A família de minha mãe possui um invejável componente
genético relacionado à longevidade. O irmão de meu avô materno morreu com 103
anos de idade, permanecendo lúcido até os 102. Talvez meu avô pudesse seguir o
mesmo caminho se não tivesse morrido aos 76 anos, atropelado quando ia ou
voltava da casa de sua segunda mulher (creio que ele era bom de tiro, pois teve
onze filhos apenas com minha avó, mas nada sei da segunda família).
O que sei é que alguns dos irmãos de minha mãe
parecem ter sido aquinhoados com alguns desses genes matusalêmicos. Minha tia
mais velha tem hoje 102 anos e, embora ultimamente esteja rateando um pouco, até
recentemente estava totalmente lúcida. Meu tio mais novo completou 81 anos neste
mês de abril. O defeito ou problema do filho da puta é parecer ser mais jovem
que eu, mesmo tendo dez anos a mais!
Acho que esse bons genes, “eugenes”, passaram longe de mim, substituídos por “badgenes” que me deram a aparência atual
de múmia egípcia. Paciência... Mas não é disso que eu quero falar. Meu assunto
hoje é vacina, ou melhor, vacinação.
Uma das irmãs de minha mãe ligou para mim
esta semana, pois estava “morrendo de saudade”. Claro que eu tinha de tratá-la
bem (até porque estou de olho nos muitos livros que ela ainda tem, pois é “solteirrona”
e, mesmo tendo alguns sobrinhos de estimação (grupo onde modestamente me
incluo), a maioria é toupeira e está mais interessada em ganhar dinheiro (uma
pequena dose de veneno familiar nunca é demais!).
Pois bem, conversa vai, conversa vem,
queixou-se do isolamento prolongado, pois está trancada dentro de casa e sem
poder visitar a irmã de 102 anos. Esqueci-me de dizer que a “veneranda macróbia” (como dizia o Estanislau
Ponte Preta ao referir-se à Tia Zulmira,
um dos personagens divertidíssimos criados por ele) tem 87 anos. Mas, ao
contrário da Tia Zulmira, minha tia é uma senhora “escovadíssima”, saudável...
e caipira.
Preciso explicar esse “reticente caipirismo”. Todos os meus tios, tanto por parte de pai
como por parte de mãe nasceram “na roça”, longe dos ares civilizatórios da
cidade grande. Meu pai nasceu em um distrito de Ponte Nova, minha mãe nasceu em
Ijaci, glorioso município que possuía 5.863 habitantes segundo o Censo de 2010.
Infelizmente, graças à falta de senso dos atuais mandachuvas do país ao
cancelar o Censo, tão cedo não saberemos a quantas anda a orgulhosa população
da cidade natal de Dona Lia.
Mas estou escapando mais do assunto que quero
abordar que minha tia das seringas usadas para vacinar. Comentei com ela já ter
tomado a primeira dose de Coronavac e disse estar louco para tomar a segunda,
pois não aguento mais de vontade de abraçar as pessoas que amo e que graças à
mamoninha assassina estou impedido de fazer há 400 dias.
Despreocupadamente comentei que por ela já
ter tomado as duas doses de vacina estava obviamente em situação bem melhor que
a minha. Foi aí que eu ouvi a resposta inacreditável:
- “Eu não tomei a vacina, eu não tomo nenhuma vacina”.
Como é? Minha tia não toma vacina? Nem contra a gripe? Nenhuma? Minha tia não foi vacinada contra a Covid? Pataquipareu! Outro comentário inacreditável:
- “O pior é ter de ficar presa em casa até acabar a pandemia!”
Como assim, tia? Ela prefere ficar presa
dentro de casa a tomar a vacina que a libertaria do isolamento. Mas ela já está
com 88 anos! E se a pandemia demorar três anos para acabar, como é que fica? Aí
veio o xeque-mate:
- “Eu sou contra vacina”.
Mesmo tendo se aposentado como secretária executiva de um diretor de multinacional, continuou caipira! Aí eu constatei que minha tia é da tchurma do Bozo! Agora, se eu ironizar alguém por duvidar da
eficácia da “vachina” ou por se comportar como nosso estimado e xucro Cavalão
e ouvir como resposta que “anti-vacina é
a senhora sua tia!”, serei obrigado a me calar, concordar e aceitar o nocaute.
- “Eu não tomei a vacina, eu não tomo nenhuma vacina”.
Como é? Minha tia não toma vacina? Nem contra a gripe? Nenhuma? Minha tia não foi vacinada contra a Covid? Pataquipareu! Outro comentário inacreditável:
- “O pior é ter de ficar presa em casa até acabar a pandemia!”
- “Eu sou contra vacina”.
Rapaz, como eu já disse algumas vezes, acredito mesmo que o Bolsonaro não seja o responsável por esse caos todo que foi sendo instalado no Brasil desde as caravelas; acho mesmo que ele não é a causa de nada disso, ele é apenas um dos trágicos efeitos dessa bagunça toda que sempre fomos.
ResponderExcluirNem vou dizer comportamento negacionista, pois ele nunca negou a existência da mamona assassina, o que ele sempre fez foi minorar os perigos dela, não lhe dar a devida importância.
E esse comportamento dele só encontra tanto eco, só faz tanto sucesso porque coincide com o que muita gente da população pensa, sempre pensou, muito antes do Bozo ter sequer se candidato.
Você falou da sua tia, e se nós pesquisarmos por aí, encontraremos milhares e milhares como ela. Uma das avós da minha esposa morreu praticamente saudável, sem nenhuma dessas doenças que acometem os velhos, pressão alta, diabetes, colesterol, osteoporose, nada disso, morreu, simplesmente, porque o corpo se "cansou", desligou.
Morreu aos 90 anos e, salvo alguma vacina que possa ter tomado na infância (nem sei se na infância dela havia acesso fácil a vacinas), nunca tomou nehuma outra.
Quando os filhos insistiam para que ela tomasse ao menos a da gripe, ela dizia que o governo tava querendo matar todos os velhos para não ter que lhes pagar as aposentadorias.
Na verdade, a sua tia e a avó da minha esposa não são da tchurma do Bozo, ele é que é da turma delas. Ele não incutiu nada disso na cabeça de ninguém, no imaginário popular. Ele tão-somente nada de braçada nisso tudo.
E a pandemia vai durar muito mais que três anos.
Vivos - espero - estaremos! Mas eu votar no Lula? Nem morto!!! Provavelmente, se o atual cenário político não mudar, anularei meu voto. Como faço desde o segundo mandato do FHC (votei nele no primeiro) e como deveria ter feito em 2018.
ExcluirMas agora passei mais para deixar uma dica. Apareceu um novo "comentarista" lá no Marreta e ele também tem um blog. Dei uma lida em alguns textos dele e gostei pra caralho. Ele escreve direitinho. Acho que poderá agradar a você também. Fica a dica:
https://magodotempo.com/brasil-um-cao-cheirando-o-frango-na-maquina-giratoria-de-padaria/
Eu disse “tchurma” porque essa ignorância é bem o estilo dele. Eu sempre defendo as crenças junto a meu filho ateu, justamente pelo potencial efeito benéfico (monumentos, templos, esculturas, pintura, música e conforto espiritual desde quando não havia antidepressivos e terapias), mas deploro e condeno veementemente quando essas crenças embarcam no obscurantismo e no negativismo. Pior ainda quando isso vem do presidente do país, que acaba servindo de exemplo para pessoas mais simplórias ou ingênuas. Meu consolo é saber que a História não terá nenhuma condescendência com esse merda. E em 2022 (se eu ainda estiver vivo), votarei até no Lula, só para ele não ser reeleito. Minha crítica maior (tenho várias) a ele é o fato de ter perdido amigos e conhecidos que poderiam ainda estar vivos se ele tivesse aceitado comprar vacinas tão logo isso foi possível. Ele poderá até não tomar vacina (o que eu duvido, pois imagino que já tomou às escondidas), mas jamais conseguirá tirar o cu da seringa.
ExcluirEu NÃO QUERO votar no Lula, mas até esse sacrifício eu faço (por ser moderado politicamente), mas votar de novo em um sujeito que vira e mexe quer agir na base do antigo "eu prendo e arrebento" é muito para mim. Chega de autoritarismo e de autoritários.
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