Ao responder a um comentário que meu amigo virtual Marreta fez sobre o post "Jacaré no seco anda?" peguei um embalo tão grande que o texto ficou imenso. Por isso, resolvi transformá-lo em novo post, pois ficaria muito esquisita uma resposta que rendeu duas páginas escritas em Arial 12.
Meu caro Marreta, esse é mesmo um assunto
delicado, pois há tantos interesses políticos antagônicos em jogo que é difícil
ser equilibrado. Só para exemplificar, tenho um amigo (não leve essa amizade
muito a sério) que conheço há mais de trinta anos. Mora na mesma rua que eu, a
uns cem metros de distância. É engenheiro, músico, compositor e gente fina demais. Mas,
apesar de negar as próprias evidências, é de Esquerda quase radical. Está sempre
enchendo o saco no facebook com as realizações do PT, está sempre esgoelando
contra o Bolsonaro (no que tem meu total apoio) e é um mala ainda maior que eu.
Por que estou dizendo isso? Porque a paixão em excesso turva a visão e o
raciocínio.
Eu sou radicalmente
contra o pensamento radical do Bolsonaro, seus preconceitos e suas
(in)consequências. Por isso, fico tentado a ver seus (dele) antagonistas com
alguma simpatia. Caso do Dória, por exemplo. A favor dele existe o fato de
sempre ter batalhado pela Coronavac, ao contrário do Mito, um sujeito que já
provou ser um homem primitivo, um pitecântropo, um homem das cavernas (de
Platão).
Sinceramente, mesmo não sendo da área que
estuda e cuida da saúde mental, imagino que o Cavalão não é uma pessoa normal -
e isso seria um atenuante para suas ideias de jerico (piada!) e as idiotices
que faz e fala. O Jair – e eu sinceramente não consigo entender o motivo –
sempre detonou os cuidados com que a Covid merecia ser tratada. Isso para mim é
verdadeiramente um mistério. Desqualificou, desprezou, atacou, negou, deu maus
exemplos, enfim, demonstrou ser quase um sócio da mamoninha assassina.
Bom, você se preocupa com os possíveis efeitos
colaterais das vacinas, citando que a Pfizer se exime de qualquer
responsabilidade, etc. Talvez você esteja certo, mas eu te pergunto: quando um
médico prescreve um medicamento contra algum perrengue por que está passando,
você lê a bula? Eu só leio para que serve e a posologia. E, sabe por quê?
Porque ali naquela folha de papel estão relacionadas todas as ocorrências
indesejáveis já observadas ao redor do mundo por quem tomou o tal remédio,
mesmo que estatisticamente irrelevantes. Mesmo caso das vacinas, agravado pela
velocidade com que foram desenvolvidas. Mas isso me deixa serenamente
tranquilo, pois prefiro morrer tendo tomado uma vacina desenvolvida no Nepal ou
no Congo que morrer asfixiado em um leito de hospital.
E agora o Dória. Eu não sou paulista e pouco ou
nada acompanho o que ocorre por aí. Apenas fico me perguntando se esse excesso
de mortes não estaria ligado ao lema de que “São
Paulo não pode parar” ou que “São Paulo
é a locomotiva do Brasil”. Infelizmente, essa doença precisava, sempre
precisou de isolamento, fechamento provisório de serviços não essenciais, lockdown.
Só que esses cuidados são mortais para a Economia do município, do estado, do
país.
O Bozo cantou essa pedra, mas não entendeu
que a vacinação em velocidade máxima e no mais breve espaço de tempo possível seria
o único remédio para conter não só a pandemia, mas a sangria das finanças em
geral. Em vez disso, resolveu (por uma perturbação mental qualquer) que a porra
da cloroquina era a solução para o problema, contrariando e não acreditando na
opinião de milhares de profissionais de saúde.
Na cerimônia (aquilo não foi uma reunião, foi
uma cerimônia) de liberação das vacinas pela Anvisa, a diretora Meiruze Freitas
disse esta frase que copiei letra por letra (ipsis litteris): “Até o
momento não contamos com alternativa terapêutica aprovada e disponível
para prevenir ou tratar a doença causada pelo novo coronavírus”.
Copiei também a frase do Alex Santos, outro
diretor da Anvisa: “A Anvisa se pauta
pelas evidências. No nosso vocabulário – que adoto como meu também – não há
espaço para a negação da Ciência, tampouco para politização, não há!”
Apesar disso, o Boçalnaro insiste em
prescrever a merda da cloroquina (talvez para desovar o remédio estocado que o
exército teve de fabricar), um remédio altamente tóxico até para os problemas de
saúde em que efetivamente pode fazer a diferença. Tenho um cunhado que começou
a tomar hidroxicloroquina para artrite ou coisa semelhante, mas teve de
suspender a medicação rapidinho, pois estava afetando seu coração.
Voltando ao Dória: além do permanente ar de
mauricinho e de ser provável candidato à presidência da república em 2022, a
única coisa que sei dele é que é bom de marketing, que batalhou pela Coronavac
desde o início e que provocou a fúria da famiglia Bolsonaro. Em BH o prefeito
reeleito é ex-presidente do Atlético, ex-empreiteiro de obras públicas,
descendente de libaneses, sem papas na língua e casca grossa. Ao ser eleito pela
primeira vez disse esta pérola: “Acabou
esse negócio de coxinha e mortadela. O papo agora é quibe”.
Pois bem, ele decretou o fechamento de quase
tudo em BH, enlouqueceu os comerciantes e segurou muito bem a primeira onda da
Covid. Talvez por isso tenha sido reeleito.
Com a pandemia sob algum controle e com base na opinião de especialistas
da saúde, começou a liberar o comércio em etapas. Infelizmente, se esqueceu de
combinar isso “com os russos”, ou
seja, com a população, que deitou e rolou. Padecendo de incontrolável fogo no
rabo, ânsia de comprar badulaques na lojas de R$1,99, vontade incontornável de
encher a cara, de ir a shoppings, fazer baladas e o escambau, o povo sem noção
e discernimento criou todas as condições para a disseminação rápida do vírus.
O resultado foi um aumento exponencial (80%)
nos casos de contaminação e de mortes provocadas por essa doença filha da puta.
Infelizmente, comecei a contabilizar em minha cabeça amigos e conhecidos que
não tiveram a chance de esperar pela vacina. Hoje mesmo fiquei sabendo de mais
uma morte.
E aí você fala em má gestão da saúde pública. A situação atual é tão complexa que eu me lembro do Harari e suas previsões aparentemente distópicas. Para mim, já era hora de existir um algorítmo de tomada de decisões que envolvam situações diametralmente opostas! O Dória pode ser o pior gestor dessa situação, mas incomparavelmente melhor (e
mais humano) que o hors concours mundial
do negacionismo e do desprezo pela Ciência, nosso intrépido Jumentão
Na minha opinião, o Dória consegue ser ainda pior que o dito presidente. Para além do marketing ridículo que ele tem feito, em nada contribuiu para essa vacina sair do papel. Corte na educação, brigas com reitores das mais prestigiadas universidades públicas, ataques aos funcionários públicos. Ele nada mais é do que o discípulo mauricinho do seu mestre, o próprio Bolsonaro. Na campanha, já diziam (ambos): BolsoDória.
ResponderExcluirSe fingem diferenças, é por ser interessante para o Bolsonaro ter como rival um cara como o Dória, que não tem como tirar votos do Bolsonaro e, ainda por cima, afasta outros possíveis candidatos mais fortes do que ele no WWE de 2022.
Se for para escolher entre o Bolsonaro e o Dória, faço igual fez a Ford: vou pra Argentina.
Como eu disse, não acompanho a cena de SP. Preciso me ligar mais.
ExcluirE o duro que sim, eu leio a bula inteira, até os efeitos adversos.
ResponderExcluirSupus que o número de mortes por covid é diretamente proporcional à política de combate a ele só mesmo para malhar o Dória, que está acabando com o que ainda resta do sistema público de educação, aliando-se a fundações como a Ayrton Senna etc, que impõem, por exemplo, "metas de produção", como se uma escola fosse uma montadora de automóveis, incluindo novos componentes curriculares que em nada contribuem para a formação do aluno e ocupam o espaço de outras matérias se suma importância como Química, Física e Biologia, reduzidas a meras duas aulas semanais; sem dizer que essa associação do Dória a essas fundações têm a clara intenção de terceirizar ou mesmo privatizar o ensino.
Mas me desviei do assunto e agora volto a ele. No Brasil, arrisco em dizer que a grande parcela da culpa nem é dos governantes, é do povão mesmo. Basta dar uma voltinha pela bairro, ou pior ainda,pelo centro da cidade, para constatar que pouco importa quem ocupe a presidência da república, o governo do estado ou as prefeituras : o impeachment a ser feito é o do povão. Ninguém está nem aí para a pandemia.
Em relação à vacina, o que me preocupa, seja ela a chinesa, a inglesa, a russa, a indiana ou até mesmo uma paraguaia, é justamente uma coisa que você citou : a velocidade com que ela foi criada e aprovada.
Um remédio qualquer, um simples analgésico para dor de cabeça, leva, em média, de 10 a 15 para ser aprovado. Claro que no caso da Covid não podemos nos dar ao luxo desse tempo todo e entendo isso, mas não deixo de ficar com um pé atrás. Quando chegar a minha vez (se ela chegar), me deixarei vacinar, mas nem tanto por mim, muito mais porque tenho filho pequeno e não tenho o direito de me arriscar. Se eu fosse sozinho, ou não tivesse ninguém que dependesse de mim, talvez eu protelasse um pouco mais em tomar a tal vacina.
Precisei recentemente tomar uma antitetânica. Em reação, tive uma ligeira febre e fiquei uns dois dias com uma grande dor no braço em que ela foi inoculada, parecida com pequenas cãibras. E isso uma vacina que já está há décadas no mercado. Imagine só essa recém-nascida. Mas nem vou dizer se ela é a melhor ou a pior opção. Não existem opções. É só ela mesmo. Ou se deixar infectar (talvez eu até já tenha sido, pois apesar de tomar todos os cuidados, não passei mais que 48 horas isolado em casa desde o começo disso tudo)e pagar para ver como o organismo reage.
E concordo com o GRF, o Dória é apenas uma versão mais polida do Jumentão. Não tem como vencê-lo nas urnas e acabará por minar as chances de outros candidatos.
de 10 a 15 anos para ser aprovado. faltou de novo.
ResponderExcluirÉ, meu caro Marreta (não vou fazer "textão" de novo), endosso suas palavras sobre a população. Nesse ponto tenho inveja da disciplina japonesa. Quanto à vacina, como eu disse, sou uma sacola ambulante de "comorbidades" (descobri que a idade também é uma comorbidade. Comaiorbidade). E preciso ficar de olho no Dória. Mas o capitão, falando de Forças Armadas, ditadura só intensifica a rejeição que sentem por ele (eu, inclusive). Homo inhabilis, homo stupidus.
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