sexta-feira, 9 de abril de 2021

EU ME RENDO

Eu me rendo! Sinceramente. Desisti de tentar entender qual é o sentido da Vida, minha última e mais recorrente obsessão (creio que isso é um pleonasmo), que é também um sinal inequívoco de velhice (é nunca que eu pensaria nisso quando era jovem!). 

Esse assunto é infinitamente mais complexo do que minha mente medíocre consegue processar. Mas, para não passar de liso, aí vai o resumo do que eu consegui pensar, a partir das informações profundamente “técnicas” obtidas de “Veja”, “Animal Planet”, “National Geographic Channel” (equivalentes atuais dos antigos almanaques; alguém aí já ouviu falar de Almanaque do Biotônico Fontoura? Não???? Tudo criança!!):

A vida surgiu a partir de moléculas complexas de carbono que, à falta do que fazer viviam se formando de forma aleatória. Onde e exatamente como surgiu a Vida, não sei. Se quiserem, marquem um “x” na opção “Deus”. Se não quiserem, podem marcar “Acaso” ou “nenhuma dessas respostas”. O que sei é que em algum momento, em algum lugar do universo (uma das teorias diz que os primeiros organismos teriam chegado à Terra trazidos por cometas) houve um “Fiat Lux”, ou melhor, um “Fiat Vitae”, um momento em que um bando de moléculas vagabundas e desocupadas transformou-se em nano-organismos, organizados e com características que servem para classificá-los como seres vivos. 

Provavelmente (essa é a minha opinião), em virtude do ambiente extremamente hostil em que surgiram, as mutações mais bem sucedidas devem ter registrado em seu código vital a necessidade de reproduzir-se da forma mais ampla possível e o instinto de sobreviver pelo máximo tempo possível (o que ajudaria na reprodução). Os redatores bíblicos entenderam a lógica da coisa e registraram o “crescei e multiplicai-vos”. Não é demais pensar também que, já nos primeiros momentos, as mutações propiciaram a diversificação das espécies e o surgimento de presas e predadores.

Antes que alguém (quem?) pergunte onde eu quero chegar com essa lenga-lenga chutada, já vou logo dizendo o que penso: os seres vivos de hoje, aí incluídos os “manos”, são como que ecos longínquos daqueles primeiros organismos. Então, para mim, mesmo que a Vida seja uma coisa sem sentido ou explicação, há apenas um sentido para o período de vida dos seres vivos. E esse sentido é em última análise o velho e bom “crescei e multiplicai-vos” – e mais nada! Tudo o que um sujeito faz ao longo da vida tem como mola principal (mesmo que não percebida) o instinto de perpetuar-se, seja pela reprodução ou pela sobrevivência pura e simples dele próprio (basta lembrar o ditado popular que diz que “todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer”). 

Trabalho, estudo, lazer, cuidado com a saúde, hábitos de vida, alimentação, tudo isso não passa de “ferramentas” para atingir esses dois proto-instintos: sobreviver e multiplicar-se.

Provavelmente, foi pelo desejo de perpetuar-me que acabei por escrever este texto maluco.

(Ano provável da versão original deste texto: 2010.  Foi publicado no Blogson em 19/09/2014)



4 comentários:

  1. O texto é malucamente bom. Você faz boas relações entre ciência e a bíblia. Assim o Harari acaba te chamando pra colaborador.
    E sim, também me parece a mesma coisa, que o sentido da vida, de qualquer forma de vida, é simplesmente ser viva, e sobreviver a tempo de se multiplicar. Você resumiu livros e mais livros de evolução, história natural etc.
    Eu disse qualquer forma de vida, mas na verdade só há uma espécie no planeta : o DNA, que no afã, na ambição, na ganância e na voracidade de ocupar todos os espaços do planeta, vai produzindo versões de si mesmo mais aptas a cada ambiente. Quero ocupar o ambiente aquático, decide o DNA, e lá vem um modelo com brânquias etc.
    Se quiser um outro livro, talvez não tão impactante quanto o Sapiens, mas quase, leia o Gene Egoísta, de Richard Dawkins, brilhante geneticista antes de sair pelo mundo em proselitismo do ateísmo, em que ele postula a evolução pela perspectiva do gene e não do organismo ou da espécie.
    Tem um link onde dá pra ler ou baixar o pdf se você quiser :
    https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxwc2ljb2xvZ2lhYmVoYXZpb3Jpc3RhfGd4OjY1YTJmMTFlOTIzYjk5OTk

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    1. Valeu pela dica! Mas aproveito para lembrar que este texto foi esboçado quatro anos antes do blog ser criado. Não tenho a menor ideia se foi enviado a algum de meus filhos. Devia estar guardado em alguma pasta que esqueci de deletar (eu tenho essa mania). Mas serve também para te dar uma cutucada: foi ou não foi bom movê-lo para os dias atuais? Faça o mesmo com os textos antigos do Marreta, seus leitores gostarão de ler papiros antigos. Obrigado pelo comentário, fundamental nos últimos tempos.

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  2. O sentido da vida é a própria vida
    Viver nossos dias enquanto eles se esgotam da maneira que podemos escolher

    Abs!

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    1. Pode ser, meu caro Scant. Alguém já disse que o sentido da vida é "para a frente".

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