Este texto foi originalmente publicado no dia 10/06/2014. Em outras palavras, poucos segundos depois do "BBB - Big Bang do Blogson".
Recentemente uma pessoa de quem gosto muito
me perguntou o que me leva a escrever qualquer bobagem que surge em minha
mente. Respondi que devia ser por carência afetiva, vontade de aparecer, por
não gostar de novela nem de futebol, por não beber cerveja, por não ficar em
botequim, por gostar de torresmo, por influência da família de meu pai, por gostar do que escrevo, por
ser um ET, sei lá por quê!
Mas fiquei com a pergunta na cabeça. Aí resolvi fazer ao Google essa pergunta. É claro que não valeria a opinião de escritores e profissionais do ramo, pois esses ganham para escrever. De tanto fuçar, acabei encontrando um blog com o texto transcrito a seguir. Achei legal, fiquei em total sintonia com o autor. O curioso é que esse blog deixou de ser alimentado há um bom tempo, em coerência com o que é dito no post. A propósito, o autor é Rafael Prosdocimi.
“(...) Para dizer por que não escrevo mais, devo dizer por que em algum
momento de minha vida, escrevi qualquer coisa que fosse. (...)
Descobri-me medíocre, ver o belo e o sublime não me bastava, precisava
de ossos, de prêmios, de parabéns, “continue assim”. (...)
Escrevia como uma forma de me justificar, uma forma de dar sentido a
minha medíocre existência. Infelizmente sou um bicho social, preciso falar,
ouvir, mais falar é verdade, mas preciso de outros. Adoro a solidão, mas só
quando esta é marcada por períodos de intenso convívio humano, calor. Escrevia
para impressionar (...)
Porque eu escrevia já não sei, algo de vaidade, esforço pra ser
diferente, ousar o título de poeta, intelectual, deixar marcas na vida quando
eu me for. A ideia de ser um cara genial, com ideias avançadas e futuramente
escrever no Estado de Minas e aparecer no Jô Soares pode ter funcionado como
catalisador... Mas como isso tudo é muito estúpido e sem sentido, penso que
acabei por naturalmente perceber que não havia porque escrever (...) se ninguém
ainda leu Mario Vargas Llosa ou Rubem Braga, porque haveriam de ler Rafael
Prosdocimi? A ideia de um escritor puramente social, que escreve para obter
afagos acaba por não me agradar de toda forma. Permanece a ideia de que algo
brota dentro de mim, e me faz escrever... Algo descontrolado (...)
Acho que nunca descobrirei porque comecei a escrever, mas tenho certeza
que tem a ver com (...) a materialidade da dimensão subjetiva. Quero que outros
vejam o que penso, quero materializar meus anseios e pensamentos. Para que
daqui a anos eu me leia e sinta que eu pensava muitas bobagens anos atrás. Para
que exista a ponte, mundo objetivo e subjetivo. (...) a necessidade de
comunicação que temos com o mundo, a necessidade de compreender e ser
compreendido. Escrevo para me mostrar, é a porta que alcancei, a ponte que
construí (...)”
Texto bacana, não? Agora, a explicação
verdadeira do nome do blog: mesmo sendo um sujeito por natureza introvertido,
ficava louco para receber respostas aos e-mails idiotas que encaminhava para o
“grupo dos infelizes” (como
identifiquei as pessoas de quem conheço o e-mail). Devia ser mesmo carência
afetiva ou vontade de ser admirado ou aplaudido, sei lá. Enfim carência de
alguma coisa (especialmente de autocrítica).
Normalmente, não recebia nada, o que me
deixava frustradão. Meu filho mais novo sugeriu que eu criasse um blog, mas, num primeiro momento
recusei, pois provavelmente só amplificaria o silêncio. De bobeira, até cheguei
a pensar em nomes para um possível blog. O primeiro deles foi “Kresunto Karma”, numa associação maluca
com “Presunto Parma”. Por quê? Sei
não, mas só pensar idiotice pode ser um Karma na vida de alguém.
Depois, pensando nesse silêncio ensurdecedor
do “grupo dos infelizes”, imaginei um
título mais condizente para esse blog: “Blogson
Crusoe”. Por quê? Porque seria um blog filho da solidão, oras. E o filho mais velho o criou para mim. Essa é
a história verdadeira. Quando comentei sobre o nome escolhido, um dos meus filhos
disse que ficaria ainda mais legal se as postagens fossem feitas só às sextas-feiras (para combinar com o personagem "Sexta-Feira" da história original do Robinson Crusoé). Mas o estoque de tranqueiras era tão grande (mais de duzentas) que só acabaria em 2018. Eu até tentei seguir a sugestão, mas a ansiedade falou mais alto. Aí foi só ladeira abaixo, sem freio.
Eu também penso que o que escrevo é pura bobagem. Quando criei o meu blog ficava toda feliz e ao mesmo tempo assustada em ver as visualizações - não por serem em grande quantidade, e sim pelo motivo de "alguém está perdendo seu precioso tempo lendo o que escrevo".
ResponderExcluirEu nunca li o livro, mas muito ouvi falar nas aulas de literatura. Mas o que mais me faz lembrar é um macete que aprendi pra decorar a tabela periódica (Hoje Li Na Kama Robinson Crusoé em Francês) auhuehaeuahe
Eu me vi integralmente no texto cujos trechos transcrevi. Mas, sinceramente, acredito que o que escrevemos se não são aquela brastemp também não são textos escritos na quinta série. E quer saber um segredo? Creio que também não li o livro todo.
ExcluirComplementando a resposta. O que quis dizer é que se nós, blogueiros temos seguidores (eu não tenho seguidores, tenho amigos virtuais), se o que publicamos tem x ou y visualizações isso é para mim um sinal de que temos algo de interessante para outras pessoas, seja na temática, seja no estilo, na originalidade, forma de escrever ou ironia. Então, as nossas "bobagens" - mesmo que sejam bobagens mesmo (e quase nunca são) - são como que instantâneos do que sentimos, pensamos e já vivemos. Para mim, registrar essas "bobagens" é só lucro.
ExcluirSim! É óbvio que se alguém lê, não é de todo bobagem. Mas como pode, algo tão nosso, tão pessoal, tão composto do "eu", seja interessante para os outros, né? É encantador, claro. Mas também curioso.
ExcluirA resposta não é minha. Uma vez, há centenas de anos, eu ouvi um poema do Fernando Pessoa sendo lido na TV. Chama-se “O rio da minha ladeia”. Em seguida, alguém comentou sobre seu significado, que seria algo assim: ao escrever sobre o rio de sua aldeia o poeta conseguiu tornar-se universal. Acho que não me expliquei bem, mas o sentido é este: quando você escreve sobre sentimentos e emoções pessoais você se conecta com outras pessoas, pois seus sentimentos são também vivenciados por pessoas que nunca conheceu ou conhecerá. É mais ou menos isso, um lance de sintonia entre seres da mesma espécie, algo assim.
ExcluirAchei essa resposta tão linda, Jotabê. Nem tem muito o que dizer: simplesmente é.
Excluirotimo post
ResponderExcluirtodo mundo tem necessidade de se expressar
escrever ajuda muito a pensar
uma pena que a maioria mantenha blogs pra conhecer melhor a si mesmos
abs!
Espero que isso não seja uma indireta! Quando criaram um blog para mim eu não pensava em usá-lo para me conhecer. O que eu realmente desejava era ser conhecido, fazer as pessoas rir, contar casos, etc. Com o tempo fui percebendo que quanto mais coragem e disposição eu tinha para me expor, para me atirar sem rede de proteção, mais eu ia me conhecendo, quase como em uma terapia. Mas não mantenho o blog só para isso. Na verdade, esse seria meu último pensamento. Continuo com a proposta original de divertir e entreter as pessoas. E claro, de ter uma atividade para passar o tempo (enquanto o Tempo não me passa). Abraços.
Excluir"não seja uma indireta!" - não é. isso tb se aplica a mim
Excluir"proposta original de divertir e entreter as pessoas" - boa proposta. a minha é algo como "organizar minha vida e me apefeçoar continuamente", mas acabo me divertindo com isso
rir é melhor que se organizar
abs!
Bacana você dizer isto. Minha mulher provavelmente adoraria te conhecer, pois ela também é a rainha da organização. E esse lance de aperfeiçoamento contínuo deveria ser o objetivo de todas as pessoas, mas a maioria está pouco se lixando para isso. Essa talvez seja uma das prováveis explicações para o mundo estar desse jeito. Abraços.
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