sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

ROUPA VELHA

 
“Roupa Nova” é uma das magníficas músicas  que a dupla Milton Nascimento e Fernando Brant compôs. A letra fala de alguém que todos os dias vai à estaçãozinha ferroviária do lugar onde mora, sempre esperando a chegada do trem, que nunca para naquele lugar.
 
É linda essa letra, que fala de esperanças sempre frustradas e, apesar disso, sempre renovadas, alimentadas pela inocência própria dos sonhos simples e ingênuos. Hoje, ouvindo essa música lembrei-me da minha infância de menino pobre.
 
Eu tinha dez anos quando aconteceu a eleição para presidente da república, vencida pelo excêntrico, histriônico e populista Jânio Quadros. Esta informação me transporta para o ano de 1960.

Próximo à casa da minha avó, onde eu morava, a proprietária de um sobrado, um pequeno prédio de dois andares, resolveu transformar a mercearia ou bar que possuia no andar térreo em um comitê eleitoral do homem da vassoura, o Jânio.
 
Na loja agora vazia foram colados cartazes com propaganda eleitoral em todas as paredes. Completavam a decoração uma mesa ou escrivaninha, algumas cadeiras encostadas em uma parede, um alto falante que reproduzia gravações de músicas e propaganda eleitoral e um televisor permanentemente ligado na TV Itacolomi, único canal existente na época.
 
Como não tínhamos televisão em casa naquela época, meu programa (de índio) era chegar da escola, tirar o uniforme, vestir uma roupa velha qualquer, almoçar e me dirigir ao tal comitê, na esperança que passasse algum desenho animado. Eu ficava ali todos os dias, de uma às seis da tarde, mais ou menos, de olhos fixos na telinha de imagens em preto e branco, sempre desejando ver algum desenho animado.
 
Com uma crença ou expectativa igual à do Pinduca da música, eu ficava aguardando pacientemente os desenhos que nunca passavam. No dia seguinte, com a esperança renovada, lá estava eu de novo. Acabei até ficando amigo da velha que era dona da loja, provavelmente graças à pena que devia sentir de mim. E esta é a lembrança que a música Roupa Nova tirou do baú da memória.


 

2 comentários:

  1. Ei Bom dia!
    A Rô me indicou seu Blog e aqui
    estou para conferir.
    Já li duas publicações: essa e
    a que cita o Millôr, ambas fantásticas!
    Li também no outro Blog
    que cita sua neta, tenho uma
    dessa aqui em casa, ela tem 6 anos
    e não poupa o avô de sua alusão
    ao barrigão. Ele nem liga porque
    os eles tem uma cumplicidade linda,
    ela fala, ele olha e caem na risada.
    Alice é o nome dela.
    Estou seguindo aqui e já agradeci
    a Rô pela dica. Se gostar de poesia,
    passa lá no Espelhando.
    Abraço.
    CatiahoAlc.

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    Respostas
    1. Eu adoro poesia! (aliás, já tive a cara de pau de escrever algumas). Vou conferir. Obrigado pela visita!

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