Houve um tempo em
que lia suas crônicas publicadas em jornal e sempre me divertia com elas. Mas,
embora exista um livro dele aqui em casa, ele ainda está virgem para mim, pois
nunca tive saco para lê-lo. Por isso, sou uma das últimas pessoas em condições
de falar alguma coisa de João Ubaldo Ribeiro, exceto que ele era pai do Bento
Ribeiro, ótimo comediante, ex-MTV.
Bom, não quero me estender muito sobre o baiano (nem ele precisa de meus comentários). Por isso, recorri novamente à internet para achar algum texto bacana e achei o que parece ser a última crônica escrita por ele.
Esse texto de nome ridículo é, na verdade, uma excelente crítica ao comportamento politicamente correto, à intolerância e à idiotice que infelizmente têm vicejado cada vez mais nesse nosso país, provando que, sem controle, as pragas e ervas daninhas sempre tentam expulsar uma boa cultura já existente. Vamos lá.
O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente.
Bom, não quero me estender muito sobre o baiano (nem ele precisa de meus comentários). Por isso, recorri novamente à internet para achar algum texto bacana e achei o que parece ser a última crônica escrita por ele.
Esse texto de nome ridículo é, na verdade, uma excelente crítica ao comportamento politicamente correto, à intolerância e à idiotice que infelizmente têm vicejado cada vez mais nesse nosso país, provando que, sem controle, as pragas e ervas daninhas sempre tentam expulsar uma boa cultura já existente. Vamos lá.
O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente.
Por exemplo,
imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser
regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do
papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3,28%, com a
consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para
fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa
ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num
programa de TV.
Tudo simples, como
em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos
perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências
pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias,
instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos
infratores.
Nos banheiros
domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a
instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias
(milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por
escolha aleatória.
Nos casos de
reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e
usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para
limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação
sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.
Agora me contam
que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que
os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde,
porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar
a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito.
Por que os
brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem,
insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos
industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se
trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas.
O mesmo
aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em
que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei
estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas,
as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos
ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de
exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós
fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o Estado não nos tomar providências,
não sei onde vamos parar.
Ainda é cedo para
avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as
nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o
pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas,
antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico.
Se, ainda assim,
persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a
criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela
exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe
proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a
criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se
aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente.
Para citar uma
circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura
física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão, puxão de
orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura
psicológica.
Que terríveis
sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os
pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança
dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas
em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia
neles.
Sei que esta
descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí
não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito
desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável
e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente
estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias,
policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma
risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria
social.
Não parece estar
longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas
vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e
suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de
livros.
Cada livro será
acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos
gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na
perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser
reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário
neandertaloide.
Por enquanto, não
baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o
que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus
direitos de cama, precatem-se.
O João Ubaldo é genial! Não sei que o qual livro dele que você tem e ainda mantém virgem, mas, seja qual for, descabace-o, imediatamente. Não vai se arrepender.
ResponderExcluirZé - eu curto muito seus posts - sempre inteligentes e bem humorados - o título inspirado no João Ubaldo e o conteúdo deste post me fizeram lembrar deste comercial : https://youtu.be/RRDSj62tlvQ - ele ilustra o título e parte do conteúdo
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