Esta é uma lembrança que tinha deixado de lado, não só por dar trabalho para explicar como pelo humor infantiloide que ela traz. Hoje, como não tenho nada para fazer, ou melhor, como não estou com vontade para fazer o que precisa ser feito (lavar o banheiro, capinar o mato do quintal, etc.), resolvi (como dizem os advogados) desentranhar o caso.
https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/12/local-de-trabalho.html
Por ter sido admitido quando
esse layout já existia, fui acomodado na sala de um engenheiro mais velho. Era
um puta profissional, experiente, competente, dedicado e... totalmente sem
noção, destacando-se em um setor cheio de gente sem noção. Alguns diziam entre
risos que ele era assim por não ter tido infância, Tinha o semblante fechado, com jeito de quem
está sempre emburrado, mas era só fachada, pois, ao sorrir, ficava com cara de menino
que fez alguma sacanagem escondido. E era super gente boa.
A sala ao lado da
nossa era ocupada por um subgerente mais ou menos no mesmo estilo do meu colega.
A diferença é que não fazia nada, só punha pilha no meu colega. Durante o dia, quando
estávamos de saco cheio ou à espera de algum serviço, às vezes saíamos para
conversar fiado em outras salas. Alguns engenheiros de obras ou de outros
andares também circulavam por ali. Sentavam-se nas cadeiras avulsas existentes em
cada sala e ficavam papeando.
Quando ouvia a voz de alguém
de fora conversando com o subgerente, meu colega amassava algum papel e jogava na outra sala pela parte aberta da divisória. Claro que não acertava ninguém. Mas aí sua criança interior se manifestou e ele
bolou a brincadeira mais sem noção que poderia ter imaginado. Começou a fazer e
estocar bolas quase do tamanho de laranjas, usando várias folhas de papel de rascunho
e fita plástica.
Mas precisava de um
comparsa. E quem entrou de sócio nessa brincadeira foi o subgerente sem noção. Foi
definida uma malha formada pelo cruzamento de linhas ortogonais imaginárias
ligando o perfil de um painel a seu correspondente do lado oposto. Creio que os
painéis do maior lado eram identificados por números de 1 a 6 e os três do lado
menor receberam letras (A, B e C). Com isso, criaram uma espécie de GPS para os
visitantes que iam à sala do subgerente. O visitante que ficava próximo à porta estava
no quadrado A1; quem estava sentado em uma das cadeiras em frente à mesa do
subgerente poderia estar nos quadrados A4, B4 ou C4. E por aí.
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