domingo, 24 de julho de 2016

EU ERA FELIZ E NÃO SABIA

Cada vez que os programas jornalísticos da televisão trazem alguma notícia que sai da média de desgraças, catástrofes, violência e horror que recebemos diariamente, meu coração se aperta um pouco mais. É o caso da destruição de ruínas históricas promovidas pelos psicopatas do EI ou da auto-explosão de fanáticos em aeroportos e outros lugares públicos. Nessas horas eu penso que a raça humana já tem seu destino final traçado.

Eu sei que isso (ainda) é uma utopia ou paranoia, que estou sendo muito (mais) ingênuo e ridículo ao dizer essas bobagens, mas faço uma pergunta simples para cada um dos 1,3 leitores (o outro está sem computador): há dez ou vinte anos atrás, se alguém fizesse uma previsão para os dias de hoje que fosse minimamente semelhante ao que realmente estamos vivendo e vivenciando, o que você pensaria? Provavelmente, classificaria uma previsão tão pessimista como irreal, distópica.

No mundo todo, sob qualquer ponto de vista, eu me arriscaria a dizer que os dias de hoje são uma distopia imaginada apenas por algumas poucas pessoas tempos atrás. Porque está barra.

Eu penso nos partidos políticos existentes ou em processo de criação, penso no PT, no PMDB, no PSDB, nas mentiras, nas negociatas, na corrupção endêmica, na ignorância, na miséria, no clima cada vez mais hostil, no aquecimento global, na falta d'água, na barbárie, na intolerância e obscurantismo religiosos e fico triste, sinceramente triste, desesperançado. Penso nos meus filhos, penso em que tipo de mundo eles viverão quando tiverem a minha idade - e me angustio.


Quando nossos filhos mais velhos estavam ainda no jardim de infância, eu disse à dona da escola (que também era psicóloga) que minha única expectativa era que eles fossem felizes, sempre e para sempre felizes. Recentemente assisti no Youtube a uma palestra muito boa de um professor de quem nunca tinha ouvido falar. Clóvis de Barros Filho é seu nome. Gostei tanto que transcrevi (literalmente) estas frases:

A felicidade é um instante de vida que você gostaria que durasse um pouco mais. A vida é boa quando você torce para ela não acabar. Na maior parte do tempo, a gente torce para alguma coisa acabar: torce para o dia acabar, torce para a semana acabar, torce para... Sem perceber, a gente torce para a vida passar rápido. E a felicidade é o contrário disso. A felicidade é quando você torce para não acabar, é quando você lamenta o final do dia, o final de alguma coisa que está fazendo. A vida vale a pena quando você torce para ela não acabar.

E é aí que eu queria chegar: embora minha vida esteja relativamente tranquila, depois de ver e ouvir notícias que me causam tanto espanto, repulsa ou horror, eu me deprimo, entristeço-me pensando no povo brasileiro e em todos os que sofrem e são perseguidos ou assassinados pelo mundo afora. E bate um desejo vago de estar morto, porque o mundo, a vida atual, nada disso parece valer a pena. Nessas horas, sem nenhum saudosismo, eu constato que viver, que estar vivo já foi uma coisa boa, prazerosa. E me lembro de um samba antigo que dizia:

Eu era feliz e não sabia.

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