sábado, 9 de julho de 2016

INVERNO NA ALMA

Hoje, bem cedo, a melancolia natural da família de meu pai apareceu aqui em casa. O dia estava amanhecendo quando chegou; e foi entrando sem nem tocar a campainha ou pedir licença. Talvez por isso eu esteja hoje com sessenta e seis anos completos. No corpo, na alma, na mente. Cabelos despenteados, olhos congestionados por um resfriado que já dura uma semana, vestindo calça de moletom e blusa de manga comprida. Meias nos pés e chinelos completam a indumentária de idoso.

Como sempre faço quando não tenho nada a fazer (e nunca há nada a fazer), olho os posts do blog. Reviso e às vezes altero a data dos programados, releio alguns dos já publicados – e sinto-me infantil, inadequado, inoportuno, impertinente, indesejado.

Hoje, depois de reler alguns, comecei a sentir frio. Achei que poderia ser febre, mas não, era só vergonha o que eu sentia. Eu sempre faço questão de me expor ao ridículo mais absoluto, porque isso me diverte (claro que meus filhos devem odiar). O problema é perceber que sempre erro a mão, sempre ultrapasso limites. Por isso, em vez de achar graça (sou muito autoindulgente), o que senti foi vergonha, pois continuo teimando em escrever como se fosse um colegial (pelos erros gramaticais rotineiramente cometidos, talvez até lembre mesmo um pouco).

Mas tenho sessenta e seis anos – no corpo, na alma, na mente  e preciso aproveitar o momento para me desculpar com quem lê este blog de nome ridículo e infantilizado, pela graça forçada, pela falta de assunto, pela irrelevância, pelas “piadas” desnecessárias e inadequadas. Mas, principalmente, pela recusa em aceitar-me como efetivamente sou, um idoso de sessenta e seis anos. Hoje, no corpo, na alma e na mente.

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