sábado, 30 de janeiro de 2021

UMA HISTÓRIA FABULOSA

 
Hoje, depois de me submeter à minha dose diária de masoquismo, obtida com a leitura de comentários inacreditáveis, espantosos, repulsivos ou inconcebíveis que lunáticos, ignorantes ou boçais fazem a propósito de qualquer assunto veiculado nos portais de notícia ou nas redes sociais da internet, fiquei pensando no motivo, na origem desse fenômeno (não o meu masoquismo, mas os comentaristas e seus comentários). E cheguei à conclusão que tudo começou com Adão e Eva. Podem acreditar!

Na verdade, a culpa, o pecado original dessa ignorância, dessa falta coletiva de sensatez teria sido provocado pelo "Pai de todxs" (arrasei agora!), pois o Deus do Antigo Testamento é a versão “raiz” da divindade: cruel, vingativo e rancoroso - apesar de paradoxalmente tolerante com todo tipo de sacanagem que seus prediletos faziam (algo assim como o comportamento de um pai com três de seus quatro ou cinco filhos). Por isso, mesmo sendo darwinista resolvi escrever esta fábula criacionista:
 
 
Dizem que em certo dia da Criação... (há controvérsias sobre essa construção gramatical - ou que nome tenha isso -, pois a tradução de línguas antigas sempre foi uma pedreira*). Pois bem, voltando à frase inicial (estou com a mania de fazer parênteses longos) parece que o correto seria dizer “no sexto dia da Criação” Deus resolveu criar o homem. Segundo relatos fidedignos, Deus fez as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e também, criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.
 
Até aí nada de mais. O problema é que o Deus do Antigo Testamento era muito centralizador, controlador e ciumento de seu poder. Por isso e só por isso fez uma puta sacanagem com os descendentes do casal primordial (imagino que ele sabia o que poderia acontecer no futuro, mas achou tão irrelevante quanto uma gripezinha que às vezes nos acomete); em um dia D e em uma hora H o Criador chamou Adão e disse-lhe o seguinte (assim está registrado nas Escrituras!):

(Gen 2:16) Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; (Gen 2:17) mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (...)
 
O que se seguiu depois disso todo mundo sabe: para escrever sua monografia de conclusão do curso de psicologia bíblica, a serpente teve a ideia de oferecer a Eva o tal fruto, pois queria estudar as reações do proto-casal diante da revelação, do insight, do conhecimento instantaneamente adquirido através da fruta (os descendentes desse casal tentaram fazer isso depois com cogumelos, mas esse é um assunto para outra hora).
 
Agora, pense comigo: o que Deus ganhou com isso? Tirando o fato de tentar controlar Adão pelo medo, a única coisa que conseguiu foi criminalizar o Conhecimento (“certamente morrerás”), semear a descrença na Educação e desqualificar a Ciência e o método científico (“De toda árvore do jardim podes comer livremente”). Em contrapartida, estimulou a falta de senso crítico e o abandono da busca da Verdade. Além, claro, de ter jogado a serpente na sarjeta e a condenado a comer pó pelo resto da vida (há quem defenda que no lugar de “comer” o certo seria “cheirar”).
 
E para mal dos pecados (originais), a coitada nem conseguiu concluir o curso, pois mesmo depois de receber muitas cobranças, não pôde finalizar e entregar a monografia cobrada (afinal, agora faltavam-lhe dedos e dados). Essa frustração a encheu de rancor, fazendo com que muitas vezes exibisse um veneno até então desconhecido.
 
O que sei é que o divino descaso com a educação e a consequente valorização da Crença em detrimento do Conhecimento, da Verdade e da Ciência acabaram por fazer surgir da descendência de Caim (que ao assassinar o próprio irmão e não assumir sua culpa já demonstrou não ser boa bisca!) uma mutação não mais feita à imagem e semelhança de Deus, uma multidão completamente tapada e imbecil (sempre propensa a defender suas crenças até mesmo com o uso de mentiras ou meias verdades) que cresceu e se multiplicou de forma totalmente descontrolada (essa manada acabou sendo informalmente chamada de “homo stupidus”).
 
Depois disso, a situação agravou-se tanto que em tempos recentes, tal como acontecia na época do Antigo Testamento, um arauto moderno do caos fez esta profecia amedrontadora:
- “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.
Não contente com isso, ainda completou:
- “Em nosso século, o grande homem pode ser ao mesmo tempo uma besta!” (esta profecia já se cumpriu).
 
Imoral da história:
Como disse Nelson Rodrigues (o arauto do caos), Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: - a nossa.

(*) E se quiser saber agora por que decifrar escritos antigos sempre foi uma pedreira, a explicação é esta: não havia páginas para folhear, velhos incunábulos para manusear, estudar. O que havia eram tabuinhas de argila (material que se provou de boa qualidade depois de ter sido utilizado para moldar o corpo de Adão) ou pedra. Por isso, entender o significado daquelas cobrinhas e sinais ininteligíveis até que era mole. Foda mesmo era ficar muito tempo em pé para copiar aquela tranqueira, normalmente gravada em colunas, obeliscos e paredões de pedra (“pedra”, “pedreira”, sacou a associação de ideias?). Ou movimentar centenas de placa de argila de uma pilha para outra. Ao final de um dia de serviço a coluna dos arqueólogos ficava em petição de miséria. E esse esforço repetido inúmeras vezes por meses e anos certamente gerou problemas posturais nos dedicados decifradores. Aliás, essa a verdadeira origem da palavra “arqueólogo”, pois os sábios terminavam seus dias com a coluna totalmente arqueada. (Jotabê também é cultura)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

TIMELINE

 
Os títulos das postagens que faço muitas vezes são convites subliminares para que algum incauto viajante da internet acesse o blog. Ao se fazer alguma consulta no Google pode acontecer deste blog desconjuntado ser listado nas opções de pesquisa (sei lá como se chama isso!). Pois bem, o texto a seguir é um esforço sério e sincero para descobrir o que alimentou atitudes e decisões que normalmente “ninguém faz” (lembrei-me da lindíssima música “Mil perdões”, do Chico). E o comportamento bizarro é a defesa apaixonada do uso da hidroxicloroquina. E essa pesquisa, esse esforço recebeu o nome de Timeline (poderia ser também "Taimilaine"). Se pescará algum estrangeiro é outra história.
 
Já faz algum tempo que uma obsessão tomou conta de mim. Na verdade, nenhuma das minhas tradicionais, de estimação. A obsessão que tem me importunado é a permanente defesa que nosso presidente faz do uso da hidroxicloroquina (ou só cloroquina), associada ou não a antibióticos e outros medicamentos como tratamento preventivo e curativo contra ou da Covid-19.
 
Essa defesa paranóica, obcecada de medicamentos que a maioria da comunidade médica e de saúde do mundo todo já descartou por ineficazes é realmente surpreendente. E preocupante. Por isso, tentei encontrar na internet uma cronologia da conversão de um medicamento originalmente destinado ao tratamento da malária a remédio milagroso e eficaz contra a mamoninha assassina.
 
Os dados que consegui reunir podem ser contestados ou complementados, mas dão uma visão interessante de uma queda de braço pelo que é certo ou errado que nunca deveria existir. Bora lá.
 
USO CONVENCIONAL OU TRADICIONAL
A hidroxicloroquina foi sintetizada em 1946 e usada na prevenção e tratamento de malária. Também pode ser usada no tratamento de artrite reumatoide, lúpus eritematoso, porfiria cutânea tarda, etc. (tenho um cunhado a quem foi receitado o uso de cloroquina para sua artrite. Pouco tempo depois precisou parar de usar esse remédio, pois estava afetando seu coração).

"Os efeitos adversos mais comuns provocados pelo medicamento são náuseas ligeiras e ocasionalmente cólicas abdominais com diarreia ligeira. Os efeitos adversos mais graves afetam o olho, incluindo retinopatia. A retinopatia grave e irreversível é um dos efeitos adversos mais graves da administração a longo prazo de hidroxicloroquina".

"No tratamento de curta duração da malária aguda, os efeitos adversos incluem cólicas abdominais, diarreia, problemas cardíacos, diminuição do apetite, dores de cabeça, náuseas e vômitos. No tratamento de longa duração do lúpus ou da artrite reumatoide os efeitos adversos incluem sintomas agudos, acrescidos de alterações na pigmentação dos olhos, acne, anemia, descoloração do cabelo, bolhas na boca e nos olhos, problemas no sangue, convulsões, problemas de visão, diminuição dos reflexos, perturbações emocionais, coloração excessiva da pele, perda de audição, urticária, prurido, problemas no fígado ou insuficiência hepática, perda de cabelo, pele escamada, eritema, vertigem, perda de peso e ocasionalmente incontinência urinária. A hidroxicloroquina pode ainda agravar os casos de psoríase e porfiria. As crianças podem ser particularmente suscetíveis a desenvolver efeitos adversos da hidroxicloroquina". Como se pode ver, trata-se de um medicamento bastante inofensivo, quase um "floral de Bach".
 
USO EM TRATAMENTO DA COVID-19

Em 13 de fevereiro de 2020, uma força-tarefa sul-coreana recomendava a hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento experimental de COVID-19. Pelo que eu entendi, teria sido essa a primeira sugestão de uso para combater e tratar a doença, mas “um ensaio aleatorizado controlado por investigadores chineses demonstrou não haver efeito positivo da hidroxicloroquina em doses diárias de 400 mg”.

Em março de 2020, ainda bem no início da pandemia, o médico e microbiologista francês Didier Raoult divulgou um estudo sobre o uso de hidroxicloroquina no tratamento de Covid-19 que ganhou atenção mundial. Nesse estudo ele abordava o tratamento de um grupo de 26 pessoas infectadas pelo vírus. O estudo de Raoult medira apenas a carga viral. Não oferecia dados sobre resultados clínicos, nem estava claro se os sintomas reais dos pacientes tinham melhorado, nem mesmo se os pacientes tinham sobrevivido ou morrido. De início, 26 pacientes foram escalados para receber a hidroxicloroquina, seis a mais que os vinte que constavam do resultado final. Os autores escreveram o seguinte sobre esse descompasso: ‘Os seis pacientes adicionais não puderam ser acompanhados em virtude da cessação precoce do tratamento'. As razões apontadas para a interrupção do tratamento eram preocupantes. Um paciente parara de tomar a droga depois de começar a sentir náuseas. Três outros tinham sido transferidos para uma UTI fora do instituto. Outro morrera. E o paciente restante decidira deixar o hospital antes do final do tratamento.

Em 19 de março de 2020 o então presidente dos Estados Unidos deu uma entrevista coletiva onde mencionou o estudo do médico francês, que “alcançou fama internacional quando Donald Trump alçou sua proposta de tratamento para a Covid-19 à categoria de ‘cura milagrosa’”. Nada mais saboroso para um pesquisador conceituado, polêmico e com ego do tamanho do sistema solar, concorda? Creio que foi aí que a “caixa de Pandora” do tratamento foi aberta.

No dia 21 de março, dois dias depois da coletiva do Donald Trump e usando as redes sociais, nosso presidente começou a defender publicamente a cloroquina – uma versão mais tóxica do que a hidroxicloroquina.

“No Brasil, os primeiros relatos de falta de cloroquina nas farmácias apareceram entre os dias 19 e 20 de março, provavelmente como efeito da coletiva do presidente Donald Trump, na qual elogiou o medicamento. No dia 21, quando defendeu a cloroquina publicamente, o presidente Jair Bolsonaro também deu ordens para que o Exército ampliasse a fabricação do remédio”.

A partir daí houve a troca de dois ministros da saúde com formação em medicina por um general da ativa, etc. "No dia 20 de maio, o ministro interino general Eduardo Pazuello, que não tem formação médica, divulgou um protocolo liberando o uso de cloroquina e hidroxicloroquina para todos os pacientes de Covid-19".

“No dia 22 de maio, a revista médica The Lancet publicou o resultado de um amplo estudo com 96 mil pacientes de Covid-19. O estudo concluiu que o uso de cloroquina e hidroxicloroquina contra a doença é ineficaz e até perigoso, podendo provocar arritmia cardíaca e aumentar o risco de vida. Três dias depois, em 25 de maio, a Organização Mundial da Saúde suspendeu o uso de hidroxicloroquina nas pesquisas que ela própria vinha coordenando com centenas de cientistas. No dia 27 de maio, diante das evidências científicas reunidas até agora, a França decidiu proibir o uso da hidroxicloroquina no combate à Covid-19 em todo o seu território”.

Apesar de todas essas evidências, nosso presidente continuou a defender a utilização desse medicamento. Recentemente, o médico Didier Raoult, autor do estudo sobre o uso de hidroxicloroquina no tratamento de Covid-19 que tanto impressionou os presidentes do Brasil e dos EUA reconheceu erros em sua pesquisa em uma carta publicada em periódico científico. Em 04 de janeiro de 2021, em carta também assinada por toda a sua equipe e publicada no International Journal of Antimicrobial Agents, o pesquisador francês fez uma tardia “mea culpa”, ao dizer que:

"Nós concordamos com os colegas que excluir seis pacientes da nossa análise pode ter enviesado os resultados”. “Os pesquisadores disseram ter feito uma nova análise dos dados incluindo um paciente que morreu e outros que foram internados em unidade de tratamento intensivo ou que precisaram parar o tratamento por efeitos colaterais — que haviam sido excluídos da análise inicial”.
"Não houve diferença significativa na necessidade de terapia de oxigênio, transferência para UTI e mortes entre os pacientes que usaram hidroxicloroquina (HCQ) com ou sem azitromicina (AZ) e nos controles, que receberam apenas o tratamento padrão", continua a nota. Em outras palavras, com os dados que haviam sido excluídos inicialmente, o estudo demonstrou que a hidroxicloroquina não reduziu a mortalidade de pacientes de Covid-19.

Em dezembro de 2020 o Conselho Nacional da Ordem dos Médicos da França abriu um processo de investigação contra Raoult e outros seis membros da equipe que realizou os estudos. As acusações incluem desinformação pública, violações éticas e charlatanismo.
 
Que poderia dizer para encerrar esta colcha de retalhos? Graças talvez à sua veneração pelo "cabelo de milho" americano, nosso presidente optou por ressuscitar uma frase da época dos governos militares, dita por Juraci Magalhães quando era embaixador do Brasil nos Estados Unidos: "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil".

Se essa é a explicação correta eu não sei, mas sei que desconsiderar as restrições ao uso de cloroquina para tratamento da Covid (por ineficaz e inócua) apontadas por cientistas e autoridades de saúde ao redor do mundo só demonstrou que em Brasília até as emas aparentam ter mais bom senso que as antas.

Também posso teminar com música, poesia. Como cantou o João Gilberto,
 
"Já percebi a confusão
Você quer ver prevalecer
A opinião sobre a razão
Não pode ser, não pode ser".

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

POR QUE BLOGSON CRUSOE?

Este texto foi originalmente publicado no dia 10/06/2014. Em outras palavras, poucos segundos depois do "BBB - Big Bang do Blogson"

Recentemente uma pessoa de quem gosto muito me perguntou o que me leva a escrever qualquer bobagem que surge em minha mente. Respondi que devia ser por carência afetiva, vontade de aparecer, por não gostar de novela nem de futebol, por não beber cerveja, por não ficar em botequim, por gostar de torresmo, por influência da família de meu pai, por gostar do que escrevo, por ser um ET, sei lá por quê!

Mas fiquei com a pergunta na cabeça. Aí resolvi fazer ao Google essa pergunta. É claro que não valeria a opinião de escritores e profissionais do ramo, pois esses ganham para escrever. De tanto fuçar, acabei encontrando um blog com o texto transcrito a seguir. Achei legal, fiquei em total sintonia com o autor. O curioso é que esse blog deixou de ser alimentado há um bom tempo, em coerência com o que é dito no post. A propósito, o autor é Rafael Prosdocimi.

“(...) Para dizer por que não escrevo mais, devo dizer por que em algum momento de minha vida, escrevi qualquer coisa que fosse. (...)
Descobri-me medíocre, ver o belo e o sublime não me bastava, precisava de ossos, de prêmios, de parabéns, “continue assim”. (...)
Escrevia como uma forma de me justificar, uma forma de dar sentido a minha medíocre existência. Infelizmente sou um bicho social, preciso falar, ouvir, mais falar é verdade, mas preciso de outros. Adoro a solidão, mas só quando esta é marcada por períodos de intenso convívio humano, calor. Escrevia para impressionar (...)
Porque eu escrevia já não sei, algo de vaidade, esforço pra ser diferente, ousar o título de poeta, intelectual, deixar marcas na vida quando eu me for. A ideia de ser um cara genial, com ideias avançadas e futuramente escrever no Estado de Minas e aparecer no Jô Soares pode ter funcionado como catalisador... Mas como isso tudo é muito estúpido e sem sentido, penso que acabei por naturalmente perceber que não havia porque escrever (...) se ninguém ainda leu Mario Vargas Llosa ou Rubem Braga, porque haveriam de ler Rafael Prosdocimi? A ideia de um escritor puramente social, que escreve para obter afagos acaba por não me agradar de toda forma. Permanece a ideia de que algo brota dentro de mim, e me faz escrever... Algo descontrolado (...)
Acho que nunca descobrirei porque comecei a escrever, mas tenho certeza que tem a ver com (...) a materialidade da dimensão subjetiva. Quero que outros vejam o que penso, quero materializar meus anseios e pensamentos. Para que daqui a anos eu me leia e sinta que eu pensava muitas bobagens anos atrás. Para que exista a ponte, mundo objetivo e subjetivo. (...) a necessidade de comunicação que temos com o mundo, a necessidade de compreender e ser compreendido. Escrevo para me mostrar, é a porta que alcancei, a ponte que construí (...)”


Texto bacana, não? Agora, a explicação verdadeira do nome do blog: mesmo sendo um sujeito por natureza introvertido, ficava louco para receber respostas aos e-mails idiotas que encaminhava para o “grupo dos infelizes” (como identifiquei as pessoas de quem conheço o e-mail). Devia ser mesmo carência afetiva ou vontade de ser admirado ou aplaudido, sei lá. Enfim carência de alguma coisa (especialmente de autocrítica).

Normalmente, não recebia nada, o que me deixava frustradão. Meu filho mais novo sugeriu que eu criasse um blog, mas, num primeiro momento recusei, pois provavelmente só amplificaria o silêncio. De bobeira, até cheguei a pensar em nomes para um possível blog. O primeiro deles foi “Kresunto Karma”, numa associação maluca com “Presunto Parma”. Por quê? Sei não, mas só pensar idiotice pode ser um Karma na vida de alguém.

Depois, pensando nesse silêncio ensurdecedor do “grupo dos infelizes”, imaginei um título mais condizente para esse blog: “Blogson Crusoe”. Por quê? Porque seria um blog filho da solidão, oras. E o filho mais velho o criou para mim. Essa é a história verdadeira. Quando comentei sobre o nome escolhido, um dos meus filhos disse que ficaria ainda mais legal se as postagens fossem feitas só às sextas-feiras (para combinar com o personagem "Sexta-Feira" da história original do Robinson Crusoé). Mas o estoque de tranqueiras era tão grande (mais de duzentas) que só acabaria em 2018. Eu até tentei seguir a sugestão, mas a ansiedade falou mais alto. Aí foi só ladeira abaixo, sem freio.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

AMADA AMANTE

Por descuido, esta piada foi publicada no dia 26/01 com o título "Amásia", disputando as atenções com o post da Angela Ro Ro, postado no mesmo dia. "Disputar", no caso, é uma mentira piedosa, um eufesmismo para "Atrapalhar", "atropelar". Por isso, foi removido e reprogramado para hoje. Até tentei fazer gracinha com um novo título, mas a  qualidade continua horrorosamente a mesma, claro. Às  vezes a piada engasga e não sai. Batem nas suas costas, fazem até uma simpatia. Mas, depois que sai, você percebe que teria sido melhor que estivesse dentro do banheiro...


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

FRASES PARA ESQUECER DE LEMBRAR

 
1 – Não é verdade que o presidente seja contra a Coronavac! Ele deve é ter medo de agulha.
A propósito desta declaração do presidente“Eu não posso falar como cidadão uma coisa e como presidente outra. Mas como eu nunca fugi da verdade, eu te digo: eu não vou tomar vacina. E ponto final. Se alguém acha que a minha vida está em risco, o problema é meu. E ponto final”.
 
 
2 – Imprensa livre não existe para aplaudir, mas para criticar.
A propósito da frase mais utilizada pelos bolsonaristas (“Mas isso a imprensa não mostra!”). O tempo do verbo também pode ser pretérito perfeito ou futuro do indicativo. E “imprensa” pode ser substituída por “Mídia”, “Globo” ou “Globolixo”.
 
 
3 – Descoberta a variante mais perniciosa de burocracia! Recebeu o nome de BRocracia.
A propósito da resposta da ANVISA ao ministro Lewandovski sobre a liberação da vacina russa Sputnik V, já aprovada e sendo aplicada em países do Leste Europeu e da América do Sul: “Submeter a análise técnica da autarquia sanitária nacional a uma decisão tomada por autoridade estrangeira, segundo parâmetros traçados em normas jurídicas estrangeiras e baseada em realidade fática estrangeira, equivale a uma total abdicação da soberania nacional”. Mas se tivesse sido aprovada pelos Estados Unidos e União Europeia, podia. Uma variante dessa frase poderia ser "Saúde acima de tudo, Burocracia acima de todos". Ficava bom.
 
 
4 – Qualquer semelhança não é coincidência, é só o reflexo de uma imagem no espelho, são apenas imagens espelhadas.
A propósito da notável semelhança entre as estruturas mentais que geram as desculpas utilizadas pelo Lula e pelo Mito. O Lula nunca sabia de nada e o Mito nunca é o culpado de nada, nunca disse o que está gravado. (A culpa deve ser do Pazuello, só pode!).
 
 
5 – É muito brigadeiro para pouco capitão!
A propósito desta notícia: “Em 2020, Governo Bolsonaro gastou R$ 15 milhões em leite condensado”.
 
 
6 – Minha ampulheta para 2021 só vai ser virada depois que eu for vacinado.
A propósito do “tempo de estio” em que tenho vivido.
 
 
7 – 70% dos brasileiros são comunistas
Esse é um percentual estimado, a julgar pelas reações dos bolsonaristas às críticas feitas ao seu Messias. E não adianta ninguém dizer que não é! Pensei até em copiar um diálogo muito engraçado que li no Facebook, mas me distraí e perdi o texto que provocou a discussão (o bolsonarista-raiz era meu “amigo de facebook" até hoje. Não é mais).

 

DEMAIS - ANGELA RO RO

 
Hoje, ao ouvir no rádio a música “Demais” cantada pela Angela Ro Ro, resolvi procurar no Youtube seu link para postar no Blogson. Melodia linda, sofisticada e difícil de cantar sem sair do tom (trocadilho não intencional), composta pelo genial Tom Jobim e Aluísio de Oliveira. Mas, depois de descobrir várias versões com vários intérpretes, fiquei sem saber se optava pela gravação original feita por ela ou se escolhia uma versão ao vivo. A gravação de estúdio exibe na capa do disco uma Ro Ro extremamente jovem, sem rugas, sem as marcas de velhice, dos porres homéricos, uso de drogas e da decadência física que exibe na versão ao vivo, bem mais recente (2016). Ao comparar as duas imagens lembrei-me do romance “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde.
 
Essa história reúne duas de minhas obcessões, retratos e envelhecimento, mas já aviso que nunca li (e talvez nunca leia) esse livro. Mas sempre me fascinou a ideia de um retrato que envelhece e mostra a degradação física do retratado – que permanece jovem. No romance, além dos sinais de envelhecimento, o retrato exibe também as marcas da devassidão, desregramento, maldade e toda sorte de comportamentos condenáveis a que o retratado se entregava. Pensando sobre isso, cheguei a mais esta reflexão jotabélica:
 
A Velhice é o retrato de Dorian Gray da Juventude.
 
Depois dessa, só me resta transcrever três links, pois a versão de estúdio tem um pistom fenomenal. E a voz da Ro Ro - mesmo envelhecida - é incrível.

1984: 


 

1984: 


 

2016: 




segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

BANHEIRO QUÍMICO

Já contei esta história aqui antes. Mesmo assim, vou contá-la de novo, só para criar um cenário ou pano de fundo ao que quero dizer. A história é a seguinte: um conto de Monteiro Lobato que li há milhares de anos mostra Deus e o arcanjo Gabriel olhando “lá para baixo”, observando a vida existente naquele planetinha colorido. Gabriel vai perguntando e Deus explicando, etc. Em determinado momento o arcanjo tem sua atenção voltada para uma fila de “formigas” estranhas, barulhentas, animaizinhos que se destacavam das demais espécies e pergunta o que é aquilo. E Deus responde:

- Aqueles são os seres humanos em sua caminhada pela vida. Eles creem ter sido criados à minha imagem e semelhança.
- E por que emitem tão grande variedade de sons?
- Pois é... Cada grupo criou sua própria língua, diferente das demais.
- Ah, mas eles conseguem entender o que os outros dizem?
- Claro que não! Esse é um dos motivos de viverem se estranhando.
- Que horrível!
- Mas um dia um homem tentou resolver esse problema de forma definitiva.
- Acabou com todas as línguas!
- Não, criou mais uma.
 
Como não tenho memória fotográfica, com exceção das duas últimas frases os diálogos foram obviamente criados por mim. Mas o sentido da história é esse mesmo. E a língua criada é o esperanto.
 
Montado o cenário, vamos ao que (não) interessa. Quando não estou pensando em alguma idiotice para publicar no Blogson, gasto meu tempo em tentar organizar o blog, mudar sua estrutura, revisar posts, etc. Creio agir assim por ter o desejo de que ele seja lido e acessado mesmo quando eu tiver parado de fazer novas postagens ou quando eu "tiver sido desligado". O nome disso é vaidade (“eu me amo, não posso mais viver sem mim!”).
 
Nas muitas idas e vindas já acontecidas por conta desse desejo de perpetuidade, o que sempre restou depois de mais uma “organização” foi o surgimento de um novo marcador (ou "seção", como gosto de chamar). Essa a razão de ter contado a história do esperanto. A mais recente ideia de jerico nesse sentido foi pensar na criação de novo marcador para abrigar os posts de péssima qualidade já produzidos, independente da temática. Seria uma espécie de “banheiro químico” do blog. Os posts muito ruins seriam movidos definitivamente para a nova seção (o risco seria de mover todo o blog!).
 
Antes que alguém acredite que essa seria mais uma das grandes asneiras que marcam a vida do blog da solidão ampliada, preciso lembrar que essa mudança funcionaria como um neutralizador da ansiedade que volta e meia esguicha de alguns textos produzidos em momentos mais depressivos, pois tratar-se-ia de avaliar os mais de dois mil posts já produzidos.
 
Mas aí a ficha caiu e eu percebi que isso seria de uma burrice capaz de tornar-me apto a assumir a presidência do país. E o motivo é simples: de nada adiantaria dragar o fundo do blog, pois os posts remanejados continuariam desconhecidos da maioria dos onze amigos virtuais (que o blogger teima em chamar de seguidores. Parêntese: não sendo exemplo de vida para ninguém, considero extremamente pedante chamar alguém de “seguidor”. Parêntese fechado).
 
E foi justamente pensando nesses amigos virtuais que cheguei à solução salomônica para organizar e modernizar o velho Blogson. Não será criada nenhuma nova seção ou marcador (aleluia!), mas os posts que eu entender que valem a pena ser trazidos para a superfície do blog serão progressivamente movidos para os dias atuais, com o cuidado de indicar a data original de sua publicação. Assim, o lixo do blog e os posts com data de validade vencida continuarão mantidos nas profundezas do Blogson.

E mesmo que eu ainda tenha em estoque seis posts novinhos em folha, essa movimentação do “melhor do peor” aliviará a pressão para criar novos textos. Ao tomar esta decisão, acabo de me tornar gigolô de mim mesmo!

domingo, 24 de janeiro de 2021

UM PERFIL PARA O BLOG

Se alguém mais ignorante ainda que eu me perguntasse como criar um "Perfil para o facebook" ou em outra rede social, eu simplesmente diria que não sei. Não sei como isso funciona, pois quem criou meu perfil no Facebook foi minha mulher (deve ter-se arrependido bastante depois disso). Só sei que o Marquinho (Zuckerberg) sabe muito sobre mim. Sabe o dia em que nasci, tem meu retrato, meu nome, sabe quais e quantos “amigos” eu tenho e mais um mundão de coisas. Pior, não só sabe como cisma de ser meu coach, meu tutor. Direciona e exibe para mim os artigos e postagens que imagina que eu deva ler, faz sugestões de novas amizades (em regra geral, recuso todas), avisa que “hoje” tal amigo faz aniversário (“Escreva na linha do tempo dele/dela...”). Enfim, é um mala sem alça.
 
Mesmo assim, talvez intoxicado pelo ar pestilento que se respira naquela rede hoje em dia, resolvi seguir esse exemplo e também detalhar meu perfil no Blogson. Afinal, tenho hoje onze amigos virtuais e mais uma meia dúzia de incautos que às vezes esbarra no blog da solidão ampliada, fenômeno inexplicável que transforma os rotineiros dois ou três acessos por post publicado em verdadeiros sucessos editoriais, blockbusters (ou blogbusters) que atingem espantosas vinte a trinta visualizações em algumas postagens especiais, “fora da curva”.
 
E o motivo de detalhar meu perfil depois de tanto tempo me debatendo aqui no blog é que não quero criar falsas impressões nem falsas expectativas nos atuais (especialmente nos mais recentes) e nos improváveis futuros novos amigos virtuais. Então, vamos ao detalhamento do meu perfil (de quibe):
 
Nome de batismo:
José Botelho Pinto... (um nome desses poderia até servir de título para uma série tipo “Better call Saul”. Já pensou? “Bettter call Botelho Pinto”. Mas provavelmente seria pornô). Quem foi registrado com um nome assim merecia ter um desempenho sexual de touro reprodutor, mas houve falha na programação original. Talvez por esse nome quase impublicável, alguém teve a apreciadíssima e simpática ideia aqui no velho Blogson de me chamar de JB ou Jotabê.
- Data de nascimento:
07 de junho de 1950 (é pra chorar!).
- Gênero (antigamente falava-se “sexo”):
Masculino, heterossexual (quase 100% convicto).
- Estado civil:
Casado (há inacreditáveis 46 anos)
- Amigos:
Não os tenho no mundo real, pois nunca consegui assimilar esse conceito adequadamente. Tenho simpatia por muita gente, gosto de muitas pessoas, mas não tenho turma, não bebo, não saio com ninguém para jantar fora, não convido ninguém para me visitar e ainda deploro o pensamento de muitos conhecidos. Resumindo, Ogro. Mas suave no trato, risonho, cordial e gentil.
- Traços de personalidade:
Portador de carência afetiva congênita, evasivo, dissimulado, neurótico, imaturo e rancoroso. Humor cada vez mais oscilante com pitadas de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) moderado. Permanentemente irônico e auto-depreciativo.
- Preferências e preconceitos:
Apesar de criado na década de 1950 em família tradicional mineira, tenho uma cabeça mais aberta - graças às influências positivas dos filhos. Por isso, mesmo que faça piadas politicamente incorretas (e faço sempre - apesar das críticas dos filhos), abomino e condeno radicalmente o racismo, a homofobia, a ignorância, a truculência, a grossura, a falta de educação e de cultura, a negação da Ciência e todo tipo de fundamentalismo, seja ele ideológico, político, religioso ou comportamental. Nem preciso explicitar que sinto desprezo e que sou radicalmente contra os mitos e deuses da política e contra também seus apoiadores/adoradores/seguidores incondicionais, sejam eles radicais de direita ou de esquerda (não quero citar nomes para não datar e, principalmente, para não sujar o texto). Além disso, totalmente a favor do direito ao aborto, do casamento gay e do feminismo.
- Assuntos prediletos:
Música (não confundir com axé, sertanejo, funk e gospel), Humor (sempre!), livros, HQ de humor, cultura inútil, História (de qualquer época), Arte, Literatura, assuntos científicos e “cultura pop”.
- Sonhos de consumo:
Ser vacinado contra a Covid, poder abraçar e beijar as pessoas que amo (inclusive as netinhas, nunca abraçadas nem beijadas), morar à beira de uma praia mais deserta só para ver e ouvir o eterno vai e vem das ondas.
- Estado de espírito atual:
Desespero, irritabilidade, tristeza, ódio, desalento, depressão, vontade de sumir.
- Expectativa de vida:
Quê? Não entendi bem a pergunta! 

sábado, 23 de janeiro de 2021

BETWEEN THE DEVIL AND THE DEEP BLUE SEA!

- E aí, mano? 

- (cantarolando sem responder) I don't want you
 
- Tudo bem?
 
- Beleza! (But I hate to lose you...)
 
- Você está meio estranho...
 
YOU GOT ME IN BETWEEN THE DEVIL AND THE DEEP BLUE SEA!
 
- Tem certeza de que está tudo bem mesmo?
 
- Claro! (I forgive you...)
 
- Você andou bebendo?
 
- Nem uma gota ('Cause I can't forget you)
 
- Por que então está nessa cantoria desafinada?
 
- Deu vontade (You've got me in between the devil and the deep blue sea)
 
- Parece que está com a cabeça na lua!
 
- (cantando sem dar atenção) I want to cross you off my list but when you come knocking at my door fate seems to give my heart a twist and I come running back for more
 
- Que é que houve? Brigou em casa?
 
- I should hate you
 
- Nunca te vi assim antes...
 
- But I guess I love you
 
- Tá mal mesmo!
 
YOU GOT ME IN BETWEEN THE DEVIL AND THE DEEP BLUE SEA!
 
- Que porra de música é essa?
 
- Foi gravada pelo George Harrison no seu último disco. Tô ensaiando para cantar pra ela.
 
- Sabia que era dor de corno!
 
- Alguma vez já te deu vontade de abrir o portão da rua e sair andando e não parar nunca mais?
 
- Não, que isso é coisa de fresco. Para casos como esse o remédio indicado é tomar umas. Bora lá?
 

 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

. . . - "J"

Riscando fósforos como quem risca os dias
Queimando dolorosamente devagar

Se a gente pudesse começar de novo Morrer, morrer e morrer
Até chegar na vida que sonhamos ter
(Um dia)

Às vezes eu toco meu próprio rosto e nao sinto quem me toma

Eu posso engolir minha língua e rasgar seus lábios
Será a dor o que torna tudo real pra você?

Se eu brinco no escuro
De voltar ao limbo
E me encontro em paz
Quando enfim nao sou mais ninguém

Que sentido há em fazer tudo outra vez?


...


AH, SE EU PUDESSE!

Neste exato momento, se eu pudesse escolher
Ah, se eu pudesse!, gostaria de estar morto.
Sentimento sincero, coado, filtrado
Sem margem de erro, sem margem pra culpa
Apenas morto. Sentiria medo e muita saudade
Até o binário instante do um virar zero.

Depois disso, só a paz de quem finalmente
Nem alegre nem triste estará em paz.
A paz das pedras, das árvores mortas
Das coisas inanimadas, da memória apagada.
 
Quero morrer de repente
Por raio, derrame, infartado
Não quero morrer lentamente,
por doença ou demência, entrevado
Não quero ser inconveniente
Um peso a ser carregado por quem
Merece não ser incomodado. 

Não fosse ficar preocupado
Com a sorte das pessoas que amo
Deixaria a tristeza de lado e riria
Ao perceber que, finalmente,
Que agora é mesmo pra valer.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

SEM RIMA, SEM POESIA

Minha vida é uma vida vazia
De significados e de sentido.
Vida real, sem rima ou poesia,
Um vazio tão abrangente e absoluto
Que lembra o avanço de u’a pandemia
Pois não há cerca ou controle
Nem vacina que imunize contra meu dia
Dia que se repete como se clonado fosse
De outro dia, de outro dia, de outro dia.
Não há mandinga, reza brava ou magia
Que me salve da repetição, monotonia 
Acordo quando a claridade anuncia
O alvorecer de novo dia, mas não
É só mais um recomeço da diuturna agonia
restrita às tarefas que se reiniciam
Como de Prometeu o fígado regenerado.
Levanto-me e solto o cachorro
Que teima em dormir na cozinha,
Que alonga o corpo e abana o rabo
Em claro sinal de "bom dia!” 
Ainda sonarento engulo três medicamentos
Preventivos para prefixos antagônicos
Hipo tiroidismo, hiper tensão e, claro, arritmia.
Ligo o computador e logo acesso
Meu perfil do Facebook
Ou os portais que noticiam
As notícias do dia anterior - comida fria
- pois já lidas à meia-noite, quando, sonolento
Cabeceio tentando não dormir, ficar atento
A imaginar um novo texto,
Ideias gastas, velha e triste ironia
Que perpetuo a cada dia em desalento
Pregado na roda da rotina que me esmaga
Me tritura e asfixia.

 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

FRASES QUEBRADAS

Não escrevo versos para me exibir
Receber elogios - nem conselhos
Escrevo porque dói, escrevo por espasmo.
Não escrevo com alegria
Alegria dispensa registro, escritos.

Para disfarçar um pouco a dor sentida
Finjo que escrevo versos, poemas, poesia
Mas não, pois isso é dom que não tenho
São frases partidas, quebradas em dois, três
Pedaços sem ponto final, vírgula ou rima - 
- Ou com rima pobre, tornando pior o ruim. 

Servem como selfies, fotografias
cerebrais, tomografias de emoções
Que transbordam e extravazam
E que escolhi guardar, preservar
Não para louvar, mas somente lamentar.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

ATIRADAS NA REDE

 


Por uma questão de honestidade intelectual, deixo  claro que a piada das rachadinhas é apenas a releitura em forma de diálogo de uma frase que li em algum lugar. A qualidade das outras frases trai sua origem jotabélica (como dizem meus filhos, "ruim demais").

ÚNICO DESEJO


Já pensei em desertar, de mim fugir,
A tudo abandonar, de tudo desistir,
Por inadequado, incomodado me sentir
Nu em pelo ou de palhaço ao me vestir
 
Mesmo assim continuei a insistir
Desejando ver pessoas a me sorrir
 
Mas me cansei, ao sucumbir
À vontade de parar, submergir
Ao definitivo desejo de sumir
De irrevogavelmente me extinguir

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

SÓ MESMO UM ALGORÍTMO PARA RESOLVER

 
Ao responder a um comentário que meu amigo virtual Marreta fez sobre o post "Jacaré no seco anda?" peguei um embalo tão grande que o texto ficou imenso. Por isso, resolvi transformá-lo em novo  post, pois ficaria muito esquisita uma resposta que rendeu duas páginas escritas em Arial 12.
 

Meu caro Marreta, esse é mesmo um assunto delicado, pois há tantos interesses políticos antagônicos em jogo que é difícil ser equilibrado. Só para exemplificar, tenho um amigo (não leve essa amizade muito a sério) que conheço há mais de trinta anos. Mora na mesma rua que eu, a uns cem metros de distância. É engenheiro, músico, compositor e gente fina demais. Mas, apesar de negar as próprias evidências, é de Esquerda quase radical. Está sempre enchendo o saco no facebook com as realizações do PT, está sempre esgoelando contra o Bolsonaro (no que tem meu total apoio) e é um mala ainda maior que eu. Por que estou dizendo isso? Porque a paixão em excesso turva a visão e o raciocínio.
 
Eu sou radicalmente contra o pensamento radical do Bolsonaro, seus preconceitos e suas (in)consequências. Por isso, fico tentado a ver seus (dele) antagonistas com alguma simpatia. Caso do Dória, por exemplo. A favor dele existe o fato de sempre ter batalhado pela Coronavac, ao contrário do Mito, um sujeito que já provou ser um homem primitivo, um pitecântropo, um homem das cavernas (de Platão).
 
Sinceramente, mesmo não sendo da área que estuda e cuida da saúde mental, imagino que o Cavalão não é uma pessoa normal - e isso seria um atenuante para suas ideias de jerico (piada!) e as idiotices que faz e fala. O Jair – e eu sinceramente não consigo entender o motivo – sempre detonou os cuidados com que a Covid merecia ser tratada. Isso para mim é verdadeiramente um mistério. Desqualificou, desprezou, atacou, negou, deu maus exemplos, enfim, demonstrou ser quase um sócio da mamoninha assassina.
 
Bom, você se preocupa com os possíveis efeitos colaterais das vacinas, citando que a Pfizer se exime de qualquer responsabilidade, etc. Talvez você esteja certo, mas eu te pergunto: quando um médico prescreve um medicamento contra algum perrengue por que está passando, você lê a bula? Eu só leio para que serve e a posologia. E, sabe por quê? Porque ali naquela folha de papel estão relacionadas todas as ocorrências indesejáveis já observadas ao redor do mundo por quem tomou o tal remédio, mesmo que estatisticamente irrelevantes. Mesmo caso das vacinas, agravado pela velocidade com que foram desenvolvidas. Mas isso me deixa serenamente tranquilo, pois prefiro morrer tendo tomado uma vacina desenvolvida no Nepal ou no Congo que morrer asfixiado em um leito de hospital.
 
E agora o Dória. Eu não sou paulista e pouco ou nada acompanho o que ocorre por aí. Apenas fico me perguntando se esse excesso de mortes não estaria ligado ao lema de que “São Paulo não pode parar” ou que “São Paulo é a locomotiva do Brasil”. Infelizmente, essa doença precisava, sempre precisou de isolamento, fechamento provisório de serviços não essenciais, lockdown. Só que esses cuidados são mortais para a Economia do município, do estado, do país.
 
O Bozo cantou essa pedra, mas não entendeu que a vacinação em velocidade máxima e no mais breve espaço de tempo possível seria o único remédio para conter não só a pandemia, mas a sangria das finanças em geral. Em vez disso, resolveu (por uma perturbação mental qualquer) que a porra da cloroquina era a solução para o problema, contrariando e não acreditando na opinião de milhares de profissionais de saúde.
 
Na cerimônia (aquilo não foi uma reunião, foi uma cerimônia) de liberação das vacinas pela Anvisa, a diretora Meiruze Freitas disse esta frase que copiei letra por letra (ipsis litteris): “Até o momento não contamos com alternativa terapêutica aprovada e disponível para prevenir ou tratar a doença causada pelo novo coronavírus”.
 
Copiei também a frase do Alex Santos, outro diretor da Anvisa: “A Anvisa se pauta pelas evidências. No nosso vocabulário – que adoto como meu também – não há espaço para a negação da Ciência, tampouco para politização, não há!”
 
Apesar disso, o Boçalnaro insiste em prescrever a merda da cloroquina (talvez para desovar o remédio estocado que o exército teve de fabricar), um remédio altamente tóxico até para os problemas de saúde em que efetivamente pode fazer a diferença. Tenho um cunhado que começou a tomar hidroxicloroquina para artrite ou coisa semelhante, mas teve de suspender a medicação rapidinho, pois estava afetando seu coração.
 
Voltando ao Dória: além do permanente ar de mauricinho e de ser provável candidato à presidência da república em 2022, a única coisa que sei dele é que é bom de marketing, que batalhou pela Coronavac desde o início e que provocou a fúria da famiglia Bolsonaro. Em BH o prefeito reeleito é ex-presidente do Atlético, ex-empreiteiro de obras públicas, descendente de libaneses, sem papas na língua e casca grossa. Ao ser eleito pela primeira vez disse esta pérola: “Acabou esse negócio de coxinha e mortadela. O papo agora é quibe”.
 
Pois bem, ele decretou o fechamento de quase tudo em BH, enlouqueceu os comerciantes e segurou muito bem a primeira onda da Covid. Talvez por isso tenha sido reeleito.  Com a pandemia sob algum controle e com base na opinião de especialistas da saúde, começou a liberar o comércio em etapas. Infelizmente, se esqueceu de combinar isso “com os russos”, ou seja, com a população, que deitou e rolou. Padecendo de incontrolável fogo no rabo, ânsia de comprar badulaques na lojas de R$1,99, vontade incontornável de encher a cara, de ir a shoppings, fazer baladas e o escambau, o povo sem noção e discernimento criou todas as condições para a disseminação rápida do vírus.
 
O resultado foi um aumento exponencial (80%) nos casos de contaminação e de mortes provocadas por essa doença filha da puta. Infelizmente, comecei a contabilizar em minha cabeça amigos e conhecidos que não tiveram a chance de esperar pela vacina. Hoje mesmo fiquei sabendo de mais uma morte.
 
E aí você fala em má gestão da saúde pública. A situação atual é tão complexa que eu me lembro do Harari e suas previsões aparentemente distópicas. Para mim, já era hora de existir um algorítmo de tomada de decisões que envolvam situações diametralmente opostas! O Dória pode ser o pior gestor dessa situação, mas incomparavelmente melhor (e mais humano) que o hors concours mundial do negacionismo e do desprezo pela Ciência, nosso intrépido Jumentão

JACARÉ NO SECO ANDA?

Na dúvida, duas versões da mesma ideia. A escolha final é dos leitores.


 


ESPASMOS DA DEPRESSÃO

 
Não sei se é perceptível, mas, em virtude (nenhuma virtude, para ser verdadeiro) de ser emocional e eternamente imaturo, sempre gostei de fazer piadinhas e graçolas sobre quase tudo usando um humor de quinta série e um comportamento proposital e inescapavelmente gaiato, brincalhão, "galhofeiro" e inconsequente (que continua até hoje, apesar dos atuais setenta anos). Talvez tenha sido esse traço de (falta de) personalidade que me fez querido pelo pessoal da terceira idade quando eu era mais jovem, talvez também tenha me protegido e blindado parcialmente nas empresas onde trabalhei. Afinal, eu era o "simpático", um sujeito de sorriso fácil, bom humor permanente, inofensivo na aparência, afável, sempre bem disposto, sempre tentando criar um clima descontraído, sempre desejando ver as pessoas sorrindo.
 
Ultimamente, por mais que eu tente nunca despir essa fantasia, esse uniforme de Super-Simpático, está cada vez mais difícil exibir esses sub-poderes. Esta é uma explicação (des)necessária para o entendimento do clima dos próximos quatro posts, pois são retratos, flashes da depressão vivida em momentos recentes – esquizofrenicamente escritos de forma alternada com textos de "humor".
 
Para finalizar esta colcha de retalhos mal alinhavada e costurada, repito este  recado: a partir de amanhã, quatro posts escritos em momentos de extrema tristeza e desalento. Mesmo que surgidos em momentos distintos, resolvi encadeá-los, “enfileirar” um após o outro. Assim, meu amigo virtual Scant – que fica escandalizado com o baixo astral que às vezes me invade – não precisará ler nenhum. E só mais um comentário: quando eu quero fingir que não sou eu mesmo que estou "ali", eu também finjo escrever versos. Dupla mentira: nem são versos de verdade e sou eu mesmo que estou ali, no cu da depressão. Fui.
 

 

ESPASMOS DE IRRITAÇÃO

Em 29/12/2020, dia em que comecei a escrever este “desabafo-colcha de retalhos-explicação” para anunciar a publicação sequencial de quatro posts mega depressivos e escritos em momentos distintos, quarenta países já tinham começado a vacinar sua população. A Argentina – arqui-rival do Brasil no futebol – estava ganhando de goleada no quesito vacinação, pois começou naquele dia a aplicar a Sputnik, outra vacina "comunista" (ahahah!!!).
 
Esses fatos, acentuando pensamentos recorrentes e embolados com as restrições que a idade traz, geraram e geram espasmos depressivos que eu tento registrar como testemunhos de uma época infeliz em que me sinto acuado, sitiado por exércitos de vírus e de boçais, impedido de sair de casa sem correr o risco real de ser contaminado por um nano organismo que cavalga jumentos, antas e cavalões.
 
Na deliciosa música “Às vezes”, da Tulipa Ruiz há este versos “Às vezes quando eu chego em casa o silêncio me arrasa e eu ligo logo a TV”. Sorte dela poder chegar em casa, sinal de que saiu em algum momento. Infelizmente, por pertencer ao chamado grupo de risco (idoso, obeso, hipertenso, hipotiroideu e com uma “alteração não identificada no pulmão”), posso contar nos dedos das mãos do Lula as vezes em que saí de casa. Minha mulher é ainda um pouco mais vulnerável. E esta é a chave deste post.
 
Essa clausura vai dando uma gastura, um cansaço, uma tristeza que ao se acumular muito extravasa, "sai pelo ladrão" na forma de depressão, desalento, irritabilidade, fissura de dormir por um ano em posição fetal. Isso pode afetar (e afetou) o relacionamento com a mulher, os filhos, e com quem mais eu consegui “cravar os dentes”. Aí, para aumentar a dose, a dor, o terror, ouvi dizer depois de muitos atrasos e evasivas que a vacina chinesa não teria a mesma cobertura de outras vacinas. Isso não me incomodou tanto, pois desde que aprovada pela Anvisa eu tomaria essa vacina, qualquer vacina, mesmo que fosse feita de cocô de pombo ou restos de comida (lavagem) recolhida em chiqueiros de porcos.
 
Naquele momento o que mais me exasperou foi a queda de confiança que tinha em um mauricinho que deveria ter sido transparente desde o início, contraponto necessário a um imbecil e ignorante terminal que não percebe que tudo o que deseja seria facilmente obtido se tivesse quebrado seus preconceitos e corrido atrás das vacinas, de quaisquer vacinas, fossem elas desenvolvidas na China, na Alemanha, em Katmandu ou na África subsaariana, pois a vacinação maciça da população seria (será) para a Economia como água fresca para uma planta desidratada pelo calor. Mas parece ser esse um pensamento demasiadamente elaborado para seu cérebro primitivo de troglodita moderno.
 
Pois bem, depois de muita queda de braço desnecessária entre dois prováveis candidatos à presidência da “res pública”, tão mais inaceitável quando se fica sabendo que 250.000 mortes poderiam ter sido evitadas se a Anvisa tivesse analisado e liberado a “vachina” Coronavac tão logo as primeiras doses chegaram ao Brasil, finalmente a primeira dose foi aplicada.
 
Hoje, dia 17/01/2021, depois de muita enrolação, a Anvisa aprovou o "uso emergencial" das vacinas de Oxford (AstraZeneca) e Coronavac (a mesma que o imbecil terminal tanto criticou, menosprezou, condenou e ironizou). Imagino como ele deve estar puto pela primeira dose ter sido aplicada em São Paulo, pois parece que tudo o que queria era ter a primazia e o direito de iniciar a vacinação (com a AstraZeneca) antes que seu rival paulista pudesse fazê-lo (com a Coronavac), o que atenderia sua obsessão pela própria reeleição em 2022 (parece que “só pensa naquilo”). Mas a Índia fez como uma de suas vacas sagradas, cagou e andou para esse desejo, pois tem mais o que fazer.

Este texto está tão caótico e fragmentado (a causa é ter sido escrito em três datas diferentes) que resolvi dividi-lo em dois, pois as partes não estavam colando direito. Mas a diferença de publicação é só de dois minutos.

Para encerrar esta primeira parte deixo claro que não sou contra quem é de Direita; sou contra quem apoia a anta presidencial e é da Direita radical. O mesmo pode ser dito em relação à Esquerda. Não sou contra quem é de Esquerda, sou contra o PT, seus caciques e os fanáticos que só sabem gritar "Lula livre". Sou de centro-direita moderadíssima – mas contra quem vota ou pertence ao Centrão. E radicalmente (essa foi só para provocar espanto) contra todo tipo de radicalismo e fundamentalismo, seja ele político, comportamental ou religioso.
 


MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4