sábado, 30 de janeiro de 2021

UMA HISTÓRIA FABULOSA

 
Hoje, depois de me submeter à minha dose diária de masoquismo, obtida com a leitura de comentários inacreditáveis, espantosos, repulsivos ou inconcebíveis que lunáticos, ignorantes ou boçais fazem a propósito de qualquer assunto veiculado nos portais de notícia ou nas redes sociais da internet, fiquei pensando no motivo, na origem desse fenômeno (não o meu masoquismo, mas os comentaristas e seus comentários). E cheguei à conclusão que tudo começou com Adão e Eva. Podem acreditar!

Na verdade, a culpa, o pecado original dessa ignorância, dessa falta coletiva de sensatez teria sido provocado pelo "Pai de todxs" (arrasei agora!), pois o Deus do Antigo Testamento é a versão “raiz” da divindade: cruel, vingativo e rancoroso - apesar de paradoxalmente tolerante com todo tipo de sacanagem que seus prediletos faziam (algo assim como o comportamento de um pai com três de seus quatro ou cinco filhos). Por isso, mesmo sendo darwinista resolvi escrever esta fábula criacionista:
 
 
Dizem que em certo dia da Criação... (há controvérsias sobre essa construção gramatical - ou que nome tenha isso -, pois a tradução de línguas antigas sempre foi uma pedreira*). Pois bem, voltando à frase inicial (estou com a mania de fazer parênteses longos) parece que o correto seria dizer “no sexto dia da Criação” Deus resolveu criar o homem. Segundo relatos fidedignos, Deus fez as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e também, criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.
 
Até aí nada de mais. O problema é que o Deus do Antigo Testamento era muito centralizador, controlador e ciumento de seu poder. Por isso e só por isso fez uma puta sacanagem com os descendentes do casal primordial (imagino que ele sabia o que poderia acontecer no futuro, mas achou tão irrelevante quanto uma gripezinha que às vezes nos acomete); em um dia D e em uma hora H o Criador chamou Adão e disse-lhe o seguinte (assim está registrado nas Escrituras!):

(Gen 2:16) Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; (Gen 2:17) mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (...)
 
O que se seguiu depois disso todo mundo sabe: para escrever sua monografia de conclusão do curso de psicologia bíblica, a serpente teve a ideia de oferecer a Eva o tal fruto, pois queria estudar as reações do proto-casal diante da revelação, do insight, do conhecimento instantaneamente adquirido através da fruta (os descendentes desse casal tentaram fazer isso depois com cogumelos, mas esse é um assunto para outra hora).
 
Agora, pense comigo: o que Deus ganhou com isso? Tirando o fato de tentar controlar Adão pelo medo, a única coisa que conseguiu foi criminalizar o Conhecimento (“certamente morrerás”), semear a descrença na Educação e desqualificar a Ciência e o método científico (“De toda árvore do jardim podes comer livremente”). Em contrapartida, estimulou a falta de senso crítico e o abandono da busca da Verdade. Além, claro, de ter jogado a serpente na sarjeta e a condenado a comer pó pelo resto da vida (há quem defenda que no lugar de “comer” o certo seria “cheirar”).
 
E para mal dos pecados (originais), a coitada nem conseguiu concluir o curso, pois mesmo depois de receber muitas cobranças, não pôde finalizar e entregar a monografia cobrada (afinal, agora faltavam-lhe dedos e dados). Essa frustração a encheu de rancor, fazendo com que muitas vezes exibisse um veneno até então desconhecido.
 
O que sei é que o divino descaso com a educação e a consequente valorização da Crença em detrimento do Conhecimento, da Verdade e da Ciência acabaram por fazer surgir da descendência de Caim (que ao assassinar o próprio irmão e não assumir sua culpa já demonstrou não ser boa bisca!) uma mutação não mais feita à imagem e semelhança de Deus, uma multidão completamente tapada e imbecil (sempre propensa a defender suas crenças até mesmo com o uso de mentiras ou meias verdades) que cresceu e se multiplicou de forma totalmente descontrolada (essa manada acabou sendo informalmente chamada de “homo stupidus”).
 
Depois disso, a situação agravou-se tanto que em tempos recentes, tal como acontecia na época do Antigo Testamento, um arauto moderno do caos fez esta profecia amedrontadora:
- “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.
Não contente com isso, ainda completou:
- “Em nosso século, o grande homem pode ser ao mesmo tempo uma besta!” (esta profecia já se cumpriu).
 
Imoral da história:
Como disse Nelson Rodrigues (o arauto do caos), Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: - a nossa.

(*) E se quiser saber agora por que decifrar escritos antigos sempre foi uma pedreira, a explicação é esta: não havia páginas para folhear, velhos incunábulos para manusear, estudar. O que havia eram tabuinhas de argila (material que se provou de boa qualidade depois de ter sido utilizado para moldar o corpo de Adão) ou pedra. Por isso, entender o significado daquelas cobrinhas e sinais ininteligíveis até que era mole. Foda mesmo era ficar muito tempo em pé para copiar aquela tranqueira, normalmente gravada em colunas, obeliscos e paredões de pedra (“pedra”, “pedreira”, sacou a associação de ideias?). Ou movimentar centenas de placa de argila de uma pilha para outra. Ao final de um dia de serviço a coluna dos arqueólogos ficava em petição de miséria. E esse esforço repetido inúmeras vezes por meses e anos certamente gerou problemas posturais nos dedicados decifradores. Aliás, essa a verdadeira origem da palavra “arqueólogo”, pois os sábios terminavam seus dias com a coluna totalmente arqueada. (Jotabê também é cultura)

9 comentários:

  1. Rapaz, e eu que sempre achei que "arqueo" fosse velho, antigo, arcaico.

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    1. Essa é uma palavra capciosa, cheia de manhas, pois é comum de dois gêneros - o gênero realidade e o gênero fantasia. O Aurélio quis dar uma de foda e registrou apenas o gênero realidade, esquecido de que seu sobrenome também esconde segredos. O nome real do dicionarista era Aurélio Buarcheo de Holanda (Jotabé é um poço de erudição!).

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    2. Buarcheo.... rapaz, qual a marca do toddynho que você toma?

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    3. A marca não é importante, mas a quantidade. Um médico disse que eu tenho esteatose hepática por culpa da quantidade de leite que bebo. Quando eu morrer as bactérias dirão "Opa, hoje temos foie gras!"

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    4. Rapaz, como eu sempre digo, leite foi feito é pra bezerro! Veja só a ironia da coisa, você está abatêmio há 3 ou mais anos e o leite tá ferrando o seu fígado. Eu tomo minha cervejinha da quinta-feira em diante e tá tudo certo com o meu. Semana passada, fui ao urologista e ele, além do PSA, sempre pede uma porrada de exames, entre eles o Gama GT, que pode detectar vários problemas hepáticos, como :
      Hepatite viral crônica;
      Diminuição da circulação sanguínea para o fígado;
      Tumor hepático;
      Cirrose;
      Consumo excessivo de álcool ou drogas.
      Os valores normais de referência ficam entre 12,5 e 56 microgramas/l. O meu deu 19.
      Acho até, que se eu conseguir dar o meu tom, vou escrever uma postagem sobre isso.

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    5. Rapaz, ontem eu vi uns latões que me pareceram ser de uma cerveja de marca nunca vista antes, que me fizeram imediatamente pensar em criar alguma sacanagem visual. As latas são pretas, creio que as letras têm um estilo meio gótico e o nome... Laitt, Laytt ou coisa parecida. Procurei na internet e não encontrei nada. O Pior é que eu nem tenho certeza de onde vi essa lata. Sem sacanagem, acordei hoje pensando em pegar a imagem que acreditei ser fácil de achar, colocá-la ao lado de um licor de cacau ou coisa do gênero, com dizeres deste tipo: "Laitt com licor de cacau, o coquetel mais próximo de leite com toddy, o verdadeiro néctar dos deuses". Mas não achei a porra da cerveja!

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  2. Talvez, daí também tenha se originado a expressão "do arqueo da velha"; da coluna arqueada da nobre idosa, cheia de escoliose, bico de papagaio etc.

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    1. Acho que você está lendo muito Blogson, além da dose recomendada!

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  3. ": ultimamente as pessoas estão mais preocupadas com religião “Deus acima de tudo”) que com religiosidade. Que acha?"

    sempre estamos preocupados com religiao, afinal vamos morrer todos, hehe

    “Deus acima de tudo” - tem q ser. sem Deus não há civilização humana.

    https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/os-dez-mandamentos-em-perguntas-simples-e-diretas/

    abs!


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MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4