sábado, 20 de janeiro de 2024

O PECADO MORA AO LADO


Hoje o Pecado invadiu minha mente, mas não pela vontade de comer a vizinha gostosa que mora ao lado, não na forma de pensamentos e desejos lascivos. O que chacoalhou mesmo meu cérebro foi a ideia de que o pecado é apenas produto da cultura e preconceitos desse ou daquele povo, dessa ou daquela manifestação religiosa. Em outras palavras o pecado seria só uma manifestação cultural criada e pensada por líderes religiosos ancestrais na forma de ameaça, com potencial para conter comportamentos socialmente indesejados em determinada cultura, em determinado povo.
 
Antes de continuar preciso lembrar que não sou filósofo, antropólogo, sociólogo nem psicólogo. Sou da área de Exatas. Por isso o mais próximo de um “logo” que consigo chegar é o fato de ser um “ociólogo”, um estudioso, um amante do ócio, da arte de coçar o saco. Com essas credenciais admito que qualquer pensamento meu já deve ter sido explorado de maneira muito mais profunda e elegante por mentes mais ilustres, por gente muito melhor que eu e com muito mais conhecimento. Mesmo assim vou tentar prosseguir nesta trilha acidentada.
 
Ao abraçar o Antigo Testamento os cristãos já se lascaram de vez, graças ao conceito de Pecado Original. Segundo essa narrativa Adão e Eva foram expulsos do Paraíso por terem comido o fruto proibido da árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Sinceramente, penso que esta lenda fez um desserviço enorme à valorização do conhecimento. Porque, cá pra nós, que pai desejaria manter seus filhos na ignorância? Certamente não um pai moderno, nem mesmo o Pai Eterno.
 
Mas a coisa não para por aqui, pois aos nossos olhos de século XX e XXI o Gênesis tem histórias de arrepiar. Caso, por exemplo, do incesto praticado pelas duas filhas de Ló. Preocupadas em perpetuar a descendência do pai, encheram a cara do velho de bebida, transaram com ele e dele engravidaram. Imagino que as crianças assim geradas foram atingidas pela consanguinidade. E se foram, poderíamos dizer carregando na ironia, “Bela descendência!” E o nome disso para mim é putaria. Mas continuemos.
 
E que dizer dos Dez Mandamentos? A maionese já desanda logo nos três primeiros e por um simples motivo: quem é ateu está pouco se lixando para “Amar a Deus sobre todas as coisas”, “Não tomar seu santo nome em vão” e “Guardar domingos e festas de guarda”.
 
Quanto aos demais, são apenas normas de conduta justas e adequadas para evitar processos e prisão. Duas exceções podem ser feitas: o 6º mandamento - “Não pecar contra a castidade”. Nesta altura da vida, em pleno século XXI eu já nem sei mais o que significa castidade.
 
Mas pior mesmo para mim é o 9º mandamento, aquele do “Não desejar a mulher do próximo”. Hoje em dia, há tantas mulheres bem resolvidas e livres que manter alguma distância da "próxima do próximo” serve apenas para evitar brigas entre machões embriagados nas baladas e outros locais públicos.
 
O mais ridículo é que na Bíblia, no Código de Hamurabi e em outros textos antigos a existência de concubinas, escravas e servas que engravidam do patrão ou mais de uma esposa é tratada com a máxima naturalidade. Tudo é permitido ao garanhão que as possui (em todos os sentidos).
 
Mesmo sabendo a resposta, que aconteceria se a mulher, cansada da broxura do marido velho resolvesse dar para o vizinho, para o amigo ou para um escravo? Provavelmente seria considerada pecadora e castigada severamente por sua “sem vergonhice”. É por isso que eu olho para os “pecadores” e não consigo ver pecado em suas atitudes. São apenas infratores de normas de conduta, de um pacto sociocultural (que privilegia a população masculina), nunca pecadores.
 
Conheci um sujeito extremamente tímido, extremamente reservado, extremamente gente boa. Um dia, já velho, começou a apresentar sinais de demência e a precisar da ajuda da esposa para tomar banho e atividades correlatas. Essa esposa era amiga de minha mulher e confidenciou sobre a mudança de comportamento que estava acontecendo com o marido. Segundo ela, durante toda a vida de casados, quando ainda era sexualmente “operacional”, ele nunca permitiu que a luz do quarto ficasse acesa durante o sexo. Além disso, nunca trocou de roupa na frente da esposa, nunca permitiu que ela o visse nu. Entretanto, bastou o avanço da doença para que todo esse recato escoasse pelo ralo. A esposa ainda comentou: “Agora fica lá pelado, com aquela pingolinha murcha dependurada!”
 
Isso me faz refletir sobre a relatividade do que é considerado pecado e como conceitos culturais podem moldar nossa percepção do que é certo ou errado. Por exemplo, 
não seria adequado ficar pensando na vizinha gostosa que mora ao lado se ela realmente existisse!

2 comentários:

  1. Conhece o pastor Adélio?
    https://m.youtube.com/watch?v=y9g-YmLsgxE

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    1. "Qualquer semelhança já é uma esperança". Hilário! Ri pra caramba.

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