quinta-feira, 29 de abril de 2021

NAVALHA NA CARNE

 
Eu creio já ter contado essa história aqui no Blogson, mas não pude deixar de me lembrar dela ao ler no site A Marreta do Azarão o post “Pau de Bêbado Não Tem Dono”, um texto literalmente do caralho, com a ironia e o humor típicos da grife Azarão (a parte em que ele fala da propaganda “boca a boca” é hilária).
 
A história é a seguinte: não sei mais se foi na televisão ou no cinema que eu vi um dos filmes brasileiros mais divertidos já produzidos. Na época em que foi realizado, os filmes brasileiros eram puro lixo, as chamadas pornochanchadas, de péssimo e apelativo humor. Mas esse saiu diferente, pois era um dos três episódios de um filme cômico, quase não tinha diálogo e era (é) muito engraçado.
 
Só me dispus a assisti-lo depois de ler no Pasquim uma entrevista com seu diretor (Anselmo Duarte, se não me engano), que fez um resumo do filme. A história se baseava em um fato real, semelhante ao que foi narrado pelo meu amigo virtual Marreta. Os atores eram o fabuloso Tião Macalé e a gigantesca Wilza Carla (o pessoal das antigas certamente se lembra desses atores).
 
E a história é a seguinte: o franzino Tião Macalé era casado com a montanhosa Wilza Carla. Ele, um sujeito galinha, sempre atrás de um rabo de saia. Ela, uma dona de casa ciumentíssima que sempre ameaçava emascular o marido por causa de suas traições. E uma navalha sempre era exibida.
 
Um dia o personagem acorda com o pijama todo ensanguentado e vê que a mulher tinha cumprido a promessa. Fecha um close na cara do Macalé e ele sai gritando desesperado para o hospital. A cena seguinte já é o momento em que acorda da cirurgia, com o médico perguntando se tinha filhos. Ele responde que não, pois a “patroa” nunca quis ter. E quer saber o motivo da pergunta:
- Infelizmente, Sr. Fulano, o senhor não poderá mais ter relações sexuais.
- Como assim doutor?
- O senhor perdeu o pênis.
- Não doutor, eu cheguei com ele aqui na mão!
- Lamento, mas deve ter caído pelo caminho.
- Mas não sobrou nem um toquinho?
- Lamento.
 
Os diálogos foram criados por mim a partir das imagens surgidas na minha cabeça. E o Macalé sai correndo do hospital tentando encontrar a “joia” perdida. Lembro-me de três cenas durante a corrida desabalada do personagem.
Ele chega perto de uma velha senhora e faz uma pergunta inaudível para o espectador, tendo como resposta:
- Ah, meu filho, faz muito anos que eu não vejo um!
 
Na segunda cena a pergunta é feita a um homem que, ofendido, bota o Macalé para correr. E a cena final da busca (filmada com o auxílio de uma salsicha) acontece quando o personagem  imagina ver o pau na boca de um cachorro, que sai correndo quando o personagem tenta retomar o que lhe pertencia.
 
Nessa hora o filme corta para o Macalé deitado na cama, vestindo o mesmo pijama da cena inicial, mas sem nenhuma mancha de sangue. Olha para o criado mudo onde sempre ficava a navalha e vê um barbeador elétrico. Todo aquele drama era só um pesadelo. E o filme termina com ele se barbeando e dizendo:
-Viva o barbeador elétrico, viva o Brasil!

3 comentários:

  1. Rapaz, esse filme me parece imperdível! Lembra o nome dele, para que eu tente achá-lo na internet?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Encontrei para você. O filme é de 1969 e chama-se “O Impossível Acontece” e o episódio do Macalé é “O Reimplante”.

      Excluir
    2. Valeu! Vou tentar achar essa preciosidade para assistir!!!

      Excluir

ANIME-SE, JOTABÊ!

  Fiquei muito feliz depois de publicar o primeiro e-book com 60 poesias escritas ao longo de 10 anos de blog, pois tinha passado de bloguei...