domingo, 10 de janeiro de 2021

SE ALGUÉM TELEFONAR - MILTON NASCIMENTO

Creio que devo ter nascido ouvindo boleros quase como se fossem canções de ninar, pois com meu pai quebrado, morávamos na casa de minha avó materna com mais oito tios e tias. E eles eram festeiros, alegres e gostavam de dançar. E nada como um bolero para dançar de rosto colado e sussurrar bobagens no ouvido do ou da parceira. Aliás, um dos maiores traumas que eu tenho é não saber dançar o “dois pra lá, dois pra cá” de forma minimamente aceitável, um diferencial que teria sido muito útil na adolescência.
 
Mas, voltando aos boleros, a partir dos 12 a 14 anos comecei a achar aquilo muito brega, pois estava mergulhando de cabeça no rock e na beatlemania. E a opção pelo rock sempre foi a linha (melódica) mestra da minha vida. Depois, já com uns 17 a 19 anos, senti que precisava gostar de sons mais cult, mais sofisticados, alternativos ou psicodélicos (MPB, João Gilberto, Jimi Hendrix). Também aí não havia espaço para o bolero, até porque não era mais tocado nas horas dançantes da época.
 
O tempo passou, eu fui envelhecendo e cada vez mais me lembrando dos velhos boleros da infância. E descobri que também gostava daquele som, trilha sonora adequada para sonhos e tristezas. E é com essa visão que surgiu o post de hoje. A música é “Se alguém telefonar”, um bolero dor de corno composto em 1958 por Alcyr Pires Vermelho e Jair Amorim (um craque do gênero).

Para tirar dessa canção “a pátina do tempo”, escolhi uma versão ao vivo interpretada pelo Milton Nascimento - quando ele ainda tinha a voz que mereceu esse comentário da Elis Regina: “Se Deus cantasse Ele cantaria com a voz de Milton Nascimento”. Olhaí.


 

5 comentários:

  1. A Elis sempre foi muito exagerada e protetora em relação aos seus músicos e letristas próximos. Tipo coisa de mãe, mesmo. Mas no caso do Milton eu assino embaixo. Ele tem a voz mais doce e bonita da história da música brasileira.

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    1. Eu fico triste em dizer que ele TINHA. Tenho visto algumas lives dele e são uma lástima. Tudo bem que são lives domésticas, um ou dois instrumentos, mas a voz está trêmula, uma das mãos fica tremendo (Parkinson?). É muito triste ver isso de um sujeito de quem já tive a pretensão de ter todos os discos que lançou (quase consegui).

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    2. É a podridão, meu velho. Também escutei o Milton recentemente e a decrepitude também atingiu a sua voz. Diferente, por exemplo, do Cauby Peixoto, que nem mais conseguia ficar em pé, mas a voz continuou impecável até a morte. Idem para o Nélson Gonçalves.

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    3. Tem razão. Outro que está uma lástima é o Beto Guedes. Tinha uma voz quase feminina, mas muito boa. Hoje, ele não consegue ou tem receio de tentar fazer os agudos e graves das músicas que compôs. A solução que adotou é como se fosse uma obra de terraplenagem: cortou os morros e aterrou as grotas, ou seja, nivelou seu canto ou terceirizou alguns trechos para outros cantores. Velhice é uma merda!

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    4. Exatamente. E isso eu entendo como algo natural. Eu sempre falo da era de ouro desses artistas. Não o agora. Eu julgo eles pelo seu auge. Uma coisa certeira é o peso da Biologia. Nas mulheres, é quase certo a perda dos agudos. É preciso saber parar ou saber retrabalhar as mudanças da voz. Eu tentei ouvir recentemente a Alanis Morissette numa live da casa dela... cara, sério. Não deu.

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