A coisa que está
mais na moda hoje em dia é programa de culinária. Os canais a cabo são
responsáveis pela maioria deles. E tome Top
Chef, Master Chef (nas versões Austrália, Brasil, Argentina, México, Colômbia e
suas versões para crianças), Top Master Chef, A Batalha dos Cozinheiros, Que
seja Doce, Que Marravilha!, Bela Cozinha, Receitas da Carolina, Tempero de
Família, A Batalha dos Confeiteiros,
etc. São tantos os programas que talvez seja necessário tomar um antiácido
antes de sentar à frente da televisão.
Pensando nisso e lembrando
que o Blogson é como um jornal de bairro, daqueles que sempre trazem uma receitinha em suas páginas, resolvi
dar minha modesta contribuição à essa arte. E o prato escolhido foi língua de
vaca. Essa escolha aconteceu depois de ouvir meu cunhado contar que seu sogro
enchia a língua de porrada para amaciar as fibras da carne.
Confesso que a descrição foi tão vívida que
resolvi desconstruir alguma receita já existente, dando a ela o necessário
toque Jotabê. Como não entendo nada de culinária, a desconstrução aconteceu só
no título. Em vez de “língua encarnada”, receita do início do século XX,
resolvi adotar “Língua de Ogra” (não confundir com o docinho conhecido como “língua
de sogra”). E a linguagem e grafia são também do início do século XX. Vamos lá:
LÍNGUA DE OGRA (LÍNGUA ENCARNADA)
Preparada que ella seja com agua a ferver,
enxugue-se e salpique-se com salitre pulverisado até que fique bem impregnada.
Ponha-se immediatamente n'uma vasilha com
cravo da índia, pimenta em grão, alfavaca, louro e tomilho.
Deite-se-lhe em cima agua a ferver mui salgada,
e deixe-se assim por espaço de seis dias.
Tire-se findo esse tempo e coza-se em 1,5
litro de agua, com cenouras, cebolas, tomilho, alfavaca, louro, pimenta, cravo
e alguma salmoira. Estando a ponto, deite-se n'uma caçarola com o caldo, e
deixe-se esfriar.
Eu achei uma boa essa receita, extremamente
adequada a uma refeição tipo fast
food, pois enquanto a língua vai sendo preparada durante "seis dias" (rapidinho!), você tem tempo
de se esbaldar com pizzas, lasanhas e sandubas, levar sua mulher para comer fora
e todas essas comodidades do mundo moderno. Além disso, você ainda pode pegar a
língua em qualquer estágio da receita e jogar no lixo, porque língua, sem
brincadeira, é coisa muito nojenta, com aquelas papilas gustativas e formato
que lembra um caracol africano anabolizado e fora da casca; é tira-gosto de
cachaceiro, é comida de ogro para Fiona nenhuma botar defeito.
Bem, se você não gostou desta sugestão, você
pode desconstruir outras receitas. Por exemplo, se você fizer um prato à base
de bacalhau e desconstruir o nome do doce "Baba
de Moça", poderá preparar um prato salgado e dar a ele o delicado nome de "Bobó de Moça". Imagino que
gente de mente suja poderá fazer alguma associação maliciosa, mas a sugestão é
séria. Afinal, se já existe um "bobó de camarão", qual o problema de
fazer um "bobó" de bacalhau?
Outra sugestão seria uma receita à base de pé
de porco. Se juntarmos esse ingrediente ao vulnerável e mitológico Calcanhar de Aquiles, poderia sair um
prato com o simpático nome de "Calcanhar Daquilo". Bom, heim?
Como o tempo acabou, essas receitas poderão
ser ensinadas no próximo programa, quer dizer, número (desde que eu descubra
antes o que vem a ser "bobó").
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