A partir dos cinquenta anos comecei a pensar
um monte de bobagens que refletiam minha perplexidade e preocupação com o avanço
da idade (ainda que eu não quisesse reconhecer). Achei que seria interessante
deixar esses pensamentos para meus filhos, não para que servissem de atalho
para eles, mas para que pudessem - se esse fosse o caso - servir de subsídios
para uma futura e hipotética terapia de algum deles. Mostrando-me de forma mais
crua e sincera, imaginei que isso poderia servir de bibliografia para
o terapeuta.
Assim pensando, escrevi alguns textos que nem
sei mais se mandei para eles por e-mail. Nesses textos, de forma sequencial,
fui falando de minha vida desde a infância, de forma pouco condescendente e
tolerante. Afinal, se eu queria que isso servisse para eles, não tinha sentido
varrer a poeira para debaixo do tapete. Depois, com a ideia do livro inacabado,
achei que poderia usar esses textos para dar corpo à história, desde que
omitisse os nomes escritos no original. Também desisti da ideia.
Mas, quando presentes em uma mesma
personalidade, a insegurança e a vaidade podem resultar em uma mistura
indigesta, tóxica, quase letal. E o nome dessa mistura é exibicionismo. Não
aquele em que o sujeito abre o casacão em plena rua e faz "tcharã!",
mas um exibicionismo (pseudo)intelectual. Por isso, a partir de agora,
semanalmente(*), será postado um desses textos, na mesma ordem em que foram
escritos um dia. Se ninguém gostar, paciência. Pelo menos, os eventuais terapeutas
poderão dar uma lida, se acharem pertinente a ideia. Vamos lá.
(* não mais semanalmente, diariamente).
ZEZIM
Este texto – assim como os próximos e outros
já escritos e divulgados – é mais ou menos um acerto de contas comigo mesmo.
Não é um texto para provocar risos. Eventualmente, pode até ser considerado
engraçado, mas o será mais pelo ridículo dos fatos nele descritos. Alguma
ironia porventura existente será fruto apenas do hábito (“o hábito do
cachimbo faz a boca torta”, diz o ditado). Mas é justo perguntar por que
alguém quereria expor seus defeitos, suas fraquezas e mazelas assim,
publicamente. Exibicionismo, talvez? Necessidade de ser amado apesar dos inúmeros
defeitos e fraquezas? Vá saber...
Uma coisa eu posso afirmar: sempre desdenhei
o senso comum, sempre vi com suspeita a “sabedoria popular”, sempre me
incomodaram as convenções sociais, pelo simples fato de explicarem apenas o
homem mediano, os sentimentos medianos e os comportamentos medianos (ou medíocres,
como bem definiu meu amigo Pintão). Por exemplo, quem disse
que um velho tem que ter um comportamento senhoril, circunspecto, austero?
Por outro lado, se o coitado resolve ser
apenas ele mesmo, corre o risco de ser chamado de gagá, safado, sem noção,
esclerosado, inconveniente e por aí vai. Bom, eu sempre pensei que as
coisas não deveriam ser assim, nivelando pessoas e sentimentos que não são
necessariamente nivelados.
A partir dos cinqüenta anos passei a refletir
sobre o sentido da Vida (ou sua falta de). A perplexidade aumentou depois da
aposentadoria. Talvez pela sensação de “e agora, o que eu vou fazer com tudo
que batalhei para aprender"?
Bom, creio que vocês também poderão sentir
isso um dia, quando tiverem a idade que tenho hoje. E se tiverem as mesmas
inquietações e perguntas, poderão talvez se lembrar de um dia ter lido as
minhas viagens mentais. Não que isso sirva de alerta ou consolo, mas verão que
coisa estranha é envelhecer.
Como disse o Paul Simon em sua música “Old Friends”: “How terribly to be seventy!” (bom,
no meu caso, ainda faltam dez anos (hoje, apenas quatro), mas a sensação de estranheza é a mesma).
Por conta disso, em mais uma surfada na maionese, em sua versão kosher (daqui a
algum tempo essa expressão precisará ser explicada, pois ninguém saberá de que
se trata), ai vão algumas tijoladas.
Se alguém quisesse me entender e saber como
eu me sinto, deveria prestar atenção em alguns poemas ou letras de música. Como
esses versos, por exemplo:
Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
E, se quiserem saber, eu fui uma criança
reprimida, um adolescente inseguro e tornei-me um adulto perplexo. Então,
nunca tive certezas absolutas sobre coisa nenhuma .
(texto escrito em 2010)
(texto escrito em 2010)
Você começou ao 50 fazer tais conjecturas, e eu, que acho que já as nasci fazendo? Na minha adolescência, eu já me identificaria totalmente com esse seu texto.
ResponderExcluirE acho que temos até uma velada e inconsciente inveja do mediano, do medíocre, afinal, as explicações de mundo para ele são muito mais simples e ele fica satisfeito com qualquer crendice ou dito popular, sei lá...
O que fazer com tudo o que batalhei pra aprender? Uma pergunta simples JB, e uma boa resposta seria : passar adiante, ensinar. E agora uma pergunta mais difícil : ensinar para quem? Ninguém quer mais aprender porra nenhuma hoje em dia, os jovens estudam cada vez menos, está aí essa explosão de faculdades à distância que não me deixam mentir.
O pior é que tudo o que eu sei só server para isso : para ensinar. Tô fudido.
Bem, antes eu me achava diferente, singular, único. Hoje já sei que sou medíocre, mediano, “um deles”, pareço mais uma favela do Rio, estou “pacificado” ( mesmo que o pau continue quebrando na mente).
ExcluirTenho visto na internet algumas palestras (longas palestras) de um cara muito inteligente (Leandro Karnal) e, em uma delas, ele fez uma observação muito interessante, que tem tudo a ver com esse nosso papo. “Quem gosta de clichês, tem mais chance de ser feliz. Quem gosta de clichês não tem aquele cinismo que a inteligência traz”. É por aí. Mais uma vez, obrigado pelo comentário (ou pelos comentários).