terça-feira, 30 de janeiro de 2024

O HAVAÍ ERA AQUI

 
A garganta arde, os olhos lacrimejam, a cabeça gira, um suor frio escorre da testa, o corpo tem ligeiras convulsões e a sensação geral é de asfixia, de falta de ar, como se estivesse inalando o gás cloro que surge da mistura de amoníaco e água sanitária quando resolvo lavar o banheiro. Mas há muito tempo abandonei essa autoflagelação.
 
Esse quadro de quase colapso físico e mental sempre surge quando estou de novo olhando para um simples retrato em preto e branco, tirado quando eu devia ter de sete a dez anos. E é ele, sempre ele o deflagrador das piores e mais constrangedoras lembranças da minha infância.
 
Quem me conhece hoje jamais imaginaria que um senhor obeso, de cabelos brancos e ar de grande respeitabilidade (bem, talvez nem tanta assim) é a mesma pessoa retratada na florzinha da juventude há mais de sessenta anos. Pois eu lhes digo que é, lamentavelmente.
 
Eu era, eu fui um menino muito preso, muito reprimido e muito inseguro. Mas naquele tempo já tinha comportamentos divergentes das imagens que pessoas que viveram em tempos mais recentes fazem. Havia, sempre houve os brigões, os delinquentes, os marrentos e, em contrapartida, os delicados, os tímidos e os sonhadores.

Eu pertencia a esse segundo time, pois não brigava, tinha medo de apanhar, não sabia jogar futebol, não sabia fazer papagaio (ou pipa ou pandorga), não andava descalço, era tímido, introvertido e sem nenhuma vocação para ser machinho das antigas. Mesmo assim, para ser sincero, não me lembro de ter convivido com nenhum troglodita, nenhum menino das cavernas. Pouco importa.
 
O que realmente importa é a lembrança que muito constrangidamente tornarei pública e exposta à execração pública (não confundir com púbica, pelamordedeus!).
 
Eu devia ter de onze a doze anos quando meus primos ricos voltaram das férias passadas no Rio trazendo nos pés a mais recente moda lançada na cidade maravilhosa: sandálias havaianas! O calçado que qualquer maloqueiro usa hoje em dia! Mas naquele momento, era a mais absoluta novidade, o top do top em termos de moda unissex.
 
E advinha a cor? Solado branco com tiras cor de rosa. Eu até babei de inveja quando meu primo me deixou calçá-las para ver como ficavam. Insisti com minha mãe para comprar para mim e ela acabou comprando. Entretanto, para minha decepção, era azul, parecia ter sido fabricada com restos de borracha, tal a variedade de tons de azul no solado. E, claro, as tiras também eram azuis. Uma merda.
 
Hoje em dia, talvez ancoradas em um passado que veneram mas que nunca existiu realmente, algumas pessoas, cheias de deboche e sarcasmo ao ouvir esta história poderão dizer “Ah, viadinho!”. Mas recuso o comentário preconceituoso e, para mostrar toda a minha masculinidade infantil, resolvi publicar a foto, “aquela”!


Este post paga uma promessa feita ao intrépido Marreta.


segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

DE MÃOS DADAS

 
Hoje é domingo, o Carnaval se aproxima, mas estou separado desse clima por um vidro espesso, uma grade ou um fosso, que permite apenas que eu veja a alegria e animação de jovens e nem tão jovens assim já fantasiados, já aproveitando uma pré-folia, uma folia antecipada.
 
Mesmo que eu saia de casa e ande pelas ruas liberadas para trânsito de veículos, ainda assim estarei distante dessa alegria e descontração. Fico dentro de casa, deitado em minha cama, ao lado de minha mulher.
 
No ano passado ela e eu estávamos andando atrás de algum bloco de rua ou simplesmente conversando, rindo e falando bobagens com conhecidos e desconhecidos na porta de algum bar das dezenas que existem em nosso bairro.
 
Hoje ela está deitada, aguardando o resultado de uma tomografia a ser ainda marcada e o veredito de um ortopedista, que dirá se deve ou não operar uma fratura no quadril, que causa dores atrozes e a impede de andar.
 
Eu espero que ela volte a caminhar como antes para que possamos andar novamente de mãos dadas por aí ou sair pularrastando atrás de um bloco de rua no Carnaval. E, principalmente, que não precisemos ficar deitados em uma cama de casal em uma tarde de domingo, imaginando o movimento alegre e descontraído das pessoas nas ruas.

SOMETIMES I STILL DREAM OF YOU - DESCONHECIDO

Tenho tentado aprender inglês fazendo o que eu deveria ter feito há muito tempo: lendo textos escritos nessa língua que encontro na internet. Meu filho mais velho aprendeu assim (a diferença é que ele é inteligente pra kawaka). E por gostar de poesia fico pentelhando poemas em inglês. Acabei achando este de autora (ou autor) não identificada. Achei bacana o título, evocativo de boas lembranças, e tentei traduzir. Não consegui, joguei no Google Translator e achei o resultado uma merda. Entretanto, resolvi publicar aqui assim mesmo (poemas em inglês trazem muita classe ao blog!). Vêaí:
 
It's strange to say this, but
I dreamed about you last night
And in the dream, I wanted us to meet again.
Maybe this will never happen again
As disagreements seem to be our fate.
 
I was little more than a teenager
And I wanted to date you.
But you weren't interested.
 
A few years later, it was you who sought me out
Those moments were good
But I was already committed.
 
Years passed, and I forgot about you
Until I saw you on the street
For a fleeting, transient moment.
 
From that moment on,
You always entered
My mind and my thoughts.
 
Shortly after, for a brief moment of madness,
We met again
You were divorced, but I was still married
 
They were furtive, almost platonic meetings
And the end of those moments
Was the most sensible thing to happen.
 
I found out that you had unpleasant habits
You shouted and said many obscenities.
And that you wouldn't be good company.
But sometimes, I still think of you
Sometimes I still dream of you.

sábado, 27 de janeiro de 2024

¡BIENVENIDA!

 
Não estou entendendo mais nada! O encarquilhado e manquitolante Blogson Crusoe conseguiu capturar mais um seguidor! Ou melhor, uma seguidora, que atende quando alguém chama seu nome – Catiahodo BlogEspelhando.
 
Sinceramente essas aquisições me causam tanta surpresa que imagino serem decisões tomadas durante um porre homérico. Porque, verdade seja dita, o Blogson é um blog bagaceira e muito desclassificado!
 
Não importa, hoje estou muito feliz e agradecido. Bem vinda, Cátia, que você encontre diversão na tranqueira que publico por aqui. E já que gosta de poesia, deixo aqui o link de uma que escrevi, talvez a de que mais gostei. Mas se não gostar, pode malhar (já estou acostumado).



 

PARA OXIGENAR O CÉREBRO

 
Já demonstrei mais de uma vez minha admiração quase irrestrita pelo Millôr Fernandes. E ele tinha bala na agulha para merecer isso, pois o cara tinha de 13 para 14 anos quando publicou seu primeiro cartoon. Depois disso, ao longo da vida, publicou 26 livros em prosa, 17 peças de teatro e 3 livros de poesia, fez centenas ou milhares de desenhos e ilustrações e ainda arranjou tempo para traduzir obras de escritores estrangeiros.
 
Se estivesse vivo estaria hoje com 100 anos, mas, numa falta de educação desgraçada, morreu em 2012. Estou dizendo isso porque descobri em uma reportagem publicada dois dias após seu falecimento algumas frases que não conhecia, sempre com a marca de sua ironia e sarcasmo. Por isso resolvi fazer um post com elas para que eu as possa reler sempre que precisar oxigenar o cérebro, pois o humor e o riso salvam os deprimidos. Olhaí. 

- Dizer que eu sou humorista, por exemplo, é uma limitação. Numa conversa, estou sempre de sacanagem porque sou um homem que gosta de viver. Não me levo a sério. As pessoas se dão uma importância impressionante. Qualquer escritorzinho acha que está bem por ter aparecido em 20 notinhas de jornal, na mesma entrevista.

- Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira pra matar.

- O Brasil está dividido entre os abertamente cínicos e os que não conseguem se conter.

- Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.

- Sabemos que VOCÊ, aí de cima, não tem mais como evitar o nascimento e a morte. Mas não pode, pelo menos, melhorar um pouco o intervalo?

- Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.

- Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem!

- O otimista não sabe o que o espera.

- Eu também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto.

- O dedo do destino não deixa impressão digital.

- Quem confunde liberdade de pensamento com liberdade é porque nunca pensou em nada.

- O cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas a matéria-prima.

- Nunca ninguém perdeu dinheiro apostando na desonestidade.

- Brasil, condenado à esperança.

- A curiosidade mórbida é a mãe do vidro fumê.

- Brasil, um filme pornô com trilha de bossa nova.

- Todo homem nasce original e morre plágio.

- Aborígine é a maneira pejorativa dos conquistadores chamarem o dono da propriedade.

- Só uma coisa preenche tudo — o nada.

- Não beber é o vício dos abstinentes.

- O pior abutre é o desespero.

- Não há problema tão grande que não caiba no dia seguinte.

- Nunca ninguém me ensinou a pensar, a escrever ou a desenhar, coisa que se percebe facilmente, examinando qualquer dos meus trabalhos.

- Não gosto da direita, porque ela é de direita e não gosto da esquerda porque ela é de direita.

- Os pássaros voam porque não têm ideologia. 


Para finalizar, uma anedota contada por Millôr em uma de suas últimas entevistas: 

Quando Deus estava criando o mundo, alguém reclamou (havia mais “alguém” por ali?) que Deus tinha feito este país maravilhoso, sensacional. O Chile foi feito cheio de terremotos, o Paraguai tinha pântanos incríveis, outro país tinha furacões, o outro tinha desertos e o escambau e, de repente, no Brasil não tinha nada desastroso: florestas maravilhosas, mares maravilhosos, montanhas lindas. Aí Deus parou e disse: “Espera, porque você vai ver a gentinha que eu vou botar lá”.

 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

ROUPA VELHA

 
“Roupa Nova” é uma das magníficas músicas  que a dupla Milton Nascimento e Fernando Brant compôs. A letra fala de alguém que todos os dias vai à estaçãozinha ferroviária do lugar onde mora, sempre esperando a chegada do trem, que nunca para naquele lugar.
 
É linda essa letra, que fala de esperanças sempre frustradas e, apesar disso, sempre renovadas, alimentadas pela inocência própria dos sonhos simples e ingênuos. Hoje, ouvindo essa música lembrei-me da minha infância de menino pobre.
 
Eu tinha dez anos quando aconteceu a eleição para presidente da república, vencida pelo excêntrico, histriônico e populista Jânio Quadros. Esta informação me transporta para o ano de 1960.

Próximo à casa da minha avó, onde eu morava, a proprietária de um sobrado, um pequeno prédio de dois andares, resolveu transformar a mercearia ou bar que possuia no andar térreo em um comitê eleitoral do homem da vassoura, o Jânio.
 
Na loja agora vazia foram colados cartazes com propaganda eleitoral em todas as paredes. Completavam a decoração uma mesa ou escrivaninha, algumas cadeiras encostadas em uma parede, um alto falante que reproduzia gravações de músicas e propaganda eleitoral e um televisor permanentemente ligado na TV Itacolomi, único canal existente na época.
 
Como não tínhamos televisão em casa naquela época, meu programa (de índio) era chegar da escola, tirar o uniforme, vestir uma roupa velha qualquer, almoçar e me dirigir ao tal comitê, na esperança que passasse algum desenho animado. Eu ficava ali todos os dias, de uma às seis da tarde, mais ou menos, de olhos fixos na telinha de imagens em preto e branco, sempre desejando ver algum desenho animado.
 
Com uma crença ou expectativa igual à do Pinduca da música, eu ficava aguardando pacientemente os desenhos que nunca passavam. No dia seguinte, com a esperança renovada, lá estava eu de novo. Acabei até ficando amigo da velha que era dona da loja, provavelmente graças à pena que devia sentir de mim. E esta é a lembrança que a música Roupa Nova tirou do baú da memória.


 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

A CURA

 
Hoje retornou mais um pensamento cometa em minha mente, lembrando que eu dei o nome de “cometa” ao pensamento que surge, dá uma revoada ou orbitada na parte consciente, some e tempos depois reaparece, como bom cometa que é.
 
E o cometa de hoje foi provocado por notícia divulgada recentemente. Há coisa de cinco dias saiu nos órgãos de imprensa a notícia de que A CGU (Controladoria Geral da União) concluiu ser falso o registro de vacinação que Mr. Ex-President  Jair Bolsonaro utilizou para entrar nos Estados Unidos, no final de 2022.
 
Sinceramente, isso é de envergonhar até uma estátua de pedra ou as emas do palácio da Alvorada. Já não basta ser falso nas coisas que diz, precisava ser também falsário? Mas uma coisa puxa outra e eu me lembrei da cloroquina, insistente e equivocadamente defendida por nosso estimado cavalão para curar a covid que estava barbarizando o Brasil e o mundo. Tão obcecadamente defendida por ele que deu ordens ao Exército para fabricar toneladas desse produto.
 
Que terá sido feito com esse medicamento todo? Lembrando-me dos tempos em que eu trabalhava com engenharia surgiu a piada cometa: essa cloroquina deveria ser pulverizada e misturada ao cimento utilizado em obras públicas. Para quê? Ora, para acelerar a cura do concreto!


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

33 RPM

 
Sr. Irany, Dona Laura, Sr. Ormindo, Dona Ester, Zé Japonês, Seu Plínio, Dona Jovita... Que essas pessoas têm em comum?  Algumas faleceram recentemente, outras não reconhecem mais ninguém e outras, apesar da lucidez preservada não conseguem mais sair de casa sozinhas. O que essas pessoas têm em comum é o fato de serem octogenárias, nonagenárias e até centenárias. Gente que o Tempo atingiu de forma mais visível e mais implacável.
 
Outro ponto em comum é o fato de terem tido uma participação expressiva na vida e nas lembranças sócio-afetivas que o bairro continua a guardar – apesar da demolição de casas humildes ou casarões antigos, substituídos por prédios de muitos apartamentos e ainda sem nenhuma história para contar.
 
Quando havia um toca-discos aqui em casa eu pegava os LPs mais arranhados que queria escutar e despejava álcool com o disco em movimento. Graças à ação da força centrífuga, logo, logo o álcool despejado no centro ia sendo levado até à borda do disco. Eu acreditava que isso reduzia ou eliminava o chiado produzido pelo uso excessivo e descuidado dos bolachões prediletos.
 
Associando essa lembrança com os idosos que me acostumei a cumprimentar e trocar dois dedos de prosa na padaria, na farmácia, no armazém ou na igreja do bairro onde moro (mais idosos ainda que eu!), pensei que a velhice é algo parecido com meus discos arranhados: 
enquanto a agulha vai percorrendo os sulcos do disco da primeira à última faixa, às vezes pulando, às vezes chiando, uma força centrífuga nos impele para a borda da Vida, até que o disco finalmente pare de tocar.


sábado, 20 de janeiro de 2024

O PECADO MORA AO LADO


Hoje o Pecado invadiu minha mente, mas não pela vontade de comer a vizinha gostosa que mora ao lado, não na forma de pensamentos e desejos lascivos. O que chacoalhou mesmo meu cérebro foi a ideia de que o pecado é apenas produto da cultura e preconceitos desse ou daquele povo, dessa ou daquela manifestação religiosa. Em outras palavras o pecado seria só uma manifestação cultural criada e pensada por líderes religiosos ancestrais na forma de ameaça, com potencial para conter comportamentos socialmente indesejados em determinada cultura, em determinado povo.
 
Antes de continuar preciso lembrar que não sou filósofo, antropólogo, sociólogo nem psicólogo. Sou da área de Exatas. Por isso o mais próximo de um “logo” que consigo chegar é o fato de ser um “ociólogo”, um estudioso, um amante do ócio, da arte de coçar o saco. Com essas credenciais admito que qualquer pensamento meu já deve ter sido explorado de maneira muito mais profunda e elegante por mentes mais ilustres, por gente muito melhor que eu e com muito mais conhecimento. Mesmo assim vou tentar prosseguir nesta trilha acidentada.
 
Ao abraçar o Antigo Testamento os cristãos já se lascaram de vez, graças ao conceito de Pecado Original. Segundo essa narrativa Adão e Eva foram expulsos do Paraíso por terem comido o fruto proibido da árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Sinceramente, penso que esta lenda fez um desserviço enorme à valorização do conhecimento. Porque, cá pra nós, que pai desejaria manter seus filhos na ignorância? Certamente não um pai moderno, nem mesmo o Pai Eterno.
 
Mas a coisa não para por aqui, pois aos nossos olhos de século XX e XXI o Gênesis tem histórias de arrepiar. Caso, por exemplo, do incesto praticado pelas duas filhas de Ló. Preocupadas em perpetuar a descendência do pai, encheram a cara do velho de bebida, transaram com ele e dele engravidaram. Imagino que as crianças assim geradas foram atingidas pela consanguinidade. E se foram, poderíamos dizer carregando na ironia, “Bela descendência!” E o nome disso para mim é putaria. Mas continuemos.
 
E que dizer dos Dez Mandamentos? A maionese já desanda logo nos três primeiros e por um simples motivo: quem é ateu está pouco se lixando para “Amar a Deus sobre todas as coisas”, “Não tomar seu santo nome em vão” e “Guardar domingos e festas de guarda”.
 
Quanto aos demais, são apenas normas de conduta justas e adequadas para evitar processos e prisão. Duas exceções podem ser feitas: o 6º mandamento - “Não pecar contra a castidade”. Nesta altura da vida, em pleno século XXI eu já nem sei mais o que significa castidade.
 
Mas pior mesmo para mim é o 9º mandamento, aquele do “Não desejar a mulher do próximo”. Hoje em dia, há tantas mulheres bem resolvidas e livres que manter alguma distância da "próxima do próximo” serve apenas para evitar brigas entre machões embriagados nas baladas e outros locais públicos.
 
O mais ridículo é que na Bíblia, no Código de Hamurabi e em outros textos antigos a existência de concubinas, escravas e servas que engravidam do patrão ou mais de uma esposa é tratada com a máxima naturalidade. Tudo é permitido ao garanhão que as possui (em todos os sentidos).
 
Mesmo sabendo a resposta, que aconteceria se a mulher, cansada da broxura do marido velho resolvesse dar para o vizinho, para o amigo ou para um escravo? Provavelmente seria considerada pecadora e castigada severamente por sua “sem vergonhice”. É por isso que eu olho para os “pecadores” e não consigo ver pecado em suas atitudes. São apenas infratores de normas de conduta, de um pacto sociocultural (que privilegia a população masculina), nunca pecadores.
 
Conheci um sujeito extremamente tímido, extremamente reservado, extremamente gente boa. Um dia, já velho, começou a apresentar sinais de demência e a precisar da ajuda da esposa para tomar banho e atividades correlatas. Essa esposa era amiga de minha mulher e confidenciou sobre a mudança de comportamento que estava acontecendo com o marido. Segundo ela, durante toda a vida de casados, quando ainda era sexualmente “operacional”, ele nunca permitiu que a luz do quarto ficasse acesa durante o sexo. Além disso, nunca trocou de roupa na frente da esposa, nunca permitiu que ela o visse nu. Entretanto, bastou o avanço da doença para que todo esse recato escoasse pelo ralo. A esposa ainda comentou: “Agora fica lá pelado, com aquela pingolinha murcha dependurada!”
 
Isso me faz refletir sobre a relatividade do que é considerado pecado e como conceitos culturais podem moldar nossa percepção do que é certo ou errado. Por exemplo, 
não seria adequado ficar pensando na vizinha gostosa que mora ao lado se ela realmente existisse!

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

METADE - OSWALDO MONTENEGRO

 
Às vezes me pergunto se eu não seria esquizofrênico ou bipolar, tais são os conflitos de comportamento que exibo. Os amantes da astrologia talvez expliquem isso pelo fato de ser geminiano, um sujeito volúvel, mutante e mutável. Tanto faz!
 
O que sei é que se sou antissocial sou também extremamente sociável, um sujeito que sente prazer em agradar e tratar bem as pessoas de quem gosta ou admira. Este é o caso do Ryk@rdo, grande poeta português.
 
E justamente por ser “d'além mar” não é obrigado a saber e conhecer tudo do Brasil. Por isso, talvez não conheça um ótimo poeta, cantor e compositor, um artista  com talvez pouca visibilidade fora daqui.
 
Oswaldo Montenegro é seu nome. Recebi pelo whatsapp um vídeo onde ele declama um belo e reflexivo poema de sua autoria. E aí bateu a vontade de publicá-lo neste blog vabagundo, dedicando este post ao Ryk@rdo. Olhaí.

 



 

SÓ PARA PROVOCAR UM POUCO

 
Eu gosto de fazer releituras do cotidiano a partir da crítica e da ironia, às vezes desmontando ou desconstruindo situações registradas pelas câmeras de celular, estando ou não presente nessas imagens.
 
Por eu ser um antissocial que meus conhecidos parecem adorar – porque sou cínico o suficiente para aparentar que estou achando graça das tolices que dizem nas reuniões a que sou obrigado a ir (quando estou mais interessado nas guloseimas disponíveis), meus pensamentos se formam como as imagens que são refletidas em uma casa de espelhos de parque de diversões.
 
Hoje, depois de ter encontrado no facebook o perfil de um ex-colega com quem trabalhei durante mais de dez anos, tentei ver sua aparência atual (porque sou curioso e por não termos ele e eu imagens que nos identifiquem). Aí resolvi examinar a galeria de fotos de seus amigos. Acabei ficando com saco cheio de bisbilhotar imagens de desconhecidos, mas uma delas chamou minha atenção: um encontro de senhoras, ex-colegas formadas no século passado, todas sorridentes, todas envelhecidas, todas atingidas pela erosão provocada pela passagem do Tempo, algumas brindando alegremente aquele momento.
 
Essa imagem pôs em movimento meu lado politicamente incorreto e saiu esta “reflexão” (só um pouquinho ácida):
 
A miséria é triste, as guerras são trágicas, as dores precisam de cura, a fome precisa ser saciada, as perdas nos abatem e machucam, mas nada é tão deprimente quanto as fotos do encontro de antigos colegas passados quarenta anos depois da formatura.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

QUE TÍTULO DAR A ESTE POST?


A desvantagem de ter nascido no tempo da delicadeza, ou melhor, antes da explosão da internet, é que entender expressões geralmente em inglês para mapear esse ou aquele comportamento torna-se tarefa bastante difícil para idosos como eu. Tenho quatro filhos na faixa de 35 a 45 anos (é vero!). Enquanto moravam em nossa casa era mais fácil acompanhar as novidades, conhecer novas bandas, saber de novos costumes, filmes e livros.
 
Hoje, restrito apenas ao convívio diário com minha mulher, fico com a cara apalermada (um pouco mais do que já é normalmente) quando ouço na TV palavras como “troll”, “hater”, e os já tradicionais nerd e geek. A propósito, “geek” para mim sempre lembra o grito histérico de algum machão das antigas quando vê uma barata barateando perto de seu pé descalço.
 
Por isso, resolvi tentar entrar nesse país de que só conheço as fronteiras. Claro, com a ajuda da Wikipédia a mãe dos muito burros. E a primeira coisa que quis saber foi a diferença entre nerd e geek. E achei isto:
 
O nerd é quem está envolvido com tecnologia e gosta de passar a maior parte do seu tempo estudando e aprendendo sobre jogos e ficção cientifica. O geek é também viciado em tecnologia, porém, com um nicho mais ligado para a área do entretenimento, filmes, séries e a cultura pop no geral, como Harry Potter, Star Wars, Stranger Things e outros.
 
Além disso, muitos chamados nerds são descritos como sendo tímidos e excêntricos, bem como com muitas dificuldades em praticar, ou mesmo acompanhar esportes.
 
Foi assim que eu me dei conta de ter um convivido diariamente com um ninho de geeks, pessoas incríveis simpaticíssimas, engraçadíssimas, mas talvez distantes do que a maioria dos jovens de hoje gosta. Por exemplo, em lugar de funk ou pagode tem um que gostava de bossa-nova japonesa (isso existe!). Em compensação existe outro que se na adolescência comprava e ouvia CDs piratas de funk “proibidão”, hoje gosta de choro e MPB. Mas todos gostam de jogos eletrônicos, ficção científica, mangás e RPG e são um pouco tímidos. “Culpa de pais neuróticos”, como definiu um deles.
 
E parece que esse é um comportamento balizado pela genética, pois um dos meus dois únicos sobrinhos biológicos é exatamente igual – mesmo sendo pelo menos dez anos mais novo que nosso filho caçula e sem nunca ter convivido com os primos geek. Por isso, para provocá-lo resolvi fazer uma HQ usando emojis e palavras que ainda pretendo entender melhor. E saiu isto (meus filhos foram unânimes em achar o resultado uma merda):


segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

QUE DIA A GENTE FICA VELHO? - OSWALDO MONTENEGRO

 
Oswaldo Montenegro sempre me lembrou um hippie do século XX vivendo no século XXI. Por quê? Pelo seu jeito meio largadão, meio romântico, aparentemente pouco interessado na busca frenética que alguns artistas fazem pelo sucesso. E também, quase me esquecia, pelas letras “cabeça” que escreve para as baladas que compõe.
 
Ontem, um amigo de facebook postou um vídeo onde ele aparece brincando com seus netinhos enquanto sua voz declama um texto que achei bem legal. Procurei na internet, achei e resolvi publicá-lo aqui no Blogson. Algum motivo? A frase  "
Tem um garoto dentro de mim que não foi avisado de que o tempo passou" é a minha cara. Olhaí.
 
 
A pergunta é: “que dia a gente fica velho?”
 
Não vem dizer que “aos poucos”, colega, faz 5 minutos que eu tinha 17 anos e fui-me embora de Brasília. Pra mim meu primeiro show foi ontem, e hoje eu tô na fila preferencial pra embarcar no avião.
 
Tem um garoto dentro de mim que não foi avisado de que o tempo passou e tá louco pra ter um filho, e eu já tenho netos. Aconteceu de repente, o personagem do Kafka acordou incerto, eu acordei idoso, e olha que eu ando, corro, subo escadas e sonho como antes!
 
Então o que que mudou? Minha saúde e minha energia são as mesmas, então o que que mudou? Bom, a única coisa que eu sei que mudou mesmo foi o tal do ego. A a gente vai descobrindo que não é nada, e que não está com aquela bola toda que a gente achava que estava.
 
A gente vai sacando que não tem importância e que pouca coisa no mundo tem importância, isso primeiro frustra, depois vai dando alívio e liberdade. Então eu acho que descobri, é isso que muda, ficar velho é sacar a nossa própria "desimportância" e ficar mais solto por isso.
 
Então vou te falar uma coisa: Vale a pena! Se puder, envelheça.

 


domingo, 14 de janeiro de 2024

SELO DE AUTENTICIDADE

 
Minha mulher ama acompanhar realities show e em especial o BBB. Eu até dou umas olhadas, mas durmo na maior parte do tempo. E isso se justifica não só pelo cansaço permanente em que vivo como pela predominância 
de mocréias e bagulhos na versão atual. Mas destaca-se naquele mar de gente feia e sem graça uma ilha de beleza e bom humor, que atende pelo nome de Yasmin Brunet.

Nas redes sociais a moça já é considerada uma “filósofa” pelas frases engraçadas e descontraídas que vai soltando em suas conversas com os brothers e sisters. Uma dessas frases, a melhor delas até agora, é esta:
Não existe nenhum homem no mundo que vai te tratar tão bem como o homem que quer te comer pela primeira vez, essa é a real. Ninguém!
 
***
 
Neste meio tempo li no site da revista Carta Capital uma notícia quase tão engraçada quanto a frase da sister. Segundo a reportagem, Editora francesa cria selo para certificar que livro foi escrito por ser humano”, pois “Cada vez mais livros autopublicados, especialmente em plataforma da Amazon, são escritos usando software de inteligência artificial generativa”. E a reportagem continua:
“Este livro foi realmente escrito por um ser humano, e não em poucas horas por uma inteligência artificial”: essa é a promessa de um selo de garantia editorial criado pela editora Librinova, em parceria com a empresa de certificação francesa Label création humaine, para autentificar a autopublicação de obras literárias, setor em plena expansão na França.
 
Achei tão divertida a criação desse selo de autenticidade, que tive vontade de ver o resultado proposto pela IA a partir da frase dita pela gata do BBB. Para isso, apresentei ao ChatGPT o seguinte pedido:
 
Gostaria que escrevesse uma crônica bem humorada de até duas páginas em formato A4 e fonte arial 12, usando como base a reflexão a seguir (e copiei a frase da filósofa).
 
Imediatamente surgiu este texto em inglês:
This content may violate our content policy. If you believe this to be in error, please submit your feedback — your input will aid our research in this area.
 
Mesmo sem saber falar inglês eu percebi a inutilidade do selo de autenticidade, pois quem desenvolveu o ChatGPT fez dele um aplicativo moralista e caretão, avesso a palavras e expressões vulgares ou de baixo calão. Por isso, refiz o pedido trocando o “quer te comer” para “te levar para a cama”. Aí o merdinha do aplicativo escreveu isto:
 
A vida é repleta de verdades inconvenientes, daquelas que preferíamos ignorar, mas que, vez ou outra, nos encaram de frente, rindo ironicamente. Uma dessas verdades, que muitos se esquivam de admitir, é que não existe nenhum homem no mundo que vai te tratar tão bem quanto o homem que quer te levar para a cama pela primeira vez. Ah, a sinceridade desconcertante da busca pelo romance!
Não sou uma filósofa do relacionamento, mas, por experiência própria e observação, percebo que o primeiro encontro é como um espetáculo cuidadosamente ensaiado. O homem, muitas vezes, se transforma em um misto de príncipe encantado e gentleman, disposto a conquistar até mesmo o coração mais cético.
A primeira vez é um ritual sagrado para esse ser em busca de afeto, e ele desbrava o território do cavalheirismo com maestria. Abre portas, puxa a cadeira, elogia a escolha do restaurante e até mesmo se interessa genuinamente pela sua história. Parece que você está sendo cortejada por um personagem de um romance clássico, pronto para oferecer flores e declarações apaixonadas.
Os elogios são como poesia declamada ao anoitecer, e o olhar fixo nos seus olhos faz parecer que você é a protagonista de um filme romântico. A química está no ar, e cada gesto é orquestrado para criar uma sinfonia de encantamento. Você se sente especial, desejada e como se estivesse prestes a viver um conto de fadas moderno.
Mas, minha amiga, não se engane! Esse desfile de gentilezas tem um propósito claro, um objetivo que, lá no fundo, ambos conhecem muito bem. O homem, em sua busca pelo amor, é capaz de encenar um espetáculo digno de Oscar, mas sabemos que, na maioria das vezes, o prêmio desejado não é uma estatueta dourada, mas sim a porta do quarto se abrindo.
No entanto, não quero soar como uma crítica amarga do jogo do amor. Na verdade, acho essa dança inicial bastante engraçada e, de certa forma, até admirável. Há algo de hilário na seriedade com que ambos interpretam seus papéis, como se estivessem em uma peça teatral onde o final é previsível, mas a jornada é cheia de surpresas.
Assim, enquanto somos cortejadas nesse espetáculo romântico, podemos nos permitir rir da ironia da situação. Porque, afinal, quem não gosta de ser tratada como uma rainha, mesmo que seja apenas por uma noite? E quem disse que o teatro do romance não pode ser um terreno fértil para boas risadas e histórias divertidas?
Então, da próxima vez que se deparar com um homem encantador na busca pelo primeiro encontro, abra um sorriso e entre na dança com leveza. Afinal, se a comédia do amor nos reserva momentos tão preciosos, por que não aproveitar cada ato como se fosse o mais divertido de todos? Afinal, o riso, assim como o romance, é um dos melhores remédios para a alma.
 
Falando sério, eu escrevo mal e minha escrita é cheia de topadas com a gramática, mas o texto acima é tão sem graça que eu me pergunto se precisa mesmo de um selo de autenticidade! Quando eu escreveria uma frase tão clichê como esta: "
Os elogios são como poesia declamada ao anoitecer"? Resposta: Nunca!

 


sábado, 13 de janeiro de 2024

O CÓDIGO

 

Como foi dito anteriormente, este post é uma seleção dos artigos do Código de Hamurabi. O que chama atenção no texto "original" são as "credenciais" apresentadas por Hamurabi, um currículo quase tão extenso quanto as leis que estava promulgando. O mesmo se dá no final, com mais auto-elogios. 

Sinto hoje uma certa ironia melancólica ao ler como se refere à sua amada Babilônia:  "ele (Marduk) a fez famosa no mundo e nela estabeleceu um duradouro reino cujos alicerces tinham a firmeza do céu e da terra". Ah, meu caro Hamurabi, como você poderia imaginar que sua querida Babilônia seria no futuro apenas um monte de cacos de tijolos, tal como meu cunhado a viu quando trabalhou no Iraque?

Para o post não ficar maçante demais, o prólogo e epílogo foram também resumidos. Além disso, a divisão em capítulos parece ser obra de algum advogado dos tempos atuais. Se alguém desejar ter uma visão mais ampla e completa dos artigos e da auto-rasgação de seda do velho e bom Hamu, siga o link que está no final. O defeito é estar em inglês.

Olha o código aí, ao vivo e a cores. Mete (epa!) respeito ou não?

PRÓLOGO _ "Quando o alto Anu, Rei de Anunaki e Bel, Senhor da Terra e dos Céus, determinador dos destinos do mundo, entregou o governo de toda humanidade a Marduk... quando foi pronunciado o alto nome da Babilônia; quando ele a fez famosa no mundo e nela estabeleceu um duradouro reino cujos alicerces tinham a firmeza do céu e da terra - por esse tempo de Anu e Bel me chamaram, a mim, Hamurabi, o excelso príncipe, o adorador dos deuses, para implantar a justiça na terra, para destruir os maus e o mal, para prevenir a opressão do fraco pelo forte... para iluminar o mundo e propiciar o bem-estar do povo. Hamurabi, governador escolhido por Bel, sou eu, eu o que trouxe a abundância à terra; o que fez obra completa para Nippur e Durilu; o que deu vida à cidade de Uruk; o que supriu água com abundância aos seus habitantes;... o que tornou bela a cidade de Borsippa;... o que enceleirou grãos para a poderosa Urash;... o que ajudou o povo em tempo de necessidade; o que estabeleceu a segurança na Babilônia; o governador do povo, o servo cujos feitos são agradáveis a Anunit".


I - SORTILÉGIOS, JUÍZO DE DEUS, FALSO TESTEMUNHO, PREVARICAÇÃO DE JUÍZES

5º - Se um juiz dirige um processo e profere uma decisão e redige por escrito a sentença, se mais tarde o seu processo se demonstra errado e aquele juiz, no processo que dirigiu, é convencido de ser causa do erro, ele deverá então pagar doze vezes a pena que era estabelecida naquele processo, e se deverá publicamente expulsá-lo de sua cadeira de juiz. Nem deverá ele voltar a funcionar de novo como juiz em um processo.


II - CRIMES DE FURTO E DE ROUBO, REIVINDICAÇÃO DE MÓVEIS

6º - Se alguém furta bens do Deus ou da Corte deverá ser morto; e mais quem recebeu dele a coisa furtada também deverá ser morto.

7º - Se alguém, sem testemunhas ou contrato, compra ou recebe em depósito ouro ou prata ou um escravo ou uma escrava, ou um boi ou uma ovelha, ou um asno, ou outra coisa de um filho alheio ou de um escravo, é considerado como um ladrão e morto.

14º - Se alguém rouba o filho impúbere de outro, ele é morto.

22º - Se alguém comete roubo e é preso, ele é morto.

 

III - DIREITOS E DEVERES DOS OFICIAIS, DOS GREGÁRIOS E DOS VASSALOS EM GERAL, ORGANIZAÇÃO DO BENEFÍCIO

33º - Se um oficial superior foge ao serviço e coloca um mercenário em seu lugar no serviço do rei e ele parte, aquele oficial deverá ser morto.

34º - Se um oficial superior furta a propriedade de um oficial inferior, prejudica o oficial, dá o oficial a trabalhar por soldada, entrega o oficial em um processo a um poderoso, furta o presente que o rei deu ao oficial, aquele deverá ser morto.


IV - LOCAÇÕES E REGIMEN GERAL DOS FUNDOS RÚSTICOS, MÚTUO, LOCAÇÃO DE CASAS, DAÇÃO EM PAGAMENTO


V - RELAÇÕES ENTRE COMERCIANTES E COMISSIONÁRIOS


VI - REGULAMENTO DAS TABERNAS (TABERNEIROS PREPOSTOS, POLÍCIA, PENAS E TARIFAS)

109º - Se na casa de uma taberneira se reúnem conjurados e esses conjurados não são detidos e levados à Corte, a taberneira deverá ser morta.

110º - Se uma irmã de Deus, que não habita com as crianças (mulher consagrada que não se pode casar) abre uma taberna ou entra em uma taberna para beber, esta mulher deverá ser queimada.


VII - OBRIGAÇÕES (CONTRATOS DE TRANSPORTE, MÚTUO), PROCESSO EXECUTIVO E SERVIDÃO POR DÍVIDAS


VIII - CONTRATOS DE DEPÓSITO


IX - INJÚRIA E DIFAMAÇÃO

127º - Se alguém difama uma mulher consagrada ou a mulher de um homem livre e não pode provar se deverá arrastar esse homem perante o juiz e tosquiar-lhe a fronte.


X - MATRIMÔNIO E FAMÍLIA, DELITOS CONTRA A ORDEM DA FAMÍLIA. CONTRIBUIÇÕES E DOAÇÕES NUPCIAIS, SUCESSÃO

128º - Se alguém toma uma mulher, mas não conclui um contrato com ela, esta mulher não é esposa.

129º - Se a esposa de alguém é encontrada em contato sexual com um outro, se deverá amarrá-los e lança-los nágua, salvo se o marido perdoar à sua mulher e o rei a seu escravo.

130º - Se alguém viola a mulher que ainda não conheceu homem e vive na casa paterna e tem contato com ela e é surpreendido, este homem deverá ser morto, a mulher irá livre.

137º - Se alguém se propõe a repudiar uma concubina que lhe deu filhos ou uma mulher que lhe deu filhos, ele deverá restituir àquela mulher o seu donativo e dar-lhe uma quota em usufruto no campo, horto e seus bens, para que ela crie os filhos. Se ela criou os seus filhos, lhe deverá ser dado, sobre todos os bens que seus filhos recebam, uma quota igual a de um dos filhos. Ela pode esposar o homem do seu coração.

141º - Se a mulher de alguém, que habita na casa do marido, se propõe a abandoná-la e se conduz com leviandade, dissipa sua casa, descura do marido e é convencida em juízo, se o marido pronuncia o seu repúdio, ele a mandará embora, nem deverá dar-lhe nada como donativo de repúdio. Se o marido não quer repudiá-la e toma outra mulher, aquela deverá ficar como serva na casa de seu marido.

142º - Se uma mulher discute com o marido e declara: "tu não tens comércio comigo", deverão ser produzidas as provas do seu prejuízo, se ela é inocente e não há defeito de sua parte e o marido se ausenta e a descura muito, essa mulher não está em culpa, ela deverá tomar o seu donativo e voltar à casa de seu pai.

143º - Se ela não é inocente, se ausenta, dissipa sua casa, descura seu marido, dever-se-á lançar essa mulher nágua.

145º - Se alguém toma uma mulher e essa não lhe dá filhos e ele pensa em tomar uma concubina, se ele toma uma concubina e a leva para sua casa, esta concubina não deverá ser igual à esposa.

146º - Se alguém toma uma esposa e essa esposa dá ao marido uma serva por mulher e essa lhe dá filhos, mas, depois, essa serva rivaliza com a sua senhora, porque ela produziu filhos, não deverá sua senhora vendê-la por dinheiro, ela deverá reduzi-la à escravidão e enumerá-la ente as servas.

148º - Se alguém toma uma mulher e esta é colhida pela moléstia, se ele então pensa em tomar uma segunda, não deverá repudiar a mulher que foi presa da moléstia, mas deverá conservá-la na casa que ele construiu e sustentá-la enquanto viver.

151º - Se uma mulher que vive na casa de um homem, empenhou seu marido a não permitir a execução de um credor contra ela, e se fez lavrar um ato; se aquele homem antes de tomar mulher tinha um débito, o credor não se pode dirigir contra a mulher. Mas, se a mulher, antes de entrar na casa do marido, tinha um débito, o credor não pode fazer atos executivos contra o marido.

152º - Se depois que a mulher entra na casa do marido, ambos têm um débito, deverão ambos pagar ao negociante.

153º - Se a mulher de um homem livre tem feito matar seu marido por coisa de um outro, se deverá cravá-la em uma estaca.

154º - Se alguém conhece a própria filha, deverá ser expulso da terra.

155º - Se alguém promete uma menina a seu filho e seu filho tem comércio com ela, mas aquele depois tem contato com ela e é colhido, deverá ser amarrado e lançado na água.

157º - Se alguém, na ausência de seu pai, tem contato com sua progenitora, dever-se-á queimá-la ambos.

158º - Se alguém, na ausência de seu pai, é surpreendido com a sua mulher principal, a qual produziu filhos, deverá ser expulso da casa de seu pai.

167º - Se alguém toma uma mulher e esta lhe dá filhos, se esta mulher morre e ele depois dela toma uma segunda mulher e esta dá filhos, se depois o pai morre, os filhos não deverão dividir segundo as mães; eles deverão tomar o donativo de suas mães mas dividir os bens paternos ente si.


XI - ADOÇÃO, OFENSAS AOS PAIS, SUBSTITUIÇÃO DE CRIANÇA

185º - Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como filho, este adotado não poderá mais ser reclamado.

187º - O filho de um dissoluto a serviço da Corte ou de uma meretriz não pode ser reclamado.

188º - Se o membro de uma corporação operária, (operário) toma para criar um menino e lhe ensina o seu ofício, este não pode mais ser reclamado.

192º - Se o filho de um dissoluto ou de uma meretriz diz a seu pai adotivo ou a sua mãe adotiva: "tu não és meu pai ou minha mãe", dever-se-á cortar-lhe a língua.

195º - Se um filho espanca seu pai se lhe deverão decepar as mãos.


XII - DELITOS E PENAS (LESÕES CORPORAIS, TALIÃO, INDENIZAÇÃO E COMPOSIÇÃO)

196º - Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho.

197º - Se ele quebra o osso a um outro, se lhe deverá quebrar o osso.

200º - Se alguém parte os dentes de um outro, de igual condição, deverá ter partidos os seus dentes.


XIII - MÉDICOS E VETERINÁRIOS; ARQUITETOS E BATELEIROS (SALÁRIOS, HONORÁRIOS E RESPONSABILIDADE), CHOQUE DE EMBARCAÇÕES

218º - Se um médico trata alguém de uma grave ferida com a lanceta de bronze e o mata ou lhe abre uma incisão com a lanceta de bronze e o olho fica perdido, se lhe deverão cortar as mãos.

226º - Se o tosquiador, sem ciência do senhor de um escravo, lhe imprime a marca de escravo inalienável, dever-se-á cortar as mãos desse tosquiador.

227º - Se alguém engana um tosquiador e o faz imprimir a marca de um escravo inalienável, se deverá matá-lo e sepultá-lo em sua casa. O tosquiador deverá jurar : "eu não o assinalei de propósito", e irá livre.

229º - Se um arquiteto constrói para alguém e não o faz solidamente e a casa que ele construiu cai e fere de morte o proprietário, esse arquiteto deverá ser morto.

230º - Se fere de morte o filho do proprietário, deverá ser morto o filho do arquiteto.

232º - Se destrói bens, deverá indenizar tudo que destruiu e porque não executou solidamente a casa por ele construída, assim que essa é abatida, ele deverá refazer à sua custa a casa abatida.

233º - Se um arquiteto constrói para alguém uma casa e não a leva ao fim, se as paredes são viciosas, o arquiteto deverá à sua custa consolidar as paredes.

235º - Se um bateleiro constrói para alguém um barco e não o faz solidamente, se no mesmo ano o barco é expedido e sofre avaria, o bateleiro deverá desfazer o barco e refazê-lo solidamente à sua custa; o barco sólido ele deverá dá-lo ao proprietário.

236º - Se alguém freta o seu barco a um bateleiro e este e negligente, mete a pique ou faz que se perca o barco, o bateleiro deverá ao proprietário barco por barco.


XIV - SEQUESTRO, LOCAÇÕES DE ANIMAIS, LAVRADORES DE CAMPO, PASTORES, OPERÁRIOS. DANOS, FURTOS DE ARNEZES, DÁGUA, DE ESCRAVOS (AÇÃO REDIBITÓRIA, RESPONSABILIDADE POR EVICÇÃO, DISCIPLINA)

245º - Se alguém aluga um boi e o faz morrer por maus tratamentos ou pancadas, deverá indenizar ao proprietário boi por boi.

246º - Se alguém aluga um boi e lhe quebra uma perna, lhe corta a pele cervical, deverá indenizar ao proprietário boi por boi.

253º - Se alguém aluga um outro para cuidar do seu campo, lhe fornece a semente, lhe confia os bois, o obriga a cultivar o campo, se esse rouba e tira para si trigo ou plantas, se lhe deverão cortar aos mãos.

282º - Se um escravo diz ao seu senhor : "tu não és meu senhor", será convencido disso e o senhor lhe cortará a orelha.

 

EPÍLOGO

"As justas leis que Hamurabi, o sábio rei, estabeleceu e (com as quais) deu base estável ao governo ... Eu sou o governador guardião ... Em meu seio trago o povo das terras de Sumer e Acad; ... em minha sabedoria eu os refreio, para que o forte não oprima o fraco e para que seja feita justiça à viúva e ao órfão ... Que cada homem oprimido compareça diante de mim, como rei que sou da justiça. Deixai-o ler a inscrição do meu monumento. Deixai-o atentar nas minhas ponderadas palavras. E possa o meu monumento iluminá-lo quanto à causa que traz, e possa ele compreender o seu caso. Possa ele folgar o coração (exclamando) "Hamurabi é na verdade como um pai para o seu povo; ... estabeleceu a prosperidade para sempre e deu um governo puro à terra. (...)


https://avalon.law.yale.edu/ancient/hamframe.asp


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

COMENTANDO UM COMETA

 
Alguns assuntos funcionam como cometas em minha mente: surgem lá dos confins do cérebro, dão uma orbitada pela consciência e depois desaparecem novamente, ressurgindo quando menos se espera. O tema deste post é um desses "cometas".

Se você não é analfabeto funcional, se concluiu o ensino médio ou se é um privilegiado e feliz leitor do Blogson Crusoe -  onde teve a oportunidade de ler o magnífico post  “Dura Lex Sed Lex, no Cabelo só Gumex”  (https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2015/01/dura-lex-sed-lex-no-cabelo-so-gumex.html ) – certamente já ouviu falar de Hamurabi, Código de Hamurabi, lei de talião ou lex talionis.
 
Caso não se enquadre em nenhum desses perfis talvez já tenha ouvido a expressão “olho por olho, dente por dente” ou sua versão hair stilist “óleo por óleo, pente por pente”. Se nem isso faz sua mente se libertar do gumex cerebral que a mantém fixa e resistente a informações inúteis mas necessárias para retirá-lo da condição de toupeira analfabeta, eu desisto.
 
Porque este texto é endereçado às pessoas que têm um mínimo do que eu chamaria de cultura pop, que pensam, refletem e raciocinam, concordando ou não com o que pretendo dizer a partir de agora. Conseguiu entender as frases longas desta introdução? Então bora lá.
 
Segundo a Wikipédia, Hamurabi foi o sexto rei babilônico, viveu no século XVIII a.C., bla bla bla. O diferencial de Hamurabi em relação aos outros reis da mesma época, mais preocupados em invadir e saquear as cidades-estado que conquistavam (além de desejar e comer suas mulheres) é que Hamu (um pouco de intimidade não faz mal) resolveu criar um código de conduta para seu povo, formado por 282 artigos, que mandou registrar e gravar em uma estela de formato fálico, enoorme, talvez para lembrar que uma lei só funciona se for dura e cumprida (não confundir com "comprida").
 
Em sua época, a população mundial estimada girava em torno de 100 milhões de pessoas (gente pra caramba). Hoje, 3.700 anos depois, está em torno de 8 bilhões, um formigueiro de gente, um cupinzeiro que não para de devorar e exterminar espécies vegetais e animais.
 
Para disciplinar essa zona, essa babel, a bandidagem, os corruptos, os pedófilos, os traficantes e os feminicidas deveriam ser surrados, exemplados com vergalho de boi – embora acredite que faltaria “material” para tantos merecedores dessa pena. Por isso, o código de Hamurabi seria uma boa opção (o que teria de “van goghs” e manetas por aí não seria normal).
 
Pois bem, essa “proto-constituição cidadã” não dava moleza, não tinha essa de mamãozinho com açúcar, pois com o Hamu era ripa na xulipa. Com ele e com seu código o pega pra capar funcionava, tudo era muito rápido, não tinha essa de prescrição de crimes.
 
Hoje, a percepção da impunidade me incomoda muito, principalmente diante das barbaridades de todo tipo trazidas pelos noticiários, cometidas e até encorajadas por uma legislação suave e lenta, muito lenta. Por isso, fico triste ao pensar que muitas cláusulas compiladas pelo rei babilônio poderiam ser bastante úteis para deixar a moçada chegada a uma contravenção com o..., como direi? cu na mão. Saidinha de Natal? Ahahah!!! Feminicídio? “Olho por olho...”
 
Para não cansar a beleza dos 2,1 leitores deste blog, fiz uma seleção dos 282 artigos estabelecidos pelo velho e bom Hamu, bons para refletir e, mais ainda, para lamentar que não façam parte do cipoal legal brasileiro. E para ficar ainda mais supimpa deixei essa seleção do código propriamente dito em outro post. Assim, lê quem quer (o português está meio capenga, mas é proposital). Olhaí.


quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

QUERIA SER BOM DE LÍNGUA!

 
Eu queria ser bom de língua, ou melhor, bom de línguas, poliglota. E digo isso porque apesar de ser monoglota, sou um apaixonado pela língua, pelas línguas – e também por alguns usos que delas se fazem. Mas prefiro não detalhar mais que isso. O fato é que as línguas, sua sonoridade e o mistério que as envolve agem sobre mim como a luz de uma lâmpada para as mariposas: sinto-me completamente atraído e fascinado pelo som, um fascínio ainda maior pelo triste fato de ser um sujeito que só consegue se expressar no português falado no Brasil, apimentado e temperado com gírias em desuso e palavras obscenas capazes de corar um frade de pedra.
 
Alguns leitores deste blog (1,3 ou 2,1) poderão perguntar por que estou dizendo isso. E eu serei obrigado a confessar que a culpa é do Ryk@rdo, meu amigo d’além mar. E explico: o sujeito tem um blog com 747 seguidores, número que se convertido em moeda corrente é maior que meu saldo bancário no momento.
 
Obviamente o mérito é todo dele, pois é um grande poeta, um especialista em escrever belos sonetos onde métrica e rima são mais respeitadas e obedecidas  que patrulheiro pedindo documentos em blitz policial à noite. Tendo essa fartura de seguidores, nada mais natural que receba também uma enxurrada de comentários sobre cada poema que publica.
 
O que faz com que eu me morda de inveja é o fato de muitos desses comentários serem feitos em espanhol, italiano ou inglês! Pensem bem, imaginem como eu me sinto, eu que mal consigo escrever no português caipira falado em Minas Gerais!
 
Por isso, para não me roer até os ossos de inveja dos que tecem (e costuram) seus comentários em línguas europeias, também passarei a fazer meus comentários em espanhol ou inglês. Claro, with a little help from my friend Google Translator (mesmo que isso seja plágio dos Beatles).
 
E meu amigo Ryk@rdo poderia pensar algo assim:
- Ora pois, Jotabê é um homem culto, alguém que consegue até dar nó em pingo d’água.
 
E eu seria forçado a responder: “Só não escondo as pontas!”


quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

DUZENTAS CRÔNICAS

 
Provavelmente já devo ter contado este caso antes, mas uma novidade fez com que eu tivesse vontade de recontá-lo.
 
Ainda na época do “Círculo do Livro”, minha mulher comprou ou ganhou o “Duzentas Crônicas Escolhidas”, de Rubem Braga. À medida que fui lendo esse livro fiquei tão encantado que tive vontade de selecionar as cinquenta melhores crônicas (segundo minha avaliação, lógico) e enviá-las por e-mail para todo mundo que conhecia.
 
Comecei a procurar o “Duzentas crônicas” na internet, mas só achava a opção "comprar". E assim mesmo o livro físico. “Mas eu sou brasileiro e não desisto nunca” - sinônimo de chato pra caramba. Por isso, sem me dar por vencido continuei a busca. Ralei bastante e acabei achando algumas crônicas do capixaba, mas nem sempre eram as que eu queria.
 
Aí tive a ideia (mente vazia é a morada do capeta!) de pesquisar frases e trechos das crônicas desejadas para ir colando até ter as cinquenta. Já imaginou que talvez até hoje eu estivesse fazendo isso, não é? Só que aconteceu o inesperado: descobri o livro inteiro em word em um site alemão!!!!
 
Estava tudo lá, mas era nitidamente um arquivo gerado a partir do escaneamento com OCR, com todos os defeitos desse aplicativo - letras trocadas, sinais gráficos soltos nas páginas e o mais trabalhoso: tinha sido escaneado de um livro pequeno. Por isso, os textos tinham "a cara" das páginas do livro escaneado, coladas no Word. Tentei vários artifícios, mas nunca consegui que o arquivo encontrado ficasse decentemente formatado em página A4.
 
E esse foi o maior trabalho. Comecei pacientemente a arrumar cada uma das aproximadamente quinhentas páginas do arquivo encontrado. Aí surgiu a pandemia e o Fabiano Caldeira, meu coach de publicação de e-books "de grátis". Resolvi então publicar na Amzon minha própria produção “literária”. E as “Duzentas” do velho e bom Rubem Braga foram ficando esquecidas no computador.
 
Talvez ficassem assim um bom tempo, mas ganhei de um dos filhos um livro muito bom. “Qual?”, dirão os leitores mais afoitos.(mentira, não tenho leitores tão afoitos assim). Ora, só poderia ser o livro “Duzentas Crônicas escolhidas”!
 
Não falei nada com meu filho (que ficou puto com meu silêncio):
- Por que não falou que já existia um aqui em casa? Eu trocaria por outro!
 
Mas eu queria ficar com o livro, porque se eu escrevesse com um décimo da elegância e lirismo do Rubem Braga eu ficaria muito convencido, pois o cara era brilhante. As crônicas abrangem um período de uns trinta anos e podem ser engraçadas, líricas, melancólicas, de quase todo tipo. E esse livro foi extremamente útil para ajudar na formatação final do texto em Word. Hoje a trabalheira de alguns anos finalmente acabou. Esta é a novidade a ser comemorada.

E minha nora, casada com esse filho finalmente ganhará o livro prometido há tanto tempo (“o bom filho à casa torna”).
 
Para terminar este irrelevante post-memória, nada melhor que uma frase do mestre Rubem Braga que encontrei na internet, uma amostra da ironia, estilo e elegância que eu gostaria de um dia conseguir emular:
 
Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:
"Eu sou lá de Cachoeiro..."

 

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4