para não atrapalhar. Bastava algum menino de fora chegar com outra bola de couro, que os times eram imediatamente refeitos e a bola devolvida ao meu irmão. Como ele não iria mais jogar (pois teria que tomar conta de sua bola), eu era “educadamente” impedido de participar, exceto nos casos excepcionalíssimos em que alguém saía antes do jogo terminar. A partir de algum tempo, passei a odiar futebol.

A médio prazo isso foi até bom, pois fez com que eu progressivamente me afastasse dessa molecada. Como morávamos na parte mais pobre do bairro, meus companheiros eram igualmente pobres, filhos de gente humilde, de baixa extração social, econômica e cultural. Muitos eram repetentes, outros pararam de estudar ainda no antigo primário ou após sua conclusão. Como morei lá até me casar, pude ver em que se transformaram: um virou fotógrafo de batizados e casamentos, outro enlouqueceu, um foi morto no início da adolescência, vários se tornaram apenas desocupados, encostados nas portas dos bares. Nenhum continuou os estudos, nenhum fez faculdade.

Aliás, só um, que passou sete anos fazendo literalmente nada, depois de formar-se no primário. Esse cara não era cem por cento normal. Na infância, ao saltar de um bonde em movimento meteu a cabeça no poste. Essa era a explicação dada para suas excentricidades. Curiosamente, ele e eu éramos fãs de história antiga (greco-romana) e conversávamos horas sobre isso. Eu já estava na faculdade quando ele resolveu estudar de novo. Fez um ano de madureza (supletivo) e passou no vestibular de Física. Depois de formado, começou a dar aula, mas não deve ter conseguido ficar sem discutir com os colegas e diretores das escolas onde trabalhou. Acabou montando uma turma de aulas particulares. Um dia vi seu retrato no jornal; tinha sido assassinado por um segurança em um evento qualquer, durante uma discussão.

Alguém poderá perguntar o que eu fazia no meu tempo livre, principalmente depois de me afastar dos companheiros. Eu lia. Minha tia comprava coleções de livros que, acredito, nunca leu. Penso que eram decorativos e davam a ela certo status, com suas lombadas coloridas e títulos em letra dourada. O que sei é que li pra caramba. E tinha muita coisa boa, clássicos mesmo.

Além desses livros, li também um baú inteiro de “Seleções do Reader’s Digest” deixadas por meu tio depois que se casou. Não me lembro da periodicidade dessas revistas, mas as primeiras eram de 1942 e as últimas de 1956 ou 1958, sei lá. E eu li tudo, de cabo a rabo (exceto a seção “Enriqueça seu vocabulário” do Aurélio Buarque).

Já viu que um menino preso, tímido, inseguro e leitor de “Seleções” não seria grande coisa na adolescência, certo? Pois é...

(Caso alguém se interesse em saber, esse texto seria encaixado na "saga" Norton Antivírus, imediatamente antes do post "NORTON ANTIVIRUS - PARTE 2½").

quinta-feira, 28 de julho de 2016

KARMA, QUE EU EXPRICO

O texto original deste post era "Arqueologia". Sinceramente, além de mais elegante, eu acho que esse nome seria mais adequado ao seu conteúdo. Mas meu karma é utilizar títulos idiotas e ridículos. Daí...


O Evangelho de São João inicia-se com essa frase: “No princípio era o Verbo...” (João 1, 1). Quando eu era bem pequeno, minha avó materna e minha mãe ajoelhavam-se em frente ao rádio, na “Hora do Angelus”, para rezar. Às vezes me colocavam também de joelhos e o locutor (creio) com a voz empostada e meio anasalada dos locutores de antigamente, começava assim o programa: “No princípio era o Verbo e o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.

No meu caso, poderia dizer que "no princípio era o Substantivo". E um substantivo com uma sugestão de sobrenome cristão-novo danada de suspeita. Em sua carta ao rei de Portugal, Pero Vaz Caminha escreveu:

“E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, estando da dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho (...)”.

Olha só, uma planta aquática flutuando segundo o movimento das ondas, provavelmente com um bulbo em uma das pontas, tipo aguapé (talvez daí o nome botelho ou botelha – garrafa. Em espanhol, botella). Já viu que com esse nome, desde 1500 estava traçada a linha mestra da minha vida, né? Viver “ao sabor das marés”, boiando sempre, sempre superficial.

Sem me lembrar dessa carta, um dia me ocorreu que eu me comportava como uma rolha na correnteza, que vai aonde as águas a levam. Com isso queria dizer que me comporto com a maioria das pessoas tal como imagino que gostem de ser tratadas: brincalhão com pessoas alegres, avacalhado e desbocado com pessoas assim, falsamente atencioso com pessoas humildes, circunspecto e respeitoso com idosos (epa!, já cheguei lá!), fingindo ter cultura para os que demonstram maior preparo intelectual, ou seja, um verdadeiro maria-vai-com-as-outras. No duro, no duro, um sujeito amorfo, invertebrado emocionalmente, de personalidade fluida e escorregadia.

Para compensar essa personalidade flutuante, tentei justificar para mim mesmo que é mais fácil eu entender as pessoas que elas a mim. Mais presunção, impossível, concordam? O problema é que de tanto me camaleonear, acabei sem saber exatamente o que sou.  Mesmo sem ser poeta, acredito que a mim bem que se aplicariam esses versos do Fernando Pessoa:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Mas porque, repito, essa necessidade de confessar publicamente as próprias fraquezas e mazelas? Para entender isso – além de servir de fonte de consulta para uma eventual terapia de algum de meus filhos – só voltando um pouco ao passado. Freudiano, não?

quarta-feira, 27 de julho de 2016

ZEZIM

A partir dos cinquenta anos comecei a pensar um monte de bobagens que refletiam minha perplexidade e preocupação com o avanço da idade (ainda que eu não quisesse reconhecer). Achei que seria interessante deixar esses pensamentos para meus filhos, não para que servissem de atalho para eles, mas para que pudessem - se esse fosse o caso - servir de subsídios para uma futura e hipotética terapia de algum deles. Mostrando-me de forma mais crua e sincera, imaginei que isso poderia servir de bibliografia para o terapeuta.

Assim pensando, escrevi alguns textos que nem sei mais se mandei para eles por e-mail. Nesses textos, de forma sequencial, fui falando de minha vida desde a infância, de forma pouco condescendente e tolerante. Afinal, se eu queria que isso servisse para eles, não tinha sentido varrer a poeira para debaixo do tapete. Depois, com a ideia do livro inacabado, achei que poderia usar esses textos para dar corpo à história, desde que omitisse os nomes escritos no original. Também desisti da ideia.

Mas, quando presentes em uma mesma personalidade, a insegurança e a vaidade podem resultar em uma mistura indigesta, tóxica, quase letal. E o nome dessa mistura é exibicionismo. Não aquele em que o sujeito abre o casacão em plena rua e faz "tcharã!", mas um exibicionismo (pseudo)intelectual. Por isso, a partir de agora, semanalmente(*), será postado um desses textos, na mesma ordem em que foram escritos um dia. Se ninguém gostar, paciência. Pelo menos, os eventuais terapeutas poderão dar uma lida, se acharem pertinente a ideia. Vamos lá.
(* não mais semanalmente, diariamente).


ZEZIM
Este texto – assim como os próximos e outros já escritos e divulgados – é mais ou menos um acerto de contas comigo mesmo. Não é um texto para provocar risos. Eventualmente, pode até ser considerado engraçado, mas o será mais pelo ridículo dos fatos nele descritos. Alguma ironia porventura existente será fruto apenas do hábito (“o hábito do cachimbo faz a boca torta”, diz o ditado). Mas é justo perguntar por que alguém quereria expor seus defeitos, suas fraquezas e mazelas assim, publicamente. Exibicionismo, talvez? Necessidade de ser amado apesar dos inúmeros defeitos e fraquezas?  Vá saber...

Uma coisa eu posso afirmar: sempre desdenhei o senso comum, sempre vi com suspeita a “sabedoria popular”, sempre me incomodaram as convenções sociais, pelo simples fato de explicarem apenas o homem mediano, os sentimentos medianos e os comportamentos medianos (ou medíocres, como bem definiu meu amigo Pintão). Por exemplo, quem disse que um velho tem que ter um comportamento senhoril, circunspecto, austero?

Por outro lado, se o coitado resolve ser apenas ele mesmo, corre o risco de ser chamado de gagá, safado, sem noção, esclerosado, inconveniente e por aí vai. Bom, eu sempre pensei que as coisas não deveriam ser assim, nivelando pessoas e sentimentos que não são necessariamente nivelados.

A partir dos cinqüenta anos passei a refletir sobre o sentido da Vida (ou sua falta de). A perplexidade aumentou depois da aposentadoria. Talvez pela sensação de “e agora, o que eu vou fazer com tudo que batalhei para aprender"?

Bom, creio que vocês também poderão sentir isso um dia, quando tiverem a idade que tenho hoje. E se tiverem as mesmas inquietações e perguntas, poderão talvez se lembrar de um dia ter lido as minhas viagens mentais. Não que isso sirva de alerta ou consolo, mas verão que coisa estranha é envelhecer.

Como disse o Paul Simon em sua música “Old Friends”: “How terribly to be seventy!” (bom, no meu caso, ainda faltam dez anos (hoje, apenas quatro), mas a sensação de estranheza é a mesma). Por conta disso, em mais uma surfada na maionese, em sua versão kosher (daqui a algum tempo essa expressão precisará ser explicada, pois ninguém saberá de que se trata), ai vão algumas tijoladas.

Se alguém quisesse me entender e saber como eu me sinto, deveria prestar atenção em alguns poemas ou letras de música. Como esses versos, por exemplo:

Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim

E, se quiserem saber, eu fui uma criança reprimida, um adolescente inseguro e tornei-me um adulto perplexo. Então,  nunca tive certezas absolutas sobre coisa nenhuma.
(texto escrito em 2010)



terça-feira, 26 de julho de 2016

O CANGURU E A TOCHA

Eu tinha prometido a mim mesmo não fazer mais nenhum post novo enquanto não liberasse os já existentes, mas, depois da "voadora" que alguém da delegação australiana deu no prefeito idiota do Rio ao dizer que "Não precisamos de cangurus, precisamos de encanadores", não resisti. E nem quero falar da esculhambação e sujeira encontrada na entrega dos alojamentos que serão (seriam?) ocupados pelos atletas.

Meu assunto é o percurso da tocha olímpica, mais uma idiotice para deixar constrangidos os brasileiros com um mínimo de bom senso (que outro país estabeleceria um trajeto que passa por mais de trezentos municípios e por todos os estados da federação?). 

Depois de ler e ver notícias sobre o deslocamento da tocha olímpica rumo à cidade que tem uma paisagem maravilhosa (só a paisagem é maravilhosa. E não fui eu que disse isso!), resolvi tentar entender um trajeto que lembra alguém muito bêbado procurando achar o caminho de volta para casa, a pé (até as quedas ocorridas reforçam essa ideia).

Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Se isso é verdade, o mapa que mostra de forma simplificada o trajeto da tocha olímpica pelo país seria auto-explicativo, mas vou dar mais uma ajudinha, com um título que me ocorreu:

"A Tocha Desgovernada”.






segunda-feira, 25 de julho de 2016

TORNADO!

Depois de ler uma notícia sobre um tornado que arregaçou uma cidadezinha do Rio Grande do Sul, fiquei pensando naqueles tornados gigantescos que ocorrem nos Estados Unidos, capazes de levantar carros e até caminhões, arremessando-os à distância. Aí me ocorreu essa piada idiota. Vê aí.




domingo, 24 de julho de 2016

EU ERA FELIZ E NÃO SABIA

Cada vez que os programas jornalísticos da televisão trazem alguma notícia que sai da média de desgraças, catástrofes, violência e horror que recebemos diariamente, meu coração se aperta um pouco mais. É o caso da destruição de ruínas históricas promovidas pelos psicopatas do EI ou da auto-explosão de fanáticos em aeroportos e outros lugares públicos. Nessas horas eu penso que a raça humana já tem seu destino final traçado.

Eu sei que isso (ainda) é uma utopia ou paranoia, que estou sendo muito (mais) ingênuo e ridículo ao dizer essas bobagens, mas faço uma pergunta simples para cada um dos 1,3 leitores (o outro está sem computador): há dez ou vinte anos atrás, se alguém fizesse uma previsão para os dias de hoje que fosse minimamente semelhante ao que realmente estamos vivendo e vivenciando, o que você pensaria? Provavelmente, classificaria uma previsão tão pessimista como irreal, distópica.

No mundo todo, sob qualquer ponto de vista, eu me arriscaria a dizer que os dias de hoje são uma distopia imaginada apenas por algumas poucas pessoas tempos atrás. Porque está barra.

Eu penso nos partidos políticos existentes ou em processo de criação, penso no PT, no PMDB, no PSDB, nas mentiras, nas negociatas, na corrupção endêmica, na ignorância, na miséria, no clima cada vez mais hostil, no aquecimento global, na falta d'água, na barbárie, na intolerância e obscurantismo religiosos e fico triste, sinceramente triste, desesperançado. Penso nos meus filhos, penso em que tipo de mundo eles viverão quando tiverem a minha idade - e me angustio.


Quando nossos filhos mais velhos estavam ainda no jardim de infância, eu disse à dona da escola (que também era psicóloga) que minha única expectativa era que eles fossem felizes, sempre e para sempre felizes. Recentemente assisti no Youtube a uma palestra muito boa de um professor de quem nunca tinha ouvido falar. Clóvis de Barros Filho é seu nome. Gostei tanto que transcrevi (literalmente) estas frases:

A felicidade é um instante de vida que você gostaria que durasse um pouco mais. A vida é boa quando você torce para ela não acabar. Na maior parte do tempo, a gente torce para alguma coisa acabar: torce para o dia acabar, torce para a semana acabar, torce para... Sem perceber, a gente torce para a vida passar rápido. E a felicidade é o contrário disso. A felicidade é quando você torce para não acabar, é quando você lamenta o final do dia, o final de alguma coisa que está fazendo. A vida vale a pena quando você torce para ela não acabar.

E é aí que eu queria chegar: embora minha vida esteja relativamente tranquila, depois de ver e ouvir notícias que me causam tanto espanto, repulsa ou horror, eu me deprimo, entristeço-me pensando no povo brasileiro e em todos os que sofrem e são perseguidos ou assassinados pelo mundo afora. E bate um desejo vago de estar morto, porque o mundo, a vida atual, nada disso parece valer a pena. Nessas horas, sem nenhum saudosismo, eu constato que viver, que estar vivo já foi uma coisa boa, prazerosa. E me lembro de um samba antigo que dizia:

Eu era feliz e não sabia.

sábado, 23 de julho de 2016

O CORRETO USO DO PAPEL HIGIÊNICO - JOÃO UBALDO RIBEIRO

Houve um tempo em que lia suas crônicas publicadas em jornal e sempre me divertia com elas. Mas, embora exista um livro dele aqui em casa, ele ainda está virgem para mim, pois nunca tive saco para lê-lo. Por isso, sou uma das últimas pessoas em condições de falar alguma coisa de João Ubaldo Ribeiro, exceto que ele era pai do Bento Ribeiro, ótimo comediante, ex-MTV.
Bom, não quero me estender muito sobre o baiano (nem ele precisa de meus comentários). Por isso, recorri novamente à internet para achar algum texto bacana e achei o que parece ser a última crônica escrita por ele.
Esse texto de nome ridículo é, na verdade, uma excelente crítica ao comportamento politicamente correto, à intolerância e à idiotice que infelizmente têm vicejado cada vez mais nesse nosso país, provando que, sem controle, as pragas e ervas daninhas sempre tentam expulsar uma boa cultura já existente. Vamos lá.


O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente.
Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3,28%, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de TV.
Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores.
Nos banheiros domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória.
Nos casos de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.
Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito.
Por que os brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas.
O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o Estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.
Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. 
Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente.
Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica.
Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.
Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social.
Não parece estar longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros.
Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide.
Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se. 

sexta-feira, 22 de julho de 2016

HEIL!

- E aí, Du, beleza?

- Tirando o que tá ruim, o resto está ótimo.

- É um filósofo! Continua na base do oito ou oitenta?

- Que nada, cara, não estou pegando ninguém...

- Como é mesmo essa história?

- Pra me zoar, meus colegas diziam que comigo era assim, de oito a oitenta, em peso ou idade, eu traçava.

- Muito boa!

- Mas isso é sacanagem. Minha faixa mesmo é dos dezoito aos cinquenta. Em idade!

- Pô!!! Isso mostra que você é um cara muito seletivo!

- É claro que eu sou!

- É, eu estou vendo... Mas, mudando de assunto, continua votando no PT?

- Não, cara, desencantei.

- Alguém já disse que "Se um homem não é de esquerda aos vinte anos, ele não tem coração. Se ele não é de direita aos quarenta, ele não tem cérebro."

- Pô, genial!

- Essa é uma tradução livre de uma frase atribuída ao Churchill, mas parece que ele teria feito referência aos partidos políticos da Inglaterra.

- Cara, você é bom mesmo em cultura inútil!

- Basta ler um pouco e ter interesses que não sejam só futebol, cerveja, cachaça, pombo e barangas. Não necessariamente nessa ordem, claro...

- Acho que essa frase que você disse tem tudo a ver comigo. O Dênis, por exemplo, tá parecendo nazista...

- Dênis?

- É, pô, meu soldado... Eu chamo ele de Dênis!

- Dênis... Puta que pariu!... Mas, por que "nazista"?

- Agora, quando tá na hora dele fazer continência, em vez de "levar a mão à testa", o máximo que ele faz é apontar pra frente. Só falta falar "Heil"!

- Cara, acho que é por essas maluquices que você diz que te chamam de Du Doido!


quinta-feira, 21 de julho de 2016

VIRA-LATA

Minha nora diz que por eu não gostar de futebol, não tenho como entender a paixão provocada por ele. Pode ser. O que sei é que há um cachorro apavorado que sempre tenta se esconder debaixo da mesa onde fica o computador, traumatizado pelo barulho de centenas de foguetes que alguns idiotas gostam de soltar em dias de jogo no estádio do Independência, próximo o suficiente para enlouquecer um cachorro bacaninha e sem noção.

Por isso, fiquei pensando que os fanáticos de qualquer time devem ser pessoas complexadas, mal amadas, mal resolvidas e com auto-estima baixa. Resumindo: devem ter complexo de vira-lata. Não estou querendo ofender ninguém ao dizer isso, mas vejo uma ponta de irracionalidade e muito recalque nessas comemorações.

Um exemplo desse complexo de vira-lata aconteceu durante a festa de um casamento onde fomos convidados. Imagino que a recepção (muito boa, diga-se) foi bancada pela noiva já meio velhusca. Pois bem, ela é torcedora de um time mineiro e o marido comprado (perdão, saiu sem querer) torce para o arqui-rival. A certa altura da festa, o noivo toma a palavra e diz que fará uma homenagem. Na hora, achei que a pessoa homenageada seria a noiva e até fiquei com boa impressão do gigolô (perdão, de novo), a quem não conhecia. Que nada! O homenageado foi o pai do insensato. E qual foi a homenagem? Um bando de malucos cantando o hino do time do coração de pai e filho. E a noiva, coitada, com aquele sorriso forçado e cara de vaca.

Pensem bem, o que tem um casamento com um "grito de guerra” esportivo? Tudo bem que o noivo iria depois entrar com bola e tudo, mas isso é outra história. Fiquei pensando que falta de gosto (do noivo), de gentileza (com a noiva), de bom senso e de classe estava acontecendo ali.  A festa era para comemorar a união do casal, mas o que se viu e se ouviu foi uma provocação à noiva e aos convidados que torcem por outros times. Uma verdadeira baixaria. E o barulho de latas de lixo sendo reviradas.


quarta-feira, 20 de julho de 2016

INCIDENTE EM ANTARES - ÉRICO VERÍSSIMO

Acabei hoje de ler o romance "Incidente em Antares" do Érico Veríssimo. Esse livro foi comprado depois de ser uma das obras indicadas em algum vestibular que algum de nossos filhos fez. Essa imprecisão é proposital, para indicar meu total desinteresse em lê-lo algum dia, talvez porque há um bom tempo tenho evitado ler obras de ficção. Talvez por perceber que a realidade pode ser muito mais louca que um enredo imaginado por alguém.

Alguns dias atrás, tentando arrumar espaço para outro livro que tinha acabado de ler, comecei a mexer na prateleira onde o "Incidente" estava esquecido (aqui em casa, por conta do TOC que eu e minha mulher temos, os livros nas estantes são organizados por ordem de tamanho - e as roupas dos armários por cor e por modelo). Comecei a folhear o livro com alguma má vontade, mas li um trecho que despertou minha curiosidade. E aí embalei.

Sinceramente, talvez por minha resistência atual aos romances, posso dizer que gostei bastante, mas não o suficiente para ficar babando de admiração e prazer, pois não houve encantamento suficiente para isso. A ideia central é espetacular, o início e o final do livro são bem legais (o início é melhor), mas o meio, justamente o desdobramento do "incidente", é muito arrastado e até chato. As soluções narrativas adotadas (embora muito superiores) lembram a simplificação feita nas novelas das oito da Globo, porque se a ideia central dos mortos que decidem exigir seu sepultamento é magnífica, a costura de suas histórias particulares soa forçada e artificial.

Posso até estar dizendo uma heresia, pois não sou crítico literário nem fiz Faculdade de Letras. Afinal, se o livro que acabei de ler é a 38ª edição e foi impresso em 1988, nem imagino em que edição estará hoje. A grande vantagem é que este blog é meu e posso exibir toda a minha falta de cultura e dizer as bobagens que quiser. E se esta seção destina-se a divulgar alguns textos que me agradaram, sejam eles de autores consagrados ou não, este livro merece minha reverência. Ainda mais por ter sido escrito pelo pai de meu ídolo Luis Fernando Veríssimo.

A praxe seria transcrever algum trecho que se destacou mais. Neste caso, farei de outra forma. Durante a leitura do livro, surpreendi-me com três trechos que me fizeram lembrar de coisas que escrevi aqui no blog. Aí resolvi associar cada trecho com o post onde identifiquei alguma sintonia. No duro, no duro, um caso explícito de presunção descontrolada. Como desculpa, posso dizer que estou fazendo propaganda de posts com baixíssima visualização (teria de fazer do blog inteiro!). Bora lá:


TRECHO DO “INCIDENTE”: (...) cada um de nós tem nas suas mais remotas cavernas interiores um troglodita adormecido que, submetido a um certo tipo de estímulo, vem rapidamente à tona de nosso ser e se transforma num déspota totalitário capaz de todas as bestialidades. E nunca faltará um falso humanista para inventar uma teoria filosófica com o objetivo de coonestar todas as monstruosidades cometidas pelo “homem das cavernas”. (...)

POST “EVA MITOCONDRIAL”: Embora os criacionistas não aceitem essa ideia, nós homens somos apenas primatas com cérebro mais evoluído (e só o cérebro). Esse mesmo cérebro que ajudou-nos a superar nossas flagrantes deficiências diante de outros predadores (nem sempre, é verdade) e que ajudou-nos a disputar com vantagem o alimento nos primórdios da evolução, fez surgir em nós a soberba, a crença de sermos “imagem e semelhança”, etc. etc. Mas, se pararmos para pensar, às vezes temos comportamentos que em nada envergonhariam ou constrangeriam outros animais.


TRECHO DO “INCIDENTE”: (...) Claro, muitas vezes tenho as minhas dúvidas. Não faz muito atravessei um período de tão forte crise espiritual que escrevi uma longa carta a um monsenhor que admiro e estimo, contando-lhe tudo. Usei nessa carta confessional a expressão: “sinto que minha fé está presa apenas por um fio”. Sabe o que ele me respondeu? Que se regozijava por saber que a coisa era assim, pois não confiava muito nas chamadas “fés inabaláveis” dessas que julgam poder deslocar montanhas. São demasiadamente teatrais para serem profundas - escreveu o monsenhor. “O fio que prende a sua fé deve ser do melhor aço e portanto resistente e ao mesmo tempo flexível. Fé sem flexibilidade, fé sem dúvida pode acabar em fanatismo." Terminou a carta assim: "Reze a Deus, peça-lhe para que faça esse fio resplandecer sempre na Sua luz".

POST “MATRIX”: Li tudo o que pintou na minha frente sobre seitas e religiões. Continuei a ir à missa, mas fui também a centros espíritas e terreiros de umbanda, sempre atrás do transcendente, até que a mente saturou de tudo. Aí me afastei por alguns anos da igreja e parei de pensar nessas coisas, até a época do nosso casamento, quando, em um curso de noivos magnífico, com duração de uma semana, confessei e comunguei de uma forma inesquecível e emocionante, mergulhando a hóstia no vinho. Ao confessar-me, contei ao padre (Leonardo) sobre toda essa inquietação. Dele ouvi que eu estava em um momento muito bonito de minha vida e que era mais religioso que ele (!!!).

(...) Apesar disso, sentia que minha fé era (e é) como a chama de uma vela: bastava um ventinho de dúvida soprar, que ela bruxuleava, quase se apagando. Durante as leituras, eu ficava refletindo sobre o que lia e ouvia, discordando ou descrendo de muita coisa, especialmente de textos do Antigo Testamento.


TRECHO DO “INCIDENTE”: (...) um ser humano não é uma moeda apenas, com verso e reverso. É um poliedro, com milhares de faces. E há milhares de maneiras de ver uma pessoa, um ato, um fato. Você no fundo é tão maniqueísta e religioso quanto D. Quita, que acredita na moral absoluta.

POST “POLIEDRO”: Por conta dessa sensação, fiquei matutando que não somos mais tão diferentes dos homens das cavernas. Pelo contrário. O mundo, para eles, era do tamanho de sua percepção, obtida apenas com o uso dos sentidos; todo o resto era apenas interpretação e fantasia.

E aí surgiu a ideia do poliedro. Depois de milhares de conquistas culturais e tecnológicas que nos tiraram definitivamente das cavernas e outros abrigos naturais, tenho a sensação que estamos (talvez já tenhamos chegado lá) voltando à situação em que só podemos ter certeza do que está no raio de alcance de nossos sentidos.  Viveríamos dentro de uma bolha de realidade, cercada de incertezas por todos os lados.

Mas onde entra o tal poliedro? Bom, a tal bolha só poderia interagir com outras tantas ao tangenciá-las, ao "quicá-las" igual em um jogo de sinuca. Só um ponto de contato? A imagem não era boa nem prática. Pensei em um cubo. Já dava uma interação legal, mas ainda estava meio limitado. Aí me ocorreu a ideia do poliedro, com muitas faces para seu ocupante interagir com os ocupantes de outros poliedros, cada face servindo para transmitir a realidade de cada um. A tal bolha seria um poliedro de realidade. Meio louca essa "teoria", não?

terça-feira, 19 de julho de 2016

WALTER EGO

Antes de criar o Blogson, fiquei dividido entre duas opiniões diametralmente opostas. Um dos meus filhos me incentivava a criar um blog para colocar as coisas que escrevo, as coisas que gostei de ler, enfim, essa viadagem que se encontra em um blog qualquer (creio que ele tentava livrar-se dos e-mails que recebia). Curiosamente, outro dos meninos foi quase enfático ao dizer que eu não deveria fazer isso, porque "é complicado de mexer", etc.

Como sou inseguro de nascença, fiquei cismado. Aí, lembrei-me da época em que meu pai (que também gostava de escrever) me dava seus textos para ler, coisa que era mortal para mim, porque os textos dele eram muito estranhos. Misturavam informações técnicas sobre cimento com aquelas ironias meio depressivas sobre outras coisas (mais ou menos como eu faço), o que provocava um efeito frankenstein lascado.

Por conta disso, fiquei pensando se, com o blog, não provocaria o mesmo resultado nos parcos leitores que conseguiria atingir (nisso, eu não errei). A vantagem do blog é que não seria objeto de leitura compulsória, só leria quem quisesse (quase ninguém, a indiscutível realidade).

Há muito tempo eu tento guardar tudo o que me vem à cabeça (como se essas bobagens fossem a maravilha das maravilhas). Para mim, o motivo seria bem simples: eu tenho mania de juntar coisas, colecionar. Além disso, tenho predecessores ilustres. O Charlie Chaplin também não jogava fora nenhuma ideia que lhe ocorresse. Registrava tudo e, no momento oportuno, utilizava em algum de seus filmes. É o caso da cena da “dança dos pãezinhos”, utilizada no filme “A Corrida do Ouro”, que foi primeiro filmada em um jantar, se não me engano. E ele lá, de smoking, todo elegante, sem a caracterização do vagabundo.

Há também o exemplo do Léo Jaime. Em uma entrevista bem antiga (bota bem nisso), ele contou que andava sempre com um gravador e um bloco de notas (não, ainda não existia smartphone nem tablet). Se pintasse uma melodia, ele gravava; se surgisse uma letra, ele escrevia.Na companhia de gente tão importante, eu achei que funcionaria também comigo. Mas não é bem assim. 

Eu sempre tento escrever textos leves, bem humorados e até gosto de algumas coisas que escrevo, mas isso passa bem longe do que se conhece por literatura. Ou seja, eu até acredito que escrevo melhor que boa parte das pessoas, mas isso não significa nada em um país de tantos analfabetos funcionais.

Então, um bom apelido para este blogueiro que aqui divaga seria (com a licença do Angeli) Walter Ego.



segunda-feira, 18 de julho de 2016

STARDUST

A vantagem de ser aposentado é que você tem a oportunidade de aprender um monte de coisas absolutamente inúteis através dos documentários do Discovery e afins. Outro dia, por exemplo, fiquei sabendo que há mais de 100 bilhões de galáxias no universo. E que só a Via Láctea, nossa galáxia, tem de 500 bilhões a um trilhão de estrelas. Outra coisa legal: a luz emitida pela Alpha Centauri, a estrela mais próxima do Sol, demora uns quatro anos para chegar à Terra. Bacana. 

Disso eu tiro duas constatações e uma conclusão:

-   Quando olhamos para o céu à noite o que vemos são retratos antigos, imagens do que aconteceu (essa era muito óbvia).

-   A quantidade de estrelas no universo é quase inversamente proporcional a meu saldo bancário. Sério!

A conclusão é esta: pensando bem, acho que vou renomear as coisas que escrevo. Vou chamar tudo de Alpha Centauri. Por quê? Porque tirando uns 2,3 malucos que acessam o blog com mais frequência, quem já ouviu falar do Blogson demora uns quatro anos para criar coragem de acessá-lo para ler alguma coisa nele.

(A cabeça de Jotabê está sempre iluminada, mas é só lixo pegando fogo).

domingo, 17 de julho de 2016

PERÍODO SABÁTICO

Desde a criação deste blog, em 07/06/2014, e durante mais de um ano, eu publiquei um texto (ou desenho) por dia. Naquele período, por conta de um TOC moderado já várias vezes citado, a cada dia da semana era reservado um estilo ou temática específica. Assim, ao domingo era reservada a abordagem de assuntos com predominância religiosa. No começo, aproveitei vários textos que tinha mandado por e-mail para algumas pessoas. Eram textos movidos por uma genuína inquietação interior. Não significando que eram sérios ou chapa branca.

Falei (mal) de quase todas as religiões, fiz piadas (sempre ruins), critiquei, o escambau. Só não falei do islamismo, porque, como diriam os franceses, “bien que je suis Charlie, je ne suis pas fou” (obrigado, Google!).

Continuo católico, continuo indo à missa todo domingo, continuo cheio de dúvidas, continuo irritado com a falta de vergonha na cara de alguns tele-pastores e tele-padres por aí. Continuo sendo radicalmente contra todo tipo de radicalismo e de fundamentalismo. Ou seja, tudo está como era antes. Então, ficar tentando achar algum assunto com viés religioso (esse negócio de viés é muito pedante!) para escrever acabou resultando em uma coisa apenas repetitiva, requentada, mais ou menos como qualquer música mais recente do Jorge Ben(jor). Expressando-me de forma mais clara: era só um pouco mais do mesmo.

Por isso, pensando em me desapegar dessa obrigatoriedade (que eu mesmo estabeleci), resolvi cumprir um período sabático de duração incerta, pensando em só escrever novamente sobre esse tipo de assunto se sentisse a mesma inquietação de antes. Assim, as piadas e desenhos inspirados no Antigo Testamento que fiz depois dessa decisão foram vinculados apenas às seções "Sem Noção" e "Eu não Sei Desenhar".

Pois bem, faz algum tempo, li no site do IG uma reportagem sobre o mestre da literatura de terror, Stephen King, que tem um enfoque (sobre religião) muito parecido com minha visão pessoal. Não tive dúvidas, copiei alguns trechos que mexeram mais comigo. Esses trechos da entrevista estão reproduzidos a seguir:.

- "Eu escolho acreditar que Deus existe e, portanto, posso dizer: 'Deus, eu não posso fazer isso por mim. Ajuda-me a não tomar uma bebida hoje. Ajuda-me a não tomar uma droga hoje'. E isso funciona bem para mim".

Stephen King (...) descreveu a religião organizada como "uma ferramenta muito perigosa que tem sido mal utilizada por um grande número de pessoas". (...)

No entanto, ele disse que escolhe acreditar em Deus "porque torna as coisas melhores. Você tem um ponto de meditação, uma fonte de força", disse ele disse à revista Rolling Stone.


Voltando ao Blogson: algumas pessoas (e não sei explicar isso) precisam de Deus; creem ou precisam Nele crer. Eu sou uma dessas pessoas. A crença em Deus me faz bem. Agora, se Ele existe ou não (e eu espero que sim), só esperando a próxima “encadernação” para saber. Ou, como diz a letra da música Monsieur Binot:

E o resto nunca se espera
O resto é próxima esfera
O resto é outra encarnação!!!

COMEÇA HOJE!

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