Creio que devo ter nascido ouvindo boleros quase como se fossem canções de ninar, pois com meu pai quebrado, morávamos na casa
de minha avó materna com mais oito tios e tias. E eles eram festeiros, alegres e gostavam
de dançar. E nada como um bolero para dançar de rosto colado e sussurrar
bobagens no ouvido do ou da parceira. Aliás, um dos maiores traumas que eu tenho é não
saber dançar o “dois pra lá, dois pra cá”
de forma minimamente aceitável, um diferencial que teria sido muito útil na
adolescência.
Mas, voltando aos boleros, a partir dos 12 a 14 anos comecei a achar aquilo muito brega, pois estava mergulhando de cabeça no rock e na beatlemania. E a opção pelo rock sempre foi a linha (melódica) mestra da minha vida. Depois, já com uns 17 a 19 anos, senti que precisava gostar de sons mais cult, mais sofisticados, alternativos ou psicodélicos (MPB, João Gilberto, Jimi Hendrix). Também aí não havia espaço para o bolero, até porque não era mais tocado nas horas dançantes da época.
O tempo passou, eu fui envelhecendo e cada vez mais me lembrando dos velhos boleros da infância. E descobri que também gostava daquele som, trilha sonora adequada para sonhos e tristezas. E é com essa visão que surgiu o post de hoje. A música é “Se alguém telefonar”, um bolero dor de corno composto em 1958 por Alcyr Pires Vermelho e Jair Amorim (um craque do gênero).
Mas, voltando aos boleros, a partir dos 12 a 14 anos comecei a achar aquilo muito brega, pois estava mergulhando de cabeça no rock e na beatlemania. E a opção pelo rock sempre foi a linha (melódica) mestra da minha vida. Depois, já com uns 17 a 19 anos, senti que precisava gostar de sons mais cult, mais sofisticados, alternativos ou psicodélicos (MPB, João Gilberto, Jimi Hendrix). Também aí não havia espaço para o bolero, até porque não era mais tocado nas horas dançantes da época.
O tempo passou, eu fui envelhecendo e cada vez mais me lembrando dos velhos boleros da infância. E descobri que também gostava daquele som, trilha sonora adequada para sonhos e tristezas. E é com essa visão que surgiu o post de hoje. A música é “Se alguém telefonar”, um bolero dor de corno composto em 1958 por Alcyr Pires Vermelho e Jair Amorim (um craque do gênero).
Para tirar dessa canção “a pátina
do tempo”, escolhi uma versão ao vivo interpretada pelo Milton Nascimento - quando ele ainda tinha a voz que mereceu esse comentário da Elis Regina: “Se Deus cantasse Ele cantaria com a voz
de Milton Nascimento”. Olhaí.
A Elis sempre foi muito exagerada e protetora em relação aos seus músicos e letristas próximos. Tipo coisa de mãe, mesmo. Mas no caso do Milton eu assino embaixo. Ele tem a voz mais doce e bonita da história da música brasileira.
ResponderExcluirEu fico triste em dizer que ele TINHA. Tenho visto algumas lives dele e são uma lástima. Tudo bem que são lives domésticas, um ou dois instrumentos, mas a voz está trêmula, uma das mãos fica tremendo (Parkinson?). É muito triste ver isso de um sujeito de quem já tive a pretensão de ter todos os discos que lançou (quase consegui).
ExcluirÉ a podridão, meu velho. Também escutei o Milton recentemente e a decrepitude também atingiu a sua voz. Diferente, por exemplo, do Cauby Peixoto, que nem mais conseguia ficar em pé, mas a voz continuou impecável até a morte. Idem para o Nélson Gonçalves.
ExcluirTem razão. Outro que está uma lástima é o Beto Guedes. Tinha uma voz quase feminina, mas muito boa. Hoje, ele não consegue ou tem receio de tentar fazer os agudos e graves das músicas que compôs. A solução que adotou é como se fosse uma obra de terraplenagem: cortou os morros e aterrou as grotas, ou seja, nivelou seu canto ou terceirizou alguns trechos para outros cantores. Velhice é uma merda!
ExcluirExatamente. E isso eu entendo como algo natural. Eu sempre falo da era de ouro desses artistas. Não o agora. Eu julgo eles pelo seu auge. Uma coisa certeira é o peso da Biologia. Nas mulheres, é quase certo a perda dos agudos. É preciso saber parar ou saber retrabalhar as mudanças da voz. Eu tentei ouvir recentemente a Alanis Morissette numa live da casa dela... cara, sério. Não deu.
Excluir