domingo, 11 de abril de 2021

LOCAL DE TRABALHO

Em Beagá, quando alguém resolvia criticar um pedreiro mais inexperiente ou ruim de serviço, usava a expressão "pedreiro de meia colher". E a colher, no caso, era a colher de pedreiro. Essa expressão eu já usei para ironizar alguns profissionais que conheço, tais como “advogado de meia colher”, “médico de ...”, “engenheiro de ...”, só de sacanagem.

Pois bem, embora tentado, estava meio relutante em liberar minha porção desenhista-de-meia-colher "que até então se resguardara". Mas, certamente, essa não é "a porção melhor que trago em mim agora" (desculpe-me, Gil). O problema é que eu não tenho autocrítica.

E como reencontrei desenhos antigos que minha Amada carinhosamente guardou, resolvi postar alguns no Blogson, na sessão apropriadamente chamada "Eu não sei desenhar". O primeiro dos escolhidos é uma reprodução da sala onde passei os melhores anos de minha vida profissional. Essa sala era dividida com um colega muito competente e obcecado por catálogos de equipamentos de construção. Esses catálogos eram arquivados em inúmeras pastas, colocadas em uma estante quase em frente à minha mesa.

Um belo dia, sem muita coisa para fazer, resolvi desenhar ("copiar" seria o termo mais adequado) tudo o que conseguia ver à minha frente, mas sem mover a cabeça. Só os olhos podiam se mexer. E o resultado ficou bem legal, como se fosse visto através de uma lente ou coisa assim. 

Embora exaustivo e sacal, é fácil descrever um ambiente, basta que você o tenha registrado em sua mente. Depois, é só escrever cada coisa, cada canto, cada detalhe que você enxerga mentalmente. Entretanto, à medida que o tempo passa essas lembranças vão ficando embaçadas e as particularidades e detalhes se perdendo.

Estou dizendo isso por um motivo: se eu quisesse hoje descrever a sala onde trabalhava, teria alguma dificuldade. Entretanto, revendo o desenho tosco que fiz, lembro-me de tudo com facilidade. Aliás (cultura inútil), eu li em algum lugar que o Pedro Nava, para descrever em seus livros de memória as características de alguma pessoa de destaque, primeiro fazia um desenho o mais detalhado possível do personagem. Só depois mandava bala (no sentido figurado, por favor).

Então, fruto de minha autocrítica zerada, aí está o tal desenho, provavelmente realizado entre 1985 e 1990).


(15/12/2014)

6 comentários:

  1. uma visão do inferno...
    peraí!? trabalhou onde eu trabalho atualmente?
    hahahahaha
    trabalho numa repartição lixo caindo aos pedaços, fiquei até com inveja

    abs!

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    1. Lixo foi o que fizeram depois! Sabe aquele cara que ouviu o galo cantar mas não sabe onde? Pois é, um chefe equivocado resolveu tirar todas as divisórias do andar onde trabalhávamos, sem pensar que o projeto original não tinha previsto soluções acústicas para a falta de divsória: não havia forro nem piso capazes de absorver ou minimizar o ruído. Assim, qualquer pessoa que andasse com sapato que não tivesse solado de borracha provocava aquele irritante "toc toc toc". Mas isso durou pouco, pois a empresa foi escorregando para o ralo, vendeu esse prédio, alugou andares isolados em outro prédio e bem menores, dispensou gente e quando eu vi já estava metendo um processo na empresa que eu adorava.

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    2. Essa empresa esteve entre as maiores construtoras do país, mas acabou espremida entre as gigantes (o pessoal da Lavajato) e as pequenas e médias que estavam sempre dispostas a se suicidar economicamente ao ganhar obras a preço vil. Juntando isso mais o ambiente recessivo e ela começou a engasgar. O melhor diretor saiu, o dono chamou uns zé manés para ajudar e o barco foi afundando devagarinho. Creio que hoje ainda existe, talvez com outro nome e outro dono. Os grandes engenheiros sairam ou se aposentaram e só restou o "acervo técnico", os atestados de belas obras feitas no passado.

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